O Esporte no combate às drogas em Altaneira[1]

Por Jose Nicolau[2]

A venda e o consumo de drogas ilícitas em Altaneira saíram do anonimato e ganhou os quatro cantos da região do cariri e de todo o Estado do Ceará. Tem sido não sem razão, um dos temas a disputar o centro de atenção no debate social.  

A entrada deste entrave no debate significa, talvez, a chancela de nossa incompetência como família, sociedade e poder público. Por outro lado, demonstra que esses segmentos estão a um só tempo preocupado em sanar esse problema que atinge todas as classes sócias e de diversas faixas etárias. Prova cabal disso é a realização desta audiência[3] cujo propósito maior é apresentar, discutir e recolher medidas que possam diminuir ou solucionar esse problema.

Muito se tem falado sobre os efeitos devastadores que as drogas proporcionam aos usuários e aos seus próximos, o qual o tempo não me é suficiente para relatá-los aqui, mas que já é do conhecimento dos presentes nessa audiência e, que de forma pincelada descreverei. Devo dizer que é importante e se faz urgente apresentar algumas propostas que julgo ser plausível. A primeira vista, pensa-se logo em uma solução por meio do estímulo à educação e à igualdade social. O problema é que estes tipos de mudanças normalmente requerem um longo período para serem efetivadas. Como equacionar, então, esta demora estrutural com a necessidade imediata de alterações neste quadro?

É sabido que o uso de drogas é cada vez maior entre a população brasileira e, em Altaneira, não tem sido diferente. Muito se tem feito nos últimos tempos para que as pessoas se previnam contra o uso de drogas, ao passo que muita coisa é feita de forma legal ou ilegalmente, para que as mesmas sejam usadas.  Ao somar isso tudo, fica fácil perceber o resultado: as pessoas estão consumindo cada vez mais drogas, sendo elas licitas ou ilícitas.

Usar drogas significa em um primeiro momento, buscar prazer. É muito difícil lutar contra o prazer, haja vista que foi o mesmo que sempre norteou e norteia o comportamento humano para se autopreservarem e perpetuarem sua espécie. Mais difícil ainda se torna porque a droga provoca o prazer que engana o organismo, que então passa a querê-lo mais, como se fosse algo bom. Já está comprovado que o prazer provocado pela droga não é bom, porque ele mais destrói a vida do que ajuda na sobrevivência.

Já virou costume na sociedade entrar nesse tipo de debate somente quando o preço pago pela venda e consumo de substâncias entorpecentes já está alto demais. Todo usuário e principalmente sua família vêm arcando com as consequências decorrentes desse tipo de busca de prazer.

A prevenção tem de mostrar a diferença que há entre o que é gostoso e o que é bom. Mas não somente o prevenir se torna importante. Uma vez que se detecta que parcela significativa dos altaneirenses está nesse contexto, importante também é procurar soluções para o convívio com as drogas e, soluções, a curto prazo, diga-se de passagem. Ao pensar assim, é preciso que se pergunte uma vez mais: Como equacionar, então, esta demora estrutural com a necessidade imediata de alterações neste quadro?

A resposta é simples e está no esforço para combinar os investimentos nas medidas de longo prazo a investimentos em medidas de curto prazo. E o estímulo à prática de esportes é um elo ideal entre os referidos momentos, pois proporciona resultados imediatos ao mesmo tempo em que alicerça conquistas vindouras. Devo frisar que como contribuição imediata a prática esportiva atua combatendo a depressão e inibindo o vício, devido à liberação dos neurotransmissores[4] endorfina[5], serotonina[6] e a dopamina[7], respondendo pelo prazer e pelo bom humor. A droga também estimula a liberação desses neurotransmissores, mas leva o indivíduo abaixo da linha depressiva.

Além do aspecto fisiológico, o esporte corrobora também no desenvolvimento do senso de obediência às leis e regulamentos. Explico melhor essa obediência. Não se trata de uma obediência cega, mas sim da noção de que regras são práticas e moralmente importantes para o convívio em sociedade. Importa-me lembrar que toda atividade esportiva requer espírito participativo, assiduidade, interesse, disciplina, criatividade, obediência e colaboração. Aqui, figura como uma das virtudes de uma vivência social sadia e equilibrada a disciplina e a obediência.

O sentimento de pertencimento ao grupo social atua, nesse contexto, de forma significativa na medida em que melhora a auto-estima da juventude pobre comumente vítima da desagregação familiar e, muitas vezes, de maus tratos e abandono e, claro, daquelas que possuem uma condição financeira melhor.

Combater o uso indevido das drogas[8] através do esporte pode proporcionar excelentes resultados, pois se os envolvidos nesse mal tiverem algo para ocupar o seu tempo, não mais irão buscar o prazer através do uso de drogas, e uma das saídas para combater a esse mal que nos assola, é a prática esportiva independentemente de qual modalidade.

Hoje cabe às autoridades fazerem com que o esporte efetivamente faça parte do cotidiano dos altaneirenses que estão cheios de anseios e de sonhos, e se nada for feito esses sonhos irão sucumbir diante do uso de substâncias entorpecentes. Espaços para isso? Já temos muitos. E o que falta? Pergunta complicada não é? 

Em Altaneira, o investimento do governo municipal na construção de espaços destinados ao esporte fora das escolas tem sido muito significativo. Por outro lado, ainda impera nos governos a ideia de associar o esporte apenas à educação e assim fica restrito ao âmbito escolar. Assim, o que está faltando é fazer desses espaços algo produtivo, eficaz.  E pensar dessa maneira, é fazer do esporte uma prática rotineira.

Se nosso município a prática de esporte não fosse de tempos em tempos, mas uma prática rotineira, com constituição de núcleos esportivos visando acolher os usuários e prevenir a sociedade quanto os problemas geradores desse mal aqui exposto, diminuiria de forma significativa a venda e o consumo de drogas.

Por tanto, eu, você, as entidades não governamentais e o poder público devemos concentrar esforços para o combate desse mostro que nos cerca. Afinal, a droga é bem democrática, ela atinge a todos sem descrição de classe social, se configurando como o destruidor de sonhos. E viver sem os sonhos não vale apena.

Pense nisso, afinal, o futuro de nossa Altaneira depende de atitudes imediatas, e uma delas é a transformação do esporte em práticas rotineiras e a criação de núcleos esportivos não só nas escolas, mas nas diversas comunidades.



[1] Artigo apresentado em Audiência Pública no Município de Altaneira sobre a venda e o consumo de substância entorpecente que reuniu Alunos, diretores escolares, professores, secretários municipais, delegados, o promotor de justiça que responde pela Comarca vinculada a Altaneira, o Dr. David, comerciantes, donos de bares, o vice-prefeito do município, José Eles, o Jurista Raimundo Soares Filho, o representante do gueto religioso protestante, o professor Vinicius Freire, o Pároco Alberto representando o gueto católico, a presidente do Sindicato dos Servidores Municipais - SINSEMA, Maria Lúcia de Lucena e o presidente da Fundação ARCA (Associação Raízes Culturais de Altaneira), Givanildo Gonçalves.

[2] Licenciado em História pela Universidade Regional do Cariri – URCA e cursando pós-graduação em Docência do Ensino Superior na Faculdade Católica do Cariri – FCC.

[3] A referida audiência pública que objetivou apresentar, debater e recolher propostas para diminuir e, ou, solucionar o problema da venda e consumo de drogas em Altaneira foi realizada no último dia 09 de abril, no Auditório da Secretaria de Assistência Social, pela Comissão Permanente do poder legislativo municipal, tão logo os vereadores aprovarem um requerimento de autoria do parlamentar Edezyo Jalled (PRB) que requereu a realização desta. Na oportunidade diversos seguimentos sociais apresentaram sugestões para resolver o entrave social.

[4] São substâncias químicas produzidas pelos neurônios, as células nervosas com a função de biossinalização. Por meio delas, podem enviar informações a outras células. Podem também estimular a continuidade de um impulso ou efetuar a reação final no órgão ou músculo alvo.

[5] A endorfina é um neurotransmissor, e se constitui em uma substância química utilizada pelos neurônios na comunicação do sistema nervoso. É um hormônio, uma substância química que, transportada pelo sangue, faz comunicação com outras células, ela é o hormônio do prazer.

[6] A serotonina parece ter funções diversas, como o controle da liberação de alguns hormônios e a regulação do ritmo circadiano, do sono e do apetite. Diversos fármacos que controlam a ação da serotonina como neurotransmissor são atualmente utilizados, ou estão sendo testados, em patologias como a ansiedade, depressão, obesidade, enxaqueca e esquizofrenia, entre outras. Drogas como o "ecstasy" e o LSD "mimetizam" alguns dos efeitos da serotonina em algumas células alvo. O ecstasy promove libertação maciça de serotonina e posterior depleção delas.

[7] É um mensageiro químico que ajude na transmissão dos sinais no cérebro e em outras áreas vitais.

[8] As drogas são definidas como toda substância, natural ou não, que modifica as funções normais de um organismo. Também são chamadas de entorpecentes ou narcóticos. A maioria das drogas são produzidas à partir de plantas (drogas naturais), como por exemplo a maconha, que é feita com Cannabis sativa, e o Ópio, proveniente da flor da Papoula. Outras são produzidas em laboratórios (drogas sintéticas), como o Ecstasy e o LSD. A maioria causa dependência química ou psicológica, e podem levar à morte em caso de overdose. As pessoas que tentam abandonar as drogas podem sofrer com a Síndrome de Abstinência, que são reações do organismo à falta da droga.