Conta a história que Kardec teria recebido diretamente do "Espírito da Verdade" a "informação" de que ele teria vindo ao planeta com a missão de Codificar a Doutrina Espírita.

Foi na residência do Sr. Boudin, em sessão datada de 25/03/1856, que Kardec perguntou a esse Espírito que o orientava qual seria a sua identidade. A resposta foi a seguinte (vide Obras Póstumas):

"Para ti, chamar-me-ei Verdade".

Disse ainda Kardec posteriormente:

"A proteção desse Espírito, cuja superioridade eu estava, então, longe de imaginar, jamais de fato, me faltou’".

Kardec acentua ainda, nas anotações sobre a sessão de 8 de abril do mesmo ano, que o Espírito da Verdade lhe prometera ajuda, para a realização da sua obra, inclusive no tocante à vida material.

"Neste mundo, a vida material tem de ser levada em conta e não te ajudar a viver seria não te amar".

Mas afinal, quem é o "Espírito da Verdade"?

Se analisarmos o conteúdo da comunicação recebida em 1860, reproduzida em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", poderemos tirar algumas conclusões iniciais:

"Venho, como outrora, entre os filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, deve lembrar os incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar as plantas e que levanta as ondas. Eu revelei a doutrina divina; e, como um segador, liguei em feixes o bem esparso pela humanidade, e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis!”

Mas os homens ingratos se desviaram da estrada larga e reta que conduz ao Reino de meu Pai, perdendo-se nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana. Ele quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, ou seja, mortos segundo a carne, porque a morte não existe, sejais socorridos, e que não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a voz dos que se foram, faça-se ouvir para vos gritar: Crede e orai! Porque a morte é a ressurreição, e a vida é a prova escolhida, durante a qual vossas virtudes cultivadas devem crescer e desenvolver-se como o cedro.

Homens fracos, que vos limitais às trevas de vossa inteligência, não afasteis a tocha que a clemência divina vos coloca nas mãos, para iluminar vossa rota e vos reconduzir, crianças perdidas, ao regaço de vosso Pai.

Estou demasiado tocado de compaixão pelas vossas misérias, por vossa imensa fraqueza, para não estender a mão em socorro aos infelizes extraviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai todas as coisas que vos são reveladas; não misturem o joio ao bom grão, as utopias com as verdades.

Espíritas; amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana; e eis que, de além túmulo, que acreditáveis vazios, vozes vos clamam: Irmãos! Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os vencedores da impiedade!"

No entanto, já no item 4, Cap. VI, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo": "Jesus promete outro consolador, o Espírito da Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito da Verdade tinha de vir mais tarde para ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo. Se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido."

Diz ainda: "O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo só disse em parábolas."

Muito se pergunta e se debate se "O Espírito da Verdade", em verdade (desculpem o trocadilho), não representaria apenas um símbolo, uma forma figurada de representar toda uma "falange" de Espíritos Superiores incumbida de dar cumprimento à promessa do Cristo sobre o advento do Consolador, falange esta coordenada pelo próprio Cristo.

Me parece que muito há ainda para se discutir e para se fundamentar quanto aos argumentos que suportam as duas teorias. No entanto, penso que, independentemente de quem realmente seja "O Espírito da Verdade" (o próprio Cristo ou um "grupo" de espíritos benfeitores liderados pelo Cristo), isso menos relevante se torna frente à importância da grande obra realizada.

Estudemos pois, compreendamos e tentemos colocar em prática os ensinamentos desses seres iluminados.