Já escrevi vários artigos falando sobre as cotas, e vejo que a sociedade, ou melhor, parte dela está numa paranóia sobre políticas afirmativas, penso ser um absurdo o que se pretende implantar em nosso país. Em pleno século XXI, onde o mundo deveria já ter acabado com o racismo e todos fossem considerados iguais, vemos o Brasil retroceder. Vemos o Brasil querer recuar na história. Parece até ser uma patologia no inconsciente de parte de uma elite em nosso país, que quer, porque quer recompensar um erro histórico, que fazia parte do contexto da história do passado.


Não dá para aceitar que nos tempos de hoje, onde a Educação é um direito de todos e que não há impedimento de nenhuma etnia, raça, credo, condição social estudar se criar cotas. Se há um pequeno índice de negros, amarelos, etc., nas universidades brasileiras se deve a péssima qualidade do ensino público, onde os formandos desta rede não conseguem superar aqueles que estudam em escolas privadas ou caso estudem em escolas públicas ao terminarem o ensino médio fazem cursinhos preparatórios.


No meu entender e acredito que de muitos somente conseguiremos de fato promover a inclusão social na Educação quando o ensino público for competitivo com o privado. Quando houver cursinhos públicos para os alunos da rede publica, que a meu ver também é um absurdo, pois, teoricamente quem termine o ensino médio deveria estar apto para prestar vestibular, porém, cursos preparatórios ainda são mais razoáveis que a política de cotas, pois é menos discriminatória. 


A bandeira da sociedade deve ser para melhoria da qualidade do ensino público e não pelo sistema de cotas com tais políticas afirmativas. Da forma como está o projeto de cotas para as universidades públicas, o que vislumbramos para o futuro é que, os de classe A, B ingressarão no ensino público, pois após a conclusão do ensino médio farão curso preparatório e ocuparão os 50% das vagas destinadas à rede pública. Em suma, 50 % alunos da rede pública, mais os 100% da rede privada ingressarão nas universidades públicas, os outros 50% divididos entre classe C, D e E juntamente com os negros e índios ingressam nas universidades, no entanto com desvantagens no que tange ao Saber com os da classe A e B.


Enfim, esta é a política educacional que está se desenhando para o futuro. Uma Educação pública sem qualidade e que ao invés de favorecer ou dar preferência ao Saber, produz uma inclusão social de níveis intelectuais conflitantes. Quando o nível intelectual é mais fraco, a tendência é baixar a qualidade da Educação como resultado final, um profissional despreparado teoricamente para sua função.


Já estamos vivendo uma qualidade baixa na formação dos profissionais, devido ao excesso de universidades. Hoje o aluno não precisa nem estudar para ingressar numa universidade privada. Há uma concorrência entre elas exacerbada baixando o custo das mensalidades, por exemplo, um curso de farmácia há diferença que chega a 50% uma para outra. Hoje se presta um vestibular na universidade privada com 99% de chances de passar. E tudo isto se deve a concorrência entre elas devido oferta de cursos.


Se o governo pretende promover a inclusão social promova o ensino público, estimule e abrange mais o ProUne. De ao aluno carente condições de estudar ao passar no vestibular e não crie políticas preconceituosas e demagógicas. Com educação não se brinca, o resultado das políticas erradas é a longo prazo.

Ataíde Lemos
www.ataide.recantodasletras.com.br
Publicado no Recanto das Letras em 22/11/2008
Código do texto: T1297202