O ENSINO PRIVADO NO AMAPÁ

PUBLICADO POR ADRIANO MACIEL, 2011

Segundo TELES (2010) , um dos motivos da privatização do ensino em Macapá surgiu pela necessidade de educar mais cedo os filhos das famílias mais influentes da época. Os pais desses alunos contratavam os professores particulares para aulas de reforço em sua residência e depois da alfabetização iam direto a escola dar continuidade aos estudos.
A educação privada alarga seus passos na década de 60 e foram criando seus espaços, onde o ensino-aprendizagem passou a ser desenvolvido e nesse período surgiram a escola professora Alzir Maia e a escola Pequeno Polegar.
Tanto a escola Alzir Maia como o Pequeno Polegar eram voltadas ao público infantil. Geralmente os pais de famílias que trabalhavam em tempo integral deixavam os filhos nessas escolas e no final do expediente iam buscar os filhos. A privatização do ensino nessas escolas resultaram no empenho e dedicação dos educadores em alfabetizar crianças de famílias nobres da cidade.
Contudo, mesmo com o domínio da igreja sobre as escolas, em 1961 é fundado em Macapá, o primeiro colégio de caráter puramente confessional, e de propriedade exclusiva de uma instituição religiosa. Fundado no dia 02 de maio de 1961, o Colégio Santa Bartoloméa Capitânia, tinha por objetivo promover a valorização humana e preparação para a vida; formar o educando fiel a Deus e aos homens, através de um processo educativo norteado por valores cristãos. O colégio iniciou as aulas no curso ginasial e hoje, após cinco décadas abrange desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. Considerado um verdadeiro exemplo de ensino e dedicação pela sociedade macapaense daquele período. O colégio era e ainda é uma escola confessional, assim como muitas outras existentes no Brasil e que sobrevivem até hoje. Estudar no "Bartola" (nome que ficou conhecido na boca dos alunos da época) era sinônimo de status. O que se observa foi uma distinção no tratamento econômico-social com a chegada do Bartoloméa.

1.1 O ensino privado em Macapá: da década de 1990 ao período atual.

A escola particular passou a ter seu auge na década de 90 com a implantação da educação básica (antigo segundo grau) privada em Macapá. Até então a maioria das escolas privadas atendiam um público do ensino infantil ao fundamental, porém, após a chegada do ensino básico, houve uma metamorfose bastante visível no espaço sociocultural da educação macapaense.
Em 1995, com a chegada de mais escolas privadas na cidade para atender um público cada vez maior, o governo passou a investir mais na educação pública, mesmo assim, ainda eram poucas as chances de disputa educacional entre o público vs privado. Nesse período, passar em uma universidade pública era sinônimo de status social. A escola particular tinha um foco todo voltada para aprovação de alunos em universidades públicas, já as escolas públicas, apesar das tentativas em querer aprovar seus alunos para o ensino superior público, tinha os parâmetros curriculares nacionais voltado para a formação básica.
É bom ressaltar um fato ocorrido no final dessa década, que foi a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB ? lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996) tendo como conseqüência o aumento da carga horária de 120 para 200 horas, com o intuito de melhor qualificação da educação.


1. 2 O ensino superior privado e público na década de 90.

A década de 90 foi marcada por dois movimentos: a criação da UNIFAP (Universidade Federal do Amapá, em 1991), e o avanço do ensino privado, que passou a oferecer, desde a Educação Infantil até o ensino superior. A partir de 1992, com a criação do CEAP (Centro de Ensino Superior do Amapá), novos cursos de graduação foram oferecidos no Estado. PETRY (2007) afirma que:
O CEAP nasceu no contexto da criação e instalação do Estado do Amapá. Como não havia nenhuma Instituição de educação superior no Estado, e a IES pública que também estava se instalando, na verdade Fundação Universidade Federal do Amapá com a oferta dos cursos de Licenciatura e Pedagogia, coube, segundo as palavras do interlocutor ao CEAP, a responsabilidade social de atender outras áreas do conhecimento, dessa forma, implantou o curso de Direito e o curso de Ciências Contábeis ambos com o início de funcionamento em 05 de março de 1992.

Inspirado na socioeducação como identidade e na missão de "desenvolver e difundir a cultura amazônica para a solidariedade humana" , o CEAP iniciou suas atividades acadêmicas em 1992, na Avenida Nações Unidas, no bairro de Jesus de Nazaré, com a oferta dos Cursos de Direito e de Ciências Contábeis, atendendo aos anseios da sociedade amapaense que passava pelo processo de instalação do recém-criado Estado do Amapá (1988). Estruturavam-se os Poderes Constituídos, como Entidades Estaduais de sustentação às bases do novo Estado. À época da instalação do CEAP, a sociedade amapaense contava apenas com a Fundação Universidade Federal do Amapá, oferecendo cursos de Licenciaturas e Pedagogia, visando a qualificação de profissionais da educação.
O espaço capitalista da época passou a ser alvo de várias intrigas no meio educacional. Isso por que poucos tinham acesso a entrar em uma faculdade e com o surgimento de um ensino privado as chances se tornaram ainda menores para as camadas mais pobres. A controvérsia se baseia no interesse social e econômico de muitas famílias tradicionais na escolha de um ensino privado e de qualidade, além dos cursos inéditos que somente aquela instituição oferecia. Contudo, a UNIFAP não fica em estado de abandono, ao contrário do que se pensa, a procura ainda era grande pela Universidade Federal. Em geral, grande parte dos estudantes concluintes do ensino básico prestava vestibular na universidade pública, após o resultado, aqueles que não conseguiam aprovação, se tivesse condições financeiras, cursariam uma faculdade privada.
Agora, além de a classe média ingressar na Federal, muitos optavam em ser doutores, sonho das famílias mais Ilustres. Alguns estudiosos da época afirmam que o CEAP surgiu para transparecer a diferença sociocultural e econômica na sociedade macapaense. Os alunos que dispunham de menos recursos estudavam bastantes e inúmeras vezes os persistente repetiam vários anos para conseguir sua aprovação no vestibular.
A universidade Federal do Amapá, única universidade pública da época, também ocasionava uma seleção inconsciente nas camadas populares. Para ingressar na universidade, o aluno passaria por uma série de processo até alcançar a aprovação no vestibular, mas para que isso ocorresse, era necessário o estudante está preparado com uma boa formação curricular durante o ensino básico. Privilégio de poucos da época, pois os melhores ensinos estavam agora sobre responsabilidade das instituições particulares.
De 1995 em diante, as escolas particulares gradativamente iam assumindo o comando do melhor ensino, passar em uma universidade pública sem ao menos ter feito um curso preparatório era privilégios de poucos. Certamente esses tais alunos eram considerados os "gênios da época".
Segundo Mateus Coutinho Professor de Matemática do ensino médio, em entrevista, disse que: "Os alunos que passavam na UNIFAP sem ao menos fazer um cursinho, eram considerados CDF pela sociedade, alguns ganhavam até almoço com autoridades locais, inclusive com o Governador do Estado. Isso mostrava a valorização e o incentivo para alunos de classe baixa também ingressarem em cursos superiores. A meta era difícil, mas aqueles que conseguiam ganhavam esse agrado".
De 2000 em diante, o número IES privada triplica na cidade, o antigo segundo grau aos poucos ia perdendo sua credibilidade junto aos novos rumos que o mercado de trabalho exigia. O avanço da globalização na cidade também foi um dos motivos que passou a exigir da população macapaense mais qualificação em suas formações. Ter um curso superior era essencial para qualquer cidadão macapaense.