O ensino no Brasil: ontem e hoje

 Reflexões históricas e pedagógicas 

Resumo

Este trabalho mostra basicamente fatos importantes ocorridos em épocas diferentes da história do Brasil, que de alguma forma influenciaram a educação no país, ressaltando a importância do respeito à autonomia e à ética em sala de aula. A autonomia é colocada em questão tanto do ponto de vista do professor como do aluno, para que haja atitudes de independência e de proatividade dos alunos. Um comparativo das abordagens utilizadas ontem e hoje também será o objetivo desse trabalho. Esse estudo será feito com base em fatos históricos que ocorreram no Brasil (obviamente focando na educação), passando pelas diversas Pedagogias que surgiram ao longo dos anos, como as Pedagogias de Georges Snyders e de Paulo Freire, para então concluir e verificar as mudanças que tivemos e por que mudou. Essa pesquisa deseja auxiliar estudantes em geral a entender melhor a relação histórica, humana e social entre corpo docente e discente.

 Palavras-chave: História da educação, autonomia, ética, Pedagogia, abordagens.

Abstract

This work shows basically important facts that occurred at different times in the history of Brazil, which in, some way, influenced education in the country, highlighting the importance of respect for autonomy and ethics in the classroom. The autonomy is discussed both from the standpoint of the teacher as the student, so there attitudes of independence and proactivity of the students will be noted. A comparison of the approaches used yesterday and nowadays is also the objective of this paper. This study will be based on historical events that occurred in Brazil (obviously focusing on Education) through the many pedagogies that emerged over the years, such as the theories of Georges Snyders and Paulo Freire, and then, complete and verify the changes had changed and why. This research wants to help students better understand the history, the humans and social relationships between professoriate and student body.

 Keywords: History of Education, autonomy, ethics, Pedagogy, approaches.

1. Introdução

Lecionar é um dom para poucos. Alguns podem até aprender e estudar teorias de como proporcionar uma boa aula, porém o verdadeiro professor é aquele que gosta do que faz e que nunca desiste de seus ideais. O professor está diretamente ligado ao estudo, o que o diferencia de outros profissionais. É uma profissão de constantes atualizações. O mestre também tem um papel muito importante na formação de opiniões e/ou como influenciador de atitudes, sejam elas boas ou ruins.

O poder que o ensino possui é de total mérito àquele que o exerce da melhor forma possível: o professor; mas não é só o professor que constitui um ambiente de ensino, assim como Paulo Freire (1996) afirma: “não há docência sem discência”. Há também os alunos, e estes possuem os mesmos direitos e deveres que o professor. Tanto os professores como os alunos devem ter sua própria autonomia e seus próprios objetivos, e devem também ter em mente que aquilo que o outro sabe, nunca deverá ser motivo de desmerecimento. Não é só porque o professor é mais velho, que significa que ele sabe mais que o aluno – todos possuem saberes únicos e exclusivos, porém isso não implica em guardar um conhecimento para si.

Antes do surgimento da escola, os mais velhos ensinavam os valores, condutas e saberes aos mais novos, para que estes soubessem viver naquela sociedade. A educação se dava dos mais velhos falando, ensinando, transmitindo para os mais novos o que sabiam. Nessa relação o mestre era o detentor de todo o saber e o educando não deveria opinar em nada, apenas ouvia e memorizava o conteúdo.

 Esse modelo brevemente descrito acima é um modelo de Ensino Tradicional. Apesar das transformações que a sociedade passou, esse modelo ainda continua sendo usado em muitas escolas do país. Nas salas de aula, o conhecimento é separado e rígido e ao sair de lá, vemos que o conhecimento é dinâmico e interligado, e o principal: ele é um só.

Na Educação Tradicional o foco era no ensino. Hoje com a nova visão de educação o foco é na aprendizagem do aluno, ou seja, nota-se que a diferença básica entre as duas visões é que antes as aulas centravam-se no professor, e hoje o centro do ensino-aprendizagem é a interação entre professor e aluno. Com base nessas principais diferenças é que se pretende desenvolver o presente trabalho, a fim de comparar essas mudanças.

    2. Respeito à autonomia dos indivíduos

Primeiramente o professor tem que estar disposto a aprender a aprender, para depois ensinar os seus alunos a aprender. Isso significa que o professor é o responsável por criar um ambiente incentivador aos estudos, à leitura e ao conhecimento.

Há sempre um choque em sala de aula - um choque de opiniões diversas, um choque de objetivos, um choque de ideologias etc. – e cabe ao professor mostrar aos alunos que essas diferenças contribuem para a formação dos mesmos e que nem sempre é preciso concordar com tudo que o professor diz ou vice-versa.

A diversidade cultural, religiosa, econômica e social são elementos que podem contribuir de várias formas e ampliar o leque de conhecimento em sala de aula. São muitos os aspectos que podem ser explorados desde que haja respeito entre ambas as partes.

 2.1.    Quando o educador tira a autonomia do educando?

 A autonomia do educando é para fazê-lo construtor de conhecimentos, mas para tornar isto realidade é preciso que as instituições educacionais e professores, que têm uma pedagogia autoritária, repensem seus métodos de ensino, pois a pressão muitas vezes é responsável por inibir a criatividade do aluno. O próprio autoritarismo do professor induz ao desrespeito. A liderança do professor não deve desaparecer, mas sim ser compartilhada com todos.

Quando o professor ironiza o aluno, ele está duvidando de seu conhecimento, assim gerando desinteresse pela aula e pelo professor, uma vez que ele já se sentiu subestimado.  Esse exemplo mostra claramente que o professor tirou a autonomia do aluno e não o respeitou quando ele quis ser ouvido. O docente também desrespeita o aluno, quando: o minimiza, desrespeita a sua curiosidade, satiriza o seu gosto estético, não compreende sua inquietude, critica sua linguagem (ao invés de corrigir), quando não o deixa esclarecer alguma dúvida (FREIRE, 1996).

Durante todo o processo de aprendizado, as autonomias do aluno e do professor têm que ser respeitadas para que a sala de aula se torne um ambiente mais agradável. O professor que gosta do que faz e que transmite essa paixão pelo conteúdo aos alunos, obviamente terá mais facilidade na hora de explicar uma aula difícil. Quando o professor demonstra que o que ele irá explicar será interessante, com certeza os alunos terão essa expectativa.

A preocupação em saber se o aluno está absorvendo o que o mestre está ensinando também tem que existir, para que a aula não seja apenas centrada no professor que trata seus alunos como se fossem bancos, onde são depositadas várias informações sem que haja uma troca e uma interação. Esse tipo de ensino era muito comum antigamente, e hoje, por mais que tenhamos Pedagogia Construtivista, Progressista, entre outras, ainda encontramos a Pedagogia Tradicional em muitas instituições de ensino.

 3. O ensino no brasil colônia e império

 No século XVI ocorreu o “descobrimento” do Brasil pelos portugueses, porém a colonização portuguesa só começou em 1532, com a divisão do país em quinze capitanias hereditárias, que só teve o seu fim em1549. Apartir deste evento a educação brasileira teve início.

Os missionários portugueses quando aqui chegaram, rapidamente aprenderam a língua dos índios e nela se aperfeiçoaram a ponto de lhes darem regras e disciplina gramatical. O método dos jesuítas, não apenas com os índios, era o de memorização, repetição e provas teóricas. De acordo com Ghiraldelli (1957), a educação no período colonial divide-se em três fases: a de grande e unicamente influência dos jesuítas; a de expulsão dos mesmos pelo Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo); e a fase a partir do momento que a família real veio para o Brasil. Basicamente o Estado e a Igreja mandavam. Para o Brasil, a expulsão dos jesuítas significou, entre outras coisas, a destruição do único sistema de ensino existente no país naquela época. 

Com relação ao pioneirismo de ensino no Brasil, só pode se lembrar do nome do Padre Manuel da Nóbrega, cujo plano de estudos incluía a doutrina cristã, o ensino da Língua Portuguesa e a “escola de ler e escrever”. Vários membros da Companhia de Jesus, que se oficializou em 1540, comandavam as principais instituições educacionais. Nesse tipo de ensino o pensamento crítico passava longe das salas de aula. Quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, havia dezessete colégios e Escolas de Primeiras Letras funcionando. Após a expulsão dos jesuítas em1759, aeducação foi pela primeira vez organizada pelo Estado, com influências do Iluminismo. Era o tempo das “aulas régias”. Mas ainda assim, para concluir os estudos, os estudantes dirigiam-se para a Europa.

Em 1808, o príncipe regente D. João VI, fugindo das invasões francesas que Portugal so-                          fria, veio para o Brasil e tornou-se rei em 1816. Estávamos no Brasil Império. No século XIX, ele transformou o Rio de Janeiroem capital. Coma transferência da corte portuguesa, iniciou-se uma nova fase política cultural no país. Quinze mil portugueses vieram para o Brasil e ajudaram a “relusitanizar” o Rio de Janeiro. Cursos em nível médio, superior e militar foram criados. Houve mais investimentos em escolas técnicas e as escolas de ensino superior se multiplicaram, e os estudos primários e médios foram esquecidos. Somente após a independência em 1822 é que surgiram sistemas de ensino como instituições.

Em 1827 ocorreu uma revolução na escola: a Primeira Lei Geral de Ensino criou colégios nas vilas e cidades mais populosas. Ocorreu também a adoção ao método lancasteriano. As meninas puderam então estudar fora de casa. O método utilizado era o de ensino mútuo, onde o professor orientava os melhores alunos (monitores), e estes repassavam o conhecimento a outros dez alunos. A repetição e a memorização continuavam sendo métodos utilizados. Escolas laicas, protestantes, particulares e colégios para meninas foram criados ao fim da monarquia, e mais tarde, na República “Velha”, tiveram seu ápice.  Foi nesse mesmo período pós-monárquico que surgiu a prática de aplicar exames, talvez por influência da criação de ensinos superiores, e com isso, uma metodologia de ensino preocupada em ensinar aquilo que “cairá” no exame final e em vestibulares.

O ensino nessa época era voltado mais para jovens do que para crianças, talvez ainda por não ter a concepção do que era “ser criança”. Na era monárquica brasileira, o professor era o centro das atenções; já na era republicana começou uma maior preocupação psicopedagógica.  

 4. O ensino no brasil - república velha

Este período durou de 1889 até 1930, e durante esses anos o Brasil teve forte influência do pensador francês Auguste Comte que pregava o ensino leigo, livre e gratuito. Nessa época o analfabetismo atingia mais da metade da população brasileira.

Surgiram movimentos denominados como “entusiasmo da educação” e “otimismo pedagógico”. Nota-se que a reflexão em torno de como ensinar e a estruturação escolar surgiram na República, sob vários fundamentos filosóficos. Ambos os períodos foram influenciados por ideais estrangeiros, e foi a partir dessa República que a influência estadunidense começou a fazer parte de nossa cultura, distanciando-nos da influência europeia.

A República foi marcada por mais formalidades e burocracias, como a obrigatoriedade da apresentação de diplomas. Houve também, paradoxalmente, a eliminação de exames preparatórios. A ideia de organização docente das escolas que conhecemos hoje surgiu nessa época, onde foram criados cargos de coordenadores, supervisores, diretores etc.
           Na República surge o aluno como foco central, talvez por influência da Dra. Maria       Montessori, que criou o método no qual os alunos eram o centro das atenções, fazendo assim o movimento da Educação Nova na Itália.

A preocupação de transmitir mais conhecimentos, com a implantação de mais disciplinas na grade curricular das escolas preliminares também surgiu. Nota-se grande diferença no número de disciplinas existentes entre esses dois períodos e um aumento no ensino da Ciência.  

5. O ensino no Brasil após a revolução de 1930 e na ditadura

A partir de1930, aeducação ficou mais estruturada com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (o atual Ministério da Educação e Cultura) pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas. Só em 1934, com a promulgação da terceira Constituição brasileira, a educação passa a ser um direito de todos e um dever dos poderes públicos.

Essa é a época do Estado Novo de Getúlio Vargas e da valorização do ensino profissionalizante.  O Estado Novo durou de1937 a1945 (GUIRAlDELLI, 2009). Nessa época o ensino era dividido em: cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três anos de curso colegial.

As Leis Orgânicas do Ensino foram decretadas entre 1942 e 1946 e ordenaram o ensino primário, secundário, industrial, comercial, normal e agrícola. Foi também nessa mesma época que criaram o INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) e outras instituições como o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). Se não fosse a ditadura da época, teríamos uma boa estrutura educacional nesse período.

Em 1947, o governo lançou uma campanha nacional de alfabetização na qual se buscava diminuir o analfabetismo no país. Já em 1951, Getúlio Vargas retorna ao poder e é nesse período que a pedagogia de Jean Piaget [2] ganhou espaço no Brasil e que as instituições de ensino passaram a ter um apoio formal, com a criação do Ministério da Educação e Cultura.

 Jean Piaget dentre suas teses, defendeu o ensino-aprendizagem de uma forma interacionista. Para ele o comportamento era construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Com isso a visão tradicional do ensino no Brasil sofreu influências e começou a ser questionada.

No ano de 1956, Juscelino Kubistchek assumiu a presidência do Brasil e fez a industrialização crescer, mas em seu plano de metas ele não priorizou a educação, e com isso houve manifestações em prol de ensino gratuito no país, ou seja, o ensino público entrou em decadência e escolas particulares começaram a surgir e com elas seus defensores.

“Juscelino Kubistchek entregou ao seu sucessor – Jânio Quadros – um sistema de ensino tão elitista e antidemocrático quanto havia sido com Dutra e Vargas” (Ghiraldelli, 2009, p. 103).

Essa discussão seguiu até 1961, quando foi aprovada a LDB (Leis de Diretrizes e Bases). Apareceram os escolanovistas, como Paulo Freire e Georges Snyders[3], que criticaram o sistema particular e tradicional de ensino alegando que eram desfavoráveis às classes populares.              

A Pedagogia Progressista[4] opõe-se ao ensino tecnicista, de linha autoritária e procura formar cidadãos autônomos, conscientes, participativos na vida da sociedade, reflexivos e críticos.

Durante essa época da criação da LDB, Paulo Freire esteve à frente de manifestações e de trabalhos como alfabetização de crianças e de adultos em Pernambuco, que ganhou dimensão nacional. Inspirados no método de ensino criado por Paulo Freire originaram-se o PNL (Plano Nacional de Ensino) e o Programa Nacional de Alfabetização. Mas em 1964 com o golpe militar, essas iniciativas foram anuladas sob a alegação de que eram planos rebeldes.

Durante a Ditadura Militar (1964-1984) o ensino superior privado ganhou espaço e para acabar com o excesso de alunos aprovados e sem vagas, foi criado o exame de vestibular classificatório e com ele surge o ensino preocupado com notas, performances e provas. Durante duas décadas o ensino foi marcado por opressão, privatização, exclusão dos setores mais pobres do ensino, enfim, a educação no país estavaem baixa. Asconsequências desse ensino bancário (como dizia Paulo Freire) são notadas até hoje, seja por meio das escolas ou por meio dos adultos de hoje, que naquela época foram as crianças oprimidas. Se não eram oprimidas, era porque não estudavam, uma vez que naquela fase era normal estar fora da escola.

Nos últimos anos da Ditadura Militar e no início da era democrática houve grande crescimento no campo da literatura educacional, principalmente literaturas inspiradasem Piaget. Laurode Oliveira Lima foi um dos primeiros a contribuir com a divulgação dos pensamentos “piagetianos” (GHIRAlDELLI, 2009).

 Com o fim da ditadura em 1984, o ensino passou a ser novamente discutido de uma forma mais aberta e democrática.

 6. O ensino no Brasil após a ditadura militar: da nova república aos dias de hoje

O século XX foi marcado por explosões demográficas e pelo crescimento urbano exacerbado, assim como pelo avanço das tecnologias. E como Aranha diz em seu trabalho, talvez seja culpa desses grandes avanços que a nossa sociedade perdeu tantos valores. Isso fez com que mudássemos nossa forma de pensar sentir e agir (ARANHA, 2006).

No Brasil, o governo militar terminou em 1985 e assim surgiu a Nova República. As consequências da ditadura eram vistas em todas as áreas, tanto nas finanças quanto na política e na educação. A censura havia reincidido e a política voltava a ser discutida nas ruas e nas escolas.

 Com o primeiro presidente da República após a ditadura, José Sarney, o Brasil também ganhou novo ministro da Educação, Marco    Maciel. Em seu governo foi regulamentada a “Emenda Calmon”, que destinou treze por cento do orçamento brasileiro à educação. Marco Maciel ficou apenas um ano no cargo, porém tomou várias iniciativas como o incentivo do programa de distribuição do livro didático entre 1985 e 1986. Foram oitenta milhões de exemplares distribuídos. Nesse período, a educação começou a progredir, mas com a saída de Maciel, e com o fracasso do Plano Cruzado, o caminho mudou.

  Após o fracasso do Plano Cruzado em 1986, as escolas particulares tornaram-se inviáveis até mesmo para a elite. Enquanto isso, o ensino público continuava indo de mal a pior.

A preocupação com a escola e com a formação dos professores ganhava forças. Vários cursos para formação de professores foram criados na tentativa de salvar a Educação Brasileira. Em1987 aescola pública, aos poucos voltava a ser instituição de ensino.

Em 1988 foi promulgada a nova Constituição brasileira, a sétima adotada no país. Nela há nove títulos e foi a Constituição brasileira que mais sofreu emendas.  Era substituída a Carta Magna imposta pelo regime militar em 1967.

Com a nova Constituição houve gratuidade no ensino público; obrigatoriedade no ensino fundamental; extensão gratuita ao ensino médio; atendimento em creches para crianças de zero a seis anos; planos de carreira aos professores (ARANHA, 2006).

Com a promulgação da nova Constituição em 1988, surgiu a última versão da LDB (Leis de Diretrizes e Bases), pois a de 1982 teve sua implantação fracassada. A nova LDB demorou a ser aprovada, o que ocorreu apenas em 1996.

Já em 1990 estávamos na “Era Collor” e a economia do país só declinava. Inflações, desempregos, altas taxas de juros e dívidas externas faziam parte da nossa economia. Fora uma política caótica, em que, investiu-se até contra setores de fomento à investigação científica, como CNPq e a CAPES[1]. Nesse ano havia grande contingente de crianças fora da escola e uma multidão de adultos analfabetos no Brasil (GHIRAlDELLI, 2009). Neste mesmo ano ocorreu o encontro do G-9, que reuniu os nove países com a maior taxa de analfabetismo, dentre eles, o Brasil. Esse evento ocorreu na Tailândia e determinou várias metas aos países. Essas metas também serviram como base para a criação do PNE (Plano Nacional de Educação).

Em 1996, com a aprovação da LDB, muitos pontos positivos apareceram na educação brasileira. Sua literatura não foi autoritária e propôs o que deveria ou não ser ensinado nas escolas. A LDB também determinou que para lecionar era preciso ter ensino superior, o que foi um ponto muito positivo para a educação brasileira. A partir dessa lei, surgiram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que servem como bases para cada disciplina escolar.

Na LDB estava prevista a criação pela União de um Plano Nacional de Educação. Este plano deveria ser mandado para aprovação no Congresso Nacional em até um ano. O prazo estabelecido de finalização foi de dez anos, sendo finalmente concluído em 1988. O PNE definiu as diretrizes para a gestão e o financiamento da educação, assim como diretrizes com relação à formação de professores.

Antes mesmo do PNE, já havia uma tendência à criação de programas educacionais, mas foi no governo de Fernando Henrique Cardoso que a última LDB e o PNE surgiram. Nesse governo foi onde mais criaram planos para a educação. “Basicamente três grandes exames foram criados na gestão FHC: o SAEB, o ENEM e o Provão”. (Ghiraldelli, 2009, p. 103). Com estes grandes exames criados, a educação à base de provas e testes se reforçou, fazendo o ensino girar em torno de notas e provas. Assim criou-se também um sistema de ensino que praticamente diz ao aluno: “Estudar é para passar em provas e não para você crescer como ser humano”.

Ao final da década de 1990, os docentes ainda guiavam–se por tendências pedagógicas de Paulo Freire, Johann Friedrich Herbart (filósofo alemão do século XIX, que mostrou a importância da Psicologia na Educação) e John Dewey (filósofo que defendia a democracia e a liberdade para a manutenção emocional e intelectual das crianças).

Em 2006 o Senado aprovou o projeto de lei que ampliou a duração do ensino fundamental de oito para nove anos, para que as crianças pudessem ter acesso à educação a partir dos seis anos (ARANHA, 2006). Com isso, até hoje ainda há dúvidas com relação a essa mudança na estrutura dos níveis.

Podemos dizer que de uma forma geral, a educação sempre teve seus altos e baixos, porém mais baixos que altos, e assim segue até os dias de hoje. Há alguns anos que, além da estrutura escolar não estar adequada à sociedade de hoje, os professores e alunos também não se adaptam uns com os outros. O contexto atual resume-se em professores desatualizados, sem vontade de ensinar e em alunos que não querem mais aprender na escola, pois sabem que a internet poderá lhes ensinar. Obviamente há exceções, porém são poucas.

 7. Considerações finais

 O docente tem o papel essencial na vida de milhares de seres humanos – isso não pode ser um aspecto ignorado. É responsabilidade do professor, entender as diferenças no âmbito educacional, a realidade de cada aluno e criar formas que possibilitem a apreensão do conhecimento.  Mesmo com as dificuldades, sempre presentes, o educador deve ter acima de tudo amor pela profissão e estar disposto a romper os desafios do dia a dia. Somente aquele que tem vontade de transformar e não se contenta com o já sabido, ultrapassa as fronteiras da inércia para chegar à construção do novo saber. De nada adianta conhecer novos métodos, tornar a aula cheia de recursos, se o professor encarar o aluno como um ser passivo e receptivo.

O conhecimento e a consciência de pesquisa se constroem através de uma educação emancipadora, ou seja, por meio de uma educação que acredita no aluno como responsável pelos seus atos. Neste sentido, constata-se que a tarefa do educador é um exercício que exige coerência na prática de suas ações. Seu dever é apresentar os caminhos existentes para que o educando tenha a liberdade de escolha. Deste modo ele aprende a expressar-se no mundo das ideias e assume o papel de ator principal, não mais, de um simples espectador que assiste a tudo sem o direito de participar, de criticar, de expor suas opiniões, etc. Quando o professor respeita a autonomia do educando, ele automaticamente contribui para a formação da personalidade do aluno.

Todas essas boas características apontadas acima são ótimos exemplos de boas aulas, mas infelizmente podemos concluir que durante toda nossa história de educação não tivemos esse pensamento de proporcionar a autonomia ao aluno. Assim Aranha, em seu livro, diz “O modelo de escola tradicional mostra-se anacrônico...” (ARANHA, 2006, p. 357), ou seja, a autora apenas reforçou uma ideia que muitos já sabem: que as escolas ainda são tradicionais e ainda não perceberam que este modelo de educação não cabe mais nos dias de hoje, com as crianças, com os jovens e até com os adultos.

A Abordagem Tradicional de ensino não possui muitas teorias validadas, ela foi praticamente fundamentada em uma prática educativa e na sua transmissão ao decorrer dos anos. Sendo assim, trata-se de uma concepção e uma prática educacional que persiste ao longo dos anos e que passou a servir como referência para todas as demais abordagens que a ela sucederam. Essa Abordagem Tradicional é caracterizada por ser muito rígida e centrada no professor, em que o aluno apenas escuta as ordens que lhe são dadas, ou o conteúdo que lhe é passado.

Sintetizando a linha do tempo da educação em dois pontos: “Ao percorrer a História da Educação, podemos constatar que, em todas as épocas, a escola foi seletiva, um privilégio de poucos.” (ARANHA, 2006, p. 327). Com isso notamos que, aos poucos estamos mudando essa história, porém ela ainda se faz presente.

Agora, se formos analisar a escola tradicional e a atual, o que mais é perceptível, é que hoje se prega uma liberdade de expressão, no qual os alunos tiram vantagens e acabam não respeitando os professores e também os colegas. O respeito que não existe hoje, também não existiu antes, pois o que havia era o medo do professor ou dos pais. O falso respeito ocorria por meio de ameaças, injustiças e punições. E se hoje (aparentemente) há mais falta de respeito com o próximo do que antes, é devido a inúmeras causas distintas, inclusive, o fato dos alunos se sentirem desrespeitados, discriminados e ironizados por aqueles que deveriam ser exemplo, referência e modelo.

Atualmente, em determinadas salas de aula, às vezes fica difícil distinguir quem está falando: os alunos ou o professor. Já na escola tradicional era inadmissível que o aluno conversasse, mesmo sendo com o próprio professor. Não vemos muitos exemplos bons durante a história da educação brasileira e este fato mudaria muitos problemas enfrentados no país. Segundo Vygotsky, “o professor deve ser o par mais avançado”, ou seja, ele não deve ser a autoridade do ambiente escolar, mas deve orientar e conduzir a sua aula.

O problema pode estar na degradação moral das instituições públicas – a começar pelo governo – que deveria ser o exemplo maior de honestidade e incorruptibilidade. Não há nada que substitua uma educação significativa pautada nos valores universais, independentemente de métodos, metodologias e propostas pedagógicas.

Outro fator que diferencia muito o ensino de antes e o de hoje é a Educação Permanente. Até meados do século XX havia o costume de se fazer apenas um curso superior e a pessoa já estaria pronta para iniciar sua vida profissional. Hoje, esse pensamento mudou. Ter um curso superior está virando um fato comum. Enquanto você termina o curso superior dos seus sonhos, há outros terminando o segundo, o terceiro ou até mesmo o quarto curso. Esse é um novo paradigma que está se formando em nossa sociedade. Estudar e se atualizar é uma realidade necessária.

Dando continuidade à História da Educação faz-se muito necessário ressaltar a importância das teorias construtivistas defendidas por Piaget e Vygotsky. A partir dessas teorias começaram a ocorrer mudanças na forma de como se tratava a educação. Essa mudança vem ocorrendo de forma lenta, porém temos vislumbrado avanços. Muitos ainda são contra a teoria construtivista, mas esta demonstra ser um dos caminhos para a nova educação no país.

O exato conteúdo de cada matéria, a maioria dos alunos não irá lembrar, mas aquele professor que fez a diferença, este com certeza será lembrado para sempre. Após o aprendizado e o tempo da escola, o que fica “é o clima desses dias de colégio: as aulas e o recreio, os exercícios e os jogos, os colegas” (HAYDT, 2002). Como o professor irá fazer isso, dependerá muito da situação e dos alunos, pois em educação não há fórmulas e nem assuntos fechados. Estaremos sempre em constante transformação.

 8. Referências bibliográficas

 Aranha, Maria L. de A. História da Educação e da Pedagogia: geral e do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.

 CambI, Franco. História da Pedagogia. 1ª ed. São Paulo: UNESP, 1999.

 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa.  São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 Ghiraldelli Junior, Paulo. História da Educação Brasileira. 4ª ed. São Paulo: Cortês, 2009.

 HAYDT, Regina Célia. Curso de Didática Geral. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2002.

 LOPES, E.M.T.; FARIA FILHO, L.M.; VEIGA, C.G. 500 anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

 Manacorda, Mário A. História da Educação da Antiguidade aos Nossos Dias. São Paulo: Cortez, 2004.

 MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos."Método lancasteriano" (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em:< http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=273>. Acesso em: 11/11/2011.

 Romanelli, Otaíza de O. História da Educação no Brasil 1930 - 1973. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1983.

 SNYDERS, Georges. A Alegria na Escola, São Paulo, Ed. Manole LTDA., 1988.

 SNYDERS, Georges. Entrevista com Georges Snyders realizada pela Profa. Angela Xavier de Brito, Paris/França, abril de 1996.

 SNYDERS, Georges.  Pedagogia Progressista, Lisboa/Portugal: Livraria Almedina, 1974.

 S.N. Educação Tradicional X Nova Educação. 2010. Disponível em <http://www.worldrpgfest.com.br/blog/2010/06/educacao-tradicional-x-nova-educacao/>. Acesso em 14 nov. 2011.