1 O ENSINO DE POESIA: UM BREVE HISTÓRICO

            É importante que se reflita um pouco mais sobre a poesia, que é uma das mais complexas dentre todas as nossas manifestações verbais. Há muitos textos que podem ser classificados como poéticos desde um pequeno haicai até Os Lusíadas.

            A poesia inclui as mais diversas composições, desde os simples textos líricos e ingênuas composições folclóricas até complexos poemas e textos elaborados com jogos linguísticos. De acordo com Faraco (2003, p. 80-81):

O texto poético começou muito cedo na história na humanidade. Temos, portanto, um longo tempo de produção de poesia e de reflexão sobre ela. Em cada época e em cada cultura a poesia foi praticada e pensada de modo diferente. Basta lembrar, por exemplo, que, para muita gente no passado, a poesia devia ficar reservada exclusivamente para tratar de assuntos sublimes.

            Levando em consideração o que afirma o autor, pode-se dizer que a poesia não ficou impedida de tratar de assuntos do cotidiano, por meio de poetas satíricos ou daqueles que quiseram mostrar a dimensão poética do mais banal dos eventos da vida diária.

            O assunto poético é bastante vasto. Pois, a poesia fala de grandes amores, imensas paixões, dores profundas, aventuras épicas, momentos de sublime arrebatamento, bem como de desejos sexuais, críticas e costumes sociais, acontecimentos que fogem do cotidiano e obscenidades.

            Tem-se grandes poetas na Literatura, como Cecília Meireles e Vinícius de Moraes. Ela desenvolveu uma poesia intimista e reflexiva, de profunda sensibilidade feminina. Ele partiu de uma poesia religiosa e idealizante, chegando a ser um dos poetas mais sensuais da nossa literatura. A obra de ambos trilhou caminhos próprios. A de Cecília, o da reflexão filosófica e existencial; a de Vinícius, um caminho em direção à percepção material da vida, do amor e da mulher. Segundo Cereja; Magalhães (2005, p. 49):

Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que aborda, entre outros, temas como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito, a natureza, a criação artística. Mas não se deve entender sua atitude reflexiva como postura intelectual, racional.

            É importante ressaltar que Cecília foi uma escritora de intuições, a qual sempre buscou questionar e compreender o mundo a partir das suas experiências como a morte de seus pais quando ainda era criança, a morte da sua avó que lhe deu educação, o suicídio do seu primeiro marido, o silêncio e a solidão.

            É sabido que ela mesma revelou os objetivos que buscava alcançar através da poesia. Pode-se perceber isso no seguinte pensamento dela: “Acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação – mas por uma contemplação poética afetuosa e participante.”

            Já Vinícius de Moraes foi um poeta que partiu da transcendência espiritual ao amor sensual. Para Cereja; Magalhães (2005, p. 501):

A primeira fase da poesia de Vinícius é marcada pela preocupação religiosa, pela angústia existencial diante da condição humana e pelo desejo de superar, por meio da transcendência mística, as sensações de pecado, culpa e desconsolo que a vida terrena oferece.

            Vinícius de Moraes explorou a poesia sensual e se interessou pela poesia social. E o poema O Operário em Construção de 1956 é o melhor exemplo desse envolvimento através de uma linguagem simples e direta, manifestando solidariedade às classes oprimidas e almeja atingir a consciência daqueles que o leem ou ouvem.

1.2 A Importância do Ensino da Poesia

            Atualmente, a falta da leitura de poesia tem trazido resultados de descaso por ela e no ensino, e em determinados momentos da história da literatura. A verdade é que, isso tem causado grandes preocupações para os autores modernos, os quais buscam na construção de suas poesias, caminhos para levar o homem à redescoberta de valores perdidos que o sistema capitalista tem destruído na vida do homem moderno. A poesia tem o poder de formar e transformar a sociedade através de suas mensagens. Segundo Paes (1982, p. 24):

Na poesia, os materiais abandonam o mundo cego da natureza para ingressar nos das obras, isto é, no mundo das significações. A sua linguagem é primitiva, original e mais perto da linguagem falada.

            Deve-se considerar que a poesia é uma obra aberta a todos os homens por sua participação, de modo que, sem a atividade de leitura, a poesia não terá sentido nem significado. Cada vez que o homem faz a leitura de um poema ele se descobre cada vez mais. O leitor e o poeta criam as imagens e as poesias, e o poema os leva à pureza da existência humana.

            A leitura da poesia foi modificada de acordo com o tempo e a cultura. Em tempos atrás, a poesia foi representante do sentimento humano. Porém, nos dias atuais, a poesia moderna não é proveniente da imaginação do poeta, mas de sua voz que nasce da diferença original das coisas.

            Atualmente, a poesia não tem valor nem importância, ela é de ninguém, ou seja, são somente palavras jogadas. De acordo com Lima (2012, p. 42):

A poesia está em todos os tempos, pois é a maneira de comunicar natural dos homens; desta forma, o ritmo confunde com a linguagem, e não existe povo sem poesia. Na poesia tudo é possível em relação à linguagem.

            Isso implica dizer que a essência da linguagem poética está na palavra, na imaginação criadora e no isolamento da linguagem falada. O mundo não percebe o valor poético que encanta e que apenas é encontrado na leitura. Sendo assim, a poesia é uma criação sublime e literária. E a poesia não morre porque ela está antes do homem.

            Alguns professores dizem que é difícil ensinar poesia pois não sabem como introduzir e como incentivar os alunos ao estudo e à criação de textos poéticos. Eles acreditam que para escrever poesia é necessário que se tenha o dom, porém é preciso que haja conhecimentos poéticos, bem como inspiração.

            Os professores, hoje em dia, não se sentem capacitados para ensinar a poesia. Mas, não há uma regra ou fórmula pronta para se escrever o que se sente. A poesia é sentimento, é sensibilidade para expressar por meio dela o que ocorre em nosso cotidiano: a paixão, as injustiças, a perda, a ilusão, a morte, a esperança, o amor, a imaginação e a graça.

            É importante o ensino da poesia porque um de nós pode produzir poesias com seus encantos poéticos, sem que precise se prender à rima, à musicalidade, às sílabas contadas. E sabe-se que isto é motivo suficiente para que os professores não queiram ensinar poesia.

            Entretanto, é necessário que o professor tenha novas ferramentas para trabalhar este tema com cuidado e possa encontrar saídas para transmitir esse conhecimento para os alunos. Mas tudo depende apenas da criatividade do professor com boa dose de capacitação no tema abordado.

1.3 A Poesia Infantil

            O conhecimento do mundo não se dá apenas através de leituras de textos científicos. O texto poético transforma as ações da humanidade por meio do sentimento, da intuição, isso porque a poesia fala direto à imaginação.

            Quando se lê um texto poético, pode-se construir suas significações por meio de experiências vividas, dos órgãos dos sentidos e através da percepção da realidade pelas diferentes formas dadas às palavras. Dessa forma, cada cultura, cada sociedade em uma época retrata o entendimento que tem do mundo.

            A poesia é um gênero quase natural para a infância. Pois, ao contrário do que se possa imaginar, metáforas e estruturas heterodoxas não são difíceis para as crianças. Os poemas são brincadeiras com palavras e sentidos. De acordo com Cademartori (2010, p. 09):

A criança que costuma ler, que gosta de livros de histórias ou de poesia, geralmente escreve melhor e dispõe de um repertório mais amplo de informações, sim. Mas essa não é a principal função que a literatura cumpre junto a seu leitor. Mesmo sem precisar discorrer sobre a função da literatura, sabemos que é o fato de ela propiciar determinadas experiências com a linguagem e com os sentidos – no espaço de liberdade que só a leitura possibilita, e que instituição nenhuma consegue oferecer – que a torna importante para uma criança.

            É importante que a prática da leitura da poesia seja acompanhada pelos professores e pela família quase todos os dias, pois, eles têm uma função essencial no cultivo da leitura e da audição de poesia.

            Escritores como Cecília Meireles, Sidônio Muralha, Vinícius de Moraes, José Paulo Paes, Sérgio Caparelli, Elias José, Rosena Murray, Manuel Bandeira e Carlos Drummond têm poemas muito significativos.

            No entanto, é importante lembrar que mesmo a criança tendo contato desde cedo com a poesia que não lhe foi destinada, a forma de percepção, as razões pelas quais a levam a gostar serão diferenciadas. E, além disso, é bom lembrar, também que boa poesia para a criança é boa poesia para qualquer leitor, até mesmo o que se acha o mais crítico. Segundo Rolim (1897, p. 15):

A poesia dedicada às crianças pode ser evidentemente compreendida a partir dos pressupostos gerais do gênero. Isso equivale dizer que acreditamos que os versos dirigidos aos pequenos mantêm as qualidades inerentes à arte literária, sem rótulos de qualquer natureza.

            Quando se trata de poesia para crianças não se pode correr o risco de cair em falsas prerrogativas, responsáveis pelos preconceitos que veem o gênero, e toda produção infantil, como moralista, infantilizado, ufanista e piegas. Ao contrário, a poesia infantil deve ser uma brincadeira a mais para os pequenos, um jogo que apresente certos recursos formais imprescindíveis como onomatopeias, rimas, repetições, paralelismo, contra sensos, jogos sonoros entre outros.

            Quanto à temática, não há nada definido; qualquer assunto pode ser do interesse das crianças, desde que lhe seja apresentado com clareza, e com respeito ao seu desenvolvimento, intelectual e emocional. O essencial é que as produções infantis cativem seus leitores com o recurso à fantasia, por seu caráter de magia, pela valorização da sensação que os transporta do mundo real para o possível, construído pelas imagens e símbolos do poema.

            Além da fantasia, como as crianças são, em essência, seres alegres, que precisam manifestar abertamente sua alegria, o humor é também um ingrediente altamente desejado na poesia infantil. Versos como o de Sylvia Orthof, que revelam como a poesia é concebida, sintetizam a relação intrínseca entre o gênero e seus destinatários, como pode-se ver abaixo:

A poesia é uma pulga,
coça, coça, me chateia,
entrou por dentro da meia,
saiu por fora da orelha,
faz zumbido de abelha,
mexe, mexe, não se cansa,
nas palavras se balança,
fala, fala, não se cala,
a poesia é uma pulga,
de pular não tem receio,
adora pular na escola...
Só na hora do recreio!

(ORTHOF, 1992, p. 03)

           

            A poesia infantil, como outro qualquer outro gênero destinado às crianças, deve ser desinteressada, livre de preocupações sociais, políticas, religiosas ou comportamentais, embora isso seja humanamente impossível, pois sabe-se que a criação sempre vem contaminada pelo ponto de vista do autor, por suas crenças e valores mais íntimos. Entretanto, o didatismo e o caráter estreito e utilitário, muito evidentes nos primeiros versos do gênero, no Brasil, como os de Zalina Rolim, abaixo transcritos, devem ser evitados. No poema, o menino só pensa em brincar, estudar e ler são atividades que não o atraem; depois, com a ajuda da irmã, reconhece o valor da leitura. Veja:

RAUL não sabe ler;

É um traquinas, que vive toda a hora

Pela campina em fora

A correr, a correr…

 

Mas a irmã, tal e qual

Uma bondosa mãe ao filho amado,

Fê-lo assentar-se ao lado

E explicou-lhe o seu mal.

 

E com tanta razão

Que, abrindo atento o livro misterioso,

Raul pediu, ansioso,

A primeira lição.

 

(ROLIM, 1897, p. 18)

            No entanto, quando a poesia é gerada com liberdade, atendendo à gratuidade própria da arte literária, pode provocar nas crianças, e nos leitores de qualquer idade, a capacidade de surpreender-se com o mundo. É o que se pode ver no poema de Fernando Pessoa, escrito quase à mesma época que o anterior, e, ainda que não seja exclusivamente dedicado às crianças, trata também da leitura, mas de maneira pouco usual, invertendo valores considerados imprescindíveis e altamente desejados pelo senso comum. Observe:

Ai que prazer
Não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
Como tem tempo, não tem pressa…

(PESSOA, 1965, p. 188)

            De acordo com Zilberman (2003, p. 21):

Como construção formal, os poemas infantis devem ter as mesmas estruturas responsáveis pelo caráter artístico para adultos: versos, estrofes, rimas, ritmo e uma linguagem marcadamente simbólica. Entretanto, diante das especificidades do receptor, a poesia para crianças não pode perder-se em imagens muito elaboradas ou na linguagem de difícil acesso.

            As estruturas linguísticas, adequadas à faixa etária a que se destinam os poemas, devem permitir e incentivar a entrada do leitor e sua participação na construção dos sentidos dos textos. Como isso é possível? Com a escolha de vocábulos condizentes à realidade à criança; com o emprego de frases curtas, na ordem direta, sem inversões, sem rebuscamentos de linguagem, com expressões e construções mais próximas da oralidade e, portanto, mais próximas da criança.

2 A POESIA NA SALA DE AULA

 

            Nos dias atuais, a prática da leitura de poesia está esquecida nas escolas. Isto acontece porque há pouco contato dos educadores da língua materna, desde os primórdios de sua formação. De acordo com Banberger (2002, p. 10):

Está claro que a personalidade do professor e particularmente, seus hábitos de leitura são importantíssimos para desenvolver os interesses e hábitos de leitura nas crianças, sua própria educação também contribui de forma essencial para a influência que ele exerce.

            Considerando esse ponto de vista do autor, é importante ressaltar que se o professor não tiver um hábito de ler poemas e não se sensibilizar ao ler uma poesia, dificilmente ele vai conseguir despertar o interesse em seus alunos.

            Sabendo-se que a poesia é um gênero literário distante da sala de aula, pode-se dizer que é necessário que se descubra formas de familiarizar e de trazer as crianças e os jovens para a poesia. E isso deve ser feito por meio de um planejamento para evitar que se diga que os poemas são difíceis de interpretar e de compreender.

            Portanto, a poesia não é difícil de interpretar. Ela só precisa de certos cuidados e atenção para que haja compreensão da mesma. Aprender a interpretá-la envolve desenvolvimento de aquisição de conhecimentos dos diversos sentidos que um texto poético proporciona.  Segundo José (2003, p. 10):

Uma forma para melhorar a aprendizagem é a aproximação constante da poesia, como também a utilização do conhecimento prévio. O conhecimento prévio engloba o conhecimento linguístico que abrange desde o conhecimento sobre pronunciar o português passando pelo conhecimento do vocabulário e regras de língua, chegando até o conhecimento sobre o uso da língua.

            É necessário ressaltar, aqui, que se tais conhecimentos não forem respeitados, o entendimento e a compreensão da poesia podem ficar no prejuízo e será difícil compreendê-la e a compreensão de uma poesia pode ficar comprometida se o leitor não tiver algum dos conhecimentos citados por José (2003).

            Sendo assim, para que os problemas do distanciamento de interpretação e de compreensão poética sejam amenizados é fundamental que o professor compreenda que interpretar poesia não significa ficar restrito à forma de apresentação sobre uma página.

            É importante dizer que o professor deve ter como ponto de partida uma leitura poética do mundo, fazendo da poesia razão de apreciação lúdica e de motivação para produzir a intertextualidade e diversas outras formas de criar com seriedade, porém brincando com as palavras. Para Alves (2010, p. 10):

A poesia ainda é desvalorizada na escola. Os alunos não gostam de ler poemas e o professor, sozinho, não consegue motivá-los à leitura dos textos poéticos. Muitos são os fatores que impedem o florescimento dessa prática em sala de aula, desde as lacunas na formação do (a) professor (a) até a presença tímida da poesia nos livros didáticos de Língua Portuguesa.

            É necessário que se observe que, quando isso acontece, a poesia apenas serve como desculpa para que se faça análise gramatical ou questionamentos acerca do aspecto formal do poema. Na verdade, não há apenas um culpado, porém um conjunto falho que se adiciona ao longo da história da educação brasileira.

            É sabido que a leitura da poesia é importante para a formação escolar e do homem, porém, infelizmente, ao invés de a escola incentivar, ela piora a situação, logo continua tratando a poesia de forma errada e superficial.

            A prática da leitura é muito pouco cultivada na sociedade atual e, isso é consequência de questões socioculturais e políticas. O conceito de leitura nos dias atuais se limita apenas à decodificação das palavras, não permitindo ao leitor a percepção dos múltiplos significados presentes no texto nem desperta nele a fascinação e a magia que está por trás do ato da leitura.

            Porém, ao se falar em leitura de poesia, a coisa piora. A sociedade atual não cultiva a prática de leitura de textos poéticos. Na escola, no entanto, essa prática fica limitada a momentos, como datas comemorativas ou quando serve de desculpa para análises gramaticais. Então, os alunos não conseguem notar o encanto do texto poético. E, em consequência disso, os alunos não gostam de ler poesia, pois consideram de difícil compreensão e sem sentido. De acordo com Paixão (1982, p. 18):

Infelizmente, ao longo da história da educação o cultivo da poesia ficou esquecido, pois os professores davam preferência ao tratamento, em sala de aula, de assuntos considerados “mais sérios”. Mas todos os educadores de fato sabem da importância e do poder transformador que a poesia tem em nossas vidas e na formação de leitores mais proficientes e de cidadãos mais críticos.

            Considerando essa afirmação, deve-se dizer ainda, que a poesia está relacionada ao fato de que o homem necessita compreender o sentido da vida. E isso faz lembrar as palavras de Adélia Prado: “Quem lê poesia não vive no mundo da lua. Pelo contrário, vive a realidade, passa a olhar com mais verdade o mundo.”

            Sendo assim, a poesia é um estado de espírito de todo artista e deve expressar em qualquer manifestação realmente artística.

            No entanto, a falta de leitura de poesias na escola ocorre especialmente porque a poesia não é vista com o seu valor real. Ela só é vista como desculpa para se ensinar boas condutas, valores patrióticos ou fazer homenagens a datas comemorativas.

            A poesia só será um dos gêneros mais apreciados no ambiente escolar quando se compreender seu valor inerente (PINHEIRO, 2003, p. 62).

            Isso implica dizer que fica implícita a proposição de uma experiência de leitura significativa para o aluno e despertar no olhar do leitor o valor real da poesia. Para Pinheiro (2003, p. 63):

É necessário ser cuidadoso na seleção e no modo de abordagem. Há muitas disparidades quanto ao uso da poesia no Ensino Fundamental, pois apesar da presença constante da leitura literária no currículo do Ensino Fundamental, há ainda nos textos selecionados, problemas relativos à adequação ao leitor, à qualidade estética e ao modo de abordagem.

            Levando em consideração o que diz o autor, é necessário observar que as seleções de textos poéticos teriam que obedecer a critérios estéticos, como o ludismo sonoro, as imagens exploradas no poema e a riqueza da linguagem conotativa.

            A poesia, então, deve ser vista pelo valor real que ela tem em transformar e formar as pessoas, tornando-as mais sensíveis diante do mundo.

2.1 Por que Trabalhar a Poesia na Sala de Aula

            Compreende-se que a poesia é uma linguagem na sua carga máxima de significado e de reflexão. Entretanto, é necessário que haja contato, caso contrário vai-se estar falando às paredes, por causa do quase inexistente contato que o aluno tem na escola com esse gênero literário. De acordo com Silva; Jesus (2011, p. 09):

O poema muitas vezes entra na sala de aula e é apresentado aos alunos através do professor, quase sempre é o suficiente para que aquele seja aceito e trabalhado em sala de aula. Porém, os poemas devem ser apresentados de modo que sua completude possa esclarecer as tradições descritas pelos poetas que escreveram e pelos que nestes se baseiam para escrever, ou seja, os seus antecedentes.

            É preciso ressaltar, entretanto, que ensinar poesia é trabalhar o texto como resposta a uma necessidade, ao leitor, a um tempo determinado. Pois os poemas mostram representações, conexões, manifestações das mais diversas. E nas criações poéticas dos alunos, tais representações são apresentadas oralmente como o cordel, nos quais podem se perceber dois caminhos a serem seguidos para continuar a presença do poema em sala de aula: a leitura e a escrita.

            Portanto, na sala de aula, a leitura poética precisa tornar-se uma prática e se o aluno não for motivado, o professor rejeita tal leitura. E isso ocorre desde o início de sua formação enquanto educadores de Língua Portuguesa. Ou seja, se o professor não pratica a leitura de poemas, se ele não se sensibilizar com o poema, provavelmente não conseguirá emocionar seus alunos.

O estímulo à leitura não se resume apenas a fazer com que os alunos leiam, mas que esse seja um ato e um exercício crítico (SILVA; JESUS, 2011, p. 10).

            Diante dessa afirmação, pode-se dizer, em fim, que em preciso que se apresente a literatura às pessoas, derrubar preconceitos, quebrar barreiras e romper a rejeição das pessoas pela literatura de modo geral e por poesia em especial.

            A poesia está presente no cotidiano de todos e tal linguagem é cada vez mais necessária à vida do ser humano por ser uma das formas de arte mais representativas.

            O preconceito que existe nas esferas da vida social, até mesmo na escola, nutre no professor um desinteresse, inclusive mal estar ou culpa pelo fato de ocupar suas aulas com a leitura de textos poéticos.

            Tal postura do professor está associada não somente ao desconhecimento dos possíveis usos da literatura em geral, por meio da poesia, mas também como do papel artístico no desenvolvimento da personalidade humana, a qual está diretamente ligada à própria situação artística na textura social. Conforme Silva; Jesus (2011, p. 15):

Todas as formas capazes de despertar na criança e no adolescente a sensibilidade para a poesia são válidas. É necessário, para isso, que a poesia seja frequentemente trabalhada para que ocorra um interesse por ela.

            Sendo assim, é bastante interessante destacar que criar um local para que sejam afixados diversos tipos de poesia é uma estratégia eficaz para se incentivar a leitura e a interpretação poética, porque quanto mais se lê, mais há aprendizagem, criando-se a prática da leitura não somente de poesia de outros tipos textuais.

            Há outros modos de trabalhar a poesia na escola. Um deles é a ludicidade por meio da interpretação teatral de poesias, mas existem outros modos como o desenho, a dança ou outros que o professor considerar importantes e que os alunos gostem.

            Os professores devem trabalhar a poesia com seus alunos, pois tal atividade é indicada como uma das formas mais eficazes para verificar o desenvolvimento das habilidades de percepção sensorial da criança e do adolescente, do senso estético e de suas competências leitoras e representativas.

            Interagir com a poesia é desenvolver plenamente a capacidade linguística da criança e do adolescente, por meio da acessibilidade e familiarização com a linguagem utilizada e o refinamento da sensibilidade para que ela seja compreendida, fazendo uma ponte entre o indivíduo e a vida. De acordo com Pinheiro (2002, p. 17):

É muito importante trabalhar a poesia no contexto escolar com o apoio do professor, visto a sala de aula ser antes de tudo, um território da inventividade e na maioria das vezes também lugar onde se instiguem as possibilidades de criação e inovação.

            Deve-se então, levar em conta que a poesia encanta, em especial, os adolescentes, crianças e jovens, pois é de cunho imaginário, fantasioso, além de despertar para algo que já é seu como a alegria de viver, a espontaneidade, a graça, a inventividade e a criatividade.

            Portanto, estando o professor e aluno sensibilizados, cumpre-se o caminho da poesia.

REFERÊNCIAS

ALVES, Jucimara Braga. A Poesia na Sala de Aula: Uma Proposta de Leitura. Universidade Estadual de Maringá – Paraná, 2010.

BANBERGER, Richard. Poesia na Sala de Aula. 2ª Ed., João Pessoa:Ideia, 2002.

CADEMARTORI, Lígia. O que é literatura infantil. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 2010.

CEREJA, Willian Roberto; MAGALHÃES Tereza Cochar. Português: Linguagens. Volume único. São Paulo: Atual, 2003.

FARACO, Carlos Alberto. Português: Língua e Cultura. Ensino Médio, volume único. Curitiba: Base Editora, 2003.

JOSÉ, Elias. A Poesia Pede Passagem: Um Guia Para Levar a Poesia às Escolas. São Paulo: Paulus, 2003.

LIMA, Jair Bontempo de. A Poesia: Sociedade, Leitura, Interpretação e Ensino. Revista Ícone, vol. 9, Janeiro de 2012.

PAIXÃO, Fernando. O que é Poesia. São Paulo: Brasiliense, 1982.

PINHEIRO, José Hélder. Abordagem do Poema: Roteiro de um Desencontro. In DIONÍSIO, Ângela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). O Livro Didático de Português: Múltiplos Olhares. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

PINHEIRO, José Hélder. Poesia na Sala de aula. 2ª Ed. João Pessoa: Ideia, 2002.

SILVA, Eliseu Ferreira da; JESUS, Wellington Gomes de. Como e Por que Trabalhar com a Poesia na Sala de aula. Revista Graduando, n° 2, 2011.

ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global, 2003.