MOURA, Leila Freitas
DE VARGAS, Sonia Maria.
Universidade Católica de Petrópolis

O aprendizado de uma LE está vinculado a um caráter classista da educação; falar Inglês confere a seu falante status social privilegiado, pois nas últimas décadas, falar, ler e escrever em uma língua estrangeira (LE) tem sido identificado como relevante tanto nos âmbitos comercial, tecnológico e científico, como no social, transformando-se, assim, em um instrumento de diferenciação sócio-cultural (Moita Lopes, 2003). Aprender uma LE significa ter uma experiência de produção e resignificação de linguagem e interação com outras culturas, outros saberes e outros mundos.
Contudo, o acesso a uma LE ainda não está disponível a todos os brasileiros, dadas as condições sociais e econômicas dos mesmos. As várias explicações para essa lacuna recaem na crença da aparente inutilidade e aplicação desses conhecimentos, em vista da natureza das atividades profissionais, sociais e intelectuais desses jovens e adultos, nas suas capacidades cognitivas e suas motivações e interesses em relação à escola. Isso para nomear algumas delas.
Moita Lopes, (1994), Collins e Celani (2003) identificam que a disciplina de língua inglesa (LI) tem encontrado dificuldades para atingir as metas propostas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/96. A realidade encontrada no setor público pelos profissionais da área tem gerado um sentimento de desânimo, contribuindo para a reprodução de um círculo vicioso, marcado por baixas expectativas dos professores e coordenadores que, por sua vez, conduzem à cristalização das baixas expectativas dos alunos. Embora esta realidade percorra toda a educação básica, no Ensino Médio (EM), ela fica mais evidente, pois a interação com o mundo de trabalho aparece, na percepção do aluno, como um dado importante para sua ascensão social e salarial.
Apesar das várias dificuldades que cercam o aprendizado da língua inglesa (LI) nas escolas diurnas não sejam novidade, esse quadro, fica contundentemente mais complexa no horário noturno. Assim, questões como o grau de dispersão de idade, origem social, tempo de permanência na escola e experiência de trabalho afetam os sujeitos que interagem na sala de aula de LI fazendo nos questionar até que ponto as práticas pedagógicas utilizadas nesse contexto são influenciadas e conduzidas por essas relações. Assim como elas são construídas e, ainda; como falar de processo ensino/aprendizagem de LI e cultura sem centralizar a questão social e econômica.
Isso não significa que propomos ou apoiamos uma educação cujo único fim seja a preparação de mão de obra para o mercado de trabalho, pois entendemos que a proposta da educação é muito mais ampla, não podendo restringir-se as exigências de um mercado sempre em transformação. Procuramos entender, antes, quais as esperanças criadas a partir do contato de alunos do Ensino Médio Regular Noturno (EMRN) com uma LE, que se mostra como uma disciplina de consumo social, especialmente em uma cidade, como Petrópolis, onde o turismo e algumas empresas multinacionais despontam como geradores de renda.
O objetivo do ensino de uma LE no Brasil nunca foi centrado numa proposta pedagógica cuja meta fosse a equiparação da proficiência de um nativo, mas antes, propiciar a compreensão entre as pessoas; o acesso a textos literários, acadêmicos ou de entretenimento, possibilitando outras maneiras de ver o mundo e de entender outras realidades. Apresenta-se basicamente com duas funções: a utilitária, de língua comercial, para alguns setores do mercado de trabalho; e a social, como agente de status vinculado ao conhecimento de uma língua de valor e poder econômico.
Hall (1997) argumenta que o processo de construção de identidade está em constante construção e sujeito a mudanças provocadas pelas condições sociais nas quais língua e cultura fornecem significado para as nossas experiências. Portanto, as trocas dos significados elaborados, validados, reconhecidos e percebidos nas trocas discursivas também são elementos co-participativos na construção das identidades tanto dos professores quanto dos jovens e adultos do EMRN. Assim, neste artigo buscamos entender também de que maneiras os discursos elaborados no espaço escolar delimitam o processo de ensino-aprendizagem, gerando as atitudes de desinteresse, de falta de motivação, bem como a manutenção da crença da ?inaptidão? das classes populares para aprender uma LE. Tais elementos interferem negativamente não só na aprendizagem, mas especialmente no processo de construção de identidade social dos alunos e professores. Os primeiros consideram-se incapazes de assimilar o Inglês, demonstrando quase nenhuma expectativa quanto à aprendizagem dessa disciplina na escola, e os últimos crêem estar trabalhando em vão.