RESENHA CRÍTICA

PINSKY, Jaime (Org.). O ensino de história e a criação do fato. 3ª. Ed. São Paulo: Contexto, 1991. 109.p.

 

Jaime Pinsky, historiador e editor. Professor Titular da Unicamp. Doutor e livre docente pela USP. Foi também professor na UNESP (Assis) e na USP. Tem mais de duas dezenas de livros publicados (autoria, co-autoria, e/ou organização).

O ensino de história e a criação do fato é uma coletânea que reúne trabalhos de Elza Nadai, Paulo Miceli, Circe Maria F. Bittencourt, Maria Carolina B. Galzerani, Nicholas Davies, e um de autoria do próprio organizador Jaime Pinsky.

O primeiro capítulo da obra denomina-se: nação e ensino de história no Brasil. Pinsky aborda a respeito do fato histórico e sua importância para ampliar o campo de pesquisa. Acredita que dando enfâse aos fatos o ensino pode ser repensado. Adverte as dificuldades de apropriamos do passado, pois a narrativa histórica desde seu início está repleta de equívocos e ideologias.

Conforme o autor até a década dos anos quarenta a história ainda não “criava muitas contradições na cabeça dos alunos” (p.17), só nos anos sessenta com os estudos voltados para o social que é dado mais enfâse aos estudos políticos, sociologico, geografico, positivista e maxista. No entanto é na década de setenta que há “uma preocupação crítica com a história” (p.19), porém a vulgarização das análises maxistas ligada as difícis condições de trabalho do professor configurarão o cenário de preocupação com ensino de história.

Nadai faz uma abordagem sobre o ensino de história que surge como uma disciplina independente nos fins do século XIX. Enfatiza a importância da disciplina no processo de formação do cidadão nacional. No entanto a elite era o agente social responsável pela formação da memória oficial, mais este concenso começa a se desfazer depois da segunda guerra mundial. A partir da produção historiografica vai se renovado dando importância a temas que até então não eram abordados. Houve transformações na escola; inseriram os maginalizados nas instituições escolares, implatou-se curso noturnos, pórem essas medidas não foram muito eficazes para a permanência dos alunos na escola.

Nadai acrescenta “Avançamos pouco, retrocedemos depois, temos ainda muita insegurança na organização de currículos e programas que possam ser direcionados para captar a historicidade do momento e estabelecer diálogos entre o saber escolar tradicional- a história institucional- e os saberes dessa população que adentrou a escola” (p.28).  São esses alguns dos desafios que os professores devem enfrentar para a permanência dos alunos na escola.

Miceli faz uma análise no livro didático de quinta série do primeiro grau, e diante das suas leituras fica assustado com tamanha distoções da história. Mostra-se indignado porque são essas as idéias que sustenta a história tradicional. Afirma ainda que as formas de “manipulação intelectual” não se encontram expostas nesses livros por um acaso, mais é uma forma de ocultar a veracidade dos fatos e deixar transparecer o que é de interesse do estado. Sendo assim ele diz que “Fatos e acontecimentos, portanto, são arranjos ou montagens, mais ou menos concientes, que devem ser habilidosamente desmontados pelo fazer histórico.” (p.34).

O autor mostra-se revoltado com a situação de manipulação do ensino, onde se privilegia conhecimentos inúteis e existe uma acomodação por parte dos historiadores. É necessário o historiador romper com o essino tradicionalista, inserindo novos temas a ser debatido em sala de aula e pensar numa história militante. O autor salienta “que qualquer esfoço de renovação do ensino de história exige uma prática corajosa” (p.40)

No capitulo IV, Circe Maria Bittencourt volta-se para as tradições e comemorações do ritual das festas cívicas. Para ela o governo é responsável por difundir nas escolas a memória histórica desejável, utilizam-se do passado para justificar o sistema de dominação que prioriza a classe dominante (elite). Os conteúdos heroícos não eram ensinados apenas nas aulas de história, mais envolviam outras disciplinas, dessa forma o ensino não priorizava a formação do conhecimento, por está voltado ao patriotismo. Bittencourt destaca Olavo Bilac compo o grande nacionalista reponsável por uma boa parte do civismo patriótico que existe. Circe recorre a toda a história tradicionalista voltada ao nacionalismo e propunha romper com esses padrões que foram enraigados durante séculos no âmbito escolar, mas para isso é necessário uma história única.

Circe e Elza não se limitam ao cronologico e a periodização, elas se ocupam com os probremas e complexidade da noção do tempo histórico. Preocupam-se em explicitar a questão do espaço e o tempo histórico. Alguns estudiosos dizem que não é possivel os alunos de series iniciais compreendam a noção de tempo, mais elas atribui aos professores a reponsabilidade de transmitir o tempo histórico aos alunos.

As autoras se preocupam em rever a situação do tempo. Rompendo com a “história tradicional” que leva aos alunos a pensarem que a história seria apenas o estudo do passado, transmitido muitas vezes de forma linear pelos professores.

            Elas apresentam uma pesquisa para saber se os alunos estão aptos á compreender o tempo histórico, então concluem que é possivel ter um ensino de história nas series iniciais de 1º grau.

            Nicholas Davies trabalha com um tema pouco estudado as camadas populares nos livros de história do Brasil. Segundo o autor esse assunto é pouco explorado e os livros dedáticos acabam omitindo uma parcela de conteúdos de grande relevância, para fortalecer a história elitista. Estudar esse tema é dá importãncia à totalidade e não as parcialidades da classe dominante. “A natureza da dominação não reside apenas no pólo dominante, mas também no pólo dominado e, sobretudo, nas relações que se estabelecem entre os dois pólos.” (p.94). Portanto só o estudo do pólo dominante não é o suficinte para compreender o tema, deve-se existir um “compromisso com a transformação social” (p.95).

            Davies analisa alguns livros didáticos e comprova a omissão e substimação da classe dominada, além de privilegiar o eurocentrismo, contendo ainda uma série de ideologias (como por exemplo, a do povoamento). “Atravéz deste rápido exame de alguns livros, pretendeu-se mostrar como as camadas populares recebem pouco ou nenhum espaço na maioria deles.” (p.103). E conclui se os alunos tiverem um conhecimento do passado voltado para os conflitos de interesses dos grupos dominantes e dominados, será levado a pensar na sua realidade de maneira oposta, superando o sistema de classe existente nos livros didáticos, tornando o aluno um ser trasformador do mundo em que vive. Se os livros tratarem esses conteúdos de maneira ampla e completa o aluno tenderá a aceitar a realidade e não a menospreza-lá.

            Pinsky finaliza o livro com um artigo de Maria Carolina Bovério Galzerani. O objetivo desse artigo é apresentar um resultado de pesquisa sobre os critérios metodológicos básicos que norteiam a produção dos livros didáticos brasileiros. Sendo assim Galzerani conclui que os livros didáticso são produzidos como uma mera ‘mercadoria’, sofrendo influência do processo capitalista de produção. Mas apesar de conterem ‘belas mentiras’ é possivel trabalha-lo em sala de aula, para isso o professor deverá despertar nos alunos o senso crítico, valorizando as suas percepçoes analíticas.   

            Em geral, os autores são antipositivistas e têm posturas antidogmaticas, resaltam a importância da historicidade e do subjetivismo como elementos importantes para a interpretação do passado. Jaime Pinsky faz questão de corrigir alguns equívocos propagados pelos livros didáticos. Os ensaios que compõem a obra buscam explicar como várias situações acabam se tornando fatos históricos. Os autores mostram que nos livros didáticos o ser humano não é compreendido como ser atuante, participante e histórico. Preocupa-se com a qualidade dos livros didáticos e da atuação dos profissionais na sala de aula. Entretanto Pinsky está sempre alertando e buscando incentivar os profissionais a repensar e renovar os conteúdos históricos, rompendo com o ensino “manipulador” e tradicionalista. O livro o ensino de história e a criação do fato é indicado para pesquisadores e professores de história, além de educadores em geral.