RESUMO
Diante das novas exigências da sociedade contemporania, surge à necessidade de pensar a importância do ensino de Geografia nas turmas de EJA, voltada para a formação da cidadania, do espírito crítico e investigativo. Uma formação que vá além da desafiadora tarefa de ensinar os limites da decifração dos códigos da leitura e da escrita, elevando a consciência crítica reflexiva do cotidiano no qual o educando está inserido; buscando a partir daí a formação de uma postura diferenciada de mundo, em busca de um desenvolvimento auto-sustentável. Conseqüentemente da conscientização quanto à necessidade de preservação ambiental. Nessa perspectiva, esse artigo tem por objetivo buscar elementos, a partir da pesquisa bibliográfica, capazes de contribuir com a discussão quanto à possibilidade e se trabalhar a Geografia nas turmas de EJA, na busca da sustentabilidade local.






ABSTRACT

Faced with the new demands of modern society as well as the current ways of addressing the challenges of contemporary times, there is the need to think about the importance of teaching geography classes in adult education, aimed at the formation of citizenship, critical thinking and investigative. A formation that goes beyond the challenging task of teaching the limits of decoding the codes of reading and writing, raising the critical awareness reflective of daily life in which the student is inserted; thereafter seeking the formation of a differentiated position in the world in search for a self-sustaining development. Therefore awareness of the need for environmental preservation. From this perspective, this article aims to seek evidence from the literature that can contribute to the discussion about the possibility to work and geography classes in adult education in the pursuit of local sustainability.










O ensino de Geografia nas turmas de EJA e as questões ambientais:
Breves reflexões do papel do educador

1. INTRODUÇÃO

A história não se escreve fora do espaço, e não há sociedade a-espacial. O espaço, ele mesmo, é social. (Milton Santos).
Há uma pedagogia indiscutível na materialidade do espaço. (Paulo Freire).
É por isso que, hoje, seja qual for a escala, o território constitui o melhor revelador de situações não apenas conjunturais, mas estruturais e de crise. (Milton Santos).

Constata-se que nos últimos tempos há uma ampliação significativa do número de pesquisas que trata da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o que vem confirmando a importância da educação como viés indispensável para a participação digna de homens e mulheres na sociedade, a fim de exercer sua cidadania plena. A fim de amenizar as desigualdades sociais proporcionadas por fatores geo-históricos construídos ao longo do tempo, está, tem sido considerada como um importante instrumento de libertação, propiciadora de mudanças.
De acordo a Freire (1986, p.130) a transformação só tem sentido na medida em que contribui para a humanização do homem; na medida em que se inscreve na direção da sua libertação. Sendo assim, o desafio nesse momento é construir novos valores e atitudes em busca do equilíbrio local/global, por meio de uma relação integrada entre ser humano e natureza, permitindo com isso a ampliação da consciência do educando.
Diante das novas exigências da sociedade moderna, bem como das atuais formas de enfrentamento dos desafios da contemporaneidade, surge à necessidade de pensar a importância do ensino de Geografia nas turmas de EJA, voltada para a formação crítica e investigativa. Uma formação que vá além da desafiadora tarefa de ensinar os limites da decifração dos códigos da leitura e da escrita, elevando a consciência crítica reflexiva do cotidiano no qual o educando está inserido; buscando a partir daí a formação de uma postura diferenciada de mundo, em busca de um desenvolvimento auto-sustentável.
Para Kaercher (2006) talvez a principal tarefa da Geografia seja a de realçar o compromisso que fortaleça os valores democráticos e éticos expandindo cada vez mais o respeito ao outro e ao diferente.
Nessa perspectiva, esse artigo tem por objetivo buscar elementos, a partir da pesquisa bibliográfica, capazes de contribuir com a discussão quanto à possibilidade e se trabalhar a Geografia nas turmas de EJA, na busca da sustentabilidade local.

2. EJA, Geografia e Meio Ambiente

O analfabetismo se configura em nosso país, enquanto doença crônica, herança da nossa história que há décadas se tenta erradicar. Os dados sobre analfabetismo têm demonstrado o quanto é necessário ampliar os esforços na área educacional. Segundo dados do IBGE (2005) a taxa de analfabetismo da população acima de 15 anos na Bahia é de 18,8%, quase o dobro da taxa nacional (10,9%) e muito próxima da taxa da Região Nordeste, que é de 21,9%. Além disso, a taxa de analfabetismo dessa população na zona rural é uma das mais altas do país - 31,6%. É importante saber também que, quando analisadas as taxas de analfabetismo funcional , esse quadro se torna ainda mais crítico. A Bahia praticamente dobra sua média geral, indo para 35,6%, sendo que no Campo a taxa sobe para 55,6%.
Os baixos níveis de escolaridade em que se encontra grande parte das populações urbanas de baixa renda e mais acentuadamente as do campo, continuam sendo responsáveis por um número ainda bastante considerável de excluídos, que além de promover a baixa auto-estima, provoca a descrença do sujeito em si mesmo, a falta de autonomia, bem como a falta de perspectiva de sua inclusão como cidadão, promovendo dessa forma, sua contínua exclusão e pauperização impossibilitando assim a conquista de uma melhor qualidade de vida.
Desta forma a questão central, mote desta pesquisa é investigar de que forma a prática pedagógica do ensino de Geografia na Educação de jovens e adultos (EJA), tem contribuído, ou não, para a formação de um cidadão consciente do seu real papel na sociedade em que esta inserido, contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida.
Entendemos ser a vivência escolar um momento privilegiado na construção da cidadania. O conhecimento oferecido pela escola deve ser o da realidade, por isso ela precisa capacitar o aluno para que saiba, diante da complexidade do mundo real, posicionar-se, orientar suas ações e fazer opções conscientes no seu dia-a-dia. Desta forma, o ensino deve ser desenvolvido a fim de ajudar os educandos a constituir uma consciência global sobre questões emergentes na sociedade contemporânea e em especial os temas da geográficos.
Assim a Geografia torna-se, portanto, disciplina chave na construção/reconstrução dos conceitos e categorias necessários a uma leitura de mundo menos ingênua e mais crítica dos educandos que freqüenta as turmas de EJA.
Segundo Cavalcanti, (1998):
A Geografia na escola deve estar, voltada para o estudo de conhecimentos cotidianos trazidos pelos alunos e para seu confronto com o saber sistematizado que estrutura o raciocínio geográfico. [...], pois a Geografia trabalha com conceitos que fazem parte da vida cotidiana das pessoas e em geral elas possuem representações sobre tais conceitos. Na "Geografia Humanística", o lugar é o espaço que se torna familiar ao indivíduo, é o espaço do vivido, do experenciado. (CAVALCANTI, 1998, p 129)

O estudo da vivência, do cotidiano do educando vem tomando destaque nas ciências humanas em geral. O homem é reconhecido como "fazedor da história".
Segundo Patto, 1993:
Tendo em vista avançar o pensamento marxista no sentido de dar conta das questões políticas, sociais e econômicas que emergem no século XX, Agnes Heller dedica-se construção de uma teoria que apresente alternativas filosóficas e sociológicas para questões que não poderiam ter sido colocadas por Marx e seus seguidores até recentemente, na medida em que são desafios atuais. Valendo-se da constatação de que a subjetividade (no sentido da individualidade, da pessoa, do sujeito) foi banida do pensamento materialista histórico, Heller a resgata e a coloca no centro do processo histórico, entendido como expressão do homem em busca de sua humanização. Uma de suas principais contribuições ao marxismo contemporâneo é, portanto, a colocação da temática do indivíduo no centro das reflexões. E o indivíduo a que se refere não é um indivíduo abstrato ou excepcional, mas sim o indivíduo da vida cotidiana, isto é, o indivíduo voltado para as atividades necessárias à sua sobrevivência. Parte de seus escritos é dedicada à definição do conceito de "vida cotidiana em geral", isto é, à caracterização de vida ordinária, independente do modo de produção vigente. A vida cotidiana é a vida de todo homem, pois não há quem esteja fora dela, e do homem todo, na medida em que, nela, são postos em funcionamento todos os seus sentidos, as capacidades intelectuais e manipulativas, sentimentos e paixões, idéias e ideologias. Em outras palavras, é a vida do indivíduo e o indivíduo é sempre ser particular e ser genérico (por exemplo, as pessoas trabalham - uma atividade do gênero humano -, mas com motivações particulares; têm sentimentos e paixões -manifestações humano-genéricas -, mas os manifestam de modo particular, referido ao eu e a serviço da satisfação de necessidades e da teleologia individuais; a individualidade contém, portanto, a particularidade e a genericidade ou o humano-genérico).(PATO, 1993,p.124 e 125).

A produção do espaço, através do trabalho humano implica na transformação da natureza e assim na configuração de uma nova natureza. Através da transformação do espaço geográfico o homem produz/reproduz a história se configurando enquanto ser social. Se partirmos do pressuposto da produção do espaço como um produto da ação humana, a importância da Geografia para a sociedade se dá quando Milton Santos (2002, p. 264) diz que "o espaço é a casa do homem e também a sua prisão", uma vez que este pode servir aos interesses de alguns.
Compreender isso remete a considerar o conhecimento que o aluno possui como resultado de sua vida cotidiana. A função do ensino da geografia escolar é, portanto, no contexto do currículo, oportunizar o desenvolvimento das competências que habilitem os sujeitos a situar as suas experiências cotidianas no âmbito mais geral. Isso significa auxiliar a fazer abstrações e teorizar a partir da realidade.
Segundo Kaercher, (2002), um grande desafio para nós educadores, no que tange ao ensino de Geografia é a mudança epistemológica.

[...] a superação do obstáculo epistemológico que vê o aluno como um gentio a ser convertido no que desejamos. Superarmos a idéia do ?aluno deficit? (falta-lhes vontade, inteligência, comportamento) arraigada em muitos de nós é uma necessidade para que as escolas não excluam ainda mais alunos que, não raro, já são excluídos socialmente. Mudar a percepção que temos dos alunos. Que sejam vistos como parceiros e não como desviantes do bom caminho!(KAERCHER, 2002).
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Portanto, é tarefa do geógrafo/educador, manter uma postura de diálogo em sala de aula, para daí iniciar a discussão acerca daquilo que já é do conhecimento do educando utilizando para isso a humildade e o bom senso. Talvez esses sejam os requisitos necessários, que possibilitem aos educadores tomar gosto pelo ensino critico, de aperfeiçoar a vertente de pensamento geográfico que melhor se adapte à sua filosofia de vida e à realidade do educando, levando sempre em consideração que o aluno que é o centro do processo ensino-prendizagem. Desta forma o currículo, a metodologia e a corrente de pensamento escolhida devem ir de encontro com os objetivos/anseios dos estudantes, já que, vive-se a era do conhecimento, sendo este o alicerce da sociedade.
É com base nesse aspecto que temos que capacitar os educadores e educandos da EJA, para agirem e pensarem de forma criativa, critica, conscientes de seu aqui/agora, pessoas que se sintam parte integrante e atuante do contexto sócio-econômico e cultural a que pertencem. Esse é o verdadeiro papel da Geografia, e o ponto fundamental da produção intelectual.
O francês Yves Lacoste (1988) em seu livro A Geografia ? isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra, pressupõe a existência de duas Geografias:
[...] uma em relação à Geografia dos Estados Maiores e ao outra da Geografia dos Professores. A primeira, de origem antiga, a geografia dos Estados-maiores, é um conjunto de representações cartográficas e de conhecimentos variados referentes ao espaço; esse saber sincrético é claramente percebido como eminentemente estratégico pelas minorias dirigentes que o utilizam como instrumento de poder. Já a segunda geografia a que se refere, seria aquela praticada pelos professores, se tornando um discurso ideológico no qual uma das funções inconscientes, é a de mascarar a importância estratégica dos raciocínios centrados no espaço. Não somente essa geografia dos professores é extirpada de práticas políticas e militares como de decisões econômicas (pois os professores nisso não têm participação), mas ela dissimula, aos olhos da maioria, a eficácia dos instrumentos de poder que são as análises espaciais. (IVES LACOSTE, 1988, p 31).

A trajetória da Geografia como ciência escolar teve início ainda no século XIX. No Brasil a Geografia foi implantada como disciplina escolar obrigatória em 1837, no Colégio Pedro II (Rio de Janeiro) o objetivo de instituir tal ciência era a capacitação política de uma camada da elite brasileira que pretendia se inserir nos cargos políticos e nas demais atividades relacionadas. Essa Geografia Escolar perdurou por muito tempo, criando imaginário das pessoas uma visão simplista da Geografia, questionando até mesmo seu status de cientificidade na medida em que se ? "impõe-se, implicitamente, que não é preciso senão memória" para saber Geografia. (LACOSTE, 1988).
Nosso desafio nesse de século e milênio é construir na escola novos de Eja, valores e atitudes em busca do equilíbrio local/global, por meio de uma relação integrada ser humano/natureza, permitindo com isso a ampliação da consciência do educando.
A educação ambiental na escola é, sem dúvida, o caminho necessário para romper o sistema clássico de educação pautado na desatualização dos assuntos, desvinculado do contexto cultural da comunidade, mono-disciplinar e sem vínculo com nossa realidade social.
Assim a de se destacar em sala de aula, a relação homem/natureza, a qual sempre foi complexa e conflituosa desde as sociedades primitivas, passando pelo escravismo, feudalismo, até chegar ao capitalismo. No entanto, foi a partir da Revolução Industrial que o patamar de conflito entre sociedade/natureza ampliou-se consideravelmente tornando o século XX palco de uma relação desarmônica entre o homem e o meio ambiente o que só se agravou no século XXI.
Para garantir uma boa qualidade de vida, é preciso buscar uma ética global que amplie a participação ativa e interessada dos cidadãos na defesa de seus direitos e do meio ambiente.
O conceito de desenvolvimento sustentável mundialmente divulgado é apresentado no Relatório Brundtland. Afirma-se que "O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades" (RELATÓRIO BRUNDTLAND, 1987, p.46).

A partir da definição de desenvolvimento sustentável pelo Relatório Brundtland de 1987, pode-se perceber que tal conceito não diz respeito somente ao impacto da atividade econômica no meio ambiente. Desenvolvimento sustentável refere-se principalmente às conseqüências da relação de qualidade de vida no bem estar da sociedade, tanto presente quanto futura.
A atividade econômica, meio ambiente e bem estar da sociedade formam o tripé básico no qual se apóia a idéia de desenvolvimento sustentável. No entanto a aplicação do conceito à realidade requer uma série de medidas tanto por parte do poder público como da iniciativa privada, assim como um consenso internacional. É preciso frisar ainda a participação de movimentos sociais, constituídos principalmente por ONGs (organizações não-governamentais), na busca por melhores condições de vida associadas à preservação do meio ambiente e a uma condução da economia adequada a tais exigências. (ANDRADE, 2003, p.25).

Lima (2003) diz que a proposta de educação para a sustentabilidade desenvolvida sob o signo do mercado promete muito e realiza pouco. Para esse autor:
(...) é desejável estimular a discussão e a compreensão crítica da crise socioambiental, problematizando a diversidade de concepções de sustentabilidade apresentadas em seus argumentos, valores, objetivos, posições éticas-políticas e em suas implicações sociais. Esse exercício de diferenciação e esclarecimento auxilia o educador a escolher, conscientemente, os caminhos que quer seguir em seu projeto e prática educativa (LIMA, 2003, p.14).

A amplitude da problemática ambiental e a necessidade de uma reflexão crítica sobre as relações homem/meio induzem a repensar novas formas de trabalhar a educação na escola. Desenvolver a consciência frente aos problemas gerados pelo modo de produção capitalista é o caminho na busca de alternativas para construir uma sociedade sustentável, no qual cada indivíduo se sinta parte integrante da natureza.
O desenvolvimento sustentável tem um componente educativo fundamental: a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação dessa consciência depende da educação. A ecopedagogia é uma pedagogia para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana. Esse sentido se encontra, vivenciando o contexto e o processo de abrir novos caminhos: não apenas observando o caminho. Por isso, essa é uma pedagogia democrática e solidária. (Gagotti,
Segundo Almeida (2002), o impacto da espécie humana sobre o meio ambiente tem sido comparado, por alguns cientistas, às grandes catástrofes do passado geológico da Terra. A humanidade deve reconhecer que agredir o meio ambiente põe em perigo a sobrevivência de sua própria espécie, e pensar que o que está em jogo não é uma causa nacional ou regional, mas sim a existência da humanidade como um todo. É a vida que está em jogo. Não se pode conceber um ecossistema sem o homem, não se pode encontrar o homem sem algum ecossistema.
O modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios. Se por um lado nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia-a-dia. Diante dessa constatação, surge a idéia do desenvolvimento sustentável, que busca conciliar o desenvolvimento econômico à preservação ambiental e, ainda, ao fim da pobreza no mundo. Fortalece-se a percepção de que o desenvolvimento é necessário, mas deve estar sempre em harmonia com as limitações ecológicas do planeta, ou seja, sem destruir o ambiente, para que as gerações futuras tenham chance de existir e viver bem, de acordo com as necessidades. O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não sendo necessário somente para a inovação tecnológica do capital transnacional. Ele é primordial para a sobrevivência de todas as pessoas e, por isso, não deve ser vendido ou comprado, mas disponibilizado a todos. Essa é a função de instituições que se dedicam ao conhecimento baseado nos avanços tecnológicos. Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática e menos excludente. Essa é, ao mesmo tempo, nossa causa e nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas públicas, surgiram "indústrias do conhecimento", prejudicando uma possível visão humanista, tornando instrumento de lucro e de poder econômico. (ALMEIDA, 2002:43)

O educador de jovens e adultos, precisa se manter constantemente informado (através de políticas públicas de capacitação) sobre como inovar, planejar a médio e longo prazo, fazer a própria reestruturação curricular, elaborar a proposta pedagógica, enriquecedora com projetos, enfim, a escola precisa ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras.
Da sua capacidade de inovar, registrar e sistematizar a sua prática ou experiência depende o futuro da EJA. Neste contexto, o educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido para isso e apontar novos sentidos para o que fazer. Uma das formas de levar a educação ambiental à comunidade é pela ação direta do professor na sala de aula e em atividades extracurriculares.(Freire, 2003)
A busca do conhecimento implica orientar e desafiar antes, acompanhar e estimular durante, avaliar e propor novos desafios depois."Uma experiência substantiva é aquela que não tem um único caminho, permite desenvolver uma atividade investigadora e ajuda os estudantes a dar sentido a suas vidas (aprender deles mesmos) e às situações do mundo que os rodeia" (FREIRE, 2003:110).

Ainda segundo Freire (2003), a escola deve estar atenta às questões referentes ao consumo sustentável, promovendo diálogos como alvo de reflexão dos princípios morais e éticos presentes em propagandas e produtos, pois, como cidadãos, os educandos podem, desde cedo, questionar os padrões de consumo impostos pela sociedade vigente.
Segundo Freire (1994), a alfabetização é uma estratégia de liberação que ensina as pessoas a lerem não só a palavra, mas também o mundo. Isso significa que ensinar/ aprender a ler é desenvolver atitudes de questionamento, de análise e inferência sobre situações, idéias, linguagens, textos. Tais atitudes somente serão desenvolvidas na exata medida que se estuda/analisa o contexto em que esses elementos são produzidos.
E para Kornhauser (2001, p.236) a educação é o cimento da construção do desenvolvimento humano sustentável. É preciso elaborar estratégias e programas de educação relacionados com o ambiente, no qual haja uma abrangência, tanto no ensino escolar como na educação informal, que adote a perspectiva da educação permanente a ser desenvolvida pelos poderes públicos, pelo setor produtivo, pelo comércio e pelas comunidades locais.
A Comissão de Educação Geográfica afirma que "a educação geográfica é indispensável para o desenvolvimento de cidadãos responsáveis e ativos no mundo atual e no futuro. Nessa perspectiva, acredita-se que o ensino de Geografia nas turmas de Eja possa corroborar juntamente com a Educação Ambiental para o desenvolvimento local sustentável, a partir do desenvolvimento de políticas públicas que articulem os vários atores desse processo. (Comissão da Educação Geogràfica, 1992, p. 5).

Na concepção Freiriana, o educador como intelectual, situado num contexto de opressão (desumanização) das classes populares, é chamado a praticar uma educação libertadora, que favoreça a humanização do oprimido e do opressor (décadas de 1960-702); assim deve trabalhar de uma maneira em que o educando sinta-se valorizado. A educação será eficaz na medida em que o educando tiver oportunidade de participação livre, criativa e crítica, existindo uma liberdade de ensinar, de aprender, bem como divulgar o pensamento, a arte e a cultura.
De acordo a Cury, 2000:
[...] a Educação de Jovens e Adultos representa uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a ela e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras públicas." Portanto,ela surge como uma espécie de função reparadora, importante para a construção da cidadania, já que a escolarização promove a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser um elemento básico para a educação continuada durante toda a vida. (Cury,2000, p.5)

Segundo Binz (1993):

"a aprendizagem do adulto se estabelece a partir da relação do conteúdo trabalhado pelo professor com aproveitamento deste conteúdo na sua vida prática, (...)".(...) O adulto visa crescimento imediato e é por isso que as abordagens devem estar vinculadas à realidade do aluno; o currículo não pode ser estático, mas atender o aluno em suas necessidades; devem ser consideradas as suas diferenças individuais, o seu ritmo de aprendizagem, a bagagem de conhecimento que traz consigo e suas experiências de vida.(BINZ, 1993. p 13)

Pinto (1997) corrobora afirmando que:
Cabe ao o educador considerar o educando em suas necessidades; em suas diferenças individuais, em seu ritmo de aprendizagem, a bagagem de conhecimento que traz consigo e suas experiências de vida. (...) considerando o educando como um ser pensante. É um portador de idéias e um produtor de idéias, dotado freqüentemente de alta capacidade intelectual. Assim sendo, compete ao educador praticar um método crítico, que dê ao aluno adulto a oportunidade de atingir uma consciência crítica instruída, de si e de seu mundo. O método e o conteúdo não podem ser impostos ao aluno, e sim propostos como adequado às etapas do processo de autoconsciência crescente do aluno, bem como uma contribuição para a possível melhora nas condições de vida humana, ou seja,o papel do professor é orientar o educando para que este seja capaz de ler, interpretar, analisar e avaliar criticamente, não apenas os conteúdos básicos da educação, mas principalmente os fatos, informações, o dia-a-dia de sua comunidade, país e planeta.( PINTO, 1997, p. 83).


Silva (2002, p.225) aponta-nos um nó, um gargalo das escolas:

(...) o que transparece no âmbito da escola é a demasiada importância dada à listagem de tarefas ou códigos de obrigações, de tal forma que, nesse lugar, o sujeito é um aluno "devedor" dessas tarefas/obrigações e, em algumas circunstâncias, há um professor/diretor "cobrador", o que contribui para que o aluno não leve para fora ou para vida mais do que isto: o fazer por fazer. (SILVA, 2002, p.225).

Segundo Golbo (l994), o princípio norteador da postura comprometida com a transformação social é partir do que é significativo para o educando, no seu contexto cultural, explorando situação/problema no seu cotidiano, desencadeando todo o processo educativo. O educador, nesse processo, é o mediador; aquele que induz, estimula, cria situações problemas e intervém, objetivando o avanço do educando. O educando, nessa visão, assume sua condição de sujeito ativo do processo educativo, que constrói, reconstrói, amplia, incorpora novas nuanças e reordena as relações entre os conceitos disponíveis, interagindo com os problemas no contexto onde se insere.
Essa é uma das possibilidades da associação necessária entre a ciência geográfica e metodologia de ensino atendendo a idéia básica de associar o saber cotidiano e o saber científico. Assim, a Educação Ambiental, enquanto conteúdo do ensino básico tratado pela Geografia, tem importância fundamental para a construção de uma sociedade mais igualitária e para o uso racional dos recursos naturais, uma vez que os mais pobres são os mais afetados pela degradação do Planeta.

3. Considerações Finais
Conforme Saviani e Lopes (l990 apud Oliveira, 2000) a escola existe para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência) e que os conteúdos escolares precisam ser conduzidos de forma que, ao mesmo tempo em que transmitam a cultura acumulada, contribuam para a produção de novos conhecimentos.
O Ministério da Educação (MEC) define a escola como um espaço público e local onde o indivíduo dará seqüência ao seu processo de socialização. É nesse espaço que se define o papel da Educação Ambiental na formação de uma cidadania responsável. O que nela se faz, se diz e se valoriza, representa para o indivíduo um exemplo daquilo que a sociedade quer e aprova. Comportamentos devem ser aprendidos na prática do dia a dia da escola, desde as primeiras séries. A escola é um dos agentes fundamentais para a divulgação dos princípios da Educação Ambiental, porém a Educação Ambiental deve ser abordada de forma sistemática e transversal, em todos os níveis de ensino, assegurando a presença das dimensões de sustentabilidade de forma interdisciplinar nos currículos das diversas disciplinas e das atividades escolares.
Em Paulo Freire, encontramos uma passagem que representa muito bem a questão de que não se ama os outros, sem amar, em primeiro lugar, a natureza, o ambiente: Não creio na amorosidade entre homens e mulheres, entre os seres humanos, se não nos tornarmos capazes de amar o mundo. A ecologia ganha uma importância fundamental neste fim de século. Ela tem de estar presente em qualquer prática educativa de caráter radical, crítico ou libertador (...) "Mudar é difícil, mas é possível", este é um dos saberes necessários à prática educativa. Na nossa compreensão este saber tem extrema importância para o ensino de Geografia e Educação Ambiental. (FREIRE, 2000, p. 67).
A Educação Ambiental ao ser trabalhada no ensino curricular de Geografia e de qualquer outra disciplina, não pode esquecer que os problemas ambientais são no fundo problemas sociais. Assim, concordamos com Gadotti (2000, p. 58) onde afirma: "Os mais ameaçados pela destruição do planeta são os pobres".
Essa questão é ainda mais grave se levarmos em conta a seguinte afirmação de Boff (2000, p. 37) "O número de excluídos é cada vez maior. É um luxo hoje ser explorado pelo sistema do capital, que compra de forma aviltada a força de trabalho, remunerando-a miseravelmente. Esses problemas, que de imediato, são de ordem social também são problemas ambientais, uma vez que a exclusão de parte da sociedade do sistema é o resultado de uma forma desapropriação irresponsável da natureza.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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sobre seus fundamentos, funções e características. In: Educação para crescer: educação de
jovens e adultos: reflexões sobre o contexto teórico-prático. Porto Alegre: Governo do Estado,1993, p.15-19.
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