O ENSINO DE CIÊNCIAS
* ROSINALVA APARECIDA MARTINS DE OLIVEIRA
A importância do ensino de Ciências em todos os níveis de escolaridade tem sido muito discutida e diversos trabalhos defendidos em programas de pós-graduação brasileiros corroboram essa relevância no tocante às séries iniciais (Zanon, 2006, Ducatti-Silva, 2005, Silva, 2006). "A importância do ensino de ciências é reconhecida por pesquisadores da área em todo o mundo, havendo uma concordância relativa à inclusão de temas relacionados à Ciência e à Tecnologia nas séries iniciais" (Lorenzetti, 2005, p. 1). Embora haja convergência de opiniões quanto à necessidade do ensino de Ciências, já presente nos currículos e planejamentos escolares, ainda hoje a formação científica oferecida nas primeiras séries não é suficiente se considerarmos como um de seus principais objetivos a compreensão, pela criança, do mundo que a cerca (Lorenzetti, 2005).
"Para que um país esteja em condições de atender às necessidades fundamentais de sua população, o ensino de ciências e tecnologia é um imperativo estratégico [...]. Hoje, mais do que nunca, é necessário fomentar e difundir a alfabetização científica em todas as culturas e em todos os sectores da sociedade" (Declaração de Budapeste, 1999).
Nesse contexto, o ensino de Ciências deve proporcionar a todos (as) os (as) cidadãos (as) os conhecimentos e oportunidades de desenvolvimento de capacidades necessárias para se orientarem em uma sociedade complexa, compreendendo o que se passa à sua volta, tomando posição e intervindo em sua realidade (Chassot, 2003).
Segundo Fracalanza, Amaral e Gouveia (1986, p. 26 - 27):

"O ensino de ciências, entre outros aspectos, deve contribuir para o domínio das técnicas de leitura e escrita; permitir o aprendizado dos conceitos básicos das ciências naturais e da aplicação dos princípios aprendidos a situações práticas; possibilitar a compreensão das relações entre a ciência e a sociedade e dos mecanismos de produção e apropriação dos conhecimentos científicos e tecnológicos; garantir a transmissão e a sistematização dos saberes e da cultura regional e local".
As Ciências da Natureza, portanto, precisam ser entendidas como um elemento da cultura e também como uma construção humana, considerando que os conhecimentos científicos e tecnológicos desenvolvem-se em grande escala na atual sociedade. A prática pedagógica, portanto, deve possibilitar, para além da mera exposição de idéias, a discussão das causas dos fenômenos, o entendimento dos processos em estudo, a análise acerca de onde e como aquele conhecimento apresentado em sala de aula está presente nas vidas dos sujeitos e, sempre que possível, as implicações destes conhecimentos na sociedade.
No caso específico dos discentes do curso de Pedagogia, que praticamente não têm disciplinas de conteúdo de Ciências Naturais, deve ser propiciado um ambiente no qual sintam necessidade de aprender, questionando e contestando não somente suas concepções (Villani e Freitas, 1998), mas também seus valores e convicções pessoais e, dessa forma, sintam vontade e satisfação em aprender, em explorar e testar seus pensamentos, idéias e perspectivas.
A esse respeito convém citar as Diretrizes Curriculares Nacionais Para Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior, Curso de Licenciatura, de Graduação Plena (Brasil, 2001) que, em seu artigo 5.º explicita que o Projeto Político-Pedagógico de cada Curso deve considerar uma formação que assegure a construção de competências necessárias à atuação na Educação Básica, incluindo uma seleção de conceitos que vão além daquilo que os licenciados irão ensinar futuramente e que os conceitos a serem ensinados na escolaridade básica sejam abordados articuladamente com suas didáticas específicas.
Nós professores devemos considerar que as crianças adoram aprender. Portanto, é vital que levemos em consideração que as crianças, mesmo antes de frequentarem a escola, manifestam um interesse muito grande pelas coisas da natureza, apresentando curiosidades, demonstrando interesse para descobrir como as coisas funcionam e repetindo incansavelmente suas dúvidas e os porquês. A criança mostra curiosidade pelo ambiente em que vive. Assim, ao estudar o ambiente, ela estará se envolvendo em situações reais com as quais está familiarizada. A nossa prática pedagógica deve oportunizar, para além do exercício da verbalização de idéias, discutirem as causas dos fenômenos, entenderem os mecanismos dos processos que estão estudando, analisar onde e como aquele conhecimento apresentado em sala de aula está presente em sua vida e, sempre que possível, relacionar as implicações destes. É reconhecida a importância das atividades práticas, seja em laboratório próprio ou em sala de aula, como um espaço que envolve a participação ativa dos alunos, permitindo que os educando compreendam parte do processo científico, ou seja, como parte da ciência produz o seu conhecimento, com suas certezas e incertezas.
Embora se saiba da importância dada aos laboratórios escolares, é preciso reconhecer a ausência deles nas escolas, o que se constitui em entrave para a melhoria do ensino de Ciências. Entretanto, no ensino de Ciências nas Séries Iniciais, a sala de aula e o meio ambiente se constituem em espaços que podem ser ocupados para estas atividades. O local da atividade e os materiais empregados são fatores de pouca relevância, mas o enfoque e a forma de apresentação das atividades práticas podem contribuir para o desenvolvimento ímpar de aprendizagem significativa. As experiências com materiais recicláveis podem mostrar na prática, noções básicas de ciências e o professor deve ser um eterno aprendiz junto com os alunos.
*Professora de história da rede municipal dos municípios de Picuí e Cuité
Especialista em Atendimento Educacional Especializado pela UFSM/RS e pós graduanda em Educação pela UFCG/Cuité
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997a.
CHASSOT, A. (2003). Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, 22, 89 ? 100.

DUCATTI-SILVA, K.C. (2005). A formação no curso de Pedagogia para o ensino de ciências nas séries iniciais. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Marília, SP.

FRACALANZA, Hilário; AMARAL, Ivan A.; GOUVEIA, Mariley S. Flória. O ensino de ciências no primeiro grau. São Paulo: Atual, 1986.
LORENZETTI, Leonir. Alfabetização científica no contexto das séries iniciais. Florianópolis: Centro de Educação da UFSC, 2000. Dissertação de mestrado.
VILANI, A.; Freitas, D. (1998). Análise de uma experiência didática na formação de professores de Ciências. Investigações em Ensino de Ciências, 3 (2), 121-142.