O ENSINO DE CIÊNCIAS NA PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS

José Claudio Lopes dos Santos[1]

Juliana Zanetti Ribeiro[2]

 

RESUMO

 

O presente trabalho traz a ideia de que as políticas contra o aumento no número de adolescentes se envolvendo com drogas devam partir da escola e que seja feito de forma em que os alunos tornem-se as peças principais de todo o projeto voltado ao combate às drogas. E partindo do pressuposto de que assuntos ligados a droga sejam tratados junto às disciplinas de Ciências e Ciências Biológicas, este trabalho vem mostrar que é de fundamental importância que professores incluam em suas disciplinas o tema: drogas. Desta forma, os professores podem incentivar seus alunos a práticas saudáveis que favoreçam o seu desenvolvimento intelectual e social, reforçando assim, que todas as disciplinas sejam adaptadas para servirem de instrumento à prevenção. Assim, se tornarão parceiras junto às disciplinas de Ciências e Ciências Biológicas e criarão condições para um ambiente escolar mais inter-relacionado. Observou-se também que dentro da pesquisa desenvolvida na escola os adolescentes estudados estão mais predispostos ao uso do álcool já que é comum ter conhecidos que são usuários e também pela facilidade de comprá-lo nos supermercados do povoado. Portanto, o projeto voltado a todos os moradores da comunidade tende a diminuir a possibilidade de jovens se envolverem com drogas, em especial o álcool.

PALAVRAS-CHAVE: Ciências. Drogas. Interdisciplinaridade. Prevenção.

1 INTRODUÇÃO

 

Com o crescente aumento de pesquisas relacionadas ao uso de drogas por adolescentes, constata-se cada vez mais que o número de usuários dentro desta faixa etária está crescendo, visto que nessa fase o indivíduo é mais vulnerável do ponto de vista psicológico e social (BUCHER, 1992), obrigando toda a sociedade a criar estratégias para diminuir este consumo e afastar estes jovens do uso de drogas (NOTO et al., 2010). E, partindo deste ideal de prevenção, entra a escola, onde os adolescentes passarão toda essa fase de realização de novas experiências. A escola terá a responsabilidade de orientar toda a comunidade em que está inserida sobre os efeitos que as drogas lícitas e ilícitas causam no organismo humano e, terá a função de questionar o posicionamento de pais, professores, direção e comunidade quanto à forma de tratar os adolescentes. Ressaltando sempre que a melhor forma de resolver o problema é realizando um trabalho conjunto, formando as chamadas redes sociais (ALBERTINI et al., 2010).

Nesse aspecto, torna-se cada vez mais importante que a escola, de fato, entre como protagonista e crie mecanismos que acelerem o envolvimento dos seus alunos com práticas saudáveis que os ocupem ao ponto de não ter contato com drogas. É importante ressaltar que quanto mais estes jovens forem informados sobre os perigos advindos das drogas, mais eles se afastarão delas. Desta forma, são interessantes projetos que estimulem os alunos a trabalhar na prevenção, como por exemplo, a escolha de monitores em situação de risco para trabalhar com os outros alunos tanto palestrando como também criando peças teatrais que mostrem a realidade de usuários de drogas, resgatando, assim, estes jovens em situação conflituosa e colocando-os como disseminadores de estratégias para o combate ao avanço das drogas na comunidade a qual estes jovens estão inseridos (ALBERTINI et al., 2010).

Pensando nisto, o presente trabalho visa estimular a ligação entre a escola e toda a comunidade onde está inserida e buscar parcerias que tragam novas experiências para a diminuição dos casos de uso de drogas por adolescentes.  Nessa perspectiva, foi feita uma pesquisa onde os alunos responderam quanto a um possível contato com drogas. Cabendo aos professores da escola guiar os alunos quanto às ações que eles próprios iriam desenvolver na semana de prevenção, tornando-se os protagonistas do projeto.

2 CRIANDO ESTRATÉGIAS PARA A SEMANA DE PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS.

 

Em Alagoas os dados sobre o avanço das drogas não são bons, esses dados apontam que cerca de 80% dos crimes e da violência praticados no estado estão relacionados ao tráfico ou/e ao alto consumo de drogas pela população. (DEFESA SOCIAL, 2008). E isso se torna ainda mais grave devido ao fato da capital, Maceió, e da segunda maior cidade do estado, Arapiraca, ocuparem a 8° e a 20° posição, respectivamente, no ranking das cidades mais violentas do país, respectivamente (WAISELFISZ, 2010). Isso traz um enorme desafio para todos os educadores de Alagoas para desviar nossos jovens do caminho perverso do mundo das drogas. E torna-se mais séria a situação quando analisamos os dados do V LEVANTAMENTO NACIONAL SOBRE O CONSUMO DE DROGAS PSICOTRÓPICAS ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO DA REDE PÚBLICA DE ENSINO NAS 27 CAPITAIS BRASILEIRAS, DE 2004 QUE DIZ:

 

1º – Cerca de 70% dos estudantes afirmaram ter consumido bebidas alcoólicas pelo menos uma vez na vida. 

2º – 44,3% dos estudantes entrevistados haviam feito uso de bebidas alcoólicas no mês que antecedeu a entrevista.

3º – Aproximadamente 11,7% faziam uso frequente de bebidas, ou seja, haviam consumido álcool seis ou mais vezes no mês que antecedeu a pesquisa.

4º – Cerca de 6,7% faziam uso pesado de bebidas alcoólicas, ou seja, fizeram uso vinte ou mais vezes nos trinta dias que antecederam a entrevista.

3 METODOLOGIA

Este trabalho vem com a proposta de transformar a escola no centro de prevenção ao uso de drogas da comunidade onde está inserida. Fazendo isso com a participação de toda a comunidade, realçando assim, o papel de cada um na luta contra o avanço do consumo de drogas por adolescentes da comunidade, em especial o álcool.

O trabalho foi elaborado com o apoio de todos os professores, coordenadores e diretores da Escola Fernando Collor de Mello que está localizada no povoado Canaã que pertence a cidade de Arapiraca-AL. Esta escola recebe alunos de 17 povoados que ficam ao redor do povoado Canaã e conta com aproximadamente 1500 alunos distribuídos em turmas do 1° ao 9° ano que funcionam nos 3 turnos.

De acordo com o calendário da escola, foi estabelecido que na primeira semana do mês de Maio de 2011 aconteceria o projeto de prevenção ao uso de drogas, onde nos quatro primeiros dias cada professor trataria do tema e criaria condições para estimular os alunos na produção de peças teatrais, paródias e cartazes. Os professores de Ciências ficaram responsáveis pela parte teórica do projeto, explicando os efeitos de diferentes tipos de drogas e, principalmente, colocando para os alunos o quanto de prejuízo as drogas trazem a várias famílias em todo o Brasil. Nos dois dias seguintes ocorreu a parte prática do projeto. Na sexta-feira os alunos envolvidos em peças teatrais, paródias e cartazes apresentaram os resultados dos seus trabalhos no pátio da escola para todos os alunos do turno e no sábado, esses alunos apresentaram os seus trabalhos aos seus pais. Também foram realizadas algumas palestras que orientavam esses pais sobre como agir para prevenir seus filhos do contato com drogas.

Foi feito um questionário para diagnóstico dos fatores que podem favorecer ou não o contato dos jovens com as drogas. Esse questionário continha perguntas diretas, nas quais o aluno deveria responder apenas sim ou não, o devolvendo sem identificação pessoal. Esse questionário contou com a participação de 300 alunos do turno matutino que corresponde à metade dos alunos deste turno.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

4.1 PRIMEIRO DIA

No primeiro dia de atividade foram realizadas palestras e debates com duração de quatro horas com alunos do 6° ao 9° ano do ensino fundamental II. As palestras foram ministradas por 4 professores de Ciências e abordaram a origem e a entrada de drogas no país de forma superficial. Já as conseqüências para o ser humano foram abordadas mais profundamente. Durante a palestra enfatizou-se a importância da participação dos jovens e pais nas atividades da comunidade, como uma forma de proteção contra a influência das drogas na vida desses alunos. Os alunos participaram ativamente relatando experiências próprias e tirando dúvidas sobre o assunto.

 

4.2 SEGUNDO DIA

 

No segundo dia de atividades, foi aplicado o questionário contendo 12 questões referentes à vida do aluno e a fatores que podem contribuir para aproximá-lo ou afastá-lo do mundo das drogas. Aproximadamente metade dos alunos do 6° ao 9° ano respondeu ao questionário com um número correspondente a 300 alunos. A idade dos alunos variou entre 10 e 15 anos. Abaixo estão indicados os resultados desse questionário.

Quando perguntado se o aluno já tinha consumido bebida alcoólica, 82% dos alunos responderam que não, um resultado favorável para a comunidade. Acredita-se que este resultado deve-se ao fato desses meninos serem criados com antigos costumes e que, por ser da zona rural, eles estariam mais protegidos quanto a investidas de amigos ou parentes que consomem bebida alcoólica. Mesmo assim, é importante ressaltar que 18% dos entrevistados afirmaram que já consumiram bebida alcoólica e isso se torna grave, já que todos são menores de idade e a justiça proíbe com veemência o consumo de álcool por menores de idade. É importante ressaltar que a faixa etária dos alunos entrevistados varia, e que os 18% podem pertencer ao grupo com maior idade e que sendo assim, teria-se um percentual importante de adolescentes que consumiram bebida alcoólica.

A segunda questão indagava o aluno quanto à compra de cigarro ou álcool em supermercados do povoado. Dos entrevistados, 45% disseram que sim, mostrando que mesmo não fazendo uso dessas substâncias nocivas à saúde humana estes jovens estão sendo induzidos por adultos a comprá-las em estabelecimentos que não estão fiscalizando se os compradores são maiores de idade ou não. Esse contato do jovem com essas substâncias favorece o seu possível envolvimento futuro com drogas. Deste modo, campanhas que esclareçam a empresários que é proibido a compra de bebidas alcoólicas e cigarros por menores de idade, como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 2003), é de interesse da nação.

Na terceira questão, o aluno foi perguntado sobre a presença de parentes que são usuários de bebida alcoólica e o resultado mostrou que 66% dos alunos questionados têm algum parente que se utiliza de álcool no seu dia a dia. É um fator de risco, já que estes jovens estão em pleno desenvolvimento cognitivo e é de fundamental importância que todos eles cresçam em um lar de pura harmonia e livre da influência de pessoas que façam uso contínuo de álcool. Mas mesmo assim, é importante destacar que se estes jovens forem bem orientados eles podem se tornar peças chaves para afastar estes parentes do uso de drogas, e, com isso, garantir que além de não usar drogas eles possam cada vez mais discutir formas de melhorar a qualidade de vida dos que usam.

A quarta questão trazia um questionamento sobre o contato dos alunos com usuários de drogas ilícitas que já se tornam cada vez mais presentes no Estado de Alagoas. Cerca de 90 alunos (29,7%) disseram conhecer pessoas que fazem uso de substâncias proibidas no país. Isso se torna um agravante para a comunidade, pois tendo a possível influência de usuários fica mais fácil que adolescentes venham a experimentar essas drogas (SANCHEZ et al.,2005). É preciso que estes adolescentes estejam engajados em trabalhos relacionados ao uso indevido de drogas para que possam ajudar as pessoas que estão no mundo das drogas e assim, ficarem livres de um possível contato.

A quinta pergunta questiona se os pais dos alunos entrevistados se envolviam com as atividades referentes à comunidade. Dos entrevistados, 50,6% disseram que seus pais não costumam participar das discussões referentes ao povoado onde moram. E isso se torna um fator de risco para estas famílias, já que é preciso estar à parte das questões referentes ao local onde vive para buscar soluções aos mais variados problemas da comunidade. Diante deste quadro, torna-se necessário incentivar os comerciantes do bairro a não vender bebidas alcoólicas e cigarros a menores de idade e também está atento a todos os possíveis envolvimentos desses jovens com situações conflituosas.

E quanto a amigos que utilizam drogas? Esta foi a sexta pergunta e teve um total de 22% dos entrevistados dizendo que tem amigos envolvidos com drogas, o que torna esses jovens possíveis alvos futuros de um contato com essas substâncias. É preciso que estes jovens saibam o quanto é importante que eles busquem apoio para estes amigos e que com isso, certamente eles estarão se distanciando cada vez mais da influência perversa das drogas.

A sétima questão investigou os alunos quanto ao oferecimento de drogas por parte de amigos e 10,4% dos entrevistados disseram que já sofreram abordagens de amigos usuários e estes lhes ofereceram a droga que costumam utilizar. Mais uma vez é necessário falar da importância de colocar os adolescentes como protagonistas de políticas para esclarecer a população sobre os efeitos causados pelas drogas e destacar que quanto mais toda a comunidade se envolver nessa luta mais jovens serão salvos de uma possível entrada no mundo das drogas.

As oitava e nona questões indagaram os alunos quanto a possíveis brigas entre seus pais e entre seus pais e eles. O resultado foi que 44% dos alunos disseram que constantemente estão tendo conflitos com seus pais, mostrando o quanto o diálogo e a paciência precisam ser estabelecidos nestas famílias, já que é de fundamental importância que pais e filhos discutam os diferentes pontos presentes na vida de todos (ARATANGY, 1998). Quanto à questão das brigas entre os pais destes alunos, 78,7% declararam que é raro presenciar brigas entre seus pais e isso é importante para a construção de um ambiente livre de drogas.

Uma das questões mais reveladoras deste estudo foi à décima, que trazia a seguinte pergunta: você se relaciona bem com sua família? E o resultado foi que 92% dos alunos disseram que sua relação com a família era tranquila e isso leva a crer que esses jovens estão em situação de proteção. É certo que ambientes onde o jovem se sinta indiferente favorecem a busca de uma nova identidade e muitas vezes isso é complementado pelo uso de drogas (TAVARES et al.,2004; SOLDERA et al., 2004; PRATTA, 2007). É importante colocar para estas famílias que quanto mais diálogo houver entre os integrantes mais harmonia e paz surgirá nesta família.

A décima primeira pergunta questionava a localização do jovem no povoado, indagando-o se ele se sente bem ao morar ali. Dos alunos entrevistados, 80,6% disseram que sim. Esse resultado, mais uma vez, mostra que estes adolescentes têm boa condição de não vir a ter o primeiro contato com drogas.

E a décima segunda questão perguntou aos entrevistados se eles eram felizes. A maioria absoluta (88,3%) deles disse que sim, são felizes e isso contribui para que trabalhos como estes possam cada vez mais diminuir as chances destes jovens entrarem no mundo das drogas. A felicidade do adolescente é um bom sinal para um futuro brilhante e livre de qualquer tipo de substância que possa trazer prejuízos para o seu desenvolvimento. Se esse adolescente for estimulado a práticas esportivas, religiosas e debates sobre drogas aumentarão as suas chances de não usá-las (ROBBINS; BRYAN, 2004; SANCHEZ et al., 2005).

Este questionário ajudará a escola a traçar metas para políticas contra uma possível aproximação dos alunos com drogas. A partir das respostas dadas pelos alunos, a escola terá a missão de organizar eventos onde os jovens possam debater junto à comunidade o tema drogas e tratar de soluções para prevenção. Além do mais, poderá da um enfoque na diminuição do consumo por adultos, afim de que estes não venham influenciar os adolescentes no uso de drogas. Como foi percebido que o álcool domina o cenário de drogas na comunidade, é preciso lançar campanhas junto aos comerciantes, proporcionando assim, que estes não venham a vender bebidas alcoólicas aos adolescentes.

4.3 TERCEIRO DIA

 

No terceiro dia surgiram as discussões necessárias para que os alunos criassem as suas próprias estratégias para falar de prevenção ao uso de drogas. Em todas as salas foram discutidos o andamento do projeto para que fosse apresentado no quinto dia. Assim, em algumas turmas a maioria dos alunos escolheu a produção de peças teatrais retratando situações onde adolescentes se tornam vítimas das drogas ou das consequências que elas podem trazer. Em outras turmas a preferência foi à produção de paródias envolvendo questões de prevenção. Muitos alunos decidiram expor em cartazes mensagens de esperança, de solidariedade e também frases que visam afastar os adolescentes do mundo das drogas.

4.4 QUARTO DIA

 

Neste dia os alunos tiveram a oportunidade de produzir seus trabalhos. Todas as turmas foram liberadas para organizar o projeto e alinhá-lo para a apresentação no dia seguinte, sendo que a supervisão do trabalho era feita pelos professores que revezaram as tarefas. As turmas que decidiram fazer desenhos trouxeram encartes de jornais e revistas para transcrever frases e/ou fotos em forma de desenho a fim de transformar os cartazes em peças de promoção de bons hábitos de saúde. Os que optaram pela produção de paródias, escreveram as músicas e puderam ensaiá-las na escola, criando passos de danças para envolver a plateia. E as peças teatrais que seriam o carro-chefe das apresentações também foram ensaiadas no quarto dia do projeto, onde foi realizada a seleção dos alunos que mais se destacassem no papel. Apesar de serem alunos da zona rural, o que impressionou foi a disposição para se exporem em trabalhos que exigiram um grau enorme de desenvoltura e ousadia. Todo esse trabalho foi mais uma prova de que os adolescentes estão preparados para, cada vez mais, exercer papéis mais importantes na sociedade, não importando o endereço desses jovens.

4.5 QUINTO DIA

 

O quinto dia tornou-se o dia mais esperado por todos, já que os alunos fariam suas exposições, mostrando maneiras de como manter os adolescentes numa vida correta e efetivando o papel do jovem no combate a disseminação das drogas. As apresentações aconteceram no pátio da escola e contou com a presença dos alunos do turno matutino, assim como de todos os professores da escola.

4.6 SEXTO DIA

 

No sexto e último dia, teve-se a oportunidade de falar diretamente com os pais dos alunos que compareceram em um número razoável. Principalmente as mães, que puderam discutir sobre como lidar com seus filhos a respeito de questões que favoreçam o entendimento das mudanças que estão ocorrendo na mente e no corpo de seus filhos. Pode-se contar com a palestra de um representante da polícia militar do estado de Alagoas e com um psicopedagogo, ambos esclarecendo dúvidas e expondo soluções para todos os pais presentes. Neste dia teve-se a participação de alguns alunos que trouxeram seus trabalhos já apresentados no dia anterior e que agora estavam emocionando seus pais. Os pais foram lembrados que as principais práticas para evitar que seus filhos caiam no mundo das drogas devem ser exercitadas no dia a dia, dentro do seio familiar. Pois é lá que estes jovens passam a maior parte de suas vidas e é de fundamental importância que estes pais possam aprender a entender seus filhos, já que estão numa fase onde o mundo se torna diferente na cabeça desse jovem, necessitando, assim, de compreensão e de um ambiente saudável.

 Foi destacado também que os pais tinham que ser fiscais dos seus filhos e não permitir a compra de bebidas alcoólicas por estes, nos supermercados do bairro, prática que é bem comum no povoado e que é comandada, muitas vezes, pelos próprios pais. Com essa reunião de pais em torno de um único objetivo, espera-se que os índices de adolescentes envolvidos com drogas diminuam.

Quanto mais os jovens estão envolvidos em ações para a prevenção ao uso de drogas de forma direta, tornam-se menos vulneráveis a um possível contato com as drogas (COSTA; VIEIRA, 2006). Além disso, espera-se que possam ajudar parentes e amigos que são usuários de drogas.  Com este projeto, toda a escola espera que, em curto prazo, tenham-se resultados satisfatórios quanto ao envolvimento dos alunos em tarefas relacionadas à prevenção de drogas. Isso ajudará aos alunos descobrirem o quanto eles podem ser importantes no ambiente de seu convívio.

5 CONSIDERAÇÕES GERAIS

 

Um fato importante que foi observado por todos os professores do colégio é que eventos como este promovem a melhoria da desenvoltura dos alunos participantes. Destaca-se que os jovens envolvidos se empenharam o máximo para fazer apresentações marcantes e isso afasta possíveis casos de timidez, preparando estes alunos para a vida.

Outro fator positivo e que era objeto do trabalho, foi à participação de todos os funcionários da escola, desde servidores a diretores. Isso mostra que a escola está aberta a uma nova visão de mundo, onde se torna cada vez mais integrante da comunidade sendo um meio para discussões sobre ações que venham a melhorar a vida de todos. Teve-se o apoio de todos os professores que tentaram colocar em suas aulas temas referentes à prevenção ao uso de drogas e também professores que esqueceram um pouco seus extensos conteúdos e auxiliaram seus alunos em tarefas diversas. O trabalho mostrou que é importantíssimo trabalhar sob aspectos da interdisciplinaridade em que professores de diferentes áreas buscam ajudar uns aos outros no intuito de transformar tarefas simples em grandes projetos tanto para seus alunos quanto para toda a comunidade onde a escola está inserida.

A ideia é que estes jovens continuem lançando alternativas para diminuir o contato com drogas em todo o povoado e para isto, durante todo o ano letivo eles sejam instruídos a criar campanhas. Por exemplo, os comerciantes do bairro devem ser incentivados a não vender bebidas alcoólicas assim como cigarros a menores de idade. Lembrá-los que existe lei para isto e que tanto o comerciante quanto o responsável pelo menor poderão responder a inquérito policial.

Outro ponto alcançado com a realização do projeto foi o acordo firmado por todos os professores a fazer abordagens durante todo o ano letivo, a fim de transformar o tema prevenção em ato contínuo dentro do colégio e desta forma, poder-se estar sempre disponível a possíveis questionamentos dos alunos que possam surgir durante o percurso do ensino. Com isso, espera-se tornar as aulas mais atrativas discutindo pontos em que os jovens se sintam inclusos, já que muitos têm parentes e amigos que se utilizam de substâncias psicoativas. Foi firmado também que a semana de prevenção ao uso abusivo de drogas entrará no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola e com isso, a escola terá nos anos seguintes a repetição do projeto que trará novas idéias, trazendo aos temas transversais da escola (BRASIL, 2006) o assunto drogas que se mostra um dos temas mais importantes da atualidade (BUSQUET et al., 2003).

O trabalho também serve de exemplo para que outras escolas entrem nesta campanha e que todo o município reaja às crescentes investidas de traficantes que insistem em oferecer drogas lícitas a adolescentes. E, é importante que todos ressaltem o quanto as drogas ilícitas estão sendo banalizadas pela sociedade e que acabam tornando-se mais acessíveis aos menores de idade, muitas vezes inclusive, sendo oferecidas pelos seus pais. Essa campanha reforça uma realidade que é nacional, onde cada vez mais cedo jovens de todo o país estão se envolvendo com drogas. E cada vez mais, novos tipos de drogas surgem e, com um maior poder de devastação. Profissionais de todas as áreas da educação ganham a responsabilidade de evitar ao máximo que jovens venham a ter o primeiro contato com qualquer tipo de droga (BRILLINGER, 2009). O projeto será encaminhado à secretaria de educação do município para que a prefeitura possa repassá-lo a outras instituições de ensino e que estas acreditem também no potencial dos seus alunos e os transformem em disseminadores de campanhas para o esclarecimento dos efeitos nocivos que as drogas causam na sociedade.

O trabalho inovou levando à escola a ideia de se trabalhar em redes sociais – quando todos os segmentos da sociedade se juntam afim de um único objetivo. E, assim, foi feito um intercâmbio entre vários segmentos e a escola, criando-se parcerias importantes para cultivar a cultura da paz, livre de drogas e enchendo de esperanças os próximos anos.

6 CONCLUSÃO

 

A sociedade brasileira vem assistindo perplexa ao avanço desenfreado do uso de drogas e como se esse fato não bastasse, esse uso tem aumentado entre os adolescentes de todo o país.

Tendo em vista a necessidade de enfrentar o problema relacionado ao uso de drogas, o presente trabalho torna-se importante visto que a comunidade onde ele foi aplicado apresenta deficiências quanto a esclarecimentos sobre os efeitos das drogas. Além do mais, ressalta-se, principalmente, sobre a importância de se trabalhar em rede social para evitar que os adolescentes entrem em contato com as drogas.

 É importante notar, que o trabalho se caracteriza por aproximar todos os professores da escola para que juntos tracem metas que conduzam os alunos a participarem do projeto, onde eles serão os verdadeiros protagonistas e entenderão a sua responsabilidade diante do grave problema.

REFERÊNCIAS

ALBERTINI, H. M. B.; et al. Trabalhando com prevenção na família, na escola e na comunidade. Curso de prevenção ao uso de drogas para educadores de escolas públicas. 2010.

ARATANGY, L. R. Desafio da convivência: pais e filhos. São Paulo: Gente, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2006.

BRILLINGER, N. S. Escola em rede com a família na prevenção do uso de drogas: o olhar de educadores sobre a parceria com as famílias. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, 2009.

BUCHER, R. Drogas e drogadição no Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

BUSQUET, M. D.; et al. Temas transversais em educação. São Paulo: Ática, 2003.

COSTA, A. C. G.; VIEIRA, M. A. Protagonismo juvenil: adolescência, educação e participação democrática. São Paulo: FTD; Salvador: Fundação Odebrecht, 2006.

DEZONTINE, F. R.; et al. Uso de drogas entre adolescentes estudantes de escola da rede privada em São Paulo. ConScientiae Saúde, São Paulo,v.6,n.2, p.323-328, 2007.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. 4 ed. Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2003.

GALDURÓZ, J. C. F., et al. V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino das 27 capitais brasileiras 2004.

NOTO, A. R.; et al.O consumo de drogas psicotrópicas na sociedade brasileira. Curso de prevenção ao uso de drogas para educadores de escolas públicas; 2010.

PRATTA, E. M. M. Lazer e uso de substâncias psicoativas na adolescência: possíveis relações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 23, n.1, p.43-52, 2007.

ROBBINS, R. N.; BRYAN, A. Relationships between future orientation, impulsive sensation seeking, and risk behavior among adjudicated adolescents. J Adolesc Res, 2004.

SANCHEZ, Z. V. M; et al. Razões para o não uso de drogas ilícitas entre jovens em situação de risco. Departamento de Psicobiologia. Universidade Federal de São Paulo, SP, 2005.

SECRETARIA DE ESTADO DA DEFESA SOCIAL. Dados estatísticos da criminalidade em Alagoas. 2008. http://www.defesasocial.al.gov.br. Acesso em: 22/02/2011.

SOLDERA, M.; et al.Uso de drogas psicotrópicas por estudantes:prevalência e fatores sociais associados. Rev. Saúde Pública,v.38, n. 2, p. 277-288, 2004.

TAVARES, B. F.; et al. Fatores associados ao uso de drogas entre adolescentes escolares. Rev. Saúde Pública,v.38, n.6, p.787-796, 2004.

WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2010. Instituto Sangari, 2010.

ANEXO

 

QUESTIONÁRIO SOBRE FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA O ENVOLVIMENTO COM DROGAS.

Abaixo, você encontrará uma ou mais ações, atividades ou situações que podem ou não fazer parte do seu dia a dia. Leia atentamente cada uma e avalie de que forma elas estarão presentes na sua vida marcando um X no ___ SIM ou no ___NÃO, de acordo com o exemplo abaixo:

 Ex.: você é bonito? ___SIM ___NÃO

“Se você concorda com esta situação, marque um X no SIM.”

“Se você não concorda com esta situação, marque um X no NÃO.”

Bom trabalho!

 

Nome (opcional):                                                           Turma:

1-              Você já consumiu bebida alcoólica?

___SIM___  NÃO

2-              Você já comprou bebida alcoólica em supermercados do bairro ou cigarro?  

___SIM___ NÃO

3-              Você tem parentes que são usuários de bebidas alcoólicas?

___SIM ___NÃO

4-              Você conhece alguém que se utiliza de drogas ilícitas? (maconha, crack, etc.)

___SIM___ NÃO

5-              Seus pais participam ativamente da comunidade?

___SIM ___NÃO

6-              Você tem amigos que utilizam drogas?

7-              ___SIM ___NÃO

8-              Algum amigo seu já lhe ofereceu algum tipo de droga?

9-              ___SIM ___NÃO

10-           Você já presenciou brigas entre seus pais?

___SIM ___NÃO

11-           Seus pais costumam brigar com você?

 ___SIM___ NÃO

12-           Você se relaciona bem com os membros da sua família?

___SIM ___NÃO

13-           Você se sente participante da comunidade em que vive?

___SIM ___NÃO

14-           Você é feliz?

 ___SIM ___NÃO



1-                                [1] Bacharel e licenciado em Ciências Biológicas (Universidade federal de Alagoas), professor de Ciências na escola Fernando Collor de Mello – Arapiraca-Al.

2-                               [2] Bióloga (Universidade Federal do Paraná), Mestre em Genética (UFPR), Doutora em Genética (UFPR) orientadora de TCC do Grupo Uninter.