O ensino da Língua Inglesa para alunos surdos: uma análise da relação entre a Libras (L1), a Língua Portuguesa (L2) e a Língua Estrangeira (L3)

Resumo

Há vários anos, o tema sobre inclusão dos alunos surdos vem sendo discutido em várias esferas educacionais do ensino fundamental e médio. Tratando-se dos estudos e práticas sobre o ensino da língua inglesa, é reconhecida a importância desta língua para estes alunos, pois são necessárias a aprendizagem e as experiências com novas situações comunicativas e linguísticas proporcionadas pelo conhecimento de uma língua estrangeira. Isso fortalecerá e desenvolverá novos conhecimentos culturais para o cidadão surdo, do mesmo modo como ocorre com alunos ouvintes. O presente trabalho tem como finalidade analisar como ocorre a aprendizagem dos alunos surdos nesta língua estrangeira e também como se estabelece a relação entre essa língua, a língua portuguesa e a Libras durante as aulas da LE. Como metodologia,será exposta uma pesquisa bibliográfica sobre o ensino e a aprendizagem de línguas para os alunos surdos. Para fundamentar essa pesquisa, toma-se como base as ideias de Salles et. al. (2005), Medeiros (2009), Pinto (2014) entre outros. Aborda-se o papel social da língua e da linguagem, a aprendizagem e o ensino da língua inglesa para os alunos surdos, a relação entre essas três línguas nas aulas de língua inglesa, bem como o domínio do professor de LE em relação à Libras durante as aulas e as estratégias metodológicas da língua inglesa para estes alunos. Espera-se que esta reflexão possa contribuir para os estudos sobre as metodologias e estratégias das aulas de Língua Inglesa para estes educandos com foco numa abordagem inclusiva, visando a uma aprendizagem significativa e a aquisição de novos conhecimentos culturais e linguísticos.

Introdução

Falar de língua estrangeira (LE) no contexto da escola inclusiva e com alunos surdos é algo inovador, desafiador e que merece a atenção. Sendo assim, este trabalho propõe-se analisar a aprendizagem dos alunos surdos nesta língua estrangeira e como é a relação de uma aula desta LE com a Libras e com a língua portuguesa.

Para justificar a elaboração e a realização deste artigo científico, encontra-se a motivação na minha experiência de dezenove anos como professora de língua inglesa somada ao meu contato com essadisciplina com alunos surdos no município de Santa Rita.

Segundo Salles (2005), a Libras é oficializada como a primeira língua  ou L1 das pessoas surdas de acordo com a Lei nº 10.436 de 24/04/2002, como um meio de expressão, comunicação e de instrução educativa, paralelamente com as outras disciplinas curriculares, como é o caso do ensino de língua portuguesa como segunda língua (L2) e da língua estrangeira ‒ neste artigo, o inglês(L3) ‒, através da análise bibliográfica de estudiosos que utilizaram materiais e métodos específicos de ensino, fazendo as adaptações necessárias para este público nas escolas.

Assim, a língua materna é a primeira língua que adquirimos na modalidade oral ou sinalizada e para Quadros& Karnopp (2004), a língua brasileirade sinais é vista como uma língua natural das pessoas surdas, em que irá desenvolver habilidades linguísticas.

 Essa oficialização da Libras foi um grande avanço para a comunidade surda, no sentido de que aponta ser necessária a presença de intérpretes em diversos locais, como: nasescolas, hospitais, repartições públicas, estabelecimentos comerciais e entre outros, em que ocorre a comunicação entre os surdos e ouvintes, pois promove o acesso à cultura, a história e o desenvolvimento da identidade surda. Sabe-se que ainda não acontece em todos os ambientes em que o cidadão surdo está inserido, pois ainda falta um maior compromisso dos órgãos públicos, visto no art. 26 do Decreto 5.626 de 22/12/2005, que as empresas concessionárias de serviços públicos e os órgãos da administração pública federal, direta e indireta devem garantir às pessoas surdas o tratamento diferenciado, para o uso e a difusão da Libras e da tradução e interpretação desta língua.

Então, o papel do intérprete neste processo de tradução e de interpretação, envolve mecanismos cognitivos e linguísticos, em que processará a informação na língua fonte e fará escolhas nas estruturas da língua alvo para que haja uma intenção comunicativa nas duas línguas em questão, respeitando os aspectos culturais, sociais e as variações linguísticas durante o momento da interpretação.

Esteprofissional deve dominar a língua de sinais e a língua falada do país a ser interpretado, no caso do nosso país, a Libras e a língua portuguesa, podendo ainda dominar outras línguas, como; o inglês, entre outras, em que ajudará na fidelidade no momento da compreensão das informações pelas pessoas surdas. (QUADROS,2004)

 Diante dessa realidade, os educadores devem descobrir e participar ativamente desse processo de inclusão, promovendo um ensino inclusivo que, conforme a UNESCO (apud FARIA, 2001), é sustentada por quatro pilares do conhecimento, que são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

Como parte deste processo, em que atuo como professora de língua inglesa, foi observada a dificuldade de lecionar a língua inglesa para os alunos surdos e a relação dessa língua com a Libras (L1) e a língua portuguesa (L2) durante as aulas. Na prática, em nossas salas de aula com os alunos surdos, mesmo com a presença de um intérprete de Libras para auxiliar na comunicação entre estes alunos e o professor de LI, existem atividades em que acontecem dificuldades, tendo em vista a comunicação recíproca e simultânea entre a língua inglesa, o português e a Libras ao mesmo tempo. A presença dessas línguas requer um maior esforço por parte do professor, intérprete e alunos.

Com referência a essa dificuldade, existe o problema de como fazer essa adaptação, ou seja, como inserir esses alunos nas atividades coletivas, pois, na prática, a grande maioria dos intérpretes não domina o inglês e, por isto, não é capaz de interpretar para o aluno surdo a situação comunicativa que está acontecendo entre o professor e os alunos ouvintes.

É necessário, portanto, que haja uma reflexão e estudos dos pressupostos teóricos que abordam esse tema, o processo educacional do aluno surdo diante da língua estrangeira, o seu desenvolvimento como indivíduo nesse ambiente educacional, cultural e linguístico, envolvendo ainda os aspectos que dificultam a interpretação das aulas de inglês pelos intérpretes.

1 Ensino e aprendizagem de línguas para os alunos surdos

Para iniciar este trabalho sobre o ensino da língua inglesa com os alunos surdos, primeiramente foi feita uma breve reflexão sobre o ensino e a aprendizagem de línguas para surdos, além de um embasamento teórico sobre os conceitos de L1, L2 e da língua estrangeira (LE).

Para Figueiredo (2006, p. 30), quando são estudados os processos de ensino e aprendizagem de línguas, a L1 é referida como a primeira língua a ser adquirida, sendo esta a Libras vista oficialmente como a L1 para as pessoas surdas; L2 é a segunda língua, nesse caso, o português na modalidade escrita, e a LE, a língua estrangeira, como uma L3; neste estudo, trata-se do inglês. Em relação aos estudos de alunos surdos aprendendo inglês em escolas, a L1 é a Libras (Língua Brasileira de Sinais), que representa a primeira língua da comunidade surda. Assim, o português representa a L2, mas é utilizado como meio de comunicação na modalidade escrita entre os surdos e os ouvintes e o inglês, como LE, sendo uma língua de conhecimento para fins comunicativos, comerciais e culturais, envolvendo a globalização das informações.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 2006) reforçam a ideia de que o ensino da língua estrangeira tem como objetivos para os alunos, não apenas ouvintes, mas também os surdos: o desenvolvimento das habilidades comunicativas e a ampliação cultural, a compreensão das diferentes formas de comunicação, a aquisição de novos conhecimentos culturais e linguísticos e, como colaboradora, numa perspectiva inclusiva e no desenvolvimento da cidadania dos alunos na escola. Esse mesmo documento ressalta que:

[...] a disciplina Línguas Estrangeiras na escola visa a ensinar um idioma estrangeiro e, ao mesmo tempo, cumprir outros compromissos com os educandos, como, por exemplo, contribuir para a formação de indivíduos como parte de suas preocupações educacionais.PCN (BRASIL, 2006, p. 91)

Assim nos PCNs, a língua estrangeira tem como objetivo desenvolver a construção do conhecimento, através do discurso, como está enfatizado a seguir:

A aprendizagem de uma língua estrangeira deve garantir ao aluno seu engajamento discursivo, ou seja, a capacidade de se envolver e envolver outros no discurso. Isso pode ser viabilizado em sala de aula por meio de atividades pedagógicas centradas na constituição do aluno como ser discursivo, ou seja, sua construção como sujeito do discurso via Língua Estrangeira. Essa construção passa pelo envolvimento do aluno com os processos sociais de criar significados por intermédio da utilização de uma língua estrangeira (PCNs, 1998, p. 19).

Desta forma, Brito (1995: p. 11 apud SALLES, 2005), linguista brasileira pioneira no estudo da Libras, enfatiza que o canal vísuo-espacial é uma modalidade que desenvolve a linguagem nas pessoas surdas na forma sinalizada pelas experiências visuais, utilizando classificadores e as expressões faciais.Desta forma, quando estamos nos referindo à língua de sinais, o primeiro aspecto a ser abordado é a utilização dessa modalidade, que a distingue da modalidade oral-auditiva, como no caso da língua inglesa e Língua portuguesa (L2), que são línguas que utilizam os aspectos sonoros e fonológicos para a comunicação.

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