BUENO, Flora Marta Giglio. QUEIROZ, Marcos de Souza. O enfermeiro e a construção da autonomia. Revista Brasileira de Enfermagem REBEn, 2006.

 

Flora Marta Giglio Bueno, enfermeira mestre em enfermagem, ouvidora do Hospital das Clínicas da UNICAMP e Marcos de Souza Queiroz, antropólogo, doutor em sociologia pela Universidade de Manchester, Inglaterra, pesquisador do centro de memória e graduação da enfermagem da FCMU/UNICAMP, publicaram em março de 2006, pela revista brasileira REBEn o artigo cientifico com o tema: O enfermeiro e a construção da autonomia profissional no processo de cuidar.

O artigo é constituído de cinco partes, cada uma delas sob as responsabilidades dos autores do artigo, onde traduzem suas experiências, com uma linguagem técnica, porém de fácil entendimento, breve e questionador no que se refere à autonomia do profissional enfermeiro, atuando com uma metodologia baseado em pesquisa de campo e apontando os resultados.

Na primeira parte, discorrem sobre os objetivos do artigo, sob o ponto de vista sociológico da profissão de enfermagem, apresentando questionários e entrevistas realizadas no Hospital das Clínicas da UNICAMP (HC- Unicamp), com 59 enfermeiros assistenciais de diversas áreas do hospital, partindo de uma pesquisa empírica qualitativa exploratória, uma vez que o estudo sociológico vinha contemplando principalmente a Medicina com obras como a de Freidson que distingue a profissão em relação a outras ocupações menores, principalmente no que tange a autonomia organizada, para ele, essa autonomia conferia a profissão um monopólio, principalmente na divisão dos trabalhos, e baseava-se em dois princípios fundamentais: conhecimento teórico reconhecido e apoio das elites, e o artigo ganha embasamento quando citam Johnson, “as várias ocupações na área da saúde hierarquicamente subordinadas aos médicos tem pouca autonomia no trabalho, podendo ser identificadas como o proletariado, independente se produtivo ou não”.

Na segunda parte, os autores criticam os métodos adotados e questionam a autonomia profissional do enfermeiro, enquanto uma questão importante que necessita ser analisada e discutida amplamente junto à classe se pertinente ou viável, uma vez que o processo de cuidar faz parte de um conjunto de ações pouco valorizadas, sendo executada principalmente pelos técnicos e auxiliares de enfermagem.

Neste sentido, Bueno e Queiroz afirmam que a enfermagem só poderá adquirir plena autonomia quando o cuidado passar a ser visto como uma esfera privilegiada na área da saúde, tanto do ponto de vista científico como prático.

Destacam ainda que somente uma mudança no paradigma cientifico, poderia dar ênfase ao ato de cuidar em relação ao aspecto humano da medicina e que essa tal desvalorização do cuidado, acaba inserido num processo de perda de autonomia.

 Na terceira e quarta parte foram realizada pesquisas pelos autores do artigo, com 59 enfermeiros atuantes em diversas áreas do hospital, onde confirmaram que uma parte do profissional enfermeiro atua de forma acrítica e passiva, levando em conta aos objetivos controladores da instituição, enquanto outra parte objetiva apenas ampliar seus conhecimentos, e outros acabam desviando-se da ação cuidadora para exercer papel irrelevante.

Na quinta parte os autores concluem o artigo enfatizando que a enfermagem como saber e pratica aos poucos vem sendo contestada, mesmo que timidamente pelos profissionais de enfermagem, com a tentativa de resgatar o papel do cuidar, o que significa, portanto, recuperar ou reconstruir a autonomia do profissional da enfermagem que vem rompendo com a imagem de profissional devoto e obediente, que trata o paciente como uma mera máquina, essa nova atitude permite o inicio de uma revolução no que tange a profissão de enfermagem.

De um modo geral o artigo fornece aos profissionais enfermeiros a oportunidade de mudança, na maneira de atuar no ato de cuidar, e incentiva a classe a reagir à acomodação, de forma que readquira a autonomia a muito perdida.

Esse artigo pode oferecer não só aos profissionais, mas aos estudantes universitários embasamentos no que tange o ato de cuidar, creio que será de grande auxilio principalmente a aqueles que sonham com mudanças, e que ainda não encontraram um norte, mais que anseiam por entrarem na fronte de batalha.

Leidilaura Soares de Sousa, acadêmico do Curso de Enfermagem da FAI – Faculdade de Itaituba.