O ENEM 2008( Exame Nacional do Ensino Médio) retrata uma realidade que precisa ser reavaliada. Alagoas, mais um vez, apresenta os piores indicadores educacionais do país. Entretanto, dados estatísticos são apenas dados se não forem devidamente analisados.


Parece que Estados nordestinos competem para verificar qual dos Estados estará em pior condição um pouco acima do Estado de Alagoas. Entretanto, gostaríamos de ressaltar como, de fato, Alagoas se tornou o Estado em piores condições econômicas para a sua população.


É preciso observar que aquele Estado, possui uma economia dinamizada. Na região Nordeste, oscila entre a terceira e quarta economia. Entretanto, sua população, em todos os indicadores sociais, é representada como a que possui maiores indices negativos.Este fato, não pode ser desvinculado dos indicadores de exclusão social. O Estado de Alagoas possui o pior IDH do país( nos três itens avaliados). Possui, também, uma das maiores concentrações de terras( cerca de 65% são latifúndios); não possui indústrias suficientes que atendam a demanda de jovens desempregados; não atende, educacionalmente, a quantidade de alunos que necessitam de formação, tanto no ensino fundamental como no ensino médio.


O governo brasileiro, apesar de insistentes pesquisas demonstrando a situação caótica do Estado de Alagoas, apenas parece explicitar a intenção de que a concorrência deve ficar , simplesmente, em qual Estado não perderá para Alagoas. Neste Estado, o dinheiro público parece se esvair. Atualmente, e somente atualmente, algumas denúncias por parte da Polícia Federal, ecoam, sem, entretanto, possuir efetiva eficiência. As políticas públicas, como em todo o país, se detêm no assistencialismo. Este, ignora as condições socioeconômicas da população. Prevalece interesses pessoais, de orientação eleitoreira. Daí a manutenção de condições precárias de vida e, tendo como resultante, índices educacionais negativos.

Alagoas é o Estado abandonado dentre todos os Estados da Federação. Entretanto, seus políticos, a exemplo de décadas anteriores, possuem força política suficiente para que não sejam questionados. Naquele Estado, dois presidentes da República se fizeram presentes: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Estes representavam não o Estado de Alagoas, mas as elites econômicas brasileiras, tanto do setor industrial como o agrário-exportador. Na ditadura Vargas, a Família Góis Monteiro possui importante papel, desde favorecer militarmente, através do Coronel Góis Monteiro, a ascensão de Vargas ao poder, a sua destituição do mesmo poder em que foi colocado, sob o comando militar do mesmo Coronel. No final da década de 1980, elegeu Collor de Mello( que se dizia representar Alagoas) para presidente do Brasil. O Estado estaria orgulhoso? Creio que não. Estes presidentes não representavam o povo alagoano, mas interesses de um tipo de capitalismo conservador(não apenas alagoano) que sequer consegue favorecer políticas sociais. Utilizam a ignorãncia como suporte para manutenção do poder.

Este Estado, de proporções geográficas quase insignificantes, pôde representar por décadas o IAA(Instituto do Açúcar e do Álcool); controlar a SUDENE( Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste); apresentar entre suas lideranças um presidente do Senado Federal. Sua insignificância econômica, levando em consideração o PIB( Produto Interno Bruto) brasileiro, não parece coadunar com sua força política. Os discursos da crise do setor sucroalcooleiro, ecoam por décadas e, geralmente, são atendidos pelo governo federal em forma de subsídios. Subsídos estes, que o mesmo governo cobra para que países estrangeiros não utilizem junto aos seus grandes agricultores. No Brasil, o disface é latente. Aparece sob a forma de emprestimos, quase nunca reembolsáveis. Entretanto, os mesmos usineiros passaram décadas sem pagar impostos ao Estado. Estado este que possui sua principal atividade econômica no setor sucroalcooleiro. O rico poder da cana, não se faz presente junto a população.

Entretanto, as condições de vida de sua população, permanecem as mesmas. Em alguns casos, tendem a acentuar. Ninguém estaria preocupado. É apenas o Estado de Alagoas! Por décadas apresenta os piores indicadores sociais. Mesmo assim, a corrupção é colocada para "debaixo do tapete". Apresenta-se entre os Estados da Federação com maiores índices de revoltas populares, com lutas específicas no meio rural. Mas quase ninguém toma conhecimento disso. Demonstra, também, os maiores índices negativos de violência no campo, sem, entretanto, os assassinos serem identificados ou condenados. Nada disso importa.

Possui os piores indicadores educacionais do país. Tem-se ainda, as piores escolas em funcionamento, notadamente, na rede pública. Não são questionadas as causas. Apenas são demonstradas as conseqüências. E, como um espelho refletindo a negatividade, o Estado de Alagoas, passa a ser parâmetro para a comparação entre os piores indicadores sociais do país. E viva o resultado do ENEM, tendo em vista que ninguém questiona as principais causas das deficiências. Paliativos são apresentados, soluções esquecidas. Professores com salários baixos e sobrecarregados; escolas sem a mínima condição de funcionamento, inclusive, algumas sequer parecem com escolas. Por vezes funcionam em salões alugados, prédios depredados em salas de aulas multisseriadas. O Estado, também possui o maior índice de exclusão digital do país. Ou seja, nada que possa contribuir para melhoria do ensino é efetivamente realizado. Mas, como mágicos apontamos resultados educacionais sob um véu. Se a Região Nordeste se contenta, historicamente, em possuir índices negativos em todos os indicadores, Alagoas, nesta região, representa os pobre entre os pobres, em um Estado rico e fértil.
Os resultados do ENEM, não demonstram que entre os excluidos, existem aqueles que possuem melhores condições com notas maiores. Ou seja, a escala de exclusão vai sendo acentuada cada vez mais. Assim tem-se resultados, em algumas cidades, que sequer possuem proximidade com os indices negativos do Estado, ou seja, estão em piores condições. Para tanto, basta verificar os censos educacionais realizados pelo INEP(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Se para o Estado, em geral, nada parece apontar com mudanças, no complicado sistema educacional, onde os municípios realizam como querem as políticas educacionais( ou a falta delas), a situação tende a se agravar cada vez mais.Assim, alguns prefeitos são acusados de desvio do dinheiro destinado a Educação. Atualmente, até um ex-governador, possui as mesmas acusações. Que fazer? Nada parece intimidar a ganância de alguns políticos alagoanos. Se pensarmos que a exclusão entre negros e pardos é também historicamente maiores, ampliaríamos, também, a escala da exclusão. Assim, o ENEM para Alagoas, significa apenas mais dados estatísticos.