ACUPUNTURA NA PARALISIA FACIAL: REVISÃO LITERÁRIA

Acupuncture in Facial Palsy: A Review

Alextony Galdino Barros




RESUMO

De acordo com a filosofia da medicina tradicional chinesa, da qual a acupuntura tem origem, as pessoas têm uma interação dinâmica com o meio ambiente, o qual influencia a saúde e o bem-estar. A primeira referência que relata o uso de agulhas de acupuntura foi no século V a.C., desde então a acupuntura tem sido utilizada para tratar diversas disfunções e atualmente encontra-se bem difundida na medicina do ocidente. A paralisia facial, central ou periférica, é uma disfunção que tem sido frequentemente tratada pela acupuntura, com inúmeros casos registrados em literatura médica científica. Todavia, apesar da comprovação de eficácia, ainda se discute em qual fase a terapia deve ser aplicada, se na aguda ou na crônica. O objetivo desta revisão foi identificar resultados que apontem a diferença de resposta de tratamento de acordo com a fase de intervenção, estabelecendo os acupontos utilizados, e identificar a contribuição da acupuntura como terapia complementar. Concluiu-se que a acupuntura como terapia para a paralisia facial apresenta um tempo médio de tratamento de 8 semanas com excelente prognóstico na fase aguda pois leva à maior regressão da disfunção em menor tempo, todavia este período pode variar com a faixa etária do paciente. Os acupontos mais utilizados foram os E4, IG4 e IG20.
PALAVRAS-CHAVE: acupuntura, paralisia facial, acupontos.



ABSTRACT

According to the philosophy of traditional Chinese medicine people have a dynamic interaction with the environment, which influences the health and well-being. The first reference describes the use of acupuncture needles was in the fifth century BC, since then, acupuncture has been used to treat various disorders and is currently widespread in Western medicine. Facial paralysis, peripheral or central, is a dysfunction that has often been treated by acupuncture, with numerous cases reported in scientific literature. However, despite the evidence of effectiveness, there is debate about which stage in therapy should be applied in the acute or chronic phase. The objective of this review was to identify results that show the difference in treatment response according to the intervention phase, establishing the acupoints used, and identify the contribution of acupuncture as a complementary therapy. It was concluded that acupuncture as a therapy for facial paralysis presents a mean treatment period of 8 weeks with an excellent prognosis in the acute phase because it leads to greater regression of dysfunction in less time, but this period may vary with the age of the patient. The most commonly used acupoints were E4, IG4 and IG20.
KEYWORDS: acupuncture, facial palsy, acupoints.



1. INTRODUÇÃO

Acupuntura é uma palavra que deriva dos radicais latinos acus (agulhas) e pungere (puncionar), remete a uma terapia que visa tratar doenças através do uso de agulhas em pontos denominados acupontos. Os acupontos são pontos precisos e localizados em regiões da pele onde encontram-se grande número de terminações nervosas sensórias. É um tratamento relativamente simples, pois consiste na introdução de agulhas metálicas e na estimulação de pontos sobre a pele, agindo através da reflexologia onde o estimulo feito em uma área age em outra (Scogamillo-Szabó & Bechara, 2001; Sussmann, 2000).
A acupuntura, ramo da Medicina Tradicional Chinesa, é baseada na filosofia taoísta da era 1500 aC. De acordo com essa filosofia, as pessoas têm uma interação dinâmica com o meio ambiente, o qual influencia a saúde e o bem-estar. A primeira referência que relata o uso de agulhas de acupuntura foi no século V aC, e as teorias a respeito da acupuntura foram estabelecidas entre 400 e 200 aC no livro Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo. A acupuntura firmou-se como parte integrante da medicina durante a dinastia Sui, em 589-618 dC, com a fundação da Faculdade de Medicina Imperial (Leake & Broderick, 1998).
A paralisia facial é uma disfunção clínica comum na neurologia, e afeta a atividade da vida diária e até mesmo a atividade profissional, pois a face revela o intimo de nossa expressão e é parte essencial da comunicação humana. Entre as etiologias destacam-se: lesões no VII nervo craniano (nervo facial), por tumores, abcessos, afecções vasculares ou traumas até as idiopáticas (Paralisia de Bell) ou iatrogênicas. Também há a possibilidade de que possa ocorrer por um processo inflamatório primário, imunológico ou de etiologia viral (Fisher, 2003).
O objetivo deste estudo foi identificar resultados que apontem a diferença de resposta terapêutica quanto à intervenção em fase aguda e crônica, estabelecendo os acupontos utilizados, bem como a contribuição da acupuntura como forma complementar e seus benefícios como técnica no tratamento de paralisia facial.

2. METODOLOGIA

Foi realizada pesquisa bibliográfica nos periódicos nacionais e internacionais e em livros. A base de dados para os artigos selecionados foi a Bireme (biblioteca virtual), com consulta na PubMed, Lilacs e SciElo com os seguintes descritores: acupuntura, paralisia facial, fase aguda, acupontos, e seus correspondentes em língua inglesa: acupuncture, facial palsy, acute phase, acupoints, de fevereiro a abril de 2011.
Os artigos estudados de paralisia facial e acupuntura foram divididos em dois grupos. O primeiro incluía textos com aspectos epidemiológicos e anatômicos da paralisia facial e o segundo o uso da acupuntura no tratamento da paralisia facial.

3. RESULTADOS

Os resultados revelaram que a acupuntura, comparada ao tratamento por corticosteroides da medicina ocidental, tem melhor efeito no tratamento da paralisia facial periférica em prazos mais curtos. Além disso, foi observado que a acupuntura aplicada na fase aguda levou à maior regressão da disfunção.

Tabela 1. Pontos utilizados no tratamento
Acupontos Autores
Sniezek Liu Hong Guo-neng Min, Jian & Xiao-chan Lei, Wang & Huang Sussmann
B 1 ? ?
B 2 ? ? ? ? ?
B 14 ?
You yao ?
Trae-Yang ? ? ?
Jiacheng jiang ?
VB 1 ? ?
VB 2 ?
VB 3 ?
VB 5 ?
VB 7 ?
VB 14 ? ? ?
VB 20 ? ?
E 2 ? ?
E 3 ?
E 4 ? ? ? ? ? ?
E 5 ?
E 6 ? ? ?
E 7 ? ? ? ?
E 36 ? ? ? ? ?
E 44 ?
Koun Liou ? ? ?
Ti Chang ? ?
IG 2 ?
IG 4 ? ? ? ? ? ?
IG 10 ?
IG 19 ? ?
IG 20 ? ? ? ? ? ?
VG 26 ? ? ?
VC 24 ? ?
P7 ?
P9 ?
TR 17 ?
TR 21 ?
TR 23 ?
8 semanas 2 semanas
Tempo de tratamento



4. DISCUSSÃO

Segundo Sussmann (2000), os pontos estão unidos entre si através de linhas chamadas meridianos que conduzem por todo organismo a energia denominada qui, que é responsável pela vida e saúde do organismo. De acordo com Fisher (2003), os portadores de paralisia facial apresentam hiperacusia ipsolateral, diminuição da sensibilidade gustativa do terço anterior da língua, além de paresia da musculatura facial, dor surda em volta da mandíbula ou atrás da orelha. Porem os sinais e sintomas específicos depende da região anatômica afetada. A acupuntura é uma técnica terapêutica bem definida no tratamento de paralisia facial, mas nos últimos anos muitos pesquisadores têm questionado em qual período a acupuntura deve ser realizada. Enquanto alguns enfatizam que a terapia deva começar na fase aguda outros atestam que a terapia na fase de remissão traz resultados mais satisfatórios (Li-xia, 2007).
Segundo Wein (2006) existem algumas vantagens na aplicação da acupuntura em relação a outro método conservador como: inúmeras possibilidades de aplicação; diminuição do uso de medicamentos; simplicidade da instrumentação necessária; segurança no tratamento; complementação das lacunas da medicina moderna e auxílio no diagnóstico.
A acupuntura tem se tornado recentemente objeto de investigação científica, sobretudo no tratamento da dor, náuseas e vômitos, reabilitação neurológica de paciente vítima de acidente vascular cerebral, síndrome do túnel do carpo, dismenorreia, fibromialgia, cefaleia, epicondilite lateral e lombalgia (Pearl & Schillinger, 1999).
Pesquisas feitas nos últimos 20 anos trouxeram provas cientificas de seu mecanismos neurobiológicos, bem como de suas aplicações clinicas. Existem vários métodos de utilização da Acupuntura, mas sua escolha depende da esepecificidade e individualidade de cada tratamento proposto. Sendo uma terapia reflexa e reguladora, estimulando os sistemas de regulação e cura do organismo e produzindo respostas reflexas locais e sistêmicas, inespecíficas e gerais, controladas por centros superiores de controle central e pelos sistemas endócrino e imunológico (Moya, 2005).
Paralisia de Bell é o tipo mais comum da paralisia facial (Williamson & Whelan, 1996; Peitersen, 2002; Fisher, 2003). A paralisia geralmente atinge um pico em dois dias, podendo agravar-se até o décimo dia. Para a maioria dos pacientes, a recuperação geralmente começa dentro de três semanas, com um tempo médio de seis semanas (Williamson & Whelan, 1996). Há caso de pacientes buscarem tratamento médico tradicional, com neurologista e otorrinolaringologista, e virem a obter resposta somente com a acupuntura (Sniezek, 1999).

4.1. ASPECTOS ANATÔMICOS DO NERVO FACIAL
O nervo facial origina-se no núcleo do facial situado na ponte, segue pela parte lateral do sulco bulbo-pontino e penetra no osso temporal pelo meato acústico interno, emergindo do crânio pelo forame estilomastóideo para se distribuir aos músculos mímicos (Machado, 2004), emergindo daí somente as fibras motoras para os músculos faciais (Fisher, 2003). Lesões do nervo, em qualquer parte deste trajeto, resultam em paralisia total dos músculos da expressão facial na metade lesada. Estes músculos perdem o tônus, tornando-se flácidos (Machado, 2004). Segundo Fisher (2003) o VII nervo craniano é basicamente um nervo motor para os músculos da face, mas ele também possui componentes sensitivos.

4.2. TIPOS DE PARALISIA FACIAL
Existem dois tipos de paralisia facial, a periférica e a central (Machado, 2004; Tiemstra & Khatkhate, 2007). A paralisia facial periférica, também denominada de paralisia de Bell, nomenclatura dada pelo cirurgião e fisiologista escocês Sir Charles Bell (1774-1842) após tê-la descrito em 1921 (Williamson & Whelan, 1996), acomete toda uma hemiface; enquanto a central manifes¬ta-se apenas nos músculos da metade inferior da hemiface, poupando os músculos da metade superior como o orbicularis oculi (Machado, 2004; Tiemstra & Khatkhate, 2007).

4.3. ETIOLOGIA: OCIDENTAL VERSUS ORIENTAL
Embora diz-se que a paralisia facial periférica apresenta causa específica desconhecida, alguns autores descrevem alguns fatores etiológicos, dos quais destacam-se iatrogenia, tumor, trauma (Cha et al., 2008) infecção (Hong, 2003; Cha et al., 2008; Kennedy, 2010) ou doença auto-imune, levando à neuropatia do facial (Hong, 2003; Cha et al., 2008).
Segundo Aboytes-Meléndez & Torres- Venezuela (2006), a etiologia varia entre causas traumáticas, neoplásicas e metabólicas, porém a mais comum é a de origem idiopática ou de Bell, seguida da traumática (fragmentos de arma de fogo, traumatismos cranianos, ferimentos cortantes da face e lesões iatrogênicas). Acredita-se que a paralisia de Bell seja causada pela inflamação do nervo facial no gânglio geniculado, levando à compressão e à possível isquemia e desmielinização (Tiemstra, Khatkhate, 2007).
A medicina tradicional chinesa atribui a ocorrência da paralisia facial à exposição ao vento frio que invade os meridianos que atravessam o rosto e interrompem o fluxo de Qi e sangue, impedindo os vasos e os músculos de receber o suprimento necessário. O tratamento é direcionado para dispersar o Qi através dos meridianos da face (Sniezek, 1999). Qi é a força natural da vida, muitas vezes referida como ?energia? que é responsável por todos os processos espirituais, físicos, emocionais e mentais. Equilíbrio e harmonia dependem do fluxo suave e ininterrupto de Qi ao longo de canais específicos situados ao longo do corpo.
Segundo a teoria da medicina tradicional chinesa, a disfunção ocorre quando há um desequilíbrio na quantidade de Qi, ou quando o fluxo é obstruído ou interrompido, e neste instante que a acupuntura é aplicada com a função de restaurar o equilíbrio da energia. Em uma pessoa saudável, o fluxo de Qi é ininterrupto nos meridianos, e não há desequilíbrios entre Yin e Yang, ou nas cinco fases (Leake & Broderick, 1998; Pearl & Schillinger, 1999). A estimulação dos pontos pela acupuntura corrige o fluxo de energia sempre que o desequilíbrio é detectado, e não deve ter impacto negativo sobre as funções normais de uma pessoa saudável (Leake & Broderick, 1998).
Os conceitos anatomofisiológicos da medicina ocidental com a tradicional chinesa quanto aos efeitos da acupuntura são adversos. Não se conhece nenhuma correlação entre o sistema circulatório e neuroanatômicos aos meridianos. O mecanismo neural da analgesia está associado à liberação de endorfina. Analgesia promovida pela acupuntura é iniciada pela estimulação dos nervos sensoriais. Estes estímulos ativam três centros (medula espinhal, mesencéfalo e pituitária) para liberar neurotransmissor (endorfina, serotonina e noradrenalina) e bloquear a dor. Além da liberação de endorfina, a acupuntura provoca a liberação de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise, estimulando a adrenal a produzir cortisol, hormônio que apresenta propriedades anti-inflamatórias. Desta forma, a acupuntura estabelece sua eficácia no tratamento de condições inflamatórias (Pearl & Schillinger, 1999).

4.4. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS
A paralisia facial, de modo geral, apresenta incidência anual média de 30 casos a cada 100.000 indivíduos em uma população (Cha et al., 2008). Normalmente a ocorrência é unilateral, sendo rara a paralisia facial bilateral simultânea (Aboytes?Meléndez & Torres-Venezuela, 2006) sendo que dessas, três quartos são paralisia de Bell (Lei, Wang & Huang, 2010; Kennedy, 2010). É possível que a paralisia facial central tenha menor ocorrência por se tratar de lesão em motoneurônio superior. De acordo com o estudo realizado por Valença, Valença & Lima (2001) a paralisia de Bell apresenta ligeiro predomínio no sexo feminino (66,7%). Quanto à faixa etária mais acometida, foram observados dois picos de incidência um nas terceira e quarta décadas, e o outro na sexta década de vida. Nos 180 pacientes houve 198 episódios de paralisia facial periférica, sendo 17 recorrências e em um paciente a paralisia foi de instalação inicial bilateral. Em 15 pacientes (8,3%) houve recidiva da paralisia facial, em dois casos a paralisia se repetindo por mais duas vezes. Em 12 casos (70,6%) a recidiva ocorreu no mesmo lado da paralisia anterior. A hemiface esquerda foi a mais acometida, apresentando incidência de 55,6% dos casos. Houve um registro de cinco casos de paralisia na gestação e três no pós-parto. Quatro das pacientes grávidas apresentaram paralisia de Bell no terceiro trimestre, dado que coincide com relatos de Kovo et al. (2009). Como condições associadas os autores relatam hipertensão arterial sistêmica (11,7%), diabete melitos (11,1%), gravidez ou pós-parto imediato (4,4%; 6,7% nas mulheres) e neurocisticercose (1,1%).
A idade é um fator de prognóstico em pacientes com paralisia do nervo facial. Cha et al. (2008) relatam que a idade é inversamente relacionada à taxa de recuperação em adultos com paralisia de Bell. Além disso, a paralisia de Bell apresenta ocorrência mais comum no puerpério e no terceiro trimestre de gravidez (Hilsinger, Adour & Doty, 1975; Kovo et al., 2009). Segundo Hilsinger, Adour & Doty (1975) a prevalência da paralisia de Bell durante a gravidez é considerada maior do que na população feminina não gestante durante o período reprodutivo (45,1/100,000 vs. 17,4/100,000). Lei, Wang & Huang (2010) sugerem que a acupuntura pode ser um tratamento seguro e alternativo para a paralisia de Bell em gestantes.

4.5. ASPECTOS CLÍNICOS
As características clínicas da paralisia de Bell são apresentando dor retroauricular em até 50% dos casos, inicialmente, seguida de ptose palpebral, desvio da comissura labial, dificuldade para franzir a testa, para fechar os olhos, para levantar a sobrancelha, para soprar, para mostrar os dentes e assobiar (Hong, 2003), falta de expressão facial da metade paralisada, otalgia, perda na sensibilidade gustativa e na produção de lágrimas (Williamson & Whelan, 1996; Peitersen, 2002; Amorim, 2007). Hiperacusia (fonofobia) é identificada em aproximadamente 15% dos pacientes e resulta da paralisia do músculo estapédio, responsável pelo controle da movimentação do estribo, o que conseqüentemente torna ausente o reflexo estapediano (Peitersen, 2002; Gilden, 2004). Após a fase aguda, as fibras pré-ganglionares parassimpáticas que se projetavam para o gânglio submandibular podem regredir e se conectar ao nervo petroso maior superficial, podendo levar ao fenômeno de lacrimejamento após um estímulo salivatório, conhecido como síndrome das lágrimas de crocodilo (Gilden, 2004).
O curso de paralisia facial periférica pode dividido em três fases: (a) período de evolução aguda (até 7 dias após o início), durante o qual os sintomas geralmente agravam, (b) período estável (8-14 dias após o início), durante o qual os sintomas geralmente permanecem inalteradas e (c) período de convalescença (15 dias após o início), durante os quais há geralmente uma melhoria gradual dos sintomas (Hong, 2003).
Segundo Tessitore, Pfelsticher & Paschoal (2008) o grau da recuperação do nervo facial depende da idade, do tipo da lesão, da alimentação nervosa, do desenvolvimento neuro-muscular e do inicio da terapia. Essa recuperação pode levar desde algumas semanas até quatro anos (Belloto, Martins, Akerman, 2005).

4.5. EFEITOS DA ACUPUNTURA NA PARALISIA FACIAL
O efeito curativo desta disfunção com a acupuntura é bem definido (Hong, 2003), mas ainda sim, muitos terapeutas optam pelo uso de corticosteroides (Liu, 1996; Cha et al., 2008) associado a complexo B (Liu, 1996). De acordo com Liu (1996) existe uma diferença significativa na incidência de cura entre o tratamento realizado com corticosteroide (prednisona) associado ao complexo B (n=75) comparado e o realizado com acupuntura (n=75), sem administração de fármaco (74% (48 casos) vs. 45% (30 casos)). Liu (1996) observou que o efeito terapêutico acupuntural foi superior ao do grupo cujo tratamento foi á base de fármaco.
Segundo Gomes, Vasconcelos & Moraes (1999), uma variedade de modalidades terapêuticas de acupuntura direcionadas para paralisia facial foi pesquisada, tendo sido observado bons resultados: sendo o tratamento mais curto de 2 dias e o mais longo de 120, ficando uma variação média entre 7 e 37 dias; a menor taxa de cura observada é de 37,2% e a maior de 100%, com uma média de 80,8%; casos tratados no inicio foram mais fáceis de curar que casos de longa duração. Observou-se que a acupuntura teve efeitos terapêuticos satisfatórios em casos que não apresentaram degeneração completa ou parcial, sendo que o prognostico para casos com degeneração nervosa total foi ruim.
Em 1999, Shao publicou um trabalho em que comparou a eficiência de cura em pacientes acometidos por paralisia facial em dois grupos: o grupo experimental recebeu tratamento acupuntural associado a corticosteroide (dexametasona) e vitaminas B1, B12 e Bp CDP, enquanto o grupo controle recebeu os mesmos fármacos, sem terapia acupuntural. Os resultados obtidos por Shao (1999) revelaram que a incidência de cura no grupo experimental foi de 52% (30 casos) comparado aos 12% (seis casos) do grupo controle. As pesquisas de Liu (1996) e Shao (1999) mostram que o efeito acupuntural no tratamento da paralisia de Bell é significativamente relevante.
No estudo de Rosa et al. (2010) observou-se que a associação da acupuntura e fonoterapia no tratamento da paralisia facial levou há uma aceleração na melhora do quadro geral com seus sinais e sintomas, sendo mais eficiente que o tratamento fonoaudiológico ou acupuntural isolado.
Embora seja sabido que o tratamento com acupuntura pode reduzir o curso da doença e aumentar o efeito curativo, existem diferentes opiniões quanto ao melhor momento para iniciar o tratamento com acupuntura. Alguns terapeutas desaconselham a realização de terapia com acupuntura durante a fase aguda, para evitar agravamento e espasmo facial (Hong, 2003).
De acordo com Hong (2003), Altamann et al. (1999), Caropreso (2000), quando a acupuntura é empregada o quanto antes no tratamento da paralisia facial periférica, melhor será o efeito do curativo e maiores serão as possibilidades de recuperação. Todavia se o tratamento é iniciado tardiamente, os pacientes perdem a chance de se beneficiarem. O autor relata ainda que quando esta disfunção é tratada com acupuntura no período de evolução aguda, a condição de alguns pacientes pode piorar, mas isso é causado pela progressão natural da doença e não está associado à prática da acupuntura como conduta terapêutica (Hong, 2003).
Segundo a medicina tradicional chinesa o início da paralisia facial periférica é causado principalmente pela desorganização do qi e do sangue, desnutrição ou bloqueio dos canais, o que predispõe os canais na região facial para a invasão de patogênicos de vento frio. Por isso é muito importante eliminar a exposição ao vento frio e remover a obstrução dos canais o mais breve possível (Hong, 2003).
Segundo Amorim (2007), a paralisa facial ocorre devido à penetração do vento que paralisa na região da face e os pontos de acupuntura devem ser trabalhados no intuito de expulsar o vento e retornar o fluxo natural do Qi pelos canais.
Hong (2003) realizou um estudo com 80 voluntários, os quais formaram dois grupos de 40. O primeiro grupo recebeu tratamento nos primeiros 14 dias de início dos sintomas, enquanto o segundo grupo recebeu tratamento após o décimo quinto dia dos sintomas se instalarem. Do primeiro grupo, 33 foram curados (82,5%), 7 melhoraram (17,5%), e ninguém desenvolveu espasmos faciais. Do segundo grupo, 23 foram curados (57,5%), 14 melhoraram (35%), e 3 desenvolveram espasmo facial (7,5%).
A aplicação da acupuntura no tratamento de reabilitação da paralisia facial periférica mostra-se bastante eficaz, pois visa o restabelecimento das estruturas musculares faciais a partir do equilíbrio energético, acelerando o processo através do equilíbrio da energia corporal (Amorim, 2007). Todos as pesquisas confirmaram o excelente prognostico geral da paralisia facial periférica tratada com acupuntura.

5. CONCLUSÃO

A acupuntura é uma conduta terapêutica bem conhecida no tratamento de paralisia facial periférica, que pode aumentar o prognóstico de cura quando iniciado na fase aguda. É possível que a maior colaboração que a medicina tradicional chinesa possa trazer, não esteja na sua técnica, mas nos conceitos a respeito da natureza, da causalidade das doenças, na visão holística do ser humano e no significado do equilíbrio que se busca com a terapia.

6. REFERÊNCIAS

1. Amorim, Francimeire T. R. Paralisia Facial periférica: tratamento através da acupuntura e fisioterapia. Monografia apresentada ao Centro Integrado de Terapias Energéticas ? CITE, Recife, 2007.
2. Aboytes-Meléndez C.A. & Torres-Venezuela A. Perfil clínico y epidemiológico de la parálisis facial en el centro de Reabilitación y Educación Especial de Durango, México. Rev. Medica del Hospital General v. 69, n. 2, p. 70-77, 2006.
3. Altmann, E.B.C.; VAZ, A. C. N.; Ramos, Al.N.F.; Paula, M.B.S.F.; Khoury, R.B.F; Marques, R.M.F. ? Paralisia Facial Congenita: resultados com fonoterapia oromiofuncional ? Revista Fono Atual 8 (3): 14-8 2º trimestre, 1999.
4. Belloto Junior N. Martins LC, Akerman M. Impacto dos resultados no tratamento por acupuntura: conhecimento, perfil do usuário e implicações para promoção da saúde. Arq. Med. ABC 2005; 30 (2): 83-6.
5. Caropreso, Viviane R. Paralisia Facial bilateral: causas e tratamentos. Monografia apresentada. CEFAC, São Paulo, 2000.
6. Cha CI, Hong KC, Park MS, Yeo SG. Comparison of Facial Nerve Paralysis in Adults and Children. Yonsei Med J., v. 49, n. 5, p. 725 - 734, 2008.
7. Ernst E, White A. Life-threatening Adverse Reactions After Acupuncture? A Systematic Review. Pain, v. 71, n. 2, p. 123-6, 1997.
8. Fisher, Morris A. Neuropatia periférica. In: Weiner, William J. & Goetz Christopher G. Neurologia para o não- especialista ? fundamentos básicos da neurologia conteporânea. 4ª edição, São Paulo; Santos Livraria e Editora, 2003, p.198-199.
9. Gilden DH. Clinical Practice. Bell?s Palsy. N Engl J Med., v. 351, n. 13, p. 1323-31, 2004.
10. Gomes MVSG, Vasconcelos LGE, Moraes MFBB. Myofunctional approach for facial palsy rehabilitation. Arq. Otorrinolaringol., v. 3, n. 1, p. 1-5, 1999.
11. Guo-neng C. Treatment of 317 cases of Facial Paralysis by Acupuncture. Journal of Acupuncture and Tuina Science, v. 3, n. 1, p. 33-35, 2005.
12. Hilsinger RL Jr., Adour KK, Doty HE. Idiopathic Facial paralysis, Pregnancy, and the Menstrual Cycle. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1975; 84(4 Part 1): 433-442.
13. Hong Z. The Optimum Time for Acupuncture Treatment of Peripheral Facial Paralysis. Journal of Chinese Medicine, n. 71, p. 35-36, 2003.
14. Kennedy PG. Herpes Simplex Virus Type 1 and Bell's Palsy - A Current Assessment of the Controversy. J Neurovirol. v. 16, n. 1, p. 5-1, 2010.
15. Kovo M, Sagi Y, Lampl Y, Golan A. Simultaneous Bilateral Bell's Palsy during Pregnancy. The Journal of Maternal-Fetal and Neonatal Medicine 2009; 22(12): 1211-1213.
16. Lei H, Wang W, Huang G. Acupuncture Benefits a Pregnant Patient Who Has Bell?s Palsy: A Case Study. The Journal of Alternative and Complementary Medicine v. 16, n. 9, p. 1-4, 2010.
17. Li J. Comparison the Efficacy between Acupuncture and Manipulation for Bell?s Palsy. Chinese Clinical Medicine Research v. 11, n. 12, p 1715-1716, 2005.
18. Li-xia S. Time Selection of Acupuncture Treatment for Facial Paralysis. Journal of Acupuncture and Tuina Science, v. 5, n. 2, 106-108, 2007.
19. Liu M. Comparison of Acupuncture and Drug Treatment for 130 Patients with Facial Palsy. Journal of Clinical Acupuncture v. 12, n. 5,6, p. 56, 1996.
20. Leake R; Broderick JE. Treatment Efficacy of Acupuncture: A Review of The Research Literature. Integrative Medicine, v. 1, n. 3, p. 107-115, 1998.
21. Machado ABM. Neuroanatomia Funcional. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2004.
22. Min D, Jian L, Xiao-shan DU. Treatment of 96 cases of Facial Paralysis by Acupuncture. Journal of Acupuncture and Tuina Science, v. 7, p. 161-162, 2009.
23. Moya EG. Bases Cientificas de la analgesia acupuntural. Ver. Med. Uruguay. 2005; 21: 282-90.
24. Pearl D, Schillinger E. Acupuncture: its use in medicine. WJM, v. 171, p. 176-180, 1999.
25. Peitersen E. Bell?s Palsy: The Spontaneous Course of 2,500 Peripheral Facial Nerve Palsies of Different Etiologies. Acta Otolaryngol Suppl. n. 549, p. 4-30, 2002.
26. Rosa, M.C.P; Moreira A.F.M; Araújo, L.B; Júnior, L.C.M; Motta, A.R. Comparaçao dos resultados da fonoterapia e fonoterapia associada á acupuntura na paralisia facial periférica. Ver. CEFAC, 2010, Jul ? Ago; 12 (4): 579:588.
27. Scognamillo-Szabó M.V.R & Bechara, G.H. Acupuntura: Bases científicas e aplicações. Ciência Rural, v. 31, n. 6, p. 1091-9, 2001.
28. Shao S. Acupuncture and Western Medicine for 58 Patients with Peripheral Facial Palsy. New Chinese Medicine v. 30, n. 1, p. 14, 1999.
29. Sniezek DP. Acupuncture Treatment of Bell?s Palsy: A Case Report. Medical Acupuncture, v. 10, n. 2, p. 31-32, 1999.
30. Sussmann David, J. Acupuntura teoria y practica ? la antigua terapêutica China al alcance del medico practico. 13ª edicion. Ed. Kier. Buenos Aires. 2000
31. Tessitore A. pflsticher LN. Paschoal J.R. Aspectos Neurofisiologicos da musculatura facial visando a reabilitaçao na paralisia facial. Revista CEFAC. V. 2, n. 6, p.184-8, 2008.
32. Tiemstra JD, Khatkhate N. Bell?s Palsy: Diagnosis and Management. American Family Physician, v. 76, n. 7, p. 997-1002, 2007.
33. Wen TS. Acupuntura Clássica Chinesa. 1ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, p. 13, 1985.
34. Vrabec JT, Isaacson B, Van Hook JW. Bell's Palsy and Pregnancy. Otolaryngol Head Neck Surg. 2007; 137(6): 858-61.
35. Yamashita H, Tsukayama H, White AR, Tanno Y, Sugishita C, Ernst E. Systematic Review of Adverse Events Following Acupuncture: the Japanese Literature. Complement Ther Med. 2001; 9(2): 98-104.