Introdução

 

Vivemos em uma sociedade modernizada, onde são altos os índices de gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, novas constituições familiares, inúmeros casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes. A partir desses pressupostos, senti a necessidade de investigar como se dá o processo de ensino da temática orientação sexual na educação de crianças e adolescentes; pois acredito que através de uma boa orientação, muitos problemas podem ser evitados.

A sexualidade é um processo que se inicia na infância e que perdura a vida toda, logo a abordagem desse tema na escola é fundamental.

Através de pesquisas bibliográficas, busquei verificar as dificuldades nos dias de hoje quanto ao oferecimento destas informações, ou seja, se a escola enfrenta dificuldades em abordar o tema e quais são elas.

Muitos educadores estão se mostrando preocupados com a educação sexual, como sendo necessária no processo de formação dos alunos. Sabe-se que os mesmos, em suas formações, não são preparados para trabalhar a questão, motivo pelo qual é compreensível a insegurança e a preocupação. Mas, observa-se que muitos estão procurando mudar atitudes e buscar formação para trabalhar com a temática, o que vem contribuir com todos: alunos, pais e escola.

Resumo

 

O artigo a seguir versa sobre a educação sexual na escola, desde a necessidade de trabalhar o tema em questão até as principais dificuldades encontradas pelos professores em abordar a temática. Também oferecer algumas alternativas de como trabalhar a questão com os alunos e como os professores devem preparar-se para a função.

Para que tenhamos uma educação libertadora e inovadora, sabemos que enquanto educador tem que nos despir de determinados tabus e preconceitos, assumindo assim uma postura atenta às diferentes fases que as crianças passam até chegar à vida adulta.

Palavras Chaves: Escola. Sexualidade. Educação.

O educador frente aos desafios da educação sexual na escola

 

De acordo com apontamentos da disciplina de Educação e Sexualidade, antes de iniciar a discussão sobre o trabalho dos educadores com o tema transversal sexualidade fará um breve comentário sobre o uso das nomenclaturas educação sexual e orientação sexual, os dois termos mais citados em livros, artigos e monografias atualmente. A falta de uma padronização da terminologia básica e de uma posição teórica mais clara e objetiva quanto ao conceito Educação Sexual tem causado o uso de outras terminologias como sinônimas ou substitutas do termo citado anteriormente, entre eles, Orientação Sexual.

Alguns autores entendem que a educação sexual é uma tarefa da família e a orientação sexual é da escola. Também podemos encontrar autores que definirão a educação sexual como um processo de formação global do ser humano, podendo tanto a família quanto a escola contribuir para o mesmo.

Acredito que o uso do termo educação sexual seja mais adequado, uma vez que abre espaço para que a pessoa seja sujeito ativo do processo de aprendizagem. E, mesmo porque hoje, o termo orientação sexual define mais a expressão sexual de cada indivíduo, referindo-se a questão da homossexualidade e heterossexualidade.

Porém nos Parâmetros Curriculares Nacionais encontraremos o uso do termo orientação sexual, mas também várias referências sobre educação sexual. Partindo desses pontos de vista, utilizarei ambas as nomenclaturas ao longo do artigo, uma vez que os autores também se valem dessa norma, e mesmo porque o trabalho que segue é fundamentado em vários autores, não oferecendo a possibilidade de uso de um termo único, de modo que as citações não percam seu real sentido.

          A educação sexual pode ser de dois tipos: formal, aquela institucionalizada, que ocorre dentro ou fora da escola; e informal, aquela não é intencional, que vem englobar toda a ação que o indivíduo sofre no seu dia-a-dia, que pode ter repercussão direta ou indireta sobre sua vida sexual. Por isso o uso do termo educação sexual seria mais apropriado para a discussão da sexualidade tanto com crianças e jovens nos diversos níveis de escolarização; até pelo fato que fora comentado anteriormente, o termo orientação sexual vem sendo utilizado com forma de designar a opção sexual da pessoa.

Após esse breve comentário entra na questão chave para a realização desse artigo. No mundo moderno de hoje, onde cada vez mais as crianças têm acesso as mais variadas informações e tecnologias: como trabalhar a educação sexual na escola em uma perspectiva emancipatória? Qual o papel do educador nesse desafio?

Vivemos numa sociedade onde são altos os índices de gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis, com novas constituições familiares e inúmeros casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes. Tomando como base esses pressupostos, senti a necessidade de investigar como se dá o processo da educação sexual na escola.

A sexualidade inicia-se na mais tenra infância, o ser humano nasce sexuado e vai desenvolvendo sua sexualidade ao longo da vida; por isso a abordagem desse tema na escola é fundamental. Mas, quais são as dificuldades nos dias de hoje quanto ao oferecimento destas informações, ou seja, a escola enfrenta dificuldades de abordar o tema e quais são elas?

Para que haja uma educação libertadora e inovadora, o educador precisa despir-se de preconceitos, alguns valores, tabus e mitos; assumindo assim uma postura atenta às diferentes fases que uma criança passa até chegar à vida adulta.

Claro que o tema em questão é polêmico, gera em sua discussão muito preconceito e tabu porque a sexualidade é muito restrita ao sexo genital; porém o tema vai além, ele deve abordar o homem como um todo.

A educação sexual vai muito além do trabalho com conceitos biológicos relacionados com reprodução humana, órgãos reprodutores e suas funções, abrangendo também a discussão de valores e as concepções de homem e de mundo.

Os alunos levam pra escola suas dúvidas, suas dificuldades sobre o tema: manifestando isso em suas brincadeiras, piadas e até agressões verbais e físicas. Esses problemas na maioria das vezes acabam sendo vistos como indisciplina e recebem ações punitivas. O que pode piorar a situação.

Percebe-se que o tema ainda não é abordado na escola, ou quando o é, isto é feito com muita dificuldade, sendo que o educador não consegue atingir os objetivos previstos e por isso resistem em trabalhar o assunto; muitos se sentem despreparados. O assunto é tema transversal presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais. O documento destaca o motivo pelo qual a escola deve incorporar o tema em sua proposta pedagógica:

A criança também sofre influências de muitas fontes: de livros, da escola, de pessoas que não pertencem a sua família e, principalmente nos dias de hoje, da mídia. Essas fontes atuam de maneira decisiva na formação sexual de crianças e adultos. A TV veicula propaganda, filmes e novelas intensamente erotizados. Isso gera excitação e um incremento na ansiedade relacionada às curiosidades e fantasias sexuais da criança. Há programas jornalísticos- científicos e campanhas de prevenção à AIDS que enfocam a sexualidade a um público adulto. As crianças também os assistem, mas não podem compreender por completo o significado dessas mensagens e muitas vezes constroem conceitos e explicações errôneas sobre a sexualidade. (2001,p.112)

Por isso o documento aponta a relevância de se discutir o assunto na escola, pois sabemos que as crianças encontram-se imersas em uma sociedade consumista que valoriza o mundo erotizado. O mesmo destaca ainda que elas querem saber mais que os aspectos biológicos, e se querem saber é porque sentem vontades, como fazer para saciar essas vontades; motivos pelos quais os educadores devem estar preparados para orientá-las, sanando-lhes as dúvidas.

Não se pode mais ficar trabalhando aparelho reprodutivo nas aulas de Ciências Naturais e achar que isso é educação sexual. A educação sexual não pode ficar relegada somente ao professor de Biologia, e, em muitos casos, ao de Educação Física; tem que ser trabalhada por todos, em diversos momentos. Trabalhar na escola as diferentes fases que o aluno passa é necessário para que possa conhecer o que se passa em relação aos aspectos biológicos, sempre levando em consideração que o desenvolvimento vem desde o nascimento.

A educação sexual ocorre, na verdade, desde o nascimento. É predominantemente no território familiar, da intimidade, que são transmitidas à criança as primeiras noções e valores associados à sexualidade, em geral, não explicitamente. O comportamento dos pais entre si, na relação com os filhos, no tipo de recomendações, nas expressões, gestos e proibições que estabelecem; tudo isso transmite os valores que a criança incorpora. (AQUINO,1997,p.112)

Essa é uma razão pela qual considera-se que a educação sexual deve ocorrer de forma global, ao longo da formação da criança.

Muitos educadores encontram dificuldades em desenvolver trabalhos pedagógicos quando o tema em questão é a sexualidade; muitas vezes isso se deve a insegurança em abordar o assunto, apesar de terem o domínio do conhecimento específico.

Na sociedade ocorrem diversas mudanças em relação às questões sexuais, inclusive as mudanças ligadas aos novos modelos familiares. Logo, essas mudanças devem ser trabalhadas em sala de aula sob uma perspectiva da diversidade, da ética e do respeito às diferenças.

Considera-se hoje que é um dever da escola abordar o tema e o mesmo deve inclusive constar no projeto político pedagógico da mesma, até como forma de justificar e fazer com que haja realmente uma educação sexual na instituição. Também é necessário atentar para a formação continuada dos professores em relação ao tema. “Todos os professores, qualquer que seja a disciplina que ensinam que desejam se ocupar da educação sexual e possuem os requisitos principais para desempenhar este trabalho, só precisam receber uma formação especial.” (WEREBE,1998,p.196)

Para que o trabalho com o tema sexualidade seja bem sucedido, faz-se necessário que se estabeleça uma relação de confiança entre professor e alunos; não se pode emitir juízo de valor sobre as colocações feitas pelos alunos e nem transmitir conceitos, crenças e valores nos quais o professor acredita, como sendo verdades absolutas e incontestáveis.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais também nos dizem que cabe à escola informar os familiares sobre a inserção do tema na proposta curricular; ou seja, o diálogo entre escola e família deverá dar-se de todas as formas.

A escola deve atentar para o fato de que os pais, por direito e dever, são os primeiros educadores e deles não se pode retirar esse direito. Claro que, muitos pais, por vários motivos, apresentam dificuldades de orientar seus filhos quanto à educação sexual. Cada família tem o direito de escolher um modelo de educação, mas é fundamental que haja coerência no compromisso e estilo de vida adotado.

Aos educadores vale lembrar que os mesmos educam mais por suas atitudes, do que pelos conhecimentos que transmitem. Segundo Werebe: “Educam pela maneira como encaram a própria sexualidade e a sexualidade dos outros, em particular das crianças e adolescentes.” (p.17;1998)

Entendo que o educador seguro de si consegue através da linguagem e dos gestos estabelecer uma comunicação segura e tranquila com seus discentes; ao passo que, um educador que não se sente à vontade pra falar do tema, mesmo dominando conhecimentos científicos, refletirá em suas atitudes o seu mal-estar: gaguejando, gesticulando excessivamente, elevando o tom de voz, etc. Isso, com certeza é percebido e sentido pelos alunos, o que torna tudo mais difícil, uma vez que os mesmos também poderão sentir-se inibidos.

A formação de educadores sexuais deve compreender a formação pessoal, participando de grupos de discussão, focalizando em sua própria sexualidade, nos valores, nas experiências. É preciso saber interpretar as questões dos alunos, entender realmente o que elas significam.

Além de preparar esses educadores, é importante a assistência, não só através de cursos, seminários; mas disponibilizando materiais didáticos e textos.

Cabe lembrar que a sexualidade é um tema de interesse público, pois a conduta sexual de uma população diz respeito à saúde pública, à natalidade, etc; levando o governo à criação de políticas públicas, campanhas educativas que promovam a saúde das pessoas e a proteção.

Defende-se que o tema transversal orientação sexual deve estar presente em todas as áreas educativas do ensino fundamental e ser tratado por diversas áreas do conhecimento, sendo organizados em torno de três eixos norteadores: “Corpo: matriz da sexualidade”, “Relações de gênero” e “Prevenção de doenças sexualmente transmissíveis/AIDS”.(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS,1998)

Os Parâmetros Curriculares Nacionais conclamam a escola através de práticas pedagógicas diversas, construir e mediar a relação do sujeito consigo mesmo, fazendo com que o mesmo tome a si mesmo como objeto de cuidados, alternando comportamentos.

O método pedagógico escolhido em educação sexual deve ser definido como democrático, o educador não interfere nas estruturas, mas sim indica os alvos e modalidades de trabalho. Ele não é o centro do processo e nem impõe linhas rígidas de orientação.

As referências teóricas são necessárias, mas evitar o caráter dogmático que possam apresentar. Os conhecimentos deverão sempre ser adaptados ao nível e aos interesses dos alunos.

Ainda conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, o professor não poderá responder questões que impliquem conhecimentos de cunho científicos que ele não domine. E, os alunos tem que saber que o professor não é o que se chama ‘enciclopédia de sexo”. Uma dica: dizer aos aluno que vai buscar, investigar as respostas e sugerir que os mesmos também procurem-nas junto a outras pessoas, livros, obras especializadas.

Segundo as discussões realizadas na disciplina Educação e Sexualidade, baseadas em Werebe, uma das técnicas mais utilizadas no trabalho de educação sexual são as discussões em grupos, que devem ser sempre mistos, pois uma separação por sexo acarretaria em discriminação; de preferência com 15 a 20 integrantes. Assim os alunos podem confrontar as questões.

O educador deve iniciar a discussão criando um clima seguro, de confiança, estimulando a expressão dos sentimentos, das dúvidas, opiniões, etc.

Fato comum durante as discussões é o surgimento de divergências. Nesse caso, o educador deverá permitir aos alunos que reflitam sobre as ideias diferentes e aprendam a respeitá-las. Não pode haver censura às opiniões diferentes, cabendo ao educador conduzir a discussão, sem condenar ou traumatizar o defensor da opinião polêmica. É impossível haver consenso sobre todas as questões.

Uma das questões mais percebidas, é a forma de abordagem dos alunos quanto às dúvidas referentes ao tema sexualidade; as crianças normalmente relatam suas curiosidades em qualquer momento da aula; já os adolescentes e jovens, muitas vezes, preferem procurar os professores em outros locais, como corredores, por exemplo; uma vez que se sentem mais tímidos e receiam ser motivo de deboche dos colegas diante de suas dúvidas.

Por esse motivo, os docentes precisam estar preparados para atender a todos; não importando hora e nem local para ajudar aos discentes.

O docente ao orientar precisa remeter o aluno à reflexão sobre o entendimento, sobre sua forma de pensamento, apenas assim a aprendizagem será significativa; caso contrário o trabalho em orientação não surtira efeito nenhum.

Quanto aos eixos que permeiam a educação sexual, são três: o corpo humano, as relações de gênero e as doenças sexualmente transmissíveis/AIDS.

O corpo humano deve ser trabalhado em seus aspectos biológico e erótico, abordando também as emoções, sentimentos, a imagem corporal, as sensações, as transformações corporais, cuidados preventivos, etc. A respeito das relações de gênero, o conceito trata do conjunto das representações sociais e culturais que são construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Em relação às doenças sexualmente transmissíveis e a AIDS, trabalhar também condutas de prevenção; discutir os preconceitos ligados à AIDS que cercam os portadores de HIV e os doentes de AIDS.

A educação sexual precisa fundamentar-se em uma visão ampla da sexualidade, reconhecendo a multiplicidade de comportamentos sexuais e de valores a eles associados. Também não pode ser vista apenas como meio de reprodução, uma vez que se relaciona também com a busca do prazer; motivo pelo qual não deve ser invasiva e nem moralizante.

Enfim, os professores precisam demonstrar naturalidade e atitudes de tolerância; mostrar coerência entre discurso, comportamentos e atitudes; gerar um clima de confiança, favorecendo o diálogo; responder as perguntas de forma natural e verdadeira, partir de conhecimentos contextualizados, utilizando-se de estratégias de aprendizagem de forma lúdica. Não podemos ignorar o tema, pois o silêncio é também uma forma de educar. Quando calamos, nossos alunos aprendem que a sexualidade é um tabu, assunto a ser ignorado; logo poderão surgir dúvidas e conflitos em relação a sua própria sexualidade.

Considerações Finais

 

O trabalho em educação sexual compreende a ação da escola como um complemento à educação dada pela família, por isso a necessidade da escola informar aos pais sobre os objetivos e conteúdos da educação sexual.

Não cabe à escola julgar como certa ou errada a educação que a família oferece aos filhos, porém o papel da escola precisa ser o de abrir espaço para que a pluralidade de concepções, valores e crenças sobre a sexualidade possam ser expressos.

Uma boa prática em educação sexual pode estabelecer a diferença, com metodologias participativas, possibilita-se o desenvolvimento de saberes e competências, fazendo do aluno o principal agente da sua própria aprendizagem.

Os professores precisam reconhecer e fortalecer em si mesmos que a educação sexual também é função da escola, uma vez que é parte do processo de formação integral do educando.

A curiosidade das crianças e adolescentes está presente em todos os momentos; responder suas dúvidas será algo muito significativo para a subjetividade, à medida que irão relacionando com o conhecimento das origens de cada ser e com o desejo de saber, o que vai favorecer seu desejo de investigação, formulando novas questões, fato que  contribuirá para o alívio de ansiedades, que muitas vezes acaba por interferir no aprendizado de outros conteúdos escolares.

Referências Bibliográficas

 

AQUINO,J.G.(org.).Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas.São Paulo:Summus,1997.

BRASIL,SEF.Parâmetros Curriculares Nacionais: Pluralidade Cultural e Orientação Sexual.Brasília:MEC,2001.

FIGUEIRÓ,M.N.D.Educação sexual: Problemas de conceituação e terminologias básicas adotadas na produção acadêmico-científica brasileira.Semina:Ci.Sociais/Humanas,v.17,n.3,p.286-293,set.1996.

NUNES,C.SILVA,E.A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas práticas para uma abordagem da sexualidade para além da transversalidade.Campinas,SP:Autores Associados,2006(Coleção Polêmicas do Nosso Tempo).

WEREBE,M.J.G.Sexualidade Política e Educação.Campinas:Autores Associados,1998.