Resumo

O artigo trata a diferença de turismo sustentável e ecoturismo, mostrando o perfil dos ecoturistas, apontando alguns impactos decorrentes da atividade turística, a fim de que com um planejamento turístico adequado com o objetivo de inserir as comunidades receptoras, numa iniciativa de interatividade entre visitante, local visitado e povos nativos possa através de um desenvolvimento sustentável fomentar o seguimento ecoturístico, preservando não somente o meio ambiente como também, fatores culturais e sociais, numa perspectiva local predominando sobre o global, observando que a integração entre turistas e locais visitados contribuem para a quebra de superficialidades entre os povos, minimizando a individualidade promovendo conhecimento e aprendizado a todos os atores envolvidos, de forma a proporcionar preservação cultural e ambiental através desenvolvimento econômico inserindo a comunidade, ainda que dentro de uma sociedade capitalista, alienados pelo processo da globalização mundial, onde tudo ocorrerá de forma a não prejudicar o crescimento econômico, numa ótica capitalista, porém, com sustentabilidade fazendo uso de um planejamento, com execução e monitoramento do mesmo, a fim de englobar aspectos ambientais, sociais, políticos e educacionais, para que sejam atingidos objetivos na atualidade e posteriormente, com gerações futuras, a fim de que se estabeleça a sustentabilidade da atividade turística.

1-Introdução

Para esclarecer os dois termos, "Turismo Sustentável" e "Ecoturismo," John Swarbrooke (2000) diz que são correntes de pensamentos divergentes provocando opiniões diversas e muita confusão entre autores estudiosos do assunto. De um lado os dois termos estão diretamente ligados e até causam sensação de semelhança e de outro os termos estão paradoxalmente opostos. Assim o texto mostra os aspectos positivos e negativos do ecoturismo em relação ao turismo sustentável, bem como, os dois termos pode ser alinhados para que possa evidenciar benefícios em relação ao desenvolvimento sustentável.

Buscando a sustentabilidade da atividade observam-se os evidentes impactos, causados por esta, o turismo por envolver grande número de pessoas, provoca degradação ambiental e sociocultural, gerando impactos negativos que leva à saturação do local visitado, levando o turista a procurar outros ainda não explorados, o que gera um círculo vicioso que em nada contribui para a sustentabilidade da atividade no planeta. MENDONÇA (2001)

Ao relacionar o turismo com o meio ambiente observa-se o distanciamento e o descaso do homem moderno em relação à natureza que se dá sobre três fatores: meio natural físico e biológico e se dá também no âmbito das relações socioculturais e relações individuais. MENDONÇA (2001).

Diante do crescimento contínuo da atividade turística em nível mundial se faz uma reflexão envolvendo dois aspectos da questão: Turismo Sustentável e um novo processo de Planejamento Turístico que procura colocar o local em contraposição ao global. Porém, correntes teóricas pensam serem estes tipos de resistência ao modelo tradicional econômico, haja vista que o sistema capitalista dominante nas sociedades sempre predominará. (CORIOLANO, 1999).

2- Entendendo o Ecoturismo a partir de uma análise do perfil dos ecoturistas.

Para John Swarbrooke (2000 p.56) "um dos problemas para se definir o ecoturismo é que o termo varia dependendo de quem você é", assim torna-se difícil conceituar a atividade, apenas entende-se que esta possui um público com diferentes perfis.

O ecoturismo demanda um público esclarecido com relação às questões ambientais, procuram um turismo de qualidade, ecossistemas exóticos, naturais e diferentes do cotidiano, comunidades tradicionais, culturas íntegras, porém, ao analisar o perfil de ecoturistas se observa que alguns ao procurar tais ecossistemas com dadas às características objetivam a melhoria da qualidade de vida da população local envolvida, estes são grupos de pessoas que estão dispostos a estabelecer, direcionar e priorizar acima de tudo, dentro do ecoturismo o conceito de sustentabilidade. SWARBROOKE (2000).

Por outro lado existe um perfil de ecoturistas que quer ver a vida selvagem de civilizações preservadas, mas não se importam com os impactos causados em suas viagens, sejam eles, ambientais, sociais ou culturais, visam apenas desfrutar da natureza e dos recursos. SWARBROOKE (2000).

Percebe-se outro tipo de ecoturista aquele que viaja e se preocupa com a preservação total dos meios envolvidos e ainda procuram se engajar em causas que contribuem para a preservação dos recursos, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. SWARBROOKE (2000).

3- Os impactos socioambientais que necessitam serem levados em conta para que a sustentabilidade seja atingida.

Atualmente, todos os setores da economia têm se preocupado com a questão do meio ambiente, levando em consideração não só o produto final, como também o modo de produção, assim dentro do turismo surge uma modalidade preocupada com as questões ambientais que é o ecoturismo, contudo, nem de longe, os problemas decorrentes da atividade estão solucionados. MENDONÇA (2001).

Os impactos negativos da atividade turística são discutidos fazendo frente aos entusiastas que vêem no turismo a possibilidade de grandes ganhos econômicos, pois, atualmente a "atividade movimenta no mundo 3,4 trilhões de dólares por ano e emprega 212 milhões de pessoas", (MENDONÇA, 2001 p.19), estimando-se que daqui a alguns anos a atividade cresça criando "338 milhões de empregos, aumentando a movimentação financeira para 7,2 trilhões." (MENDONÇA, 2001 p.19)

Essa indústria se vale do meio ambiente e da natureza, causando impactos ambientais e socioculturais, provocando o esgotamento do local e a subseqüente mudança do público para outros locais e exploração. MENDONÇA (2001).

No setor turístico, o ecoturismo vem sendo apontado como uma forma alternativa, preocupada com o meio ambiente. No entanto, estes avanços não significam obrigatoriamente que a questão ambiental está prestes a ser resolvida. Alguns poucos estudos existentes apontam os impactos socioambientais do ecoturismo. (MENDONÇA, 2001, p.20).

O turismo degrada a paisagem, quer pela construção de equipamentos e infra-estruturas, delimitando a visão dos demais, bloqueando a paisagem, quer pela construção de pontes, rodovias, e pavimentações, contribuindo para a erosão e degradação do solo, a valorização imobiliária de algumas áreas ajuda com que a preservação ambiental fique em segundo plano, desse modo é comum no litoral brasileiro o aterro de mangues, a ocupação de dunas e construções sobre altas declividades. MENDONÇA (2001).

Nas regiões de praias a falta de cuidados com o lixo, fossas e esgotos, compromete a balneabilidade das mesmas, além do mais um fluxo grande de turistas destrói as culturas locais, inviabilizando um trabalho turístico integrado naquela localidade, deste modo é comum a marginalização da sociedade local ou até mesmo o afastamento da mesma, a cultura desta vai sendo menosprezada e culturas do turista vão sendo absorvidas. MENDONÇA (2001).

O turismo para estas áreas do Norte e Nordeste brasileiros foi planejado com a finalidade de ser gerador de divisas, dirigido a quem tem dinheiro (porque o retorno aos investimentos fica garantido), um turismo segregador, elitista. (CORIOLANO, 1999, p.32).

Nota-se que países subdesenvolvidos, principalmente, os de clima tropical com belas praias e paisagens, têm desenvolvido mega projetos, com o objetivo de captação de divisas, desenvolvendo um turismo segregador, sem se importar de fato, com os nativos locais e o meio ambiente, onde não há integração entre turista e local visitado. (CORIOLANO, 1999).

Esse tipo de turismo é o que acontece no Norte e Nordeste do Brasil, criado para atender ricos turistas, gerar divisas, tornando-se elitista, visando apenas atender o aspecto econômico da questão. Assim volta-se para a questão como fazer um turismo beneficiando as populações locais? Como desenvolver um Planejamento a fim de atender o municipal e local? (CORIOLANO, 1999).

O que se observa é que as comunidades têm sido afastadas, o que gera a marginalização das populações e o aumento do índice de pobreza, principalmente na zona tropical do planeta, onde há o predomínio de recursos turísticos. MENDONÇA (2001).

Um desastroso problema que contribui para a não sustentabilidade do ecoturismo são os empresários ávidos por maximizar, lucros imediatos, podem levar o ecoturismo a se transformar num turismo de massa e assim a atividade tende a cambar para um lado onde surgirão os impactos negativos de forma a não concretização dos objetivos propostos no limiar do conceito de sustentabilidade dentro do ecoturismo. SWARBROOKE (2000).

Dentro dessa problemática, destinações turísticas quando são invadidas pelo turismo de massa, ficam desinteressantes para ecoturistas sensíveis, que logo procuram outras destinações tradicionais e preservadas e pagam imensas quantias por isso. SWARBROOKE (2000).

O meio ambiente é, sem dúvida, objeto de preocupação de diversos organismos, envolvendo vários setores, dentre os quais o ecoturismo, este visa produzir atividades no âmbito turístico de baixo impacto ambiental, todavia, só poderá ser conseguido se houver uma interação de unidade entre os diversos fatores que fazem parte do relacionamento do segmento. (MENDONÇA, 2001)

4-A interatividade de visitantes com o povo nativo como forma de atingir a sustentabilidade.

Sem um contato mais íntimo, sem a noção da realidade, sem relação com a vida, sem informações atuais e históricas, a relação do turista com a paisagem fica restrita ao revelado pela câmara fotográfica. Tanto é que não é incomum acontecer de se considerar a viagem um completo fracasso quando ocorre algum incidente com a câmara e as fotos ficam perdidas. (MENDONÇA, 2001, p.21).

O turismo cresce de tal modo, que o turista não se importa com o local visitado, para respeitar é preciso conhecer, vivenciar, observar aspectos do clima, da vegetação, do relevo, além de se interessar por fatores da gastronomia e da música local, contribuindo assim, para a superação da superficialidade das relações entre os atores envolvidos. MENDONÇA (2001).

Pode parecer encantador para o turista, sair de seu cotidiano, conhecer lugares de forma superficial, sem se expor, sem procurar saber de onde se originou suas belezas, acreditando, que tudo que é desconhecido representa perigo. Portanto para Rita Mendonça (2001, p.20) "o próprio desenrolar da nossa história, que culminou com o que somos hoje, caminhou para um afastamento da natureza, que passou a significar o perigo" essa situação possibilita que o turista absorva a paisagem, segundo critérios de beleza, num contato puramente visual, avaliando o local sem conhecê-lo realmente, julgando-o pela estética e beleza superficial. MENDONÇA (2001).

O turismo pode provocar uma relação de troca, aprendizado e respeito desde que haja vivência possibilitando a melhoria de qualidade de vida da comunidade, a preservação socioambiental e um intenso conhecimento e envolvimento dos visitantes com o local visitado, algo que vá além de belas fotografias reveladas por câmeras fotográficas. MENDONÇA (2001).

O homem moderno ao sair de seu cotidiano, procura por locais exóticos, contudo sem se envolver, sem procurar conhecer realmente a comunidade, fatos históricos e outros, o que se observa é o turista moderno procurando sugar a localidade, extrair benefício para si próprio ainda que benefícios visuais materiais como fotografias, apenas para no futuro dizer que conheceu a localidade, não cria laços e, portanto não respeita o que não contribui ao que o ecoturismo se propõe. MENDONÇA (2001).

Apesar de tudo parecer descoberto pelos modernos meios de comunicação, o que importa é a visão de cada um, de cada ser humano em relação a um local, bem como sua vivência e experiência no mesmo, deste pensamento deriva-se o crescimento da atividade turística dentro de um conceito sustentável. MENDONÇA (2001).

Um aspecto que aproxima os turistas dos nativos é a apreciação da culinária da localidade visitada, rompendo barreiras sociais e promovendo interação e respeito, dentre outros aspectos de grande relevância para quebrar barreiras estão às músicas, danças e artesanatos, O que eleva a auto-estima de um povo quando apreciada por outros, criando laços numa relação de troca e aprendizado. MENDONÇA (2001).

O tipo de turismo que acontece em alguns locais do Brasil é um turismo elitizado visando apenas atender os apelos econômicos e favorecer somente algumas classes sociais, algo que não se preocupa com a real necessidade local e não colabora com o fortalecimento do local sobre o global. (CORIOLANO, 1999).

Somente através da valorização dos aspectos sociais, educacionais, culturais de um povo pode-se elevar a auto-estima deste, manter o turista integrado com as populações nativas, num trabalho junto às comunidades receptoras, levando em consideração os objetivos fundamentais da atividade que é a valorização do homem. (CORIOLANO, 1999).

5-Conclusão

Para a indústria do turismo, o ecoturismo é um produto valioso que pode exacerbar valores oriundos de uma atividade recente em expansão, gerando benefícios econômicos para os destinos, é uma forma de rentabilidade que confere diferenciação a destinação turística. SWARBROOKE (2000).

Embora prevaleça na sociedade atual um turismo padronizado de massificação, que teve seu crescimento exacerbado devido ao avanço da tecnologia, meios de transportes e meios de comunicação, surgem outra corrente, que se contrapõe a esta sugerindo um tipo de turismo moldado em parâmetros de sustentabilidade onde insere a comunidade no processo de planejamento desde o inicio, ocasionando uma interatividade beneficiadora para esta e para os visitantes dentro de uma perspectiva de preservação e conservação de aspectos culturais e ambientais, entre outros. MENDONÇA (2001).

Para o turismo acontecer satisfatoriamente e não apenas como uma atividade elitizada para atender ao fator econômico, como fonte geradora de divisas, se elabora um planejamento que abranja diversos campos da sociedade, político, social, educacional e cultural, onde dentro de cada um desses aspectos se desenvolverá atividades geradoras de benefícios para todos os atores envolvidos proporcionando para as comunidades locais uma série de benefícios dentre eles a inclusão social, a elevação da auto-estima comunitária e melhoria da qualidade de vida, devido à geração de renda local e permanência dessa renda no local. (CORIOLANO, 1999)

As localidades turísticas devem se preparar para integrar a atividade turística de modo que respeitem e sintam orgulho de seus valores culturais, exigindo capacitação técnica e financeira para o local, viabilizando desta forma, um planejamento que implica em considerar a educação como base para toda capacitação e prática turística. (CORIOLANO, 1999).

A atitude de fomentar o turismo, nem sempre deverá partir de fora, mas, da comunidade receptora que deverá se preparar fortalecendo os atrativos locais, como construções de hotéis, restaurantes, bares, bem como a divulgação da gastronomia e artesanatos locais.com esse tipo de conscientização o fortalecimento local se fará presente. (CORIOLANO, 1999).

Com um planejamento, desde que haja atuação nos diversos setores da sociedade e não somente no econômico, levando em conta a preservação ambiental e a valorização de elementos culturais de um povo, pode-se desenvolver um turismo sustentável visando à integração de povos, com beneficio para o local e o capital econômico gerador de riquezas permaneça no local proporcionando a melhora da qualidade de vida da comunidade receptora. (CORIOLANO, 1999).

É justo que a atividade turística gere divisas nas localidades receptoras, porém, o recurso econômico oriundo da atividade deverá permanecer no local o que não acontece, o capital atraído pelo turismo volta ao seu país de origem, devido às redes de equipamentos que operam os serviços serem internacionais. O fortalecimento e a valorização dos aspectos culturais locais contribuiriam para essa integração. (CORIOLANO, 1999).

Então, turismo sustentável nada tem haver com ecoturismo, mas pode-se chegar à sustentabilidade, gerenciando e monitorando para a preservação dos recursos, educação de todos os atores sociais envolvidos, evidenciando o reconhecimento dos valores naturais e culturais por parte dos empresários, do governo, agregando consciências e metodologias que produzam um desenvolvimento sustentável. Caso contrário o ecoturismo será mais um turismo de massa, e o desenvolvimento sustentável uma panacéia dos mais sensíveis que fica no âmbito do ilusionismo. SWARBROOKE (2000).

6-Referências:

CORIOLANO, Luzia Neide M.T. Turismo Sustentável: uma nova proposta de Planejamento Turístico. In: FIGUEIREDO, Silvio Lima (Org). O Ecoturismo e a Questão Ambiental na Amazônia. 1. ed.Belém: UFPA/NAEA, 1999.

MENDONÇA, Rita. Turismo ou meio ambiente: uma falsa oposição? In: LEMOS Amália G. de (Org). Turismo: impactos socioambientais. 3ª Ed. São Paulo: Hucitec, 2001.p.19-25.

SWARBROOKE, John. Turismo Sustentável: turismo cultural, ecoturismo e ética. 2º Ed. São Paulo: Aleph, 2000.