O Drama da Condição Humana: A poesia Simbolista de Cruz e Sousa

                                                                                                              

 

Resumo: O presente artigo tem por objetivo enfatizar a forma que escritor simbolista Cruz e Sousa constrói suas poesias segundo a sua visão pessimista a cerca da realidade mórbida que, segundo ele, permanece como parasita sobre a terrível condição humana. Por se tratar de simbolismo será destacado neste artigo algumas das inúmeras características dessa estética que são fundamentais para a construção de uma poesia que tem por objetivo contrario ao romantismo, evocar os sentimentos e sensações usando as sugestões.

                                                                                                                               

Palavras – Chave: Cruz e Sousa, poesia simbolista, simbolismo, visão pessimista, condição humana.

  1. 1.     Introdução

     A arte de se expressar perpassa todos os momentos históricos vividos pelo o homem. A estética literária tem enorme papel no trabalho de caracterizar uma obra de arte, principalmente quando se trata de literatura. Ainda, a estética nos revela os pormenores mais íntimos, porem implícitos de muitos escritores dedicados a arte de expressão. Essa arte, porem, tem sua fundamentação na própria vida do ser humano, nos seus momentos de transformação social e individual, cujos anseios estão arraigados em sua natureza.

     Se tratando de arte e de expressão O Simbolismo, estética literária de raízes francesas iniciadas pela manifestação de Baudelaire com sua obra (flores do mal, em 1857) a qual se tratava de temas satânicos, grotescos, irreverentes e cujo autor se se expressava através de imagens e que revolucionou a poesia moderna, também vem através dessa influencia e de outras como Marllamé que sugere que “deve sempre haver enigma na poesia” o que implica nova linguagem e toda sugestiva para que o leitor tenha acesso a esse mundo de essências.

     

       No Brasil o simbolismo vem a ser marcado com a publicação de Missal (prosa) e Broqueis (poesia) de nosso maior autor simbolista Cruz e Sousa. É considerado o mais importante poeta simbolista brasileiro e um dos maiores poetas de todos os tempos. Sua obra poética apresenta diversidade e riqueza. De um lado, encontram-se nela aspectos noturnos do Simbolismo, herdados do Romantismo: o culto da noite, certo satanismo, o pessimismo, a morte. De outro lado, há certa preocupação formal, que aproxima Cruz e Sousa dos parnasianos: a forma lapidar, o gosto pelo soneto, o verbalismo requintado, a força das imagens; há, ainda, a inclinação à poesia metafísica e filosófica, que o aproxima da poesia realista portuguesa, principalmente de Antero de Quental.

       Entretanto, dentre as características da estética simbolista citadas nas poesias, as de Cruz e Sousa estão focadas num tema que é essencialmente citado em suas poesias como sendo o tema principal de sua obra, o conflito existencial que perpassa o decadentismo, o pessimismo e o escapismo, refletindo o conflito entre o homem e a realidade ilusória, que no caso vai nos levar diretamente ao seu principal objeto de inspiração que é “O Drama da Condição Humana” esse tema é retratado predominantemente nas poesias de Cruz e Sousa, e é através delas que percebemos essa expressão tão agonizante por parte do escritor, que revela o descontentamento com a vida e usa como escape a evocação de espíritos numa viagem mística a procura de um descanso, e cita a morte como principal saída para as ilusões em vida.

    “O simbolismo é como se fosse parte da tinta da caneta com a qual escrevia Cruz e Sousa as suas poesias”, e é de uma grandeza marcante e acima de tudo gritante a expressão do escritor brasileiro sobre as mazelas da vida, de que ele tanto tentava fugir.    

 

  1. 2.   A Poesia como Fruto do Conflito eu Versus o Mundo

         A poesia simbolista percorreu toda a escala que reflete a sua condição de moda vulnerável ao influxo europeu e ao mesmo tempo denota vigor e exuberância (assim, teríamos a desesperação existencial e o transcendentalismo teocêntrico e/ou ocultista, representados por Cruz e Sousa. (MASSAUD MOÍSÉS, Literatura Brasileira- historia e critica I, 1928) Movimento de cunho idealista, o Simbolismo teve ainda que enfrentar no Brasil a atmosfera de oposição e hostilidade criada pelo Zeitgeist realista e positivista dominante desde 1870. O prestígio do parnasianismo não deixou margem para que se reconhecesse o movimento simbolista e avaliasse o seu valor e alcance, tão importantes que a sua repercussão e influência remotas são notórias em relação à literatura modernista. O Simbolismo foi abafado pela ideologia dominante e os adeptos do simbolismo sofreram sob forte oposição. 

      Juntamente com o poeta realista português Antero de Quental e o pré-modernista brasileiro Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa apresenta uma das poéticas de maior profundidade em língua portuguesa, em razão da investigação filosófica e da angústia metafísica presentes nas suas composições. Na obra de Cruz e Sousa, o drama da existência revela uma provável influência das ideias pessimistas do filósofo alemão Schopenhauer, que marcaram o final do século XIX. Além disso, certas posturas verificadas em sua poesia – o desejo de fugir da realidade, de transcender a matéria e integra-se espiritualmente no cosmo- parecem originar-se não apenas do sentimento de opressão e mal-estar produzido pelo capitalismo, mas também do drama racial e pessoal que o autor vivia. 

      Uma das características da estética simbolista que podemos encontrar no trecho a seguir do poema (Horror dos Vivos) é o sentimento de conflito existencial, o eu lírico expressa por meio da morte e daqueles que já não fazem parte da vida, que a única saída remediável para essa realidade mórbida que ele vive seria a morte. Quando ele cita que “os mortos são ainda o bem profundo que nos faz esquecer o horror dos vivos” expressamente utilizando-se de muita subjetividade demonstra a sua esperança voltada para o místico, há então a invocação de certo modo implícita aos seres celestiais numa fuga da realidade e busca pelo descanso.

Ao menos junto dos mortos

Pode agente crer e esperar n´alguma suavidade:

                                              Crer no doce consolo da saudade

                                              E esperar do descanso eternamente...

                                          ... Os mortos são ainda o bem profundo

                                                   Que nos faz esquecer o horror dos vivos.

     Outro poema do autor que nos revela a dor vivida está em “O Acrobata da Dor” cuja palavra “dor” substantivo abstrato e ao mesmo tempo comum recebe um valor absoluto por vir grifada com inicial maiúscula, outra característica do simbolismo que atribui um valor especifico das coisas dando-lhes valor concreto.

     Cruz e Sousa nos revela em suas poesias o perfil de sua realidade ao expressar o desejo pela fuga da realidade, de transcender a matéria e integrar-se espiritualmente no cosmos, isso parece originar-se não só da pressão e tristeza produzidos pelo capitalismo, mas do drama racial e pessoal que o autor vivia.

Gargalha, ri, num riso de tormenta, 
como um palhaço, que desengonçado, 
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado 
de uma ironia e de uma dor violenta. 

Da gargalhada atroz, sanguinolenta, 
agita os guizos, e convulsionado 
salta, gavroche, salta clown, varado 
pelo estertor dessa agonia lenta ... 

Pedem-se bis e um bis não se despreza! 
Vamos! retesa os músculos, retesa 
nessas macabras piruetas d'aço... 

E embora caias sobre o chão, fremente, 
afogado em teu sangue estuoso e quente, 
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

 

 

 

3     O Grito da Alma

      O conflito existencial, a miséria do homem, a tristeza e as ilusões de um mundo que só faz parte da uma utopia de todos os dias, é a rotina que persegue e que inflama a dor que não se quer sentir, mas que persiste em invadir o intimo de um homem. Vem e escancara a alma para desabafar, e desabafando se afoga no mar de intensas sensações que não passam de um êxtase inconsciente, que se instala por dentro e que sonha com algo que não tem jeito, o mundo! A vida não faz mais sentido, e é em busca do infinito e no abismo, no plano baixo das inefáveis ânsias que o autor vai querer se encontrar.

       A alma grita, e por gritar pede liberdade. Cada vez mais o autor expressa seu desejo de fuga da realidade, nos trechos a seguir de dois poemas de Cruz e Sousa percebe-se a fuga e a dor da alma que quer liberdade. O autor vai sempre tratar de uma prisão, um cárcere onde a alma se encontra.

O ASSINALADO                                                                CARCERE DAS ALMAS

Mas essa mesma algema de amargura,               Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa

Mas essa mesma desventura extrema,                 soluçando nas trevas, entre grades

Faz que tu´alma suplicando gema                          do calabouço olhando imensidades,

E rebente em estrelas de ternura.                           Mares, estrelas, tardes, natureza.

       A ansiedade existencial é o que o texto exprime um desejo muito forte de transcendência, de superação dos limites impostos ao ser humano – que se obtém por meio da libertação dos sentidos.

 

  1. 3.       Considerações finais

 

    O conflito existencial de que tanto os simbolistas expressam em suas poesias surge simplesmente como o efeito de uma idealização inalcançável, a não ser após a morte, por isso idealizada. E é exatamente isso que Cruz e Sousa tenta repassar: a vida para alguns só terá sentido quando perdida, porque em quanto existente, não produz se não angustia. Então o descanso e a liberdade estariam após a morte, cujo poder homem nenhum jamais poderia exercer.  

      Em toda a trajetória humana vai sempre existir o conceito diversificado de mundo e de sociedade, e haverá sempre os que se inclinarão para as falhas propositais da mesma, acabando num conformismo. O fato é que nem todo mundo sonha com dias melhores e nem todo mundo tem o cuidado de cuidar de si, simplesmente pelo fato de que a luta parece em vão, portanto, muitos abandonarão a realidade sofrida de forma subjetiva como fuga, e buscarão uma que lhes forneça liberdade e descanso.

BIBLIOGRAFIA

Livros:

MASSAUD, Moisés. Historia da Literatura Brasileira, vol. IV: Simbolismo. Editora Cultrix, 1984.

Sites:

http://linguaberta.blogspot.com.br/2011/11/o-simbolismo-no-brasil.html