Palavras-chaves: Sexo ? prazer ? procriação ? casamento ? sociedade.


INTRODUÇÃO


Segundo Bakhtin a linguagem é a materialização do discurso, dessa maneira todo discurso torna-se ideológico. Assim, não se faz diferente o discurso religioso, que tem suas ideologias pautadas nos princípios bíblicos. Conforme estudo de Orlandi, o discurso religioso caracteriza-se como um discurso assimétrico, uma vez que as relações entre locutor e leitor se estabelecem em planos distintos: um da ordem espiritual (a voz de Deus) e outro de ordem temporal (os leitores humanos). Portanto, trata-se de um tipo de discurso em que a interação é estabelecida de forma a conter a reversibilidade e cujo sentido fica aprisionado pelo próprio dizer: único e inquestionável.

Além da fé, é necessária a humildade. Humildade no sentido de sentir-nos dependentes de Deus. Nós precisamos de Deus ... Sem ele nada podemos fazer (Jo 15,5). Aliás, o que levou o homem a afastar-se de Deus foi a auto-suficiência, foi pensar que poderia ser igual a Deus (Gn, 3,5b), não se aceitando como criatura. (Pe. Léo, 1994:91)

Como se pode constatar, a linguagem religiosa está revestida de um sentido e da autoridade daquele que representa Deus, que fala em seu lugar, mas que também não é Ele: é o que Orlandi chama de ilusão da reversibilidade: é como se fosse sem nunca ser. (Orlandi, 1987) Na verdade, o discurso é estruturado por meio de uma virtual (indireta) interação entre Deus e Seu representante aqui na Terra, designado e autorizado para sê-lo. Nesta vertente, entra discursão sobre sexo como algo fonte de prazer ou procriação.
O sexo tem duas dimensões, finalidades: unitiva e procriativa. Ou será que existe uma terceira dimensão a prazerosa? Deus fez do casal humano "a nascente da vida", disse o Papa Paulo VI, segundo ele A dualidade do sexo foi querida por Deus, para que o homem e a mulher, juntos, fossem a imagem de Deus; e assim deu ao homem a missão de gerar filhos. Nenhuma outra é a mais nobre do que esta.
É através da atividade sexual que o casal se multiplica e se une profundamente; isto é um desígnio de Deus.
O ato sexual é o ato "fundante" da geração do filho, porque é por ele que a doação amorosa do casal acontece. É por isso que a igreja não aceita outra maneira de gerar a vida humana.
Segundo os estudos realizados pelo professor Felipe Aquino, "o ser humano só pode entregar a sua intimidade profunda a alguém que o ama e que tem um compromisso de vida com você". Não deve se entregar a qualquer um apenas pelo mero prazer físico, em contrapartida as ideologias da sociedade moderna prega que o sexo quando feito com responsabilidade, não precisa ter necessariamente um compromisso firme.
Pergunta-se: qual a diferença entre o sexo no casamento, realizado com amor e por amor, e a prostituição, por exemplo? É o amor.
Se você tira o amor, o sexo se transforma em prostituição, comércio. Aquele que tem uma relação sexual com a prostituta está preocupado apenas com o prazer, e não tem qualquer compromisso com ela. Acabada a relação, paga e vai embora. Não importa se amanhã esta mulher está grávida, doente, ou passando fome, não lhe interessa ele pagou pelo "serviço".
O discurso bíblico propagado pelo aparelho ideológico, a religião, diz que no plano de Deus o sexo é diferente, é manifestação conjugal; é uma verdadeira liturgia desse amor, cujo fruto será o filho desse casal. Além disso, na fusão dos corpos se celebra profundamente o amor de um pelo outro: a compreensão recíproca, a paciência exercida, o perdão dado, o diálogo mantido, as lágrimas derramadas... é a festa do amor conjugal. Por isso é o ato fundante da vida, e não apenas e exclusivamente o prazer que se celebra, como bem afirma Pedrini:


O ato sexual vai além de um mero ato físico; a união dos corpos sinaliza a união dos corações e dos espíritos pelo amor. Nesta "festa" do amor conjugal, o casal se une fortemente, e no ápice do seu prazer, Deus quis que o filho fosse gerado.



No entanto, Freud afirma que a verdadeira felicidade do homem está no desejar fazer o sexo, e poder fazê-lo; o que vai totalmente em oposição às premissas religiosas.
É por isso que a igreja ensina que o ato sexual, para não ser desvirtuado deve sempre estar aberto à geração da vida, sem que isto seja impedido pelos meios artificiais. O sexo é belo e puro quando vivido segundo a lei de Deus; todos nós viemos ao mundo por ele. Se ele fosse sujo, a criança recém nascida não seria tão bela e inocente. O que deturpa o sexo é o seu uso primário como fonte de prazer.
O livro do Gênesis assegura que ao criar todas as coisas Deus "viu que tudo era bom" (Gen. 1,25). Portanto, tudo que Deus fez é belo, também o sexo. O mal, muitas vezes, consiste no uso mau das coisas boas. Por exemplo, uma faca é uma coisa boa, sem ela a cozinheira não faz o seu trabalho. Mas, se um criminoso usar a faca para tirar a vida de alguém, nem por isso a faca se tornará má. O mal é o uso errado que se fez dela.
O Apóstolo São Paulo nos diz que a união sexual só tem sentido no casamento, porque só ali existe um "comprometimento" de vida conjugal, vida a dois, onde cada um assumiu um compromisso de fidelidade um com o outro para sempre. Sem este "compromisso de vida" o ato sexual não tem sentido procriativo, fundante, e se torna vazio e perigoso, este há dois mil anos já ensinava aos coríntios: "A mulher não pode dispor do seu corpo: ele pertence ao seu marido. E também o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua esposa" (1Cor. 7,4)
As conseqüências do sexo realizado por mera satisfação física são terríveis: mães e pais solteiros, filhos abandonados ou criados pelos avós ou até mesmo em orfanatos. Muitos desses se tornam os "trombadinhas" e delinqüentes que cada vez mais enchem as nossas ruas, buscando nas drogas e no crime a compensação de suas dores.
Quantos abortos são cometidos porque busca-se apenas egoisticamente o prazer do sexo, e depois elimina-se o fruto, a criança! Só no Brasil são 4 milhões por ano. Quatro milhões de crianças assassinadas pelos próprios pais. Isso acontece na sociedade moderna. Segundo Marx, "a ideologia é um instrumento de dominação de classe porque a classe dominante faz com que suas idéias passem a ser de todos". Dessa maneira, a sociedade lança idéias de que o sexo pode ser feito desde que se previna, mesmo não tendo 100% de seguranças nos métodos utilizados.
As doenças venéreas são outro flagelo do sexo desvirtuado, vivido por prazer. Ainda hoje convivemos com os horrores da sífilis, blenorragia, cancro, sem falar do flagelo moderno a AIDS.
A nossa sociedade é perversa e irresponsável. Incita o jovem a viver o sexo de maneira precoce e sem compromissos, e depois fica apavorada com a tristeza das meninas grávidas. Isto é fruto da destruição da família, do chamado "amor livre", e do comércio vergonhoso que se faz do sexo através da televisão, dos filmes eróticos, das revistas pornográficas e, agora, até através do telefone e da internet.
Não há hoje como negar que o triste espetáculo dos jovens carentes, abandonados, drogados, metidos na violência, no álcool e no crime, é fruto da destruição familiar, que acontece porque se viveu o sexo apenas como fonte de prazer.
Contudo, para que o sexo seja um ato fundante não se pode descartar o prazer, porém este deve estar em segundo plano, ao contrário do que é apregoado na sociedade. É necessário que o homem e a mulher se procurem, se aproximem, desejem-se, se queiram, se amem e sintam prazer, mas tudo isso foi depositado por Deus, para só uma finalidade, a multiplicação. Assim já dizia Deus: "Frutificai-vos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a." (Gen. 1,28)
Dessa maneira, a religião com um discurso um tanto quanto assimétrico, tenta conduzir a sociedade para que sigam os valores lançados pela igreja, da mesma forma que se utiliza de argumentos inquestionáveis de maneira a conter a reversibilidade da humanidade.


REFERÊNCIAS

AQUINO, Prof. Felipe Reinaldo Queiroz de. Namoro. Lorena ? SP: Cléofas, 1999.
Bíblia Sagrada. São Paulo: Ave Maria. Ed. 25º
CONCEIÇÃO, Jailson Almeida. Módulo de Lingüística IV. 2006-2 (xerocopiado)
ORLANDI, Eni. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas, São Paulo, Pontes, 1987.
PEDRINI, Pe. Alírio. Jovens em Renovação: espiritualidade, afetividade e sexualidade. São Paulo: Loyola, 2001.