O direito de ir  e  vir   

      Distraída dentro do coletivo deparo-me com uma parada brusca do motorista por conta de um desvio de um ciclista...Não demorou para xingamentos soltos começassem a ventilar por todos os ares. As partes inflamadas discutiam por seus direitos... Um alegava a infração de ter jogado o ônibus em sua direção mesmo este não resvalando em seu corpo, o outro imperava o porquê de ter a ciclovia destinada para ciclistas e cia e este teimar a trafegar na pista do meio...Socos nos vidros, insultos de ambos os lados, nervos a flor da pele, vontades de aplicarem uma voadora no peito de um e de outro, uns passageiros colocando a lenha na fogueira, outros tentando atenuar os ânimos  e, eu, ali a observar as  posturas  dos senhores coléricos e apelando aos céus para não terminar a minha noite em uma delegacia. Pensei... Mobilização urbana ou anomia de educação no trânsito? Qual a pauta a ser abarcada nesse caso? São intrínsecos os dois pontos, entretanto, onde um começa para que o outro possa existir? Afinal, sempre nos temas de protestos sobre o assunto, a nova aposta para melhor favorecer o trânsito na demanda por  construções de  ciclovias  tem como propósito oferecer aos usuários mais segurança e melhor mobilidade...Conclui. Porém,  logo outro pensamento veio a indagar-me... Tais ciclovias estão estruturadas do lado da pista dos transportes coletivos, um risco a se correr perante a falha de educação de muitos condutores que sequer utilizam a palavra respeito em sua cartilha laboral referente aos usuários de triciclos, quadriciclos, patins, patinetes, skates e cadeiras de rodas que poderão dividir toda a extensão de ciclovias, sendo esse meio uma maneira saudável  de se locomoverem, ainda sim porque  trata-se de veículos com velocidades iguais e que andam sobre rodas, dessa maneira, os condutores de veículos maiores deverão adotar uma postura diferenciada para que o bem estar prevaleça no calor do asfalto. Até porque essa  medida foi idealizada para harmonizar o convívio entre vários veículos, dialoguei com o meus botões... E,  entre "tapas" e sem beijos da discussão motorista versus ciclista, a voz da sensatez se fez presente... O primeiro seguiu o seu percurso, o segundo retornou para a sua pista e todos nós respiramos a "paz mundial!"  Posteriormente ao ocorrido os  meus pensamentos alçaram outros pontos reflexivos... Com toda licença a digressão discorro,  e, claro, o faço sem adentrar no sentido valorado dos demais meios de transporte. Não existe maior interação social ao trafegar de coletivo,  o próprio nome por si só nos explana... Todos no aperto juntos, com sol, com chuva.  É um trabalho contínuo saber esperar.  E, mais, saber esperar por essa condução, solo ou acompanhado, exercitando diariamente todo recurso do tempo, sendo este um dos mais valiosos patrimônios que possuímos. E, portanto, partindo da mesma premissa que Quintana ..."Quando se vê,  já são seis horas... Quando se vê,  já é sexta-feira!"... No avanço do tic- tac do relógio, na correria dos dias rola de tudo no sacolejo da rota... Tem passageiros educados até os totalmente sem educação, desde o sem noção de gentileza até o que cede a cadeira para o idoso, e da criança esgoelando querendo o peito da mãe, as figuras como DJ impondo-nos toda seleção de estilos musicais, os evangélicos enaltecendo os feitos do pastor,  a oportunidade de conversar com a pessoa que por ora divide consigo o mesmo banco de assento e possivelmente nunca mais vê-la, é ter seus minutos de observância do seu entorno, do entra e sai de pessoas no tour do coletivo, é o momento da leitura, é desligar do planeta Terra e rumar para Marte, é dormir, é acordar, é malhar (sentar e levantar é um ótimo exercício), os "The voice" cantarolando de  whitney Houston a  Adele, cujo inglês somente esses cantantes compreendem,  tem as  conversas sobre Jesus operando em nossas vidas, o camarada empreendedor das balinhas e doces a nos ofertar.  E, por fim os que pedem ajuda, com o discurso na ponta da língua, exatamente igual ao do outro que vai subir no ponto seguinte. Quem se lembra do: “Boa dia senhores e senhoras passageiros, desculpe-me estar aqui atrapalhando o silêncio da viagem de  vossas pessoas…?” Não podemos negar que a maneira integralista entre classes, comércio, troca de "calor humano" se faz nesse espaço. Contudo, o melhor a desejar sobre essa interação no asfalto, paira a ideia que tenhamos mais motoristas paz e amor a nos conduzir e menos pessoas raivosas a bater volante e, não obstante que todos saibam permanecer no seu quadrado dentro dos transportes ou fora destes para melhor favorecer a mobilidade pública e  sobretudo que todos nós, condutores, pedestres, ciclistas  saibamos treinar no nosso dia a dia  a virtude da paciência. 

Giovanna Bianca Trevizani
Graduanda e entusiasta do Curso de Direito e do curso de Sociologia