O direito de ir e vir de forma inteligente!!!

Ônibus sucateados, metro subutilizado, vans lotadas, lotações em carros particulares aos cacos, motoristas despreparados e falta de fiscalização fazem do transporte público de Brasília uma péssima opção para o deslocamento do cidadão. Isso tudo às barbas do Governo Federal, do GDF, do Ministério do Transporte, autarquias, universidades e outras entidades, nacionais e distritais, relacionadas ao setor. A teia neurológica, a inteligência está aqui, pronta para expandir e ser usada, mas falta ousadia nas ações, tanto por parte do Governo Federal quanto do GDF!! Como justificar o funcionamento parcial do metro? Porque não aproveitar a linha férrea existente entre Brasília e Luziânia?

Como as grandes capitais mundiais, que usam o "tramway", metrô de superfície, mais barato e eficiente, Brasília deveria colocar trilhos em toda extensão das W3 e L2, sul e norte; da Rodo ferroviária, pelo eixo monumental indo até o Lago, e depois ao aeroporto. Aí, o Lago Paranoá poderia ser também aproveitado como uma via náutica de integração do transporte urbano da cidade, servindo às comunidades que habitam no outro lado, e trabalham ou estudam no Plano piloto. Essa possibilidade pode também ajudar a consolidar a vocação turística da cidade, na medida em que o Ministério Público fizer cumprir a lei, liberando toda a orla do lago à visitação pública. Há tempos o Rio Sena, em Paris, é estudado para receber o projeto do Metro fluvial, como uma das soluções propostas para melhorar ainda mais o já ótimo transporte público da cidade.

A implantação do “tramway”, e a extensão do metro até o fim da Asa Norte possibilitaria a expulsão dos ônibus e das vans do Plano Piloto, melhorando significativamente o transporte coletivo, abrindo espaço para a criação de ciclo vias e passeios para pedestres, estimulando a adoção desses meios não poluentes, em substituição ao transporte individual, tal como acontece em Paris, Amsterdã, Berlim, e Joinvile, para citar um exemplo brasileiro.

A rodoviária, do ponto de vista urbanístico, nada deixa a desejar, mas na sua manutenção, e no respeito ao usuário tira nota zero. O ambiente é fétido, com camelôs e pedintes ocupando grande parte dos espaços de circulação, causando total desconforto e constrangimento aos usuários, e demais transeuntes.

O Brasília poderia ousar na revolução do transporte coletivo, como já o fez Curitiba, no governo Jaime Lerner, internacionalmente reconhecida como exemplo de sistema viário inteligente. Necessitamos implantar passeios arborizados em todas as vias da cidade para tornar a existência do pedestre mais digna, mas a política dos jecas, dos lobistas, e demais interesseiros, tenta ignorar que as pernas são e serão sempre o melhor meio de transporte para o homem.

Uma parte da economia de Brasília é feita pelos carroceiros, catadores de materiais recicláveis, os quais prestam um ótimo serviço a sociedade, mas são ignorados pelas políticas do GDF, incompreendidos, e intolerados pelos motoristas da cidade. Poderíamos ter passeios turísticos de charretes e carruagens, às noites e finais de semana, na esplanada, na orla, e em outros locais. Falta-nos visão, ou, quem sabe, uma rainha para que esse meio de transporte seja considerado no mínimo uma grande atração para o turismo da cidade. Seguramente, parte da nossa elite social e política torcerá o nariz, menosprezando essa hipótese, mas já se refestelou em passeios de carruagem, e assemelhados, privados ou oficiais, quando em visita a países europeus.

Os automóveis, a cada dia que passa, mais sufocam o espaço físico, os pulmões, e a paciência dos cidadãos de Brasília, e, certamente, entediam os visitantes que aqui chegam em missões diversas.

A vocação de Brasília, além da política, do comércio, da indústria, e da cultura, é também o turismo. O visitante que aqui chega, tem os táxis como única opção de deslocamento, veículos que não permitem como os ônibus, a apreciação do que temos de melhor, a nossa paisagem natural, e a concepção urbanística, idealizada Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

É preciso pensar Brasília, e fazer Brasília pensar, para justificar o seu status de capital de um país continente. Usar o conhecimento acumulado, e agir com firmeza para garantir a solução desse e de outros problemas que nos afligem como homens, mulheres e crianças que circulam neste grande planalto.

Agora é o momento de mudar, de trocar, de exigir e de mostrar que JK tinha razão, de valorizar a nossa cidade, sob o nosso ponto de vista pessoal e institucional, pois aqui residimos, e residirão nossos filhos. Devemos pensar em construir aqui uma nova cultura, voltada à racionalização e ousadia em tudo que diga respeito ao bem viver. Assim, o tema “transporte público” se reveste de grande importância, colocando-se ao lado de saúde, educação e segurança.

Para estimular a adoção de modos alternativos de transporte são necessárias ações educativas, e campanhas de esclarecimento, até que o modo de pensar de nossa gente seja transformado, e nesse sentido, é bastante apropriada à criação de um “Museu dos Meios de Transporte”, mostrando sua evolução, desde os tempos dos tropeiros até hoje, despertando o interesse e conscientizando a população para a importância do tema. Assim, quem sabe, por fim a inércia social, para que ela finalmente aprenda a exigir o direito universal de ir e vir.

Valdo França – [email protected]