O caminho do auto-aperfeiçoamento é semelhante ao modo como se cura uma ferida em nosso corpo. A cicatrização ocorre de dentro para fora, e é fundamental que isso seja respeitado quando a ferida é profunda. Se você deixar o ferimento arejado, ele se curará mais rápido. Se você quiser tapá-lo para fazer de conta que está curado, o resultado será produção de pus e todo o processo fica ameaçado.

 

Em cada grupo,  pode-se ver a luta pela qual se distribuem entre as pessoas as qualidades positivas. Quando olhamos os outros, distribuímos entre eles qualidades e defeitos de maneira desigual. Criamos uma imagem pronta, e o outro tem de lutar às vezes duramente para libertar-se das nossas projeções. O erro é mais grave quando projetamos apenas a sombra. Por isso, ver defeitos nos outros é uma das piores coisas que se pode fazer (especialmente depois que se pretende ter começado um verdadeiro aprendizado  do auto-aperfeiçoamento).

 

A prática demonstra também que só conseguimos observar construtivamente nossos próprios erros quando já deixamos de lado o hábito de projetá-los sobre os outros. Em compensação, quem observa serenamente suas próprias falhas pode sentir carinho, mas nunca desprezo, pelos erros dos outros. Tanto a condenação injusta como o perdão fraterno nascem em todas as direções. Tudo o que fazemos aos outros vem também para nós, do modo mais direto, mesmo que não sejamos conscientes disso.

 

É preciso coragem para admitir a nossa mediocridade e outros defeitos sem cair na lamentação, na autopiedade, nem atribuir a outrem a culpa pelo fato de termos este ou aquele defeito: “Se as pessoas tivessem me dado mais atenção..."

 

A auto-observação é uma reflexão sobre o nosso estado interior e nossa atitude diante da vida em que não há ansiedade e em que não temos apego em relação aos nossos acertos, nem rejeitamos os nossos equívocos. Esse olhar impessoalmente para si mesmo não pode ser feito com pressa, nem com orgulho, nem com nenhum complexo de inferioridade. Para poder observar-nos com serenidade, devemos ter deixado de supor que somos o centro do universo ou o único ser que nos interessa dentro deste planeta.


O processo de auto-observação exclui a luta consigo mesmo, o conflito ou exclusão. Significa olhar para o mundo dentro e fora de nós sem apegar-se a nada e sem rejeitar coisa alguma. Então o equilíbrio ocorre naturalmente, resultante da ampliação de consciência, independentemente da tentativa de controle por parte da mente consciente.

 

Com a prática, observamos que a consciência serena dos próprios erros vai brotando mais facilmente, até que surge a tempo de prevenir um número crescente de falhas. O primeiro passo, porém, é dissociar erro de castigo ou condenação. Erro é apenas um acerto que não chegou a acontecer. A humanidade evolui há milhões de anos através do mesmo método científico da tentativa e erro, e não há por que pensar que isso possa ser diferente no terreno espiritual. Ao contrário, um mestre de sabedoria já disse que o erro mais grave é não tentar, porque é a tentativa constante de acertar que faz com que separemos, gradualmente, todas as imperfeições.

 

Quando negamos um erro, estamos apenas perdendo a oportunidade de tentar enxergar honestamente a falha, e assim superá-la. Porém, o erro não é eliminado por algum violento esforço de vontade, e sim pelo seu exame cuidadoso e tranqüilo, sem medo de castigo e sem qualquer imagem negativa de nós mesmos. A falha só existe porque decidimos seguir o ideal do auto-aperfeiçoamento na vida diária; e cada passo adiante é a transformação de uma falha em um acerto. Aos poucos, cada defeito se transformará em uma virtude. O medo e a agressividade serão coragem com prudência, a inconstância será então estabilidade, a luxúria e ânsia por poder darão lugar a tranqüilidade e altruísmo, a ansiedade cederá espaço para a paz interior e não somente nos tornaremos pessoas melhores, como também ajudamos que os que estejam ao nosso redor também sejam melhores pelo menos consigo mesmo.