O DIAGNÓSTICO DA LESÃO POR ELETROCIRURGIA: A BUSCA DE EVIDÊNCIAS PARA A PRÁTICA DE ENFERMAGEM

Iza Cristina dos Santos

Tereza Cristina Felippe Guimarães

Cristiana Fialho B. Da Silva

Andrea Pragana

Introdução: O choque elétrico é a reação do organismo à passagem da corrente elétrica. Uma lesão por corrente elétrica é a lesão produzida quando uma corrente elétrica atravessa o corpo e queima tecidos ou interfere no funcionamento de um órgão interno, porém para entendermos o trauma elétrico devemos compreender o que é eletricidade, que por sua vez é o fluxo de elétrons de um átomo, através de um condutor, que vem a ser qualquer material que deixe a corrente elétrica passar facilmente (cobre, alumínio, água, etc.).. A potência da corrente elétrica é medida em ampères. Um miliampère (mA) é 1/1.000 de 1 ampère. O corpo pode perceber o contato com a corrente contínua que entra pela mão em torno de 5 a 10 miliampères.
Nas correntes de baixa potência, de 60 a 100 miliampères, a corrente alternada de 60 hertz de baixa voltagem (de 110 a 220 volts) que cruza o tórax durante uma fração de segundo pode desencadear arritmias irregulares (ritmos cardíacos irregulares) potencialmente letais. São necessários 300 a 500 miliampères de corrente contínua para se obter o mesmo efeito. Quando a corrente elétrica vai diretamente ao coração (p.ex., através de um marcapasso), uma corrente muito mais baixa (de menos de 1 miliampère) pode produzir arritmias cardíacas. A unidade de eletrocirurgia ou bisturi elétrico é um aparelho que transforma a corrente elétrica alternada de baixa freqüência em corrente elétrica de alta freqüência, muito utilizada em diversos tipos de cirurgia, como a cirurgia cardíaca, todavia não é de hoje a utilização desse aparelho que remonta ao início do século dezenove, onde a cauterização utilizando corrente elétrica foi descrita. Nesta técnica a corrente elétrica aquece a ponta de uma pinça, sem passar pelo tecido, e o metal aquecido pela corrente elétrica realiza a cauterização. Em 1878 foi descrito a primeira esterilização tubária, por meio da cauterização, utilizando um fio de arame aquecido pela corrente elétrica. A eletrocirurgia, desenvolvida no século vinte, faz a corrente elétrica passar pelo corpo gerando calor pela resistência tecidual. Ao contrário da cauterização, na eletrocirurgia a pinça não é aquecida para queimar, somente conduz a corrente elétrica aos tecidos. O desenvolvimento da eletrocirurgia passou por diversas fases e descobertas variadas. As complicações associadas à eletrocirurgia podem ocorrer secundária ao trauma térmico através de três causas básicas. A primeira seria através do trauma térmico não intencional ou de uso inapropriado do eletrodo ativo. Em outras situações podemos observar uma corrente divergente que assume um caminho indesejável causando um dano fora do campo operatório. Uma terceira forma de trauma térmico indesejável poderia ocorrer no eletrodo de dispersão (placa) também chamado de dano tecidual de retorno. O uso de instrumentos de ação bipolar diminui a chance de lesões de ação divergente ou de dispersão, enquanto que as lesões no eletrodo ativo podem ocorrer em ambas as modalidades de aplicação da eletrocirurgia. O padrão atual de tratamento para lesão elétrica requer uma equipe multidisciplinar, bem equipada e com atualização dos conhecimentos,o enfermeiro tem um papel preponderante nesta equipe, no diagnóstico precoce da lesão por eletrocirurgia e no acompanhamento da evolução da lesão. Uma discussão das características fisiopatológicas dessas lesões envolve teorias de campo elétrico, eletroquímica, biologia celular, fisiologia, neuropsicologia e outras disciplinas. Este estudo consiste no relato de experiência sobre as dúvidas da equipe de enfermagem a cerca das lesões provocadas por eletricidade no utilização do bisturi elétrico, na cirurgia cardíaca. Justifica-se este estudo devido a ocorrência de relatos de caso sobre lesões provocadas pela eletrocirurgia.Os objetivos do estudo são: a) identificar as dúvidas sobre lesões provocadas por eletrocirurgia e b) fornecer informações sobre lesões por eletrocirurgia. Metodo: O relato de experiência consiste na descrição dos fenômenos que acometem os atores da ação. Neste caso foi durante a sessão clínica de enfermagem de uma instituição pública da esfera federal especializada em cardiologia localizada no município do Rio de Janeiro; durante a apresentação do relato de caso da enfermeira especialista em feridas, realizada no mês de fevereiro de 2009. Estavam presentes na sessão 37 participantes entre enfermeiros, técnicos de enfermagem e acadêmicos de enfermagem. Resultado: emergiu do grupo a seguinte categoria: Identificação das lesões por eletrocirurgia, onde os profissionais associavam o estágio I da ulcera por pressão a lesão por eletrocirurgia nos pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. Na avaliação e tratamento das lesões causadas por eletricidade deve-se levar em conta uma série de fatores tais como: características evolutivas próprias das lesões elétricas, topografia das lesões elétricas, extensão e localização das queimaduras associadas. A necrobiose das lesões por eletricidade apresenta caráter progressivo, sendo difícil o reconhecimento precoce da quantidade de tecidos cuja vitalidade foi ou será comprometida de modo irreversível. Geralmente um segundo e algumas vezes um terceiro desbridamento serão necessários. A trombose após uma lesão elétrica priva as fibras musculares de seu suprimento sangüíneo, seguindo-se sua morte. Realmente, nem todas as queimaduras resultantes de acidente por eletricidade podem ser consideradas como verdadeiras queimaduras elétricas. Muitas dessas queimaduras comuns e o tratamento em nada se diferenciam daquele empregado nas queimaduras por outros agentes. Uma atitude habitual é esperar a resolução do edema em zonas próximas e a demarcação das queimaduras menos profundas, periféricas e da lesão principal, em torno de até 72 horas. Na avaliação das lesões, devem-se valorizar os pontos de entrada e saída, a localização da queimadura, a evidência de dano muscular e a situação vascular do membro. Devemos considerar as possíveis lesões nervosas em queimaduras localizadas sobre o antebraço e punho, a intensidade do edema proximal e a possível instalação de uma síndrome compartimental. Em lesões torácicas e abdominais é importante verificar a possibilidade de dano visceral.Por meio do relato da experiência da enfermeira especialistas as dúvidas que pairavam sobre a lesão na região sacra era devido a lesão elétrica provocada por defeitos na utilização e aplicação do bisturi elétrico ou por exposição excessiva do paciente submetido a uma cirurgia cardíaca em uma determinada posição no caso em questão a dorsal, onde na literatura evidencia que uma exposição acima de duas horas em uma mesma posição de contato pode provocar hipóxia tecidual e conseqüente necrose tecidual. Para o esclarecimento dessa dúvida faz-se necessário a biópsia da lesão na busca do diagnóstico da lesão elétrica. Conclusão: a eletrocirurgia é uma prática vivenciada rotineiramente no Centro Cirúrgico. Entretanto, apesar da redução de riscos com o avanço tecnológico, as queimaduras elétricas consistem em lesões que podem acometer o paciente no intra-operatório Devemos salientar que o enfermeiro do centro cirúrgico e do pós operatório devem unir forças com a educação permanente e a gerência de risco para enfatizar a construção dos processos de cuidar voltada para a prevenção e tratamento das lesões por eletrocirurgia. Onde o tempo de uso do bisturi elétrico é um fator relevante no cuidar, que deve ser utilizado em menor tempo possível e estabelecimento da quantidade de energia adequada, ou seja, tão baixo quanto possível para cada procedimento cirúrgico que é estabelecido pelo cirurgião em conjunto com o fabricante e confirmado verbalmente pelo enfermeiro antes da sua utilização. E somente com a biópsia do local lesionado pode ser identificada uma lesão por eletrocirurgia. Antes da utilização desta unidade entre um procedimento cirúrgico e outro os dispositivos de segurança devem ser inspecionados e testados no sentido de averiguar se os mesmos podem ser utilizados com segurança. Depois do procedimento anestésico e do posicionamento cirúrgico a conexão entre o paciente e a unidade de eletrocirurgia é estabelecida, colocando-se a placa dispersiva em uma área limpa, livre de pelos e seca. A prevenção de complicações inerentes ao procedimento anestésico e cirúrgico são importantes para o enfermeiro na implementação de seus cuidados.

 

 

 

  1. PIERSON, M.A. Segurança do paciente e do ambiente. In: MEEKER, M.H.; ROTHROCK, J.C. Alexander: cuidados de enfermagem ao paciente cirúrgico. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.

  2. RISNER, P.B. Diagnosis: anlysis and synthesis of data. In: CHRISTENSEN, P.J.KENNEY, J.W. Nursing process: conceptual models. 4.ed. St. Louis: Mosby, 1990.

  3. STOCHERO, O. Enfermagem em centro cirúrgico ambulatorial. In: LAGEMANN, R.C. Rotinas de enfermagem em cirurgia ambulatorial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.