"É evidente que também o darwinismo teve e tem mau uso. A idéia de raça superior, é portanto detentora de supremacia sobre outras, levou (e leva) ao cometimento de muitas barbáries, que atestam o quanto os ditos superiores são inferiores" (CHASSOT, 2004, p. 200).

Partimos do conceito de identidade nacional brasileira, no final do século XIX, e o que representou durante o inicio do século XX. A necessidade de um Brasil ser visto com outros olhos pela sociedade internacional, levou a se buscar um conceito de origem de sua população, ainda que, mesmo sendo um país totalmente miscigenado, a população branca não aceitava essa realidade.
Os vários viajantes que aqui estiveram de passagem descreveram um Brasil totalmente mestiço, e ainda, relataram que o desenvolvimento não se deu por causa dessa miscigenação, onde classificavam a raça brasileira como inferior e fraca perante a raça branca 'predominante' no mundo; visto pelos europeus.
Alguns dos viajantes como Louis Agassiz, relatam como via o povo brasileiro, definindo com relação a outros países, uma inferioridade causada pela "má" formação da origem do povo que se formou dentro do Brasil.
Assim destaca Schwarcz:

[...] Não poderá negar a deteriorizaçao decorrente da amálgama das raças mais aqui do que em qualquer outro país do mundo, e que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio deixando um tipo indefinido, hibrido, deficiente em energia física e mental (AGASSIZ apud SCHWARCZ, 1993, p. 13).

Esses comentários que foram feitos pelos viajantes, fizeram o Brasil rever sua condição de povo em busca de formar a sua nação. Como a economia era baseada na mão-de-obra escrava, e a partir de 1850 a proibição do trafego negreiro, foi o elemento funcional para uma nova concepção de trabalho, mudando as condições e elevando o custo da mão-de-obra escrava dentro do Brasil.
No contexto de desmantelamento do sistema escravista, podemos definir a lei do ventre livre, 1871, como elemento inicial da desestabilidade social, pois se efetivava ai, a "desordem" que causaria na sociedade, visto que, essa não estava preparada para absorver o aumento populacional que se manifestava. Assim a "crise do escravismo" entra como artifício principal para a miscigenação, pois a partir de 1870, com o Romantismo, onde buscava essa origem, construindo um índio descaracterizado e miscigenado com o branco, colocando o negro fora dessa concepção social e construção romântica.
Sendo assim, pensado que a partir de1870, as coisas mudaram, Schwarcz destaca que:

[...], a década de 70 é entendida como um marco para a história das idéias no Brasil, uma vez que representa o momento de entrada de todo um novo ideário positivo-evolucionista em que os modelos raciais de analise cumprem um papel fundamental (SCHWARCZ, 1993, p. 14).

As novas idéias e teorias a respeito da mestiçagem e do negro em si se faz, através do ensino e compreensão das teorias usadas, como representante e esclarecedora das bases étnicas, para classificar e definir os padrões raciais da população.
Os teóricos que vão formar essa concepção de mestiço, a partir de um determinismo biológico, e que darão ao Brasil a formação de sua identidade nacional, são: Silvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha. Esses formularão as respectivas bases teóricas baseadas no biológico com o ponto forte do hibridismo brasileiro no final do século XIX, onde em 1888, com a abolição da escravatura, formulou-se um padrão de "classes perigosas", visto que, o crescente marginalizou e afetou a população negra, definindo assim, a sua inferioridade através de suas ações dentro do quadro social.
Os estudos foram feitos pelos teóricos citados acima, onde formularam um discurso, que produziram as teorias reacionárias contra os negros, perfazendo assim, o surgimento das Ciências Sociais no Brasil. Deste estudo, surgem três teorias que serviram de base para a sociedade brasileira, sendo elas: o Positivismo de Comte, o Darwinismo Social e o Evolucionismo de Spencer, elaboradas na Europa em meados do século XIX.
Segundo Ortiz:

Neste sentido, Silvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha podem ser tomados como produtores de um discurso paradigmático do período em que escrevem; têm ainda a vantagem de podermos considerá-lo como discurso cientifico, o que de uma certa forma esclarece as origens das Ciências Sociais brasileiras (ORTIZ, 1982, p. 14).

O evolucionismo tem por base, distinguir os povos ditos primitivos ou simples para um desenvolvimento evolutivo, onde passa a ser um povo mais complexo, ou seja, de uma sociedade simples evolui de acordo com sua necessidade, transformando-se em uma sociedade complexa.
"[...]; o estágio civilizatório do país se encontrava assim de imediato definido como 'inferior' em relação à etapa alcançada pelos países europeus". (Ortiz, 1982). Essa é a visão que se tinha do Brasil na Europa, onde se falava do atraso brasileiro dentro do processo de progresso, bastava então, aos teóricos brasileiros descobrir o que representava dentro do Brasil tal atraso, onde encontrar elementos para construir a nação brasileira? Construir o caráter nacional, esse é o desafio.
O mestiço é o ponto chave, mas como defini-lo? Silvio Romero em seus escritos relata dois conceitos básicos de estudo, o meio e raça, onde cada um tem sua importância dentro da concepção de mestiçagem, onde a determinada região provoca os "modos de viveres", isto é, cada região tem a sua característica própria e forma um individuo elaborado em suas necessidades básicas e climáticas.
As combinações de pensamento de Euclides da Cunha e Nina Rodrigues, onde enfatizam como elemento determinante do atraso brasileiro, a mestiçagem e o meio onde os mesmos vivem; sendo o clima (o meio) e a raça (cor) onde determinava um discurso direcionado.
As forças estranhas que Silvio Romero considera, são os fatores internos que constituem a realidade brasileira com as influências européia; também o meio e a raça, constituem fatores importantes nessa construção de identidade, expondo assim o nacional e o popular como funcional, ou seja, Romero define que vai ser construído dentro de uma fronteira geográfica brasileira, o entendimento de povo, somente com os resquícios das influências européia.
A mestiçagem já há tempos vinha sendo olhada com uma abordagem diferenciada, onde autores como Couto de Magalhães que estudaram a mestiçagem na década de 70, com a visão do romantismo entre o índio e o branco excluindo por total o negro, mas a partir de 1888, sua inserção no meio social brasileiro torna-se fundamental para compor as origens do mestiço.
"o negro é aliado ao branco que prosperou" (Ortiz, 1982). O negro no contexto de formação de nação, não é comentado nos romances da época, mas nem faz parte dessa realidade e é classificado como segunda classe. Os olhares se dão ao negro como "produtor" de cultura aliado ao branco no contexto que o branco prosperou, sendo assim, um dos elementos que formará a raça brasileira.
Manoel Bonfim destaca em sua obra, certa dificuldade de progresso na América Latina devido à mestiçagem. Usa em seus estudos os elementos biológicos para legitimar seu trabalho, e favorece a busca de uma epistemologia partindo dos estudos biológicos das populações latino-americanas.
Dentro do Brasil, foi muito engendrado o fator biológico como principal elemento que constituir o mestiço, formando assim uma população de origem fraca, pois fazia o biológico legitimar o conceito de que o negro era inferior ao branco, forjando assim o Determinismo Biológico.
Ainda com essa relação à formação de uma Nação, uma das medias tomadas pela política nacional, visto que, a República estava ainda sendo implantada e defrontando-se com as necessidades econômico-sociais – onde a mão-de-obra especializada e assalariada dos imigrantes, também formou um elemento de organização social, pois a partir de uma política de branqueamento; esses imigrantes apresentaram-se em papel duplo na organização de trabalho e sociedade.

Liberalismo e racismo, aparentemente contraditórios

O contexto histórico do Brasil no período em que as idéias liberais e o darwinismo social de Spencer e Haechel, começam a fazer parte do pensamento dos intelectuais brasileiros no final do século XIX e início do século XX, podemos dizer que é um período de profundas mudanças tanto na economia quanto na social e política.
A conjuntura econômica do Brasil era baseada na mão-de-obra escrava e posteriormente uma mão-de-obra assalariada fornecida pelos imigrantes brancos vindos da Europa. As teorias liberal e evolucionista conseguiram manter-se dentro de uma mesma estrutura, pois tinha algo em comum: a primeira, estava em um patamar econômico crescente, onde no final do século XIX possuía já um pólo industrial no Estado de São Paulo, e se transformava em um estado potencialmente industrial com uma produção cafeeira de ponta tornando-se o maior produtor de café do mundo. Sendo, nesse período de 1870, que começa a acontecer uma mudança do eixo econômico, político e social no Brasil; passando da região nordeste para a região sudeste, fortalecendo assim a produção de cafeeira brasileira.
Em segundo lugar, o evolucionismo se apresentava desde a necessidade de se obter uma identidade nacional, onde através das teorias evolucionistas, pode se formular o determinismo biológico, que excluiu e elevou o mestiço a origem biológica de raça inferiorizada, que não permitiu o progresso brasileiro, pois tem em sua origem uma deficiência biológica no cruzamento de brancos, índios e negros.
Os textos até agora estudados, nos remete a algumas determinações como o pensamento que permeava tanto os viajantes que por aqui passaram, quanto os nossos intelectuais. Era um pensamento que nos levava a idéia de imperialismo e uma visão ocidental em relação ao Brasil.
É relevante elencar, como num Estado poderia existir um modelo liberal na sua atuação política, se existia um paradoxo racial e liberal. Trocando para palavras de cunho popular; como pode um país que tem um perfil racista ser liberal na sua doutrina política? Podemos num primeiro momento, entender que este liberalismo só estava direcionado para uma política econômica e nas idéias dos intelectuais brasileiros. Enquanto que os que sofriam com a questão racial, não tinham nem acesso à escrita, por exemplo; ou seja, uma população que estava na miséria e analfabeta, não teria muita perspectiva de vida social, política e nem econômica, pois o que restava a esses negros que saíam das senzalas, era uma exclusão racial formada através de um determinismo biológico.
Ficando explicito quando Schwarcz cita sobre as faculdades de direto de São Paulo e Recife:

[...], preocupadas com a elaboração de um código nacional, utilizavam, porem, interpretações diversas: enquanto em São Paulo majoritariamente adotavam-se modelos liberais de analise, no Recife predominava o social-darwinismo de Haeckel e Spencer (SCHWARCZ, 1993, p. 2

Marginalização, o futuro negro

A abolição traz com sigo um problema, onde colocar os negros livres? Essa dificuldade se traduz em marginalidade e exclusão social, pois deflagra um momento da real colocação da população negra dentro do Brasil. Isto é, quando do trafico negreiro, a colocação dos negros era evidente, pois dependia da mão-de-obra escrava a economia do Brasil, desta forma, cada negro tinha seu destino traçado quando saindo da África.
A pos a lei no ventre livre de 1871, já começou a se manifestar o que fazer essa população negra livre, mais adiante, a abolição só veio agravar mais ainda a situação social negra, pois ficaram a mercê do tempo, em um lugar completamente diferente – embora já estivessem acostumados com as relações sociais brasileiras – os negros ficaram sem um ponto de referencia, pois seu ponto no Brasil era a senzala.
Dentro da unanimidade científca, os padrões que se estabeleceram com os negros livres, colocaram o negro em um patamar de desvantagem referente ao branco dentro do quadro social brasileiro. Como a teoria evolucionista classificava-o como inferior na escala biológica, só restava ao negro à marginalização, onde o levou para dentro dos presídios brasileiros. Também classificados como segunda categoria de classe social.
Na verdade, a escravidão foi prolongada com outro nome, ou seja, o determinismo biológico, que manteve o controle sobre a dita "raça inferior". Ortiz (1982) relata a fala de Manuel Bonfim que manifesta a teoria ideológica para legitimar a exploração das nações subdesenvolvidas.
Segundo Ortiz:

[...]: vão os povos 'superiores' aos paises onde existem esses povos 'inferiores', organizaram-lhes a vida conforme as suas tradições – deles 'superiores' –, instituem-se em classes dirigentes e obrigam os inferiores a trabalhar para sustenta-los; e, se estes não o quiserem, então que os matem e eliminem de qualquer forma, a fim de ficar a terra para os superiores: [...] (ORTIZ, 1982, p. 26).

Assim, no Brasil do século XIX e XX, não teve muita diferenciação dessa citação, pois os métodos de apropriação de idéias e consequentemente exclusão racial, tornou o determinismo biológico um legitimo mecanismo de dominação, não mais na prática da chibata, mas na mentalidade de uma inferioridade racial, colocando o negro a margem do sistema que seria emprega na construção da identidade nacional brasileira.
Nina Rodrigues em seu estudo no final do século XIX, utilizando teorias radiológicas, busca definir onde o negro se insere no contexto de sociedade. Sílvio Romero, embora não seja muito progressista, fez critica ao romantismo por não inserir o negro em seu contexto, visto que, o mestiço era uma realidade a frente dos olhos desses autores.
"somente com o movimento abolicionista e as transformações profundas por que passa a sociedade é que o negro é integrado às preocupações nacionais". (ORTIZ, 1982, p. 38). Dentro dessa perspectiva, o mesticismo brasileiro é o produto das três raças: a branca, a negra e a índia.
Com essa forma de ver o mestiço, surge também um tipo de mito racial, onde existiria uma fusão das três raças como origem dessa nova concepção de europeu tropicalizado, adaptado a essa nova realidade da América. Mas não podemos aceitar o mito como fator importante dentro da consciência de composição de Nação, pois os mitos não são datados, sevem como um apoio a questões complexas das mentalidades, já a realidade do mestiço brasileiro, tem um período de construção e toda uma epistemologia a seu favor.
Dentro de uma visão econômica, o mestiço representa a negação do capitalismo brasileiro, pois tem em sua origem as qualidades que desabonam sua existência, isto vai permanecer até a revolução de 30, quando a partir de Gilberto Freire, o mestiço vai ser nacionalizado e ainda vai ser expropriada sua cultura como o samba dentro dessa nova inserção de identidade nacional.
Então até a década de 30, o negro foi totalmente excluído, foi tratado com racismo explicito e marginalizado de forma contundente, causando, mesmo que não aceito anteriormente, uma ambigüidade de uma construção identidaria que não contemplava a sua presença no contexto de origem nacional. Assim posteriormente a abolição, para o negro "teve" em certo momento, um aclive dentro dessa concepção de inseri-lo como parte construtiva da identidade tão almejada pelos teóricos do século XIX.
O mestiço ganha um momento de estudo mais apropriado, mas as políticas sociais não favoreceram a um crescimento da mestiçagem, pelo contrário, buscaram políticas de branqueamento que favorecia a imagem do Brasil internacional como um país progressista, partindo de sua gente, seu povo, sua Nação.

O QI influi na cor da pele

Na visão de biólogos como Rodolfo Salm, em seu artigo Ideologias racistas de 2006, enfatiza que o conceito de raça não existe, na verdade o termo raça só é usado quando nos direcionamos aos animais domésticos, ou seja, animais que foram modificados geneticamente para determinados propósitos como a caça, o abate, a corrida, a guarda, etc.
Quando falamos de seres humanos o termo raça não possui nenhum sentido biológico, até porque, a questão da cor da pele e a quantidade de melanina em menor ou maior escala; não determina a condição social de indivíduos independentemente de sua cor, isto é, na visão de Rodolfo Salm, pois na prática, percebemos uma realidade completamente racista e com uma situação de exclusão direta da "raça" negra.
Este conceito de raça vem desde a Idade Antiga como se refere Jairo de Carvalho em seu artigo Sobre raças humanas, mas é a partir do século XIX que este conceito pejorativo toma corpo, a fim de justificar a expansão imperialista ocidental. Tinham como objetivo, avançar dentro do continente africano, e para isso, utilizaram do termo raça no sentido de dizer: que o negro era inferior ao branco. Postando assim a diferença entre culturas, ou seja, definiam os europeus que a cultura africana era atrasada em relação à cultura européia, isto é, formaram um determinismo biológico, dentro de uma composição do darwinismo social.
Durante boa parte do século XIX, a ciência fomentou esta idéia de racismo, onde os negros eram inferiores, estabelecendo comparações entre aparências físicas e aptidões. Na verdade o termo raça expressa mais uma condição social, política e cultural, onde a "raça" que realmente sofre todos os tipos de preconceitos é a "raça negra".
Na conclusão das ciências biológicas e genéticas destacam que:

As suas conclusões são de que nem a genética e nem bioquímica fornece qualquer subsidio para justificar a existência do conceito 'raças humanas'. Pelo que contrário, afirmou-se em seu lugar, que a espécie humana é essencialmente uma só, o que municiou a ciência para atestar com absoluta segurança que as bases conceituais das afirmações anteriores não têm qualquer valor (CARVALHO, 2006, p. 1).

Temos que ter o cuidado de não cair no discurso iluminista de que "somos todos iguais", que não tem diferença entre negros e brancos. Mas essas diferenças existem e estão presentes. Quando em pesquisas realizadas por órgãos como a ONU, IBGE, PNUD, etc., se manifestam e colocam-se bem visíveis para a sociedade.
O conceito de raça não está mais em evidência, à ciência demonstrou que somente existe uma 'raça' humana, mas as concepções políticas, sociais e culturais, defrontam-se com o racismo direto aos negros; podemos classificar como um determinismo existente tanto biológico como genético.
No artigo publicado pelas Organizações das Nações Unidas, com o titulo Onu diz que o racismo está enraizado no Brasil; com data de 2006, enfatiza as questões pertinentes ao Brasil do século XXI, onde o determinismo biológico ainda é usado para classificar as questões do negro e sua situação, permanecendo assim enraizado na sociedade brasileira e se manifestando no poder do Estado, mais especificamente no poder judiciário.
A concentração do poder ainda favorecendo o branco e estando esse engajado a não manifestar o real apoio que a lei da para uma igualdade; tendo no legado da escravidão ainda uma amostra na realidade do século XXI, com um racismo manipulado para o poder permanecer com o branco, onde destaca no final do século XIX o preconceito racial se destacou com o determinismo biológico, sendo esse um tipo de biótipo negro não capacitado, não estando nos cargos e níveis sociais mais complexos. Na verdade a política de igualdade dos governos brasileiros não teve grandes repercussões, pois não favorece a grande massa de negros no Brasil.
O local que foi colocado o negro no final dos séculos XIX e inicio do XX, forjou uma marginalidade por falta de políticas adequadas à questão escravo livre, ainda hoje tem a repercussão, pois em pleno século XXI, ainda existe uma parcela que vive abaixo da linha da pobreza, onde em um paralelo, dos determinismos, tanto o biológico quanto o genético, se fazem presente nesse inicio do século XXI.

Como se refere o relator da ONU Doudu Diène: "Viajar pelo Brasil é como mover-se entre dois planetas: um das ruas com cores vivas e raças misturadas e outro dos corredores brancos dos poderes políticos, sociais, econômicos e da mídia" (DIÈNE, 2006, p. 1).

Athayde Motta em seu artigo Essencialmente genético: por que a genética do século 21 soa como a biologia do século 19? Publicado em 2008; destaca uma relação de determinismo tanto o que foi aplicado no final do século XIX, quanto o que vem sendo usado no século XXI, onde a partir da rede de TV BBC de Londres, manifesta e afirma que os "negros brasileiros são irrefutavelmente mestiços, quer queiram ou não" (MOTTA, 2008, p. 1); como percebemos ainda a opinião publica internacional, vê o Brasil como um povo mestiço, usando o mesmo mecanismo que foi empregado no século XIX e XX, o determinismo biológico.
Essas idéias uniracial, onde o determinismo genético está de certa forma, padronizando novamente o que o biológico produziu, isto é, está enfatizando uma porcentagem de gens a uma identidade totalmente destruída, e que em meados do século XX, mais preciso na década de 30, foi reconstruído com a inserção do negro como povo brasileiro, mas dogmatizada com "raça inferior"; mostra que a escravidão ainda não terminou, mas tem sua continuidade com mecanismos de controles diferentes dentro da sociedade, sendo eles o determinismo genético e biológico.
Fazendo uma analise da entrevista do Sr. James Watson, ganhador do prêmio Nobel de medicina em 1962, por um de seus descobrimentos da estrutura do DNA em 1953. É bastante claro que a afirmação do Sr. Watson esta baseada num pensamento que nos remete ao século XIX. Uma doutrina eurocêntrica e imperialista, ou seja, fica explícito um real determinismo biológico inferiorizando os negros africanos e relacionado-os hoje, com um determinismo genético.
Um dos poucos a defender Watson, é o cientista político Charles Murray, que tem a mesma linha de pensamento que Watson, em relação aos testes aplicados, inclusive, escrevendo um livro polêmico em 1994, onde apontava uma diferença de QI entre raças, onde brancos se saiam melhor que os negros nos testes.
Realmente o que fica exposto tanto do pensamento de James Watson quanto de Charles Murray, é que não são citadas as condições sociais e culturais em que vivem os negros e brancos pesquisados. O que é levado em conta é pura e simplesmente a cor da pele, onde os negros são inferiorizados pelos testes de QI, sem nenhuma dúvida esta é uma posição racista de dois renomados cientistas, que nos remete ao que já foi apresentada anteriormente, a postura dos cientistas é puramente expansionista e imperialista.
O que tem que ficar claro quanto aos testes realizados, é que os cientistas afirmam que os números são baixos, mas temos que levar em consideração é, que são testes de cunho capitalista, onde pode mascarar a realidade e necessidade que essas pessoas realmente se encontram, ou seja, estão fazendo comparações de realidades diferentes. De um lado, o imperialismo capitalista. Do outro, africanos com sua, política, economia e culturas diferentes.
Valdo Barcelos em seu artigo publicado em 2007, desta que o preconceito existe e ainda esta muito presente, e se manifesta de onde menos se espera, pois está tão engendrado na concepção do homem branco que até os melhores pesquisadores falam sem se dar por conta como o Sr. James Watson se referiu em sua entrevista quando afirmou que: "negros africanos são menos inteligentes que os brancos" (BARCELOS, 2007, p. 1), essa manifestação deixa claro o que realmente significou a escravidão e o que foi construído no decorrer do tempo sobre o racismo.
Essas coisas que a história nos leva a ver, examinar, construir e desconstruir, relacionar e tentar entender como um processo os processos tem suas rupturas e continuidade, assim é o caso dos negros no Brasil. Foi construído um conceito que desmembra toda e qual quer possibilidade de uma inclusão social.
Todas as tentativas esbarram nos "determinismos", esses que se encarregam de classificar e redigir o que os negros devem fazer ou não, como o conceito de raça usado somente para espoliação do negro, buscando na sua totalidade exclusiva, a legitimação para se apropriar da propriedade individual, ou seja, o negro.
O preconceito e a autodenominação do poder, enfoca ainda a problemática que no final do século XIX esteve presente no conceito de inferioridade e fazer manter-se o negro em seu lugar, a "senzala".
Os critérios que foram impostos para classificar e formar a identidade nacional, usando argumentos baseados nas ultrapassadas teorias, favorecem ainda hoje para manter o negro afastado da elite branca como sociedade.
Diva Moreira, em entrevista, destaca a saída para uma desconstrução racial, somente através de uma educação de qualidade, onde todas as classes pobres, tanto o negro como o branco pobre, possam efetivamente sair de sua condição e emergir em direção de uma cidadania e igualdade social.
Os "determinismos" existem e estão ai para serem percebidos, tanto o biológico aplicado no final no século XIX, quanto o genético, aplicado no século XXI, tanto um quanto o outro, são exclusivos de classificação e dominação das ditas "raças" inferiores, visto que, o homem branco tem um dever de carregar o "Fardo" que lhe é destinado, para justificar sua descriminação, espoliação, controle, exclusão e domínio.

Bibliografia

BARCELOS, Valdo. Preconceito em alto nível. Publicado na Zero Hora de 20 de outubro 2007.
CHASSOT, Attico. A ciência través dos tempos. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.
CARVALHO, Jairo de. Sobre raças humanas. Artigo publicado no site em julho de 2007: www.diariomaringa.com.br
CARNEIRO, Sueli. Velhas teses, novas estratégias. Entrevista ao jornal Correio Braziliense – coluna Opinião – junho de 2007.
DIÈNE, Doudo. ONU diz que o racismo está enraizado no Brasil. Artigo publicado em março de 2006.
MOREIRA, Diva. Brasil da média só existe na estatística. Entrevista, 2005. no site: www.pnud.org.br
MOTTA, Athayde. Essencialmente genético: por que a genética do século 21 soa como a biologia do século 19? Artigo publicado em junho de 2008.
MURRAY, Charles. Watson estava certo, diz autor de livro polêmico. Entrevista concedida a Folha de São Paulo, novembro de 2007.
ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade. São Paulo: Brasiliense, 1982.
SCHWARCZ, Lilia Monitz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Cia das Letras, 1993. p. 11.
SALM, Rodolfo. Ideologias raciais. Artigo publicado em julho de 2006.