Capítulo 1

No ano em que sai do Exército pensei que nunca mais iria tornar a viver a experiência de fazer parte das fileiras militares novamente. Mas, a vida e as circunstâncias vigentes no país nos dias atuais me levaram de volta. Estamos no ano de 2015, a copa do mundo acabou. Depois do fiasco de ver a seleção brasileira perder para os espanhóis os cidadãos brasileiros voltaram a sua rotina de vida normal. Isto é, se não fosse por uma coisa, a eminente ditadura militar que estava por chegar. Muitos historiadores dizem que a história é cíclica, bom, se ela é eu não sei, mas a sociedade muitas vezes se encontra em uma cova que ela mesma cavou.

Com advento da Copa do mundo e os eventos que estavam acontecendo no país no período que antecedeu a mesma, o Governo federal e as forças policiais tomaram medidas drásticas. Cidadãos saíram às ruas protestando pelo dinheiro que havia sido gasto para realização do evento com bastante hostilidade. Como toda ação tem uma reação o governo e as forças policiais responderam com fogo. Muitas mortes e pessoas feridas, mais gastos desnecessários e os hospitais e escolas continuavam em estado de calamidade. No pós- copa do mundo, muitos escândalos políticos envolvendo a o governo Federal e FIFA levaram ao declínio total o governo que acabara de ser reeleito. Coisas ocultas vieram à tona e o governo foi desmascarado. Todo esquema de privatização que fora especulado pela atual presidente a cerca de Eletrobrás, Infraero entre outras empresas mistas e estatais tratava-se nada mais do que um conspiração contra as forças armadas, sobretudo contra a Força área. Descoberta as facetas do governo os militares mobilizaram-se. Rapidamente o comando da Aeronáutica pediu auxilio a Marinha e ao Exército e então estava armado cerco. Nos meados de 2015 o poder do país estava nas mãos dos militares novamente. Brasília havia se tornado um enorme QG onde havia três poderes, três forças agindo em perfeita harmonia, e “mantendo a ordem e o progresso.” Bom, pelo menos ao ver deles.

 

Capítulo 2

Mas minha história não começa em 2015. Voltemos um pouco para eu começar a contar como tudo aconteceu. Em 2004 estava no Exército, era apenas um garoto cheio de anseios e esperanças de me tornar um militar engajado nas forças armadas, pelo menos por 8 anos, até poder pagar minha faculdade e me tornar um oficial. Mas esse sonho acabou indo por água abaixo. A unidade na qual estava servindo acabou sendo transferida para outro Estado e os militares que não eram de carreira foram dispensados do serviço à pátria. Sonho terminado, então tive que encarar o mercado de trabalho, o que não foi fácil no começo, em um país como o Brasil com ensino médio somente é muito difícil de conseguir um bom emprego. Acabei rodando por alguns empregos não muito bons, me estressava, discutia, brigava com meus superiores, enfim, era difícil me manter em um emprego estável. Até que consegui um lugar menos estressante, e lá consegui me estabilizar por um tempo. Conheci minha esposa naquela época. Durante esse período consegui pagar a minha faculdade. Acabei me formando em administração de empresas e fui trabalhar como bancário no ano de 2011, o ano em que me casei com a minha então noiva, Jéssica. Lá comecei como estagiário, fui a técnico bancário ainda no mesmo ano e em 2013, quando havia me formado, acabei me tornando um dos gerentes daquele banco através de um processo seletivo interno.

Minha esposa trabalha na área de psicologia, sobretudo com crianças. Ela é uma psicóloga comportamentalista, ou seja, busca através do comportamento das pessoas encontrar soluções para seus distúrbios psicossomáticos. Ainda no ano de 2013 fizemos uma viajem a Lisboa e lá encontrei uma velha amiga, Nathália, bom na verdade, uma antiga namorada na qual tive um relacionamento mal resolvido. Não foi muito bom tê-la encontrado por lá, pois isso mexeu muito comigo e embora ela e eu estivéssemos ambos casados, acabamos por ter um flashback e isso não fui muito bom para os meus sentimentos, minha mente e sentimentos acabaram ficando um pouco embaralhados, mas consegui superar tudo isso como uma pessoa adulta e madura e retomei a minha vida com minha esposa. Depois de toda essa estória continuei vivendo a minha vida quase perfeita de homem de família e gerente bancário. Até que em janeiro de 2014 recebi uma carta de convocação para o Exército brasileiro. Segundo o tal telegrama enviado pelo comando militar do leste, órgão responsável pelo comando geral do Exército no Estado do Rio de Janeiro, tratava-se de um recrutamento de militares que estavam na reserva desde 2004 por período temporário a fim de aumentar o efetivo das forças armadas para o evento copa do mundo.

Tive que me apresentar a CS (Companhia de serviços), no 31º GAC, na vila militar, no rio de Janeiro. Lá encontrei alguns amigos que não via há muito tempo, o que foi bacana. E logo até encontrei alguns sargentos e oficiais da época em que servi. Pessoas que passam por nossa vida e agente não esquece. Foi bacana encontrar por lá um grande amigo, que na minha época de recruta pegava um pouco no meu pé o Sargento Emanuel, agora Tenente Emanuel. Ele era um Sargento Juruna, ou seja, são aqueles militares que não eram de carreira, mas foram beneficiados por uma lei que durou até 1992, onde os militares que por alistamento completasse 10 anos de serviço as forças armadas eram estabilizados podendo chegar até o posto de 3º Sargento e de fato foi o que aconteceu com Emanuel. Mas Emanuel havia me dito naquele dia que não queria se aposentar tão cedo, ele amava o que fazia então ele resolveu estudar. Formou-se em direito e fez a prova para o concurso ESFCEX, uma academia do Exército que se situa em Recife, Pernambuco, destinada ao treinamento de oficiais com formação profissional em diversas áreas para atuar no estado maior do Exército brasileiro. Foi então que o 3º Sargento Emanuel se tornou 2º Tenente Emanuel e depois 1º Tenente Emanuel.                          

 

Capítulo 3

 - Ora, ora, se não é o velho soldado 49! Exclamou o então Tenente Emanuel quando viu minha documentação.  – Você cresceu garoto, é eu tô ficando velho mesmo... Disse ele. – É bom te rever também, Sargento..., opa peraí, Tenente, que legal, como conseguiu? Perguntei. – É um dos benefícios de se ter um curso superior quando se esta nas forças armadas durante muito tempo. Resolvi adiar a minha aposentadoria e me preparei para ESFCEX, não foi difícil entrar, a cota para militares me ajudou e muito, agora sou advogado do Exército caro jovem. Emanuel sempre teve essa mania de chamar os recrutas de jovens, quando ele me disse isso me lembrei dele nos dando conselhos quando ainda éramos apenas jovens recrutas da bateria de comando autopropulsado do instinto quartel 1º GAC, o Grupamento de artilharia de campanha. Ele sempre nos dizia; “‘Jovens isso aqui não é pra vida toda, lembrem-se, que vocês não são militares de carreira, procurem alguma coisa pra fazer, estudem!”Bom, deu pra ver que ele levou a sério o próprio conselho que nos dava.

 - De acordo com seu certificado de reservista, você tem curso de cabo, nesse caso, se resolver incorporar novamente, pode se tornar um 3º Sargento temporário do Exército por um período de 8 anos o que acha Pedro? Perguntou o Emanuel tentando me encorajar a aceitar a proposta que o Exército estava me fazendo. Então lhe respondi; - Não sei Emanuel, posso te chamar assim, Tenente? Perguntei a ele. – Claro você está na condição de civil. Respondeu ele. Eu tenho um bom emprego e talvez esse salário de Sargento não seja tão agradável para mim no momento. Hoje sou gerente bancário, estou ganhando um bom salário, tenho uma vida estável e talvez isso poderia desestruturar minha vida financeira por um tempo, sabe, o piso salarial de um Sargento não se compara a o meu piso salarial atualmente. Com todo respeito, tenho uma boa vida e tenho um nível de vida que se eu mudá-lo hoje minha mulher me mata o senhor me entende?!Disse a ele.  – Entendo sim Pedro. Quer dizer que você é gerente bancário então. Trabalha para qual instituição, Caixa econômica, Banco do Brasil ou esta no setor privado? Perguntou ele, como se estive interessado em saber um pouco mais sobre mim, afinal, não nos víamos há 9 anos. E então eu respondi a sua pergunta; - Não, ainda trabalho para uma instituição privada, mas estou me preparando para os concursos, pretendo me tornar gerente da Caixa econômica muito em breve. Disse a ele mostrando empolgação. De repente o celular do Tenente Emanuel tocou e ele atendeu. – Como Vai Major, o senhor está aqui na CS, onde? Em sua sala? Quer falar alguma coisa, o senhor precisa de algo? A propósito Major, aproveitando o ensejo, tem aqui ao meu lado uma pessoa que talvez interesse muito ao senhor. Sim, o senhor o conhece, já foi um de seus soldados. Quem seria, com quem o Tenente Emanuel estava falando. Não sabia o que estava me esperando, mas o destino me levara para um lugar onde iria receber uma proposta tentadora. Mal sabia onde estava pisando, mais a frente iria descobrir que tudo fazia parte de um esquema bem grande, um esquema no qual eu iria fazer parte.

Continua...

O desertor – 1ª Parte – Por Tom Oliver