O Desenvolvimento da Educação no Curso de Turismo no Brasil: interfaces entre o ensino e o mercado de trabalho.

Solange Pilar do Carmo
Leandro Benedini Brusadin


Resumo

A procura por mão de obra qualificada no mercado de trabalho fez surgir a necessidade de aperfeiçoamento dos níveis educacionais superior no Brasil como forma de suprir a insuficiência de qualificação. O aumento da demanda turística no país acarretou em uma necessidade de se aperfeiçoar profissionais para atuarem de maneira eficaz nos setores que englobam a estrutura turística das localidades. A mão de obra ofertada pelos cursos universitários em turismo começou a partir de interesses privados com intuito de preparar as pessoas para este mercado, muita embora já existia uma corrente que situava o curso de turismo em prerrogativa humanística e social. Partindo deste pressuposto, é importante analisar o desenvolvimento do curso de turismo no Brasil em uma perspectiva que retrata as suas problemáticas e possibilidades.

Palavras-chave: Educação; Turismo; Mercado de Trabalho.


Abstract


The search for hand of qualified workmanship in the work market made to appear the necessity of perfectioning of the educational levels superior in Brazil as form to supply the insufficience of qualification. The increase of the tourist demand in the country caused a necessity of if perfecting professionals to act in efficient way in the sectors that englobam the tourist structure of the localities. The hand of workmanship offered for the university courses in tourism started from private interests with intention to prepare the people for this market, much even so already existed a chain that pointed out the course of tourism in humanistic and social prerogative. Leaving of this estimated, it is important to analyze the development of the course of tourism in Brazil in a perspective that portraies its problematic ones and possibilities.

Key - words: Education; Tourism; Market of Work.


1- Introdução

O presente artigo surgiu da discussão dos textos e suas conseqüentes reflexões apresentados na disciplina Tópicos Especiais em Turismo: Educação no Turismo, ministrada pelo Professor Ms. Leandro B. Brusadin, no Curso de Turismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O debate das ideias nos permite identificar o desenvolvimento do Curso de Turismo no Brasil e suas possibilidades e desafios no cenário contemporâneo. Tem-se a concepção que este tema não é uma área de aprofundamento teórico do turismólogo, já que são raras as grades curriculares que contemplam a discussão da educação e formação deste profissional.
A fim de introduzir a discussão, optamos por traçar um breve quadro da Educação no Brasil e, em seguida, direcionar as diretrizes para o Curso de Turismo enquanto ensino superior e o seu desenvolvimento.

2- A Educação no Brasil: um breve histórico

A educação no Brasil passou por várias modificações estruturais que foram sendo implantadas nas escolas e nas universidades à medida que a sociedade viu a necessidade de educar seus filhos a fim de atuarem no mercado de trabalho como mão de obra qualificada. A evolução do ensino no Brasil possui um caráter histórico marcado com a vinda da Família Real Portuguesa para a até então colônia. A educação passou por várias transformações políticas, sociais e econômicas desde então:
(...) O ensino jesuítico oferecido na colônia, em geral abrangia os cursos de Letras e Artes. Era um ensino médio de tipo clássico, chegando a ser, em alguns momentos estabelecimentos, como no Colégio Central da Bahia e no Rio de Janeiro, um curso intermediário entre os estudos de humanidade e os cursos superiores (Fávero, 2000, p 17).
O ensino superior no Brasil surgiu em meio a grandes especulações do governo de reformulação da educação que começou investir em tal coisa com interesses voltados ao nacionalismo depois que ocorreu uma emancipação política do país:
Assim no ano da transmigração da Família Real Portuguesa para o Brasil é criado, por decreto de 18 de fevereiro de 1808, o Curso Médico de Cirurgia na Bahia, e em 5 de novembro do mesmo ano é instituída no Hospital Militar do Rio de Janeiro, uma Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica. Outros atos são sancionados e contribuem para o estabelecimento, no Rio de janeiro e na Bahia, de dois centros médico-cirúrgicos, matrizes das atuais Faculdades de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal da Bahia (UFBA) (Fávero, 2000. p19, Villanova,1948, p 8).
As transformações ocorridas fizeram surgir à necessidade de aperfeiçoamento das escolas para a nobreza que veio para o Brasil manter um nível de ensino igual ou senão melhor que o oferecido na Europa, por isso as escolas, principalmente as universidades terem sido baseadas nos modelos de ensino europeus. Para se ter uma melhor base educacional tanto no ensino fundamental como no universitário é preciso articular metodologias que enfoquem uma preparação de qualidade dos docentes dos dois setores educacionais.
No Brasil, neste período, não havia preocupação com o ensino, sendo este era privilégio apenas da elite recém chegada que detinha o acesso ao conhecimento da educação. Somente a partir da década de 1920, com o surgimento da 1ª Guerra Mundial, surgiu uma modernização na sociedade mundial. Essa modernização poderia garantir uma melhoria nas relações diplomáticas do recém formado país:
É nesse período, ainda, que se constituem, no Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Ciências, em 1922, cujas origens datam de 1916, quando é fundada a Sociedade Brasileira de Ciências, e a Associação Brasileira de Educação, instituída em 1924. Essas duas entidades iniciam um movimento por modernização do sistema educacional brasileiro em todos os níveis, incluindo o universitário (Fávero, 2000, p 27 Apud Schwartzman, 1979, p 163).
Os educadores dessa época no Brasil começaram a pensar em uma reforma do ensino brasileiro sendo criado mais tarde, por meio de um decreto, uma secretaria ligada ao ensino com denominação de Ministério de Educação e Saúde Pública. Esse órgão foi criado a partir de um debate sobre os rumos da educação no Brasil pela Associação Brasileira de Educação - ABE (Barreto, Tamanini, Peixer, 2004).
As primeiras universidades que surgiram no Brasil se baseavam nos modelos europeus, tinham como objetivo dar suporte a educação dos principalmente dos filhos de membros da corte portuguesa. Esses modelos educacionais de universidade que surgiram no Brasil, possuíam caráter completamente diferente dos europeus, pois tinham como objetivo preparar mão-de-obra especializada para trabalhar no mercado da então colônia:
(...) a universidade é um órgão social recente, só instalado oficialmente quando sua presença se fez necessária (...) Só com a instalação da sede do poder colonizador no território da própria colônia, (...) vieram a ser fundadas as primeiras escolas superiores. Estas foram, como é sabido, as de Direito, em Recife e São Paulo, e as de Medicina, na Bahia e no Rio de Janeiro. Compreende-se que assim ocorresse, pois eram estas as oficinas que deviam preparar os especialistas exigidos pela sociedade semiocolonial no grau em que se encontrava: advogados para defender os direitos dos senhores de terras, uns contra os outros, e médicos que tratassem da saúde dos membros da classe rica. (Barreto, Tamanini, Peixer, 2004 p.18. Apud Pinto 1994, p 17-18)
A educação só passou a ser uma preocupação no país após a emancipação política deste, que visava os interesses nacionais do país para cuidar da "evolução educacional" da população, principalmente da classe dominante, que detinha uma maior fonte de renda e podia pagar as melhores escolas para seus filhos.
A criação de um sistema educacional deveu-se às condições sociais e econômicas que se encontrava o Brasil durante o período militar nas quais foram criadas escolas de formação técnica e profissional específicas para atender à demanda de mercado de trabalho. O governo criou leis orgânicas para aproximação das escolas com o mundo do trabalho. Tal lei (Lei de Diretrizes e Bases - LDB) visava à estruturação do ensino técnico para atender as empresas que necessitavam de mão de obra qualificada para melhor atender os clientes das empresas contratantes (Barreto, Tamanini, Peixer, 2004).
Uma grade curricular de base forte pode influenciar nas escolhas dos alunos, fazendo com que estes se empenhem para se tornarem bons profissionais e atuarem de maneira a satisfazer o mercado externo oferecendo um aporte não somente teórico, mas prático do que foi aprendido dentro das salas de aula e uma boa forma de se fazer isso é buscar aprimorar suas habilidades através de estágios em diversas áreas que caibam em sua competência e possam contribuir para o seu currículo.
O ensino passou, a partir da elaboração desta diretriz, a ser disputado pelos setores públicos e privado, demonstrando assim que o ensino estava mais para uma disputa de poderes que para almejar uma melhor educação da população brasileira e isso não fornecia uma melhor especificação para a maioria da população que necessitava de educação.
De acordo com Barreto, Tarmanini, Peixer (2004) a educação surgiu no Brasil como meio de garantimento da manutenção de um sistema sócio-econômico, sem haver qualquer compromisso com a transformação e emancipação do ser humano em si. Para elas ainda a educação é fundada na concepção de uma formação de competências e só responde a interesses de mercado, forçando uma competição para os estudantes, afastando um aperfeiçoamento social.
Como a função educacional não tinha nenhuma preocupação em atingir todos os tipos de classe da população, sendo que esta era privilégio apenas da classe dominante tendo como objetivos fazer com que os filhos de tal classe ascendessem socialmente e profissionalmente atingindo o mercado de trabalho. Era pretensão dessa classe também o ingresso na vida pública, que estariam sendo oferecidas pelas escolas profissionalizantes o que deixava muitas pessoas de baixa renda sem participação, pois não tinham condições para manter seus filhos nas escolas.
Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), a capacidade de se adquirir competência deve ser transferida de maneira eficiente para o local de trabalho, apresentando assim, uma proposta em que a educação não com valor em si mesmo, mas como meio de determinação de sucesso de um setor da economia (Barreto, Tamanini, Peixer. 2004). Esse é o debate que nos interessa para o presente trabalho, já que parece ser a maior problemática de muitas áreas de formação, inclusive o turismo.
Uma boa educação profissional possibilita um maior e melhor desenvolvimento e rendimento em qualquer setor de trabalho principalmente quando os professores são treinados e capacitados de maneira eficiente. Segundo Matias (2005), a educação abrange conhecimentos e experiências adquiridas por um indivíduo durante toda a vida, nas relações sociais e de trabalho que estão relacionadas de forma implícita na formação profissional de cada um.
A partir daí fora estabelecidas leis para uma melhoria nas bases de educação brasileira. A Lei de Diretrizes estabeleceu algumas leis que enfatizavam os meios técnicos como uma das formas de mostrar claramente o interesse de grupos econômicos não apenas de brasileiros, mas também de nações estrangeiras. Por isso, os primeiros modelos de escolas eram parecidos com o das escolas estrangeiras.
Ao situar o papel da universidade, Barreto, Tamanini, Peixer (2004) afirmam que esta teria como função um a forma de qualificar e capacitar profissionais desde que não fosse apenas de caráter operacional, mas que houvesse um embasamento teórico e prático com uma maior complexidade a serem apresentadas nos diversos níveis de ensino.
As mudanças sociais ocorridas no ensino educacional superior deveriam concentrar as atenções e apostar em programas de pesquisas constantes. Essa pesquisa poderia mudar a visão de que as universidades estruturam seus cursos apenas para preparação no mercado de trabalho tornando críticos os discentes que estudam nas universidades de maneira que sejam capazes de atuarem em qualquer ramo de mercado.
As discussões por reformas nas instituições universitárias tiveram início no ano de 1962 através da estipulação de um Conselho Especial de professores na Universidade do Brasil, a partir de discussões feitas pelo Conselho Federal de Educação que já estavam discutindo as propostas de mudanças dos currículos mínimos das instituições (Fávero, 2000):

Embora a Universidade do Brasil chamasse para si o modelo da Universidade de Brasília, mesmo parcial e imperfeitamente, pouco fez para reformar-se. O que seria, aliás, previsível, pois, para isso teria de vencer a resistência de não poucas escolas e faculdades, em ceder aos Institutos (básicos) parcelas significativas dos currículos ? que viriam constituir o ciclo básico ? e, com elas, parcelas importantes de recursos humanos, materiais e financeiros (...) (Fávero, 2000. p 100 Apud Cunha, 1988, p 117).


A relação entre educação e cultura parece ser clara a medida que situamos os aspectos de desenvolvimento do mundo contemporâneo."A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em uma sociedade." (Aguiar, Morelli, 1995, Brandão, 1983)..
O ensino educacional profissionalizante interage com a sociedade de forma que as pessoas possam, a partir do momento que terminam seus estudos, manter uma ocupação, uma posição social no mercado de trabalho, tendo por base o ensino técnico ou profissionalizante. No entanto, seria este o principal papel do Ensino Superior como parece ter sido nos princípios norteadores da educação no Brasil? Isso é o que pretendemos discutir para o Curso de Bacharelado em Turismo.

3 ? Educação Superior em Turismo no Brasil: problemáticas e desafios

Considerando que o processo de desenvolvimento de qualquer área está estreitamente ligado ao ensino e à pesquisa, torna-se relevante a compreensão do quadro turístico por meio da evolução e do desenvolvimento do ensino superior em turismo. De acordo com Matias (2005), o primeiro Curso de Turismo foi implementado pela faculdade Anhembi Morumbi (atual universidade Anhembi) em 1971, sendo esta instituída pelo Ministério da Educação em 28 de janeiro do mesmo ano. Em seu texto a mesma autora fez uma pesquisa quantitativa demonstrou que a educação profissional do turismo apesar de existir em outros estados está concentrada praticamente na região sudeste do país.
O curso de turismo foi criado com características multidisciplinar em que engloba várias áreas de estudos de outros cursos como, por exemplo, administração, economia, geografia, dentre outros. De acordo com Matias (2005), pelo Curso de Turismo não ser reconhecido enquanto profissão ocorre certa concorrência de profissionais de outras áreas no mercado de trabalho causando insegurança e insatisfação nos bacharéis em turismo que estão formando e saindo para o mercado de trabalho.
As estruturas curriculares plenas dos cursos de superiores de turismo, cumpridas de acordo com a instituição de ensino, têm duração mínima de 4 anos (Ruschmann, 2002, p 19). Essa grade curricular poderia ser unificada nas matérias obrigatórias diferenciando-se apenas nas partes de enfoque específicos, como por exemplo: Planejamento e Gestão, Marketing, Hotelaria e inclusive outras áreas do conhecimento humano e social.
Para Gaeta (2005), pelo caráter multidisciplinar do turismo as áreas de pesquisas devem ser complementadas com informações sobre outras áreas de estudo que fazem ligação com as disciplinas do curso. A base educacional do turismo precisa de uma melhoria em sua grade curricular e no treinamento dos profissionais que ministram as matérias dos cursos para que se possa ter uma boa formação não somente de professores, mas também de alunos aptos para atuação no mercado de trabalho.
Segundo Martins et. al. (2006) na década de 90 houve um "boom" nos cursos de turismo no Brasil (em 1994 havia 41cursos de Turismo; em 1997 esse número subiu para 60 cursos de Turismo e 9 cursos de Hotelaria; em 2002 o número de cursos relacionados a essas áreas subiu para 576, atingindo 697 em 2005 ).
Após a criação dos primeiros cursos de turismo em ensino superior no Brasil, percebe-se a crescente procura por profissões e postos de trabalhos diferentes dos tradicionais, resultando na abertura de centenas de cursos e no aumento da quantidade de vagas oferecidas. O aspecto psico-social dos jovens em busca de realização de sonhos e desejos, tais como, contato com culturas distintas, busca por lugares paradisíacos e trabalho com fatores emocionais positivos, contribuíram para o aumento dessa demanda nos cursos de turismo. No entanto, é preciso destacar que com o aumento da concorrência entre as instituições de ensino superior privado ocasionaram, em determinadas situações, fatores negativos à qualidade do ensino, tais como, políticas de marketing agressivas, ausência de dificuldades nos vestibulares, falta de investimentos em pesquisas, preocupação restrita em infra-estrutura física, falta de valorização dos docentes e estruturas curriculares deficientes (BRUSADIN, 2007)

Esses fatores podem ter sido gerados devido causa da má formatação das grades curriculares que os cursos ofereciam, pois não foi usado nenhum critério de avaliação para preparo das grades e nem dos professores que administrariam os cursos, hoje muitas das universidades, principalmente as particulares, estão fechando os cursos o que poderá fazer que haja uma melhoria no ensino universitário oferecidos.
Além disso, deve-se investir na formação de professores de outras áreas para que estes tenham tido alguma experiência na área de turismo para que possam passar de forma segura, informações de grande relevância e atualizadas deste setor de ensino. Professores que não tenham sua base de estudo estruturada em experiências no turismo deixaram, às vezes, de formar bons profissionais para atuações específicas na área de turismo que o mercado estivava necessitando.
As necessidades de mão de obra qualificada estão tornando o mercado de trabalho muito competitivo, mas nem todos os cursos de turismo, técnico ou superior oferecidos pelas entidades de ensino, fornecem uma base sólida de aprendizagem:

A formação dos recursos humanos para o turismo de nível superior no Brasil teve início em São Paulo, no ano de 1971. No início do ano de 2002, quase 300 instituições de ensino, tanto pública quanto privadas, espalhadas por todo o país, oferecem 35000 vagas e diplomam milhares de bacharéis em turismo para um mercado de trabalho altamente competitivo e complexo, no qual grande parte dos empresários ainda não se conscientizou de que a tecnologia e a gestão devem ser os pilares das empresas e que a qualidade dos serviços, baseada na capacidade profissional dos recursos humanos, é a responsável pela qualificação dos empreendimentos e pela imagem dos produtos oferecidos (Ruschmann, 2002, p 19).

Segundo Gaeta (2005), os professores devem estar conscientes do caráter mutável do setor de turismo e da prioridade de adequação permanente de seus conhecimentos. Ainda para ela, as atividades de pesquisa sobre cada conhecimento devem ocorrer através do aprofundamento e inter-relações com disciplinas de várias áreas de estudo.
O curso de turismo é reconhecido pelo MEC, porém ainda não foi regulamentado pelo órgão em questão, mas alguns dos cursos estão evoluindo e melhorando de forma extraordinária suas grades curriculares e formando cada vez mais pessoas aptas para atuar em diversas áreas do turismo apesar de ainda estarem focando mais para o mercado de trabalho e menos para a área de pesquisa.
A defasagem das grades curriculares do ensino de turismo poderia ter como causa o fato de a maioria deles terem sido criados a partir de "interesses particulares e com autonomia própria" com interesses focados no desenvolvimento econômico do país que tinha em foco o aumento da demanda dos atrativos turísticos que vinham sendo procurados pelos turistas.
Pode-se pensar também em educação no turismo para se ter capacidade de atuar nas diversas áreas oferecidas pela ?indústria mercadológica? e também neste conceito ligado à hospitalidade, uma vez que eles estão imbricados ao contexto das atividades dos profissionais que atuam em atividades turísticas. No entanto, não devemos colocar em um papel inferior as diversas vertentes de análises humanas que o bacharel em turismo pode contribuir com suas reflexões.
Uma pessoa quando chega a determinado atrativo turístico deve ter condições de saber se situar no local e possuir uma relação cordial (hospitaleira) com o morador e com a pessoa ou estabelecimento que está oferecendo um determinado produto/serviço turístico, além de ter conhecimento da história do local, mas, principalmente esta atividade não deve estar alheia aos aspectos sociais ao seu redor.
De acordo com Cooper (2001) as qualificações de ensino no ramo da hospitalidade são incorporadas pelas entidades de ensino de nível técnico que surgiram depois das universidades e possuem caráter apenas de manter mão de obra para o mercado de trabalho.O curso de turismo que tem a hospitalidade como base pode ter um longo caminho a seguir, mas poderá fazer com que os estudantes de turismo consigam formular boas estratégias nos campos que estão atuando e criar bons produtos para o campo turístico.
De acordo com Brusadin (2007), muitas propostas pedagógicas não alcançaram o objetivo de formar profissionais aptos para o mercado de trabalho, o que dificulta o desenvolvimento e qualidade de mão de obra oferecida pelas empresas que atuam com o setor
de turismo e dos próprios serviços turísticos:

Verifica-se a necessidade de programas de disciplinas flexíveis para permitir mudanças em esquemas de módulos, ou seja, dar liberdade ao aluno de avançar progressivamente, seguindo suas próprias necessidades. (...) Os cursos de turismo e de hotelaria devem dar aos estudantes uma ampla visão multidisciplinar com interfaces que permitem a interdisciplinaridade. Dessa forma, o aluno, ao encerrar os estudos, estaria preparado para enfrentar as atividades profissionais que requerem dinamismo e múltiplos conhecimentos (Ansarah, 2002, p 25).

Nota-se que a necessidade de modificação das grades curriculares poderá formar mão de obra capaz de passar os diversos conhecimentos adquiridos durante a vida acadêmica em qualquer área oferecida pelo turismo, na qual as exigências pedidas no mercado pudessem ser supridas, mas que, no entanto, devem também priorizar a formação humanística e capacidade crítica deste profissional.
A presidente do Fórum Nacional dos Cursos de Turismo e Hotelaria, professora Tânia Omena, afirmou que o desenvolvimento do setor turístico levou a uma evolução das instituições de ensino relacionadas à área. Tânia ainda destacou que houve aumento da produção de publicações sobre turismo, inclusive com a busca maior por pesquisas e estatísticas, e que os professores têm procurado uma maior preparação para a sala de aula. A professora avaliou, no entanto, que muitos dos 600 cursos de turismo no País não cumprem as exigências curriculares e não têm bibliotecas nem professores qualificados .
Dessa forma, o desafio das instituições educacionais é criar uma concepção epistemológica, ou seja, tirar o caráter puramente de mercado em que este saber se transformou e fazer com o que o docente também direcione o conteúdo para contexto teórico e científico do turismo. Os professores de turismo devem buscar constante especialização e construção de carreira acadêmica sólida, sendo que práticas pedagógicas básicas devem ser inseridas nas salas de aulas, tais como, discussão de estudos de casos, elaboração de projetos de pesquisa integrados com outras disciplinas, concepção epistemológica do turismo e de ciências relacionadas, apropriação da metodologia científica em seus trabalhos, visão mercadológica por meio de contato com empresas de turismo (BRUSADIN, 2007).
Contanto, o ensino de turismo nas universidades ainda é incipiente, sendo necessário um enfoque dentro das mesmas, oferecendo oportunidades de pesquisas nessa área para que os alunos sejam capazes de contribuírem com soluções dinâmicas para uma melhoria dos produtos turísticos em iminência, já desenvolvidos ou que entraram em declínio e que ainda necessitam de um estudo mais aprimorado para torná-los destinos com uma maior visibilidade nos mercados nacionais e internacionais.

Considerações Finais

A educação passou por várias transformações e reestruturação possibilitando assim uma melhoria no ensino de base e universitário, sendo esta também uma exigência do próprio mercado de trabalho que acabou direcionando algumas ações educacionais no Brasil. As melhorias são bem vistas no sentido de se ter uma maior quantidade de mão de obra oferecida, mas ainda algumas áreas estão buscando mão de obra mais de nível técnico do que de nível superior, ocasionando uma revisão da função da formação deste último.
Esse artigo pretendeu mostrar como se deu a evolução da educação e, principalmente, dos cursos de turismo na busca de profissionais focados em áreas especificas do mercado de trabalho. Apesar de haver uma quantidade considerável de cursos de turismo no Brasil, muitos deles enfatizavam setores específicos de mercado e não ajudam para o desenvolvimento do turismo em si e um aprofundamento do curso enquanto ciência social aplicada.
Nota-se que as grades curriculares do curso de turismo necessitam de uma revisão para que se tenha uma estruturação delas e também uma uniformização de disciplinas específicas que o curso necessita de possuir para a formação de profissionais aptos para o mercado de trabalho e com opinião crítica e humana frente a realidade social do mundo globalizado.
Percebe-se a inconsistência desse direcionamento que ocasiona cursos ociosos e desarticulados, sem relação alguma com as premissas científicas do turismo. É possível verificar que a falta de exigência de qualidade no ensino e na pesquisa incentiva a formação de profissionais despreparados para a construção teórica e prática que o setor exige e, conseqüentemente, obstrui o desenvolvimento do setor no país. É de fundamental importância que a Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação estabeleça padrões específicos para o reconhecimento de cursos de turismo no Brasil, assim como para o acompanhamento dos cursos quanto as suas atividades realizadas (BRUSADIN, 2007).
Nesse sentido é preciso que os profissionais que lecionam nas universidades ou em qualquer meio educacional deve ater-se as mudanças que ocorrem no mundo e adequar-se e aos novos conhecimentos para além de melhorar sua instrução pessoal e profissional, estimular os alunos a procurarem atualizar seus conhecimento e ainda serem competentes na sua área de atuação melhorando suas habilidades profissionais.
Para atingir os objetivos de uma educação humana e que ainda atenda aos interesses de empregabilidade dos discentes, é preciso fortalecer a discussão da educação no Ensino Superior em Turismo entre os envolvidos neste processo, já que a regulamentação da profissão sempre teve mais interesse do que a própria discussão da formação do turismólogo e suas áreas de atuação sejam direcionados ao mercado, seja no espírito crítico e social de que o mesmo deve fazer parte.O que se defende aqui é que por meio do aprofundamento das discussões educacionais na formação do turismólogo é possível estabelecer critérios mais consistentes em sua grade curricular e ainda na preparação dos seus docentes e que, a regulamentação da profissão pode ser uma consequência destas ações coordenadas e pensadas de uma forma mais humana e atrelada as necessidades do mundo contemporâneo.

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