INTRODUÇÃO

           Na era da Web 2.0, observa-se a introdução de novos meios de comunicação dinâmicos, que estão em permanente transformação, revelando a grande dificuldade do ensino escolar em atualizar-se e acompanhar o ritmo da contemporaneidade.

           O individuo  letrado pode interagir em ambientes digitais, realizando práticas de leitura e escrita que diferem das práticas tradicionais, pesquisando, selecionando, utilizando as diversas ferramentas disponíveis para cumprir propósitos variados, se relacionando com seus pares, aprendendo constantemente, construindo, transformando, reconstruindo, compartilhando conhecimento e exercendo sua autoria e autonomia; sempre utilizando os recursos da Web, quer para sua vida pessoal ou profissional. (Silva 2012 apud Buzato 2001), afirmam que a especificidade do letramento eletrônico, está em “incluir o conhecimento e habilidades necessárias para fazer marcas, numa era eletrônica com dispositivos eletrônicos”.

          Para os autores, esse conhecimento não substitui o letramento tradicional, por isso destaca que da mesma forma que codificar, armazenar e recuperar informações, embora necessários, não sejam suficientes para o letramento tradicional; de igual maneira, o letramento eletrônico pede algo mais que essas habilidades, pressupondo o conhecimento ou a habilidade para responder às demandas sociais da era digital em que vivemos. Citando (Araújo 2014 apud CASTELLS, 1993), no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem, a ação tem que estar focada na preparação do indivíduo, para que não apenas compreenda, mas interaja no meio em que vive, construindo conhecimentos a partir do manuseio das tecnologias da informação e do conhecimento (TICs).
             Esta pesquisa é pertinente porque vem discutir algumas transformações que a Internet trouxe para a relação leitura-escrita e como os gêneros digitais (blog, Skype, redes sociais, e-mails etc.) podem ser utilizados, objetivando um ensino de leitura mais crítica e uma produção de texto mais contextualizada.
           Descobrir a importância do letramento digital, como algo que capacite professores e alunos na utilização dessas ferramentas midiáticas, de forma que estas possam ser um instrumento interativo de escrita-leitura, bem como um instrumento de atitude exploratória, que venha favorecer o desenvolvimento e a ampliação da competência discursiva dos alunos.

       Identificar nos textos consultados, como os gêneros digitais podem ser usados para ampliar o letramento dos alunos.

       Apresentar as práticas do hipertexto realizadas pelos adolescentes; avaliar a função social da escola quanto às práticas de leitura, voltadas a alunos do Ensino Fundamental II e Médio e por fim, estabelecer o conceito de letramento eletrônico. 

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Acredita-se que embora a escola organize suas atividades em torno de temas relevantes, é interessante pensar nos projetos como projetos de letramento, uma vez que os planos de atividades devem ser construídos, visando ao letramento do aluno.

Kleiman (2012), preconiza que o conceito de letramento para o ensino e a aprendizagem de língua materna em todos os ciclos do ensino fundamental e médio, vem argumentando contra a dicotomia que limita a relevância dos estudos de letramento à prática de alfabetização, pois assim, um projeto de letramento se constitui como “um conjunto de atividades que se origina de um interesse real na vida dos alunos, cuja realização envolve o uso da escrita, isto é, a leitura de textos que de fato, circulam na sociedade e a produção de textos que serão realmente lidos, em um trabalho coletivo de alunos e professores, cada um segundo sua capacidade. O letramento tem como objeto de reflexão de ensino ou de aprendizagem, os aspectos sociais da língua escrita. São os gêneros que trazem as matrizes sócio-cognitivas e culturais que permitem participar de atividades letradas das quais nunca antes se participou. O letramento se deu de origem acadêmica e o conceito foi aos poucos infiltrando-se no discurso escolar, contrariamente ao que a criação do novo termo pretendia, que era desvincular os estudos da língua escrita dos usos escolares, a fim de marcar o caráter ideológico de todo uso da língua escrita. O professor pode fazer uso desses autores de forma estratégica, modificando e transformando seus planos de ação, segundo as necessidades em construção do grupo. A formação de um professor para atuar como agente de letramento, faz novas e diferentes exigências ao formador: os saberes acadêmicos e a familiaridade com diversas práticas de letramento, inclusive as acadêmicas, são ainda importantes; mas essencial é a atitude de um professor, que sabendo-se em contínuo processo de letramento, aventura-se a experimentar e com isso, a continuar aprendendo com seus alunos, através de práticas letradas que motivam o grupo todo e atendem, ao mesmo tempo, a interesses e objetivos individuais e, assim, formam leitores, despertam curiosidades e dão segurança a escritores iniciantes.

A escola deve ser uma ferramenta facilitadora de comunicação e suporte da pedagogia voltada á formação de alunos críticos, com diversas habilidades fundamentais na sociedade do conhecimento. Os alunos devem se inteirar dos diversos recursos, de modo que façam a leitura critica dos meios de comunicação, se apropriando de linguagens especificas aliadas ao uso do computador na sala de aula. As novas tecnologias podem servir, tanto para inovar como para reforçar comportamentos e modelos comunicativos de ensino, onde a simples utilização de um ou outro equipamento, não pressupõe um trabalho educativo ou pedagógico. Observa-se que:

  Um texto que está ligado a outros textos, realmente circunda todo o mundo da comunicação eletrônica em um processo de informação. Ao mesmo tempo, o hipertexto  introduz a mente dos usuários, às telas, interconectando-os e os acelerando em redes. Qualquer um que esteja on-line é de fato, parte de um hipertexto mundial (KERCKHOVE, 2009, apud CAMPOS 2012 apud Vieira 2013).
 
       Isso significa que, ao efetuarmos a leitura no espaço virtual, somos como uma espécie de link, que se une a sintaxe digital do hipertexto, entendido como um conjunto de singularidades textuais (verbais ou não verbais), que se interconectam por meio de caminhos digitais. Processo de “linkagem” pessoal que se tem insinuado, à percepção prática nas redes sociais, como Twiter, Facebook, Linkedin, Instagran e Snapchat.

      Quando nos referimos às práticas do hipertexto, realizadas pelos adolescentes na atualidade, Araújo e Glotz (2014), apontam que ao serem desenvolvidas e implementadas propostas de ensino, focadas no letramento digital, o sistema educacional poderá assumir papel de peso no processo de inclusão digital, uma vez que na escola, ao cursar ao menos a Educação Básica, o indivíduo despende boa parte do seu tempo de vida (dos anos iniciais da infância aos anos finais da adolescência). Esse tempo vem sendo empregado em atividades educativas, que façam uso das TICs e de outras ferramentas tecnológicas, sendo útil para a vida presente e futura dos alunos, já que o mercado de trabalho (além de outras instâncias do nosso dia a dia), exige cada vez mais, conhecimentos em relação ao uso das tecnologias.

A ESCOLA COMO PAPEL FUNDAMENTAL NESTA MUDANÇA

Pergunta-se se a escola pode e deve posicionar-se diante das mudanças que perpassam a sociedade? Para Lais (2014), o avanço das tecnologias com ênfase à internet e às suas transformações, trouxe desafios para ser enfrentados pelos educadores modernos, tanto em aspectos relativos às novas estratégias de comunicação e atuação, como o uso delas na sala de aula, quanto às formas de uso linguístico, por parte do aluno, que por se diversificarem bastante, interferem na escrita bem como na relação interpessoal. (COSTA, 2000 apud LAIS 2014), preconizam que as mudanças da escrita na era digital, são refletidas sobre o impacto do avanço tecnológico na identidade do sujeito e na instituição escolar, dando origem aos gêneros digitais, que se configuram com novas formas de utilização da escrita no espaço hipermidiático, pois o hipertexto produzido coletivamente pelos usuários da Internet, modificam a relação leitor-escritor, tornando imprecisa a fronteira que os separavam, uma vez que, agora, o “leitor-navegador não é um mero consumidor passivo, mas um produtor do texto que está lendo, um coautor ativo, capaz de ligar os diferentes materiais disponíveis, escolhendo seu próprio itinerário de navegação”.

        (Buzato 2001 apud Silva 2012), nos trazem grande contribuição quando fazem citação em sua obra de o quanto é interessante para os propósitos de se trabalhar com professores que compõem a geração X, isto é, aqueles que foram alfabetizados e letrados nos moldes tradicionais, porém nasceram antes de os avanços tecnológicos terem se consolidado, ou seja, não podem ser considerados “nativos digitais”.   Segundo esses autores, todos os professores

então conforme já mencionado anteriormente, estariam no nível de semiletrados, pois já estão plenamente alfabetizados do ponto de vista tradicional.

        Para (Araújo 2007, apud Coscarelli 2005), ao letrar os alunos do fundamental II e Médio, se faz necessário que o educador apresente alguns sites específicos para a idade dos educandos e realize trocas de cartões virtuais, para que durante a atividade, consigam ter domínio motor através do mouse e entrem em contato com a noção de link e não linearidade na leitura dos textos. Na medida em que esta atividade avança, vários gêneros digitais vão se integrando a essas práticas, despertando a necessidade da escrita. Porém os recursos como blogs, comunicadores instantâneos como Skype, a própria rede social e a troca de e-mails, são os gêneros que mais provocam a percepção dos sujeitos, de que a escrita é uma prática necessária à sociedade letrada.

           Ao serem apresentados à Internet, adolescentes e adultos precisam aprender a escrever corretamente o nome dos sites em que se interessam, no entanto, esbarram em problemas como a exatidão que o gênero em tela exige de seus usuários. Na prática, é possível observar nitidamente o avanço da aprendizagem, uma vez que o Governo do Estado de São Paulo já deu um grande passo nesta direção quando criou a plataforma Currículo Mais, onde professores e coordenadores mantêm uma curadoria para receber sugestões de colegas, também professores, que indicam sites pertinentes ao conteúdo da série, enriquecendo as aulas. 

             Segundo (Araujo 2007, apud Coscarelli 2005) afirmam que o fato de enviar e-mails é uma boa pedida, já que os alunos se divertem e aprendem muito com essa brincadeira séria. Isso pode ser transportado para blogs, sites, redes sociais e comunicadores instantâneos.

             Araújo 2007, afirma que nenhuma mensagem pode ser trocada sem que o remetente se submeta a um processo de escolha, através da qual ela gera sua mensagem. Assim, todos imersos em muitos cliques de mouse e digitação de caracteres, assumem o papel de sujeito nessa nova experiência de escrita, experimentando o uso da língua a partir de uma situação de enunciação digital.

           Tafner, aponta que partindo dessa noção fundamental do respeito aos níveis de letramento de cada educando da Educação Básica, o educador, principalmente de língua portuguesa, deve propiciar situações em que os educandos possam ser ouvidos. No entanto, essa ação precisa fazer sentido, quanto a valorização do grupo pelo educador. Querendo ou não, o educador ainda é o responsável pela garantia de sucesso dessa interação em sala de aula. É ele que vai mediar as discussões, estabelecendo as direções para  onde se quer chegar. É a partir do seu discurso que os educandos poderão se sentir à vontade ou não, para expressarem suas ideias.

                 Para Andrade, se o professor considerar o seu trabalho pedagógico como um espaço interativo e de partilha, mediado pela linguagem, a reflexão sobre sua própria ação assume um significado especial. No estabelecimento dessas ações tanto o professor, especialmente o de Língua Portuguesa, como os alunos, necessitam ter clareza dos seus objetivos e saber o que pretendem alcançar. Assim, o professor precisa conhecer sua concepção de linguagem, pois é ela que irá fundamentar a sua ação pedagógica. A prática escolar, em que a relação professor/aluno e aluno/aluno é mediada pela palavra, não pode ser vista como algo neutro, desvinculado da realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
            

  Vivemos numa era onde consideramos a Web, como uma plataforma que envolve diversos aplicativos, baseados nas redes sociais, blogs, comunicadores instantâneos. O espaço virtual abrange a interação e a participação que hoje engloba inúmeras linguagens e motivações, demonstradas na pesquisa, quanto ao desafio de praticar o letramento na era da Internet 2.0. Observa-se através da bibliografia consultada, que a informática se usada de maneira dirigida e adequada, pode ter um sentido libertador para o individuo, liquidando o problema sobre a falta de informação.  

              As práticas de letramento utilizadas pelo computador aliada à internet, são muito importantes e devem ser utilizadas por alunos e professores, para justamente, acabarem com a desmotivação e com o conteúdo sem sentido para os jovens de hoje.

          O ensino da língua de forma contextualizada passa a fazer sentido e desperta no sujeito vontade de investir na aprendizagem escrita e na produção de vários gêneros com criticidade, trazendo uma nova realidade para a sala de aula.

           A partir do momento que o educador traz para a sala de aula situações com as quais o educando se identifica, consegue condições fundamentais para o aprendizado: a contextualização traz a interação. E, para que esta última ocorra de maneira eficaz, são imprescindíveis o conhecimento prévio da realidade dos alunos, as estratégias, o preparo e a disposição do educador para produzir níveis condizentes com a realidade que se espera os alunos ao saírem da Educação Básica.

            Tafner enfatiza que as práticas letradas tornam-se, dessa forma, obrigatórias ações em sala de aula que insiram o educando no mundo real, visto que o produto educação está cada vez mais em alta e somente quem souber extrair dele todas as suas vantagens terá chances de competir na realidade feroz que nos cerca.

          Para a autora é necessário que o educador conheça seu educando e, ainda que ele não receba estas informações da escola, cabe a ele mesmo imergir no mundo de seus educandos para que seja capaz de contextualizar sua prática de acordo com o universo destes.

              Ainda sob esta ótica, Tafner destaca que a convivência entre educando e educador na sala de aula, atualmente atesta que o ensino está totalmente desligado da vida real do educando. Parece que o educador, ao entrar em sala, esquece de todo o restante do mundo: dos conflitos mundiais, da globalização, das injustiças sociais; enfim, é como se as paredes da sala de aula impedissem a entrada de objetos estranhos não previstos pelo programa adotado pela escola. Dai a necessidade de repensar quanto ao programa, uma vez que o educando somente poderá estabelecer ligação com a vida, ao sair da disciplina e exercitar a contextualização.

        Finalmente, um novo paradigma educacional pode ser estabelecido pelo poder público, a fim de que, “a escola possa ser um recurso de ajuda e minimização das exclusões de muitos sujeitos, marginalizados em outras situações”. (Coscarelli 2005, apud Araújo 2007). 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, M.R.F. Interações sociais em sala de aula: o ensino de língua portuguesa. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/183_217.pdf> Acesso: Acesso em 15/05/2016

ARAUJO J.C . Os gêneros digitais e os desafios de alfabetizar letrando. Trab. Ling. Aplic., Campinas, 46(1): 79-92, Jan./Jun. 2007

 ARAUJO R.S. Letramento digital: Conceitos e Pré-conceitos. Disponível em <https://www.ufpe.br/nehte/simposio2008/anais/Rosana-Sarita-Araujo.pdf> Acesso em: 04/05/2016

 ARAUJO V.D.L E GLOTZ, R.E.O. O letramento digital como instrumento de inclusão social e democratização do conhecimento: desafios atuais. Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/tecnologia/0054.html>  Acesso em: 02/05/2016

 COELHO, L.J.B. A leitura e a escrita no hipertexto digital como práticas sociais: reflexões a partir da perspectiva do letramento. Revista Icone, v.11, p.1- p.15, Julho 2011

 KLEIMAN, Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna. Signo. Santa Cruz do Sul, v. 32 n 53, p. 1-25, dez, 2007.

LAIS, C. O uso dos gêneros digitais na sala de aula. Disponível em < http://geces.com.br/simposio/anais/wp-content/uploads/2014/04/GENEROSDIG ITAIS.pdf > Acesso em 04/05/2016

 SILVA, S.P. Letramento digital e formação de professores na era da Web 2.0: O que, Como e Porque Ensinar. Revista Hipertextus, n.8, p.1- p.13, Junho 2012

TAFNER, E. P. A contextualização do ensino como fio condutor do processo de aprendizagem. Disponível em < http://www.posuniasselvi.com.br/artigos/rev03-08.pdf> Acesso em 05/05/2016

 VIEIRA, M.O O papel da escola na sociedade da informação: Relações entre escola, meios de comunicação e novas tecnologias na educação. Pindamonhangaba-SP. FAPI , 2013