O desabafo de uma recém formada



Este artigo retrata a situação de muitos recém formados como eu que quando concluem suas graduações de biblioteconomia e documentação confrontam- se com o sonho e a decepção que caminham juntas quando se busca de uma oportunidade para trabalhar nesta área. E uma, duas, três ou mais situações passageiras marcam a trajetória de quem busca este lugar ao sol em sua profissão.

O meu amor pela biblioteconomia e documentação iniciou-se numa transferência de carreiro ano de 2004, nesta época, no 3º período do curso de jornalismo e sempre fui muito curiosa em desvendar as faces da biblioteca e seus mitos.

Por ironia do destino abandonei o jornalismo por motivos financeiros e adquiri uma bolsa em uma instituição. Daí me veio um saudosismo das épocas e das constantes horas na biblioteca. E pensei comigo que tinha chegado a oportunidade ideal de ter o prazer de desvendar o maravilhoso do mundo dos livros e das estantes.

Assim passou um ano, dois, três e ao completar os quatro anos sai como bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

Com todos compartilho que foi um dia mágico, quando colei grau, imagine só, num país em que poucos negros concluem seus estudos nos primeiros anos: o fundamental, o ensino médio, quem dirá uma graduação.

Sim, faço parte desta minoria com orgulho e com o único desejo de ajudar aos meninos e meninas, senhoras e senhores, mãe e pais, a promover o poder da leitura. Sim, a leitura como um fator de mudança, de um modo de pensar e de agir melhorando a posição de cada um na sociedade.

Infelizmente neste país existem mais farmácias do que bibliotecas.

Mas o melhor estava por vir, quando recebi uma oportunidade de uma empresa paulista, com sua filial no Recreio, depois outra no bairro de Del Castilho. Nestes vínculos empregatícios de caráter temporário aprendi, questionei, organizei, aprimorei e acreditei em me fixar num posto. Mas me enganei...

Com os sonhos no coração, e uma linha mental interior martelando para me fazer lembrar de dívidas básicas: luz, água, telefone, comida, aprimorei meus talentos psíquicos e com o tempo criei uma metodologia disciplinar de bloqueios mentais que impunha ao meu racional a dominação do meu emocional (tradução, necessidade).

Comecei a enviar meus dados atualizados, sempre sendo piloto chefe da esquadrilha da fumaça nas manobras mirabolantes de meus recursos monetários (tradução descobrindo um santo e cobrindo outro) para estar presente nos cursos, seminários e palestras.

Felizmente, nunca faltava um gratuito e por sinal eles, os gratuitos, eram maravilhosos.
Com eles o meu currículo ia ganhando conteúdo, mas só ganhando conteúdo.

Na minha caixa postal de muitos e-mails X grupos virtuais de oportunidade de emprego, eu só repassava meu currículo. Sim, eu só o repassava, dia a dia, cada vez mais.

Mas um dia sem querer cliquei nas mensagens enviadas e notei que enviava mais e-mails buscando oportunidades de emprego do que respondia aos amigos.

E algo despertou em mim porque além de começar a me policiar, notei um comportamento diverso no mercado de trabalho na área de biblioteconomia.

Ao que via nos anúncios: nas "fontes times new roman" ou arial, Empresa X, precisa de bibliotecária (o) com as seguintes atribuições: classificar, catalogar, clipping, organizar acervo, acrescentou-se também o famoso Ged, profissional simpática, que saiba trabalhar em equipe....

Por ai seguia a carruagem pois o que tem relevância aos olhos de um recém formado é experiência cobrada por todos de 2 anos, 3 anos , 6 meses.

Por isso caros colegas RF (recém formados) sofredores ou não, sempre aceitei sugestões relativas a maneira ou estratagema que deveria ou devo usar para me enquadrar nas raras vagas da área.

Já que pensaram, alguns me responderam. Muitos com respostas implacáveis ( Ué faz um concurso!!) .

Para estes e para todos os outros responderei com este artigo perguntando: e como o que até lá?

Mas o que realmente desejo colocar é por que o estágio, para muitos, não é considerado experiência?

E de que forma poderemos atuar se ninguém dá uma chance para tantos de nós que ainda não tem experiência?

Sim, saímos todos muito fresquinhos da Universidade cheios de energia, querendo por a mão na massa, mas acabamos sendo excluídos desta triagem infernal e desumana.

Ora, será que o estagio não quer dizer nada, o meu deus! Que perdemos tempo com ele?

Ou os estágios não são considerados pelas empresas e pelos seus RH como o suficiente para serem experiências válidas?

Ou o outro lado não conhece a nossa profissão e não tem conhecimento deste fato?

Mas claro que posso estar fazendo um julgamento errado!!!!

E, certamente, muitos leitores discordarão disto. Mas por outro lado ainda arisco em relatar que muitos, eu não sei quantos, concordarão com a holística da situação exposta.

Mas saliento também que tenho uma certa desconfiança que a cor esta incluída, pelo menos nesse caso, sendo um agravante excludente em muitos casos de seleção.
E ela complementa fatos ocorridos e presenciados, que resultaram em que eu fosse descartada de obter uma oportunidade real de trabalho.

O que salva e diminui as mazelas da minha alma, são as palavras que fluem igual ao ar que respiro quando uma colega de profissão antiga, mas nem tão antiga assim, me disse: "Não desista você vai conseguir"! E eu respondo: sou brasileira, não desisto, nunca!

Escrevo este desabafo para quem sabe sensibilizar aos recrutadores de RH e os colegas de profissão para que todos eles possam pensar melhor sobre o recém formado independente de sua cor, lembrando á todos que um dia eles foram ou são recém formados ansiosos por uma chance.