INTRODUÇÃO
ALGUNS RASTROS DA PESQUISA
A trajetória desta pesquisa apresentou uma série de turbulências. Não há espaço aqui para narrá-las totalmente, mas algumas precisam ser ditas, afinal:
(...) cada prática de pesquisa é uma linguagem, um discurso, uma prática discursiva, que sempre está assinalada pela formação histórica em que foi constituída. Formação histórica esta que marca o lugar discursivo de onde saímos; de onde falamos e pensamos; também de onde somos faladas/os e pensadas/as (sic); de onde descrevemos e classificamos a(s) realidade(s) (Corazza, 1996, p. 124).
O interesse pelas teorizações do currículo pós-moderno surgiram em mim como uma tentativa deliberada de fuga. Trabalhando no Campus Universitário do Baixo Tocantins, da Universidade Federal do Pará, em Abaetetuba, como professora da disciplina Pesquisa Educacional e, ainda, com a formação anterior em nível de graduação, minhas leituras eram quase que totalmente centradas nas discussões em torno da ciência moderna. Estava sempre preocupada com o rigor e a apreensão das categorias macroscópicas como sujeito autônomo, indissociabilidade entre teoria e prática e senti então a necessidade de me arriscar e me aprofundar um pouco mais em algumas leituras que realizei a partir de 1997 na disciplina Filosofia da Educação (ainda na graduação) sobre as teorias pós-modernas, as quais eu sufoquei por muito tempo.
Segundo Pádua (2002), a escolha de um tema para a pesquisa pode surgir da área de especialização do pesquisador ou de sua necessidade em virtude da carreira docente. Além destas, creio que a minha "escolha" por esse tema se enquadra também na seguinte:
Uma lacuna em nossa formação profissional também pode se constituir num critério para a escolha do tema. O desafio de superar uma "falha" em nosso conhecimento de um determinado assunto pode ser motivo para a seleção de um tema para a pesquisa (p. 37).
O curso de Especialização em Teorias, Políticas e Práticas Curriculares do Centro de Educação torrnou-se a oportunidade para a realização daquela "fuga". O projeto desta pesquisa passou por duas versões e depois disso ainda sofreu alterações: inicialmente centrada na cultura no bojo do pós-modernismo, depois incorporou o pós-estruturalismo... e, desembocou no estudo das categorias Razão, Ciência e Sujeito no pós-modernismo e no pós-estruturalismo e seus nexos com o currículo pós-moderno.
Mas não se trata de uma fuga irresponsável; a contemporaneidade passa por uma série de transformações nos âmbitos da cultura, da política, das ciências, da mídia, etc. Às vezes, temos a impressão que estamos em profundo caos . A educação e o currículo não são imunes a essas transformações e começam a flertar e até a acatar várias teorias que surgem desse momento contemporâneo, dentre elas o pós-modernismo e o pós-estruturalismo.
Os/As profissionais da educação que desejam renovar suas práticas e se manter atualizados/as, podem arriscar-se nessas teorias. Por isso, a realização desta pesquisa assumiu também um caráter de necessidade. Esta necessidade aumenta ainda mais, uma vez que as teorias pós-modernas e pós-estruturalistas invadem o currículo, área pela qual me interessei desde a graduação.
A pesquisa foi seguindo o seu curso e durante o mesmo, os problemas foram clareando e tomando formas mais delimitadas. Desta feita, a monografia gira em torno dos seguintes questionamentos: O que é o pós-modernismo? O que é o pós-estruturalismo? Quais as possíveis similitudes e/ou incompatibilidades entre o pós-modernismo e o pós-estruturalismo? Quais as transformações ou ressignificações das categorias Razão, Ciência e Sujeito no pós-modernismo e no pós-estruturalismo? O que é o currículo pós-moderno? Quais as principais relações e contribuições do pós-modernismo e do pós-estruturalismo para as teorias e práticas do currículo pós-moderno?
Esses questionamentos se justificam pela situação relacional em que se encontram, haja vista que se trata de uma abordagem epistemológica, voltada para a análise das possíveis relações e incompatibilidades entre o pós-modernismo e o pós-estruturalismo e para a investigação dos nexos e contribuições destes para o currículo pós-moderno.
Dentro dessa abordagem epistemológica procurei alcançar os seguintes objetivos: 1) Analisar as categorias Razão, Ciência e Sujeito no bojo das teorizações do pós-modernismo e do pós-estruturalismo; 2) Apontar possíveis nexos ou incompatibilidades entre ambas teorizações e 3) Caracterizar o currículo pós-moderno a partir das relações e contribuições do pós-modernismo e do pós-estruturalismo.
Creio que, na medida do possível, estes objetivos foram alcançados a partir dos contornos da pesquisa bibliográfica que "é de grande valia e eficácia ao pesquisador porque ela permite obter conhecimentos já catalogados em bibliotecas, editoras, Internet, videotecas etc". (Barros, 2001, p. 34). Esta opção se justifica pelo próprio caráter teórico desta pesquisa em torno do pós-modernismo e do pós-estruturalismo.
Salomon incorpora a classificação de Umberto Eco sobre as fontes de "primeira e de segunda mão" para quem a primeira "é uma edição original ou uma edição crítica da obra em apreço" já a segunda que corresponde à tradução de obras "não é fonte: é uma prótese como a dentadura ou os óculos" (Eco apud Salomon, 1994, p. 217)
Desta feita, para Salomon, "a fonte compara-se à matéria-prima na indústria e a bibliografia à matéria elaborada", (Idem), nestas acepções uma pesquisa bibliográfica seria diversa de uma exploratória ? aquela com obras originais e esta com obras traduzidas.
Apesar de compreender o esforço desses autores, este trabalho não compactua com essas acepções por compreender que as fontes primárias não são sinônimos de obras originais e sim documentos "provenientes dos órgãos que realizam as observações", portanto, "materiais ainda não elaborados" (Lakatos e Marconi, 1992, p. 43)
A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias de acordo com Lakatos e Marconi (1992) apresenta "oito fases distintas", que orientaram os rumos desta pesquisa: quanto a escolha do tema, elaboração do plano de trabalho, identificação, localização e compilação das obras foram providenciadas com antecedência. No entanto, apesar de processualmente fazer a leitura não pude fazer o fichamento das obras, o que me causou sérios problemas quando da análise e interpretação das categorias, assim como no momento da redação.
Além de bibliográfica esta pesquisa é caracterizada como exploratória porque corresponde ao princípio de minha incursão nas discussões dos movimentos supracitados. Apesar dos entraves, parte da redação passou por três versões de acordo com as revisões da professora-orientadora e sua versão final contempla os objetivos estabelecidos durante o processo.
Esta monografia é a coroação dos estudos da especialização anteriormente citada. Sua estrutura possui além desta introdução, as considerações finais e a bibliografia, três capítulos nos quais realizo as seguintes discussões:
No primeiro capítulo "pinto" um quadro do cenário pós-moderno, introduzindo assim, os climas histórico, social, cultural e econômico nos quais surgem o pós-modernismo e o pós-estruturalismo. A partir de autores/as como Santos (1989 e 2001); Lyotard (1993); Habermas (1998) e Peixoto (1998), dentre outros/as estabeleço uma conceituação do pós-modernismo, demonstro algumas rupturas deste com o projeto moderno e analiso as categorias Razão, Ciência e Sujeito à luz das ressignificações propostas pelo pós-modernismo.
No segundo capítulo com base em autores/as como Derrida (1991); Peters (2000), Strinati (1991), dentre outros/as, procuro conceituar e caracterizar o pós-estruturalismo estabelecendo suas continuidades e descontinuidades com o estruturalismo. Analiso as ressignificações das categorias Razão, Ciência e Sujeito oportunizadas pelo pós-estruturalismo e analiso algumas diferenças e similitudes entre este e o pós-modernismo.
No terceiro capítulo com base em Tomaz T. da Silva (1993, 1996, 1999, 2000 a, 2000 b, 2001 a, 2001 b, 2002); Sandra Corazza (2001, 2002) e outros/as faço uma introdução ao currículo pós-moderno e analiso seus nexos com algumas categorias ressignificadas pelo pós-modernismo e pós-estruturalismo como a cultura, a linguagem, a identidade, a diferença, o conhecimento e o poder.
Este estudo contribuiu para a minha inserção nas discussões sobre o pós-modernismo e o pós-estruturalismo, possibilitando-me assim, uma visão de currículo mais aberta e solidária às diferenças de subjetividades e identidades étnico/raciais, de gênero e classes sociais que movimentam os processos pedagógicos. Neste sentido, este estudo também pode vir a contribuir, como ponto de partida, para a formação e prática de outros/as profissionais da educação que desejam se embrenhar num currículo sob as perspectivas do pós-modernismo e do pós-estruturalismo.