O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA REGIÃO NORTE1

 

Maria do Carmo Sá Lima2

 

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo mostrar as análises desenvolvidas em uma pesquisa de campo, compondo de  observações em sala de aula e entrevistas com professores, alunos e gestores,  sobre a atuação do Currículo nas escolas de Ensino Fundamental e Médio na Região Norte do Estado do Ceará, como também, relatar as experiências vivenciadas no âmbito da pesquisa mostrando detalhes, e expondo ponto de vista sobre currículo e formação. Iremos, portanto, nos deter em alguns teóricos que falam sobre o Currículo, a percepção de alguns profissionais da educação sobre o papel do Currículo e sua atuação no ambiente de trabalho.  As observações feitas confirmam que as competências que se procura desenvolver em relação ao currículo é de simplesmente identificar e reconhecer o currículo como uma norma a ser seguida, não exercendo sua autonomia em relação ao ensino.

 

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Formação do Professor. Currículo.

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1.  INTRODUÇÃO

 

A Escola é um dos lugares socialmente instituídos para o aluno se inserir na cultura urbana, para que se relacione com o outro e com o conhecimento. É parte de uma dinâmica, onde o sujeito organiza e interpreta suas relações com o mundo interno e externo. É nela que aprendemos, a ler e a escrever, dois objetos socioculturais fundamentais numa sociedade letrada. Não ler e escrever, hoje, significa não dispor dos instrumentos básicos para inserção e participação social, para a constituição da cidadania. Ela se situa de forma cada vez mais evidente em meio a um interesse de classes distintas com necessidades distintas.

 

 

 

 

 

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1Artigo elaborado para a  disciplina currículo, saberes e Ação Docente.

2 Aluna do curso de  Letras habilitação em Língua portuguesa pela a Universidade Vale do Acaraú. (UVA).

É vista com vários olhos, tanto como objeto educacional quanto um refúgio. Muitos pais pensam que a escola se torna um meio de estar se livrando dos seus filhos e querem que a escola dê a educação adequada para eles. A incoerência social da escola é fruto da incoerência social da sociedade, frutos da ganância e ambição de muitos. Como função social a escola é um local onde visa a inserção do cidadão na sociedade, através da interelação pessoal e da capacitação para atuar no grupo que convive. Forma cidadãos críticos e bem informados, em condições de compreender e atuar no mundo em que vive.

Sabe-se que a educação é uma das práticas principais na evolução da humanidade na conquista rumo à civilização

 Desde os primórdios, ela foi utilizada para que outras pessoas perpetrassem crenças, hábitos e técnicas que um determinado grupo social viveu ou desenvolveu. Graças e ela, a humanidade pode se instrumentalizar culturalmente, portanto a educação nada mais é, que o cerne do desenvolvimento social.

 A sociedade tem avançado em vários aspectos, e é, portanto imprescindível que a escola como instituição de educação acompanhe essas evoluções favorecendo o conhecimento.

Para o desenvolvimento destas pesquisas, nos baseamos em alguns teóricos como: Goodson, que trata do Currículo como “a invenção de uma tradição, no qual, ele constitui um campo de toda sorte e estratagemas, interesses e relações de dominação; Corazza,que vem tratar do Currículo como uma linguagem, na qual, nele identificamos significantes, significados,sons, imagens,conceitos, fala, língua, posições discursivas...; Silva, que faz uma abordagem sobre as Teorias Tradicionais, Teorias Críticas e Teorias Pós-Estruturalista e, por fim, Tardif, que faz uma abordagem sobre os professores enquanto sujeitos do conhecimento.

É importante refletir sobre a escola, seu trabalho, função e resultados. Resultados estes, que para se obter é necessário saber o que quer alcançar, para desempenhar o seu papel social. Esse objetivo deve ser não só intelectual, mas emocional e espiritual do aluno. A escola centrada no desenvolvimento discente deve buscar maneiras de tornar o processo educacional algo prazeroso e aproximar o currículo da realidade social do aluno.

 

2.  A PRÁTICA DO CURRICULO NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

 

O Sistema Educacional Brasileiro é a forma de como se organiza a educação regular no Brasil. Essa organização se dá em sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Constituição federal de 1988, com a Emenda Constitucional de número 14, de 1996 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), instituída pela lei: 9394, de 1996, são as leis maiores que regulamentam o atual sistema educacional brasileiro.

A atual estrutura do sistema educacional regular compreende a educação básica formada pela educação infantil, ensino fundamental e médio, e pela educação superior.

O ensino médio é a etapa final da Educação Básica. Tem por finalidade preparar o jovem para ser um bom cidadão e para seu futuro profissional.

A passagem para o Ensino médio é um tempo de desafios onde os jovens estão começando a mudar pontos de vista, assumir responsabilidades, escolhendo o que querem profissionalmente, se preparando para a vida adulta.

A passagem para o Ensino Médio é um tempo de desafios, onde os jovens estão começando a mudar pontos de vista, assumir responsabilidades, escolhendo o que querem profissionalmente, se preparando para a vida adulta.

Portanto, a escola precisa ser não somente uma transmissora de conteúdos programáticos, mas um lugar de vivência, diálogo sobre esta nova postura para consigo e para com o outro.

Ao visitar as escolas, podemos perceber que algumas são bem estruturadas, com recursos didáticos a disposição dos alunos e outras necessitando de uma infra-estrutura melhor, que possa atender as necessidades dos mesmos

Quanto ao ensino, percebemos que os professores se preocupam em dinamizar as aulas, se preocupam com a realidade social dos educandos, fazendo o possível para vencer as barreiras e despertar no aluno o interesse pelos estudos. Tardif, considera os professores como “atores competentes, sujeitos do conhecimento, que permitem renovar as visões vigentes a respeito do ensino”.

Foi constatado também que, em algumas escolas, há um descaso maior pelo ato de ensinar do que pelo ato de aprender, pois, os professores repassam os conteúdos de forma tradicional levando assim o desinteresse por parte da maioria dos alunos, ou seja, as maiorias dos alunos se tornam indisciplinados e desinteressados, o que contribui para a dificuldade do aprendizado. Percebemos ainda que falta muito o apoio das famílias, pois estas, pouco visitam as escolas e muito menos procuram saber sobre o desenvolvimento de seus filhos, alguns alunos vem de famílias desestruturadas, com poucas condições de sobrevivência e que não têm o principal, que é o apoio dos pais. Outro fator constatado foi a falta de preparação de alguns professores para lidarem com essas dificuldades, muitas vezes, não repassam de forma adequada os conteúdos, ou seja, utilizam a metodologia tradicional e não dão o devido apoio aos alunos.

Sobre a teoria tradicional Silva (1999, p. 16) diz que: “esta teoria, ao aceitar mais facilmente o status que os conhecimentos e os saberes dominantes, acabam por se concentrarem em questões técnicas.

 A evasão escola também é uma problemática encontrada em algumas escolas, principalmente no turno da noite, pois, muitos alunos trabalham durante o dia o que torna difícil a permanência deles nas salas de aula. A greve de professores, porém, foi um dos fatores que levou os alunos a desistirem de estudar.

  Quanto a relação professor-aluno, percebemos que há o respeito mútuo entre todos que fazem a escola e que há uma preocupação do núcleo gestor quanto à formação de seus educandos. O núcleo gestor, juntamente com os professores, tentam resgatar a auto-estima dos alunos, promovendo projetos que busquem melhorar o desenvolvimento intelectual e moral dos mesmos.

Se tratando da formação de professores, a maioria são formados ou estão se formando na área em que atuam, muitos procuram atender as necessidades da sala de aula, outros não, como foi mencionado anteriormente. Nos planejamentos, os professores se reúnem uma vez por mês no coletivo juntamente com o coordenador e individualmente para melhor atender a necessidade de cada sala de aula.

Sobre o P.P.P ( Projeto Político Pedagógico), algumas escolas possuem, outras não. As que possuem, os mesmos estão passando pelo processo de reconstrução. Algumas escolas também possuem o conselho escolar no qual se reúnem uma vez por mês ou quando há alguma necessidade. Suas atuações acontecem principalmente na área financeira, como também na parte pedagógica e administrativa.

Quanto ao Currículo, todos os professores têm uma compreensão sobre o mesmo, encontram uma exigência muito maior e que requer muita atenção, contudo, procuram adaptá-lo a realidade escolar. Para Goodson (2002): ¨Os educadores interessados em estabelecer uma prática e um Currículo igualitários, são constantemente levados a insistir na necessidade do diálogo e da mutualidade, e com isso, a defender a “reconstrução do conhecimento e do Currículo”.

O Currículo é visto como um processo de racionalização de resultados educacionais. No decorrer da disciplina percebemos que o Currículo não uma determinada resposta mais sim, reflexão sobre ele, no qual cada um tem sua opinião. Segundo a diretora de uma das escolas: “um currículo deve abranger todas as áreas do conhecimento párea a formação acadêmica do educando e, garantir que a escola atenda toda a comunidade escolar e suas necessidades”. Como afirma Corazza(2001, p. 10):¨Um Currículo, como linguagem, é uma prática social, discursiva e não-discursiva, que se corporifica em instituições, saberes, normas, prescrições morais, regulamentos, programas, relações, valores, modos de ser do sujeito.¨

Podemos observar o quanto é importante a criatividade e a boa relação professor-aluno, pois é assim que flui o verdadeiro trabalho educacional, de forma que ambos trabalhem em parceria, visando um conhecimento mais abrangente, voltado mais para a vida em geral.O Currículo escolar é parte integrante das disciplinas obrigatórias de um curso, para o qual o aluno está inscrito, como também poderá ser um documento que irá contribuir para o acompanhamento escolar do aluno, seu desempenho e toda sua vida escolar. Analisar a educação implica em prestar atenção aos objetos de estudo,  que não se vincula somente  a parte curricular, mais  sua importância no meio cultural , em busca de estratégia para um  sistema educacional mais eficaz

 

O ¨currículo como fato¨ precisa ser considerado não como uma mera ilusão,  armada superficial  da pratica escolar de alunos e professores, mas como uma realidade social, historicamente especifica, expressando relações de produção particulares entre pessoas. Semelhante currículo é uma mistificação quando se apresenta como algo que possui vida própria e confunde relações humanas nas quais, como qualquer conceito de conhecimento, está embutido, fazendo da educação uma coisa em que as pessoas não podem compreender nem controlar¨ .( GOODSON, 1995, p. 18).

 

Toda atividade pedagógica de ensino exigem como base um currículo, que vai dar direcionamento de uma forma explicita, uma determinada concepção de ensino. Contudo, um dos métodos eficaz era a descentralização do ensino, atribuindo ao currículo, pois, sabemos que apesar de o currículo representar um objeto sustentável no ensino, ele deixa transparecer algumas falhas na sua formação, uma delas seria a relação entre o funcionamentos dos sistemas escolares  junto com as desigualdades sociais, já que, o currículo não oferecem o mesmo potencial para todas as  escolas, pois, o modo de vida de uma escola é diferente de outra, á qual não se compreendem apenas em vê-lo, mais de observar mais diretamente.

 

¨Reduz a realidade social de ¨currículo¨ as intervenções e ações subjetivas de docentes e discentes, impedindo-nos de entender o surgimento e a persistência históricos de determinado conceitos, conhecimentos e convenções ( como por exemplo as matérias escolares). Ao sermos impedidos de poder situar historicamente os problemas da educação contemporânea, ficamos também impossibilitados de entendê-los e controlá-los. (Young e whitty, 19777, p.237).

Vale a pena trazer a discussão, o desinteresse pela a teoria, talvez, até ficam difícil de diferenciar o que é ‘teoria” e o que é “prática”, ao observamos certa acomodação de alguns professores, que, passivamente esperam  que alguém venha lhe dizer o que fazer, e como fazer, dispensando-os do trabalho de pesquisa, de criar, inventar novos métodos de aprendizagem. 

  

¨No campo curricular, a ânsia de se proceder corretamente é tão imediata, tão direta e tão irresistível, que praticamente não tem havido tolerância com pesquisa de longo alcance. De pouco valor imediato para os profissionais do ramo, poderá, no entanto, mais tarde, contribuir para o nosso conhecimento e entendimento básico (p.41)

 

Vê-se que o professor está deixando de usar sua subjetividade, deixando de usar suas competências, reduzindo suas habilidades, de forma meramente técnica. Contudo o professor é um ser ativo, atuando no seu funcionamento  e sem esse desenvolvimento, ele permanecerá atrelado ao seu cotidiano, sem pensar nem refletir de uma forma mais elaborada o seu lado critico.                                 

                                                                                                                                                                                       ¨Os professores passaram a ser responsabilizados pelo o fracasso dos seus alunos e da escola. Incompetentes, mal formados, displicentes, alienados e possivelmente idiotas cognitivos, ¨livros didáticos,  dependentes, determinados pela as estruturas ou culturas dominantes, inconscientes, vários  tem sido os adjetivos utilizados para desqualificar e responsabilizar os professores pelo fracasso da escola e da educação quando, na maioria das vezes, eles são tão vitimas quanto seus alunos. ( TARDIF,2001).

 

 É evidente que causas externas interferem de forma  tão rústicas,  a formação profissional do professor de modo que ele tenha que compreender tal realidade, e associar, na compreensão do papel de ser um educador, não sendo fácil tal realidade.

 

3.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante toda a pesquisa, podemos perceber que a educação é muito importante, uma vez que ensinar e aprender não se encerra nunca. Ela, como capital humano, tem uma contribuição decisiva para a criação da riqueza e para o desenvolvimento econômico. Ela garante uma mobilidade social segura e, apesar do sucateamento e do descaso político, vamos concebê-la como o caminho mais certo para o bem da sociedade.

Percebemos também que, o professor é um mediador competente entre o aluno e o conhecimento, alguém que deve criar situações para a aprendizagem, que orienta que coordena e que muitas vezes, exerce o papel de mãe, porém, todo aluno deve ser conscientes de seus deveres e de suas responsabilidades. O professor precisa incentivá-los, formá-los autônomos e originais, que não tenham medo de questionar sobre o certo e o errado, e que acima de tudo, busquem uma sociedade mais justa e igualitária.

A educação é a solução e é para toda vida. Ela marca a diferença entre o sucesso e o fracasso, é a única forma de reinventar a educação e trazê-la ao cotidiano do aluno, fazendo com que a vivência e as experiências do indivíduo façam parte efetiva da escola. Portanto, a contribuição do Currículo para a construção de uma sociedade mais justa, tendo como objetivo a formação de cidadãos críticos e participativos, será importante na evolução dos princípios fundamentais de uma sociedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                   

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CORAZZA, Sandra. O que quer um currículo? : pesquisas pós-críticas em Educação/ Sandra Corazza. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

GOODSON, Ivor F. Currículo. Teoria e história. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

SILVA, Tomás Tadeu Da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte.  Autêntica, 1999.

TARDIF, Lessard; Lahaye. Os professores face ao saber. Esboço de uma problemática do saber docente. Teoria e Educação. n. 4. Porto Alegre: Pannonica Editora, p. 215-233, 1991.