Fabiane Tamara Rossi


Neste artigo propõe-se uma leitura na pintura renascentista pelo viés de dois artistas, Giovanni Bellini e Rafael Sanzio, evidenciando suas obras cuja temática e títulos consistem em "Cristo Benedicente" (The Blessing Christ).
Espera-se, a partir dessa comparação entre as obras de Bellini e Rafael, encontrar características em comum com o período em que elas foram produzidas (Renascimento), mas também as diferenças entre elas, buscando assim entender a poética de cada artista, procurando perceber as permanências e as rupturas de ambos os artistas para com a temática retratada.

Renascimento: uma introdução

No século XIV inicia-se um período de mudanças na Europa: a forma de organização política-econômica-social se altera aos poucos para o mercantilismo ou pré-capitalismo; há o surgimento da burguesia como detentora de capital; ocorre o acirramento do contato mercantil com a Ásia e juntamente com ele um grande fluxo de pessoas para o continente europeu.
Aliada a essas mudanças, está à transformação dos ideais humanos, na forma do humanismo, ocorrendo o "renascer" das idéias sobre a vida, sobre o corpo, sobre o social. O termo renascimento passou a ser utilizado para denominar este "renascer" artístico e científico ocorrido entre os séculos XIV e XVI, tendo como características principais a revalorização do pensamento e da arte da Antiguidade Clássica, a formação de uma cultura humanista, a racionalidade, o individualismo e o rigor científico.
Os artistas dessa época se orientaram por ideais de perfeição, equilíbrio e graça, representados com o auxílio dos sentidos de simetria e proporção das figuras. Há a valorização do homem e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos da Idade Média (Escolástica). Este voltar o olhar sobre si mesmo fez ressurgir também os estudos nos campos das ciências humanas, assim como o aguçamento do espírito de observação do homem e do meio em que vive (naturalismo).
Outras duas características marcantes foram o racionalismo, isto é, a convicção de que tudo poderia ser explicado pela razão do homem e pela ciência; e o individualismo, refletindo a idéia de que cada um é responsável pela condução de sua vida, em oposição ao sistema estamentário vigente na Idade Média.
Nesta época há também a alteração do "para quem" se faz arte: anteriormente a Igreja Católica configurava-se como a principal financiadora da Arte, mas, a partir do Renascimento, quem também assume esse papel de financiar o fazer artístico são os mecenas, patrocinadores da Arte, que se configuravam entre os burgueses, e em menor parte os governantes europeus e o clero. Isso significou numa crescente valorização da arte, especialmente na Península Itálica, em cidades como Veneza, Florença e Gênova, que tiveram um expressivo movimento artístico e intelectual ? o que fez a Itália ser conhecida como o berço do Renascimento.