"Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;" Mat 5; 5

Frequentemente se equaciona mansidão com fraqueza, como se fossem a mesma coisa, mas, não é bem assim. Animais extremamente fortes como os elefantes, podem ser mansos. Mansidão, pois, trata de força sob controle, não a ausência dela.

Ninguém psicológicamente sadio ousaria pretender ser tão ou mais forte que Aquele que venceu o pecado, o mundo, o diabo e a morte. Contudo, Ele disse: "?aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração?" Mat 11; 29
Em muitos, ou ao menos em algum momento, temos que lidar com a ira. Somos advertidos pela Palavra que, "?a ira do homem não opera a justiça de Deus." Tg 1; 20 Portanto, parece uma postura que convém evitar. Paulo diz: "Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira." Ef 4; 26 Na verdade o apóstolo estava parafraseando o salmista que dissera: "Perturbai-vos e não pequeis; falai com o vosso coração sobre a vossa cama, e calai-vos." Sal 4; 4

Então, temos nos textos sagrados uma concessão para que até nos iremos, sem, todavia, em cima disso cometermos pecado. Na verdade, apesar de ser alistada nos "pecados capitais" pelo catolicismo, a ira em si, sequer pecado é. Só um absoluto pusilânime pode contemplar injustiças covardias, obscenidades, sem um quê de irritação, sem certa dose de ira, mal estar.
Jó em Sodoma provou muito disso, "(Porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, vendo e ouvindo sobre as suas obras injustas); II Ped 2; 8 Jesus quando encontrou o comércio usurpando o lugar da adoração ao Senhor, em Seu zelo não conteve a ira; "E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas;" Jo 2; 15 Aliás, se Ele vier passar em revista tudo que se faz em Seu nome, é considerável o número de "mesas" a virar.

Alguns, mercê de uma má interpretação do texto que ensina que nossa luta não é contra carne e sangue, acham que não devemos polemizar, nem criticar aos "irmãos" que agem de modo diverso do ensinado nas Escrituras. Ora, no mesmo texto que fala isso, manda os servos de Deus cingirem-se com a verdade, que não é outra coisa senão, além de serem verdadeiros, denunciarem a mentira. Vestirem a couraça da justiça, que demanda não cometer injustiça, nem concordar com os que a cometem, e assim as demais "armas".

Mesmo tendo que lutarmos contra o inimigo, isso envolve participação humana, de um lado e de outro. "E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras." II Cor 11; 14 e 15

Como assistir ao obsceno desempenho desses ministros diante de nós, sem uma saudável dose de ira? Até Deus a sente. "Deus é juiz justo, um Deus que se ira todos os dias." Sal 7; 11 Claro que não estou advogando aos melindrosos, irritadiços por coisas pequenas ou banais; muitos, ante uma correção qualquer, antes de se arrependerem e mudarem o rumo, derrubam o beiço e se isolam, com se vítimas de injustiças. Nesses, a cruz inda tem muito trabalho a realizar.

Agora, em se tratando de cristãos maduros, a paz necessária é com Deus, a horizontal, é mera possibilidade, nem sempre desejável. "Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens." Rom 12; 18 No que nos diz respeito, pois, devemos laborar pela paz, mas, se o preço for condescender com a violência à sã doutrina, às Escrituras, chamemos à arena a advertência de Jeremias: "Maldito aquele que fizer a obra do SENHOR fraudulosamente; e maldito aquele que retém a sua espada do sangue." Jr 48; 10

"Dá-me asco essa falsa humildade, que no fundo gera a omissão e acaba nivelando tudo a padrões baixíssimos."

Clécio Almeida