O Corpo como Símbolo.

O olhar sobre o corpo assume aspectos de disciplinas que, no decorrer dos tempos foram sendo domesticados e corrompidos pelas sociedades capitalistas. Esses corpos ora trabalhados eram exposto para os anseios da sociedade. O homem no ente um ser corpóreo e como tal, revela sua história através de seus movimentos. Assim sendo, a corporeidade assume uma nova ótica rompendo com o modelo cartesiano que via o homem dividido em dois eixos corpo e mente.

Dessa maneira Santin (1987 p.77) define um conceito de movimento: " o movimento ultrapassa os limites da simples motricidade ou das atividades mecânicas, o movimento humano não pode ser reduzido a deslocamentos físicos, a articulações motoras ou a gesticulações produtivas. Mas é necessário vinculá-lo a todo o seu modo de ser. Não é apenas o corpo que entra em ação pelo fenômeno do movimento. É o homem todo que age e que se movimenta".

Nessa colocação de Santin, expressa o tanto que o indivíduo está imerso num universo de práticas corpóreas, onde o ser cria e recriam ao mesmo tempo várias possibilidades de movimentos em relação à sociedade, ao trabalho, a vida como um todo, único e subjetivo. A história do indivíduo então, participa como pano de fundo para a existência corporal,numa relação de prazer e desejo,sendo que,as práticas corporais e o trabalho do corpo em movimento é de fundamental importância para que o indivíduo adquira noções espaciais.

Uma característica dos movimentos corporais é bem expressa em Sérgio (1997), colocando que a Motricidade Humana ciência que engloba todos os movimentos intencionais, baseia-se numa grande variedade de possibilidades. Para que o indivíduo possa se perceber, e contextualizar o mundo a sua volta,é necessário que ele tenha uma boa percepção capaz de facilitar o seu processo de locomoção e ação.

A ação motora requer ensinamentos que capacitem o indivíduo no seu aprendizado e na prática do dia-a-dia. As dimensões sociais do ser corpóreo assumem funções essenciais para qualquer atividade ou trabalho. Entretanto faz-se necessário alocar aqui uma reflexão mais consistentedaquilo que é a verdadeira substância da corporeidade, é preciso evidenciar a fala de Freire (1991, p. 26/27) quando diz que "O corpo, inevitavelmente, não está morto; Nossa condição corporal e sempre presente". Nessa colocação fica claro que somos e estamos no mundo. Fazendo parte dele, agindo e interagindo a todo instante, numa troca recíproca entre indivíduo e meio. O ser humano vive através de sua corporeidade. Não se pode misturar corpo e corporeidade. O indivíduo interage e se comunica através do seu corpo, entretanto, tudo isso que está marcado em seu corpo, tem a ver com a corporeidade que se refere e torna-se notório através de seu corpo, mas, tudo que emerge de seu corpo diz respeito à corporeidade. Uma corporeidade capaz de fazer a trajetória histórica do indivíduo, que, na maioria das vezes, nem percebe essa dimensão que o corpo assume a todo instante.

Pensar num corpo onde as capacidades são a todo o momento testado, é evidenciar que não só temos limitações em nosso agir corporal, como também, respeitar os que possuem "deficiências" físicas concretas. Nossa relação corporal, trás a tona o que de melhor e de pior temos dentro de nós, numa relação contextual que assume diversas características atribuídas ao meio.

Dessa forma, a contemporaneidade trouxe uma série de avanços para o novo quadro social vigente. Um bom exemplo disso é o tipo de expressão que o nosso corpo adquiri frente os objetos sociais.

Pensar em um corpo submerso por novas estruturas e grupos sociais que estão surgindo, não é tarefa fácil. Ela requer uma visão bem mais ampla do indivíduo que, a partir de sua formação, e da história de vida, constrói toda sua formação corporal. Para Mafessolí, as novas tribos que se formam na atualidade, buscam seu espaço social, e a luta por aquilo que acreditam, quase sempre não condiz com o que esperam. Uma das razões do surgimento dessas classes evidencia o quanto o sujeito se afasta de sua própria identidade cultural, e do "eu", vivido e influenciado pelo meio. As transformações ocorridas reiteram o que Marx enfatizava em seus discursos sociais contra o capitalismo. Capitalismo esse, que afasta o ser humano do sentido coletivo de vida, e o coloca no patamar individual, no sentido bem restrito da palavra.

O corpo, então, assume um papel estético fora dos padrões das sociedades passadas. Pegando como parâmetro, a década de 70, o indivíduo aceito pela sociedade, era aquele que andava de acordo com os princípios éticos e morais. Onde nos anos que se seguiram imperava o regime militar. Regime esse, que se opunha a liberdade de expressão e ao livre arbítrio.

O surgimento de novos movimentos sociais nessa época era tido como adversos, pois colocavam em risco os ideais de autonomia do Estado. Os novos grupos sociais ou tribos se formaram, ou se formarão dependendo do espaço que ocupam na sociedade. Ou seja, muitas das vezes eles surgem, sem ideais definidos. Pensar em novas tribos ressalta o quanto as diferenças se fazem presentes em nosso meio. Maffesoli afirma que a humanidade vive um "período empático",onde predomina a indiferenciação e o perder-se em um "sujeito coletivo",chamado por ele de "neotribalismo" (Maffesoli,1987).

Assim, o neotribal ou tribo, define tão somente pela reunião de vários sujeitos, onde a intenção não tem um objetivo concreto, e sim, a reunião de todos os membros para reafirmar os sentimentos de amizade do grupo.

Buscar um espaço na sociedade atual e economicamente capitalista,é algo muito difícil para esses grupos que se formam,quer sejam eles de punks, revemetal, raves, emos, etc. Eles não se dão conta, que apesar da aversão do capitalismo, vivem totalmente em função dela e para ela. Essa dicotomia,reitera o que chamamos de "o mal necessário",pois o seu corpo e a sua vida em sociedade dependem única e exclusivamente da base econômica,que é a mola mestra da vida social.

A história de vida do ser humano é envolta por expressões que estão escritas de forma singular em cada um de nós. Essa singularidade revela o quanto o nosso corpo capta e percebe tudo que acontece a nossa volta.

Hoje, vivemos numa sociedade excludente e complexa, que atribui ao campo visual e estético o que de melhor o ser humano pode possuir. Isso fica evidente devido aos avanços tecnológicos e de consumo, que vê o homem como um "objeto" e domesticado pela influência da mídia.

O corpo então é projetado para os anseios capitalistas da sociedade contemporânea, buscando padrões estéticos que vão desde as atividades físicas, até as cirurgias plásticas de ponta, hoje existentes na medicina. Esse aparato todo que se segue, não vê apenas a questão biológica do indivíduo, mas anseia a perfeição do corpo que assegura através dos recursos médicos e cirúrgicos, a perfeita estrutura do corpo humano, ressaltando que, aqueles que não compartilham dessa tecnologia, são excluídos do convívio social.

A mídia cria e recriam situações que colocam o corpo em evidencia, como as questões raciais, a sexualidade, a condição econômica, etc. Numa dualidade que afasta a consciência humana do seu eixo principal, qual seria o seu bem estar e a aceitação de si mesmo. Sendo que, por conta do capitalismo desenfreado que se instalou na sociedade contemporânea, o corpo passou a ser visto sobre uma nova ótica, onde novos valores culturais e ideológicos foram se constituindo. Uma nova forma de vê o corpo que assume a partir do capitalismo novas implicações e realidades afastando o homem de sua verdadeira essência corporal, na busca pelo "eu". Ou seja,o corpo que se satisfaz na diversidade das ações que pratica.

Referências:

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Educação como cultura/Carlos Rodrigues Brandão. SP: Mercado das Letras, 2002.

MAFFESOLI, M. (s/d). O Tempo das Tribos: O Declínio do Individualismo nas Sociedades de Massa. Rio de janeiro, Forense, 1987

MOREIRA, Wagner Wey (org). Corpo Presente. Campinas/SP: Papiros, 1995.

SANTIN, S. Perspectivas na visão da corporeidade. InMOREIRA, Wagner W. (org). Educação Física e Esportes: perspectivas para o século XXI. 6ed. Campinas: Papirus, 2001.

SERGIO, Manoel. Para uma epistemologia da motricidade humana. Lisboa: Compendium, 1997.

TAVARES, Maria da Consolação G. Cunha F. Imagem corporal. Barueri/SP: Papiros, 2003.