INSTITUTO SUPERIOR DE TEOLOGIA APLICADA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL
PÓLO - LAGARTO






LÁZARO GONÇALVES MENDONÇA




O coronel nos tempos áureos do cacau





FIG. 01: Fotografia ? Os coronéis da novela Gabriela.
FONTE: Arquivo CEDOC/UESC.


LAGARTO/SE ? 2010

LÁZARO GONÇALVES MENDONÇA










"O coronel nos tempos áureos do cacau"









Artigo apresentado à Disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisas Históricas, ministrada pela professora Edna Matos, do Instituto Superior de Teologia Aplicada-INTA.




Orientadora: professora Edna Matos.












LAGARTO/SE ? 2010



RESUMO:







Nesta breve análise em que empenhamos esforços para sintetizar o máximo possível um tema que por décadas tornou-se o centro das atenções da cultura sul baiana, o leitor terá a oportunidade de conhecer ou aprofundar-se em questões no mínimo curiosas e traçar um paralelo entre estas no tocante ao papel dos inúmeros ditos coronéis do cacau e os das demais regiões do Brasil. Cidadãos emblemáticos que povoam ainda hoje o imaginário de muitos escritores e historiadores, como também de qualquer indivíduo em toda parte do país. Homem de personalidade forte, dono de imensas e valiosas propriedades, um patriarca, líder do seu numeroso clã, possuidor muitas vezes de uma pequena tropa armada, o coronel da região cacaueira era um indivíduo rude e poderoso onde suas decisões em geral traziam grandes consequências para a sociedade local seja no aspecto econômico ou político. Enfim, esperamos que o leitor analise criticamente os mais variados pontos de vista deste artigo e tire suas próprias conclusões acerca deste tão debatido tema pela historiografia brasileira - a amadeana que nos diga - mas que sempre nos surpreende revelando pontos interessantíssimos da nossa história.







Palavras-chave: Coronel; Sociedade; Bahia; Cacau; Poder.










A FIGURA DO CORONEL



Temido ou respeitado o certo é que a vida do coronel era sempre o tema principal das "rodas de conversas" nos bares, festas, nas roças de cacau ou em qualquer reunião que ocorresse na região sul da Bahia até meados do Século XX, mas era sobretudo em finais do Século XIX que a figura do coronel era mais presente nesta sociedade. Seja em que época for, sabe-se que o coronel foi um personagem importante que cresceu juntamente com a economia cacaueira gerando emprego e renda para a população, desenvolvendo vilas e cidades, tudo da sua maneira, usando a sua força, abusando muitas vezes do seu poder, mas também usando-o para atrair dos grandes centros nacionais investimentos e conhecimentos para a sua região. Indivíduo que com sua patente de coronel comprada do exército brasileiro em geral após ter comprado outras menos importantes como as de capitão ou major, após inúmeros feitos garantiu seu espaço no seleto hol das personalidades históricas desse país. Ações como a geração de emprego, abertura de estradas, criação de fazendas, de vilas que mais tarde tornaram-se cidades ou mesmo o envio de seus filhos para os grandes centros urbanos do país ou muitas vezes para estudar na Europa e depois vir aplicar seus conhecimentos nas cidades da região, foram alguns dos inúmeros benefícios proporcionados pelos coronéis na região cacaueira. Quando as plantações de cacau estavam no auge de sua expansão, a produção cacaueira era o principal objeto de cobiça e isso teve como conseqüência o surgimento de uma classe social que se tornou sinônimo de poder político e financeiro: os coronéis do cacau. Terras do Sem Fim, sintetiza ainda este momento da história sul - baiana, quando trata do conflito entre o coronel Horácio da Silveira e a família Badaró, ricos plantadores de cacau e indivíduos de grande influência política, que lutavam pela posse de centenas de alqueires de mata virgem ? as matas de Sequeiro Grande ? palco de lutas entre homens de grande poder econômico e político que com suas patentes praticavam negócios às vezes até ilícitos, segundo sempre sua conveniência e arrogância numa busca frenética pela supremacia do poder político-econômico na região. Os coronéis eram sempre o centro das atenções de todos sendo muitas vezes ainda lembrados e reverenciados como lendários desbravadores, ou para outros como ditadores aristocratas. Enfim, são os coronéis do cacau, em geral indivíduos que não estavam acostumados a receber nada de "mãos beijadas", sempre conquistando tudo com muito empenho, muita dedicação e sagacidade, mas que geralmente apelavam para a força empreendendo com seus jagunços tocaias a pequenos fazendeiros ou mandando executar inimigos políticos. Naturalmente foi surgindo à riqueza e força política que centralizada nas mãos de alguns poucos líderes locais e com eles muitas novas vilas e cidades foram surgindo na região, tudo a partir daqueles rústicos homens com hábitos extremamente tradicionais que ainda fazem parte da memória coletiva do povo dessa região. Na cidade de Itabuna nos tempos áureos do cacau destacaram-se: José Firmino Alves dos Reis; Nicodemos Barreto; Adolfo Leite; Paulino Vieira; José Kruschewsky; Antonio Gonçalves Brandão, dentre outros, verdadeiros coronéis do cacau, que viveram sua época, intensamente centrados além das roças de cacau, no comércio e no mundo político, mas que inexplicavelmente não tiveram sua linha política mantida pelos seus descendentes, apenas a econômica.

Segundo o historiador Adelindo Kfoury:
"O Coronel do Cacau foi um desses ousados homens que se dedicaram a desbravar terras na região cacaueira, no Sul da Bahia. Foram os mesmos que enfrentaram desafios, conheceram a fartura e fizeram a história da região. O Coronel do Cacau é uma mistura de lenda e realidade, ora nos livros de Jorge Amado, como um libertino, ?tocaieiro? e forte, ou nas obras de Adonias Filho, sagaz desbravador, caçador ou um ambicioso calculista. Muito antes de atingir as pompas do "coronelismo", o homem que aqui se fixou lutou, desbravou e venceu a todo custo".



CORONEL, REAL OU APENAS LENDA?



Histórias envolvendo o comportamento de coronéis da região cacaueira, em especial aqueles dos municípios de Itabuna e Ilhéus, sempre foram comuns no cotidiano dessas cidades. As ações dos coronéis muitas vezes eram interpretadas como assustadoras, mas de tanto passar de "boca em boca" ganhavam dimensões bem distantes da real, o que tornava a imagem de muitos como verdadeiros terroristas. Por outro lado, devido ao seu jeito rude de ser e de agir, o comportamento dos coronéis tanto em público ou apenas no seu dia-a-dia com empregados, talvez por inveja ou mesmo vingança tornavam-se motivo de chacotas por parte das demais classes da sociedade chegando até mesmo a criar personagens engraçados que contavam ou cantavam em público as situações embaraçosas em que os coronéis se envolviam.

Em entrevista ao Jornal "A Região" de Ilhéus o historiador ilheense Manoel Carlos de Almeida ao longo dos seus 80 anos de idade fazia as seguintes afirmações sobre os coronéis do cacau:
"Os coronéis foram muito injustiçados. Não existiu essa história de que os coronéis maltratavam seus funcionários. Muitos proprietários das fazendas eram duros para impor o respeito. Eles tinham que se impor, mas não existia essa história de escravidão. Não era assim. Mas claro que a mentalidade do trabalhador da época não é a mesma de hoje. Hoje existem as leis trabalhistas, que estabeleceram uma relação entre o fazendeiro e o trabalhador. Antigamente o coronel precisava se impor".


E quando questionado pelo mesmo jornal sobre a questão dos coronéis ganharem muito dinheiro em Ilhéus, mas investirem pouco na cidade, o historiador fez a seguinte afirmação:

"É verdade. Eles investiram pouco em Ilhéus. A ambição do lucro é evidente e os coronéis ganhavam dinheiro em Ilhéus e aplicavam em Salvador e Rio de Janeiro. Tinham propriedades nessas cidades. Mas não eram todos assim. Misael Tavares, por exemplo, não teve bens em outras cidades. Tudo o que ele construiu foi em Ilhéus. Foi o coronel que mais se identificou com a cidade. E ainda hoje temos marcas do muito que foi construído por Misael."


FIG. 02: Fotografia ? Quadro Coronel Misael Tavares.
FONTE: Arquivo CEDOC/UESC.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



Enfim, a verdade é que a imagem do coronel é algo ainda muito forte na memória da região cacaueira em especial nas obras do monstro sagrado da literatura o romancista o escritor Jorge Amado que sabiamente mostra com humor e seriedade os dois lados da moeda desses personagens conhecidos como coronéis do cacau. É certo que nesta região do cacau registraram-se muitos crimes envolvendo posse de terras, domínio político ou a supremacia machista, mas é prudente que se faça um estudo mais objetivo do que poderia ter sido o coronel do cacau.
Um personagem que chegou pobre e sem instrução a estas terras baianas. Apenas um entre muitos que vieram com ou sem família se juntar a outros e descobrir o eldorado, passou a viver em casebres no meio da floresta, dormindo em redes ou cama de esteira. Nas matas brutas e hostis repletas de onças, jararacas, doenças ou até mesmo índios selvagens, plantava os "frutos de ouro" enquanto sonhava com um futuro promissor. Foi a partir desse clima de lutas e desconforto, em meio ao perigo, que surgiu a personalidade do verdadeiro coronel. Homem destemido e acostumado a conquistar seu espaço com seus esforços. Foi por tudo isso que, no decorrer muitas décadas, o coronel ganhou o respeito e a obediência dos habitantes da região.



FIG. 03: Fotografia - Trabalho nas barcaças de cacau.
FONTE: Arquivo CEDOC/UESC.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:








AMADO, Jorge. Capitães de areia. Rio de Janeiro: Record, 1991. 233p.

AMADO, Jorge. Gabriela cravo e canela. São Paulo: Martins, 1958. 453p.

AMADO, Jorge. Terras do sem fim. São Paulo: Martins, 1943. 345p.

AMADO, Jorge. Tocaia grande. São Paulo: Martins, 1945. 460p.