O cooperativismo em suas raízes: "A formação da Colônia Agrícola Tereza Cristina no Paraná do século XIX."
Arlindo Aparecido Madoenho
Orientador: Profº. Francisco Ferreira Junior

Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar o cooperativismo em suas origens, analisando o que pode ser considerado a raiz deste tipo de organização, em meados do século XIX, no velho e no novo mundo. Quando Robert Owen planta a primeira semente, nascendo a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale na Inglaterra, dentro de um cenário com grandes complicações sociais, os trabalhadores sendo sacrificados nas fábricas que surgiam em todas as partes, no período pós revolução naquele continente.
Apenas três anos depois, o francês Jean Maurice Faivre, funda em território brasileiro, na região central do estado do Paraná o que é reconhecida como a primeira experiência de cooperativa do Brasil.

Palavras-chave: História, cooperativismo, trabalhadores, fábricas

ABSTRACT: This work has as objective to present the cooperativismo in its origins, analyzing what the root of this type of organization can be considered,
in middle of century XIX, the old one and in the new world. When Robert Owen plants the first seed, being born the Society of the Honest Pioneers of Rochdale in England, inside of a scene with great social complications, the sacrificed workers being in manufactures them that the parts appeared in all, in the period
after revolution in that continent. But three years later the Frenchman Jean Maurice Faivre, it establishes in Brazilian territory, the central region of the state of the Paraná what she is recognized as the first experience of cooperative of Brazil.

keywords: History, cooperativismo, workers, factories
Este trabalho tem como objetivo trazer presente uma discussão, sobre o cooperativismo na sua origem, abordando a experiência de Rochdale , na Inglaterra, com o trabalho de Robert Owen , reconhecido como início do cooperativismo. Representando uma alternativa de sobrevivência para um grupo de trabalhadores em uma fábrica, tal fato ocorre em meados do século XIX, sendo marcado como o início do capitalismo. Momento em que a Europa passa por transformações profundas, nos campos sociais, políticos e econômicos, gerando dificuldades para sua população, que tem que se adaptar a um novo modo de vida. Num momento posterior bem próximo da organização da cooperativa de Rochdale, nesta mesma época o médico francês Jean Maurice Faivre , que morava no Brasil, exercendo o ofício da medicina inclusive prestando serviços à família imperial, retorna à França convencendo um grupo de compatriotas a virem para o Brasil, Faivre e seu grupo ao chegar ao Novo Mundo adentrando as florestas do interior paranaense chegam à região central do Estado do Paraná, às margens do Rio Ivai , funda uma colônia à qual em homenagem à Imperatriz, denomina-a como Colônia Agrícola Tereza Cristina . O objetivo do fundador, era de que todos, vivessem dentro dos princípios da cooperação, tudo o que fosse produzido nesse âmbito pertencia a todos, para que os moradores desta comunidade não passassem necessidades. Este empreendimento é reconhecido como início do cooperativismo no Brasil. (relatório feito por José Antonio Vaz, apresentado ao Exm°. Sr. Francisco Liberato de Mattos, presidente da província do Paraná no ano de 1857)
Para compreensão do cooperativismo em suas raízes, se faz necessário entender o contexto social, político e econômico, o processo de mudança pelo qual o continente europeu está passando com a chegada do capitalismo.
Com o surgimento da indústria começam a serem formadas novas classes sociais, de um lado a burguesia industrial, chamada de classe dirigente e no outro extremo a emergente classe operária, é deste acontecimento que Thompson retrata em sua obra "A Formação da Classe Operária Inglesa."

Nos anos entre 1780 e 1832 os trabalhadores ingleses em sua maioria vieram a sentir uma identidade de interesses entre si, e contra seus dirigentes e empregadores. Essa classe dirigente estava ela própria muito, dividida, e de fato só conseguiu maior coesão nesses mesmos anos porque certos antagonismos se dissolveram, frente a uma classe operária insurgente. Portanto, a presença operária foi, em 1832, o fator mais significativo da vida política britânica.

Thompson comenta um período em que mudanças significativas ocorreram dentro da sociedade inglesa. Os trabalhadores que antes eram donos dos meios de produção. Exemplo: os artesãos tinham seus próprios equipamentos com os quais desenvolviam os seus trabalhos, os camponeses que estavam acostumados a viverem em áreas comunais, começam a sentir que uma nova forma de organização social está sendo imposta para a maioria da população que passa se unir buscando um melhor jeito de viver, representando o início da organização da classe operária.
O campo começa a ter dono, ocorrendo o fechamento destes que passam a produzir matérias prima para as fábricas. Nesta ocasião há certa inversão de valores. Até então, o campo controlava a cidade, agora é a cidade que passa a exercer controle sobre o campo. Os artesãos são obrigados a abrir mão de suas ferramentas em favor da indústria, os povos migram para as cidades, buscando trabalho nas fábricas. Marx e Engels em seu "Manifesto Comunista" tratam desta questão.

Massas de operários, amontoados na fábrica, são organizados militarmente. Como soldados da indústria estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do estado burguês, mas também diariamente, a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da fábrica.

O proprietário da fábrica objetiva, que além dos trabalhadores que estão contratados, haja um exército de mão-de-obra de reserva, assim as pessoas se submeterão ao trabalho mesmo com baixos salários e se alguém se recusa a aceitar tal imposição, haverá sempre alguém que o substitua, esta realidade gerou um imenso contingente de miseráveis, até mesmo os que tinham emprego eram afetados pela crise, em função da má remuneração. Tais fatos levam esses trabalhadores a se identificarem entre si, despertando um sentimento de revolta contra a opressão à qual são submetidos pelos seus patrões. É o começo da organização dos operários enquanto classe, o que caracterizou o fator mais importante da vida política da Inglaterra, daquele momento.
Maria Stella Martins Brescianni, em sua obra "Londres e Paris no Século XIX" também relata a realidade sócioeconômica do proletariado, as condições sub-humanas a que são submetidos, persiste a imagem negativa do novo mundo industrial, surge então um contingente de desempregados, em que os donos das fábricas vêem como mão-de-obra farta e barata para operar suas máquinas.

Na metade do século, após uma epidemia de cólera, vários documentos administrativos municipais são unânimes em considerar o crescimento desmesurado e caótico da cidade e sua população como causa das péssimas condições de moradia na parte antiga de Paris.


A partir deste contexto que a autora discute, tratando-se de um cenário de insatisfação e miserabilidade, com o crescimento populacional das cidades e os problemas sociais também se multiplicando, os trabalhadores buscam uma alternativa de sobrevivência, destacam-se lideranças do meio do proletariado, surge então organizações que buscam melhorias, ou seja, algo que venha a facilitar a vida dos trabalhadores, naquele momento de incertezas, através da união dos mesmos, nasce o movimento operário na Inglaterra. Tendo como um dos principais líderes a pessoa de Robert Owen. É sob a liderança de Owen, que no ano de 1844 um grupo de empregados em uma fábrica de Rochdalle na Inglaterra, denominados de artesãos ou tecelões, embora se tratassem de trabalhadores de diversos ofícios, existindo entre os mesmos, pessoas de convivências e ideologias diferentes, uns sendo socialistas utópicos, seguidores de Robert Owen, outros que nem tinham opiniões políticas. Na busca de um mecanismo de auto defesa, diante da crise após o processo de revolução ocorrido na Europa, esses por sua vez, fundam uma cooperativa, eles que eram moradores da periferia de Manchester, passando a assumir responsabilidades legais, registrando em 24 de outubro de 1844, a cooperativa de consumo, criada com o nome de "Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale".
Thompson, em sua obra "A Formação da Classe Operária Inglesa", faz referencias a Robert Owen, este líder com ideologia socialista.

Em primeiro lugar na mesma linha de continuidade nas idéias e experiências comunitaristas associadas aos Quacres, Camisards e particularmente aos Moravianos. Foi em Bolton e Manchester que um fermento inicial num pequeno grupo de dissidentes Quacres culminou na partida, em 1774,do "Mother Ann" com uma pequena leva de emigrantes, para fundar as primeiras comunidades Shakers nos Estados Unidos; quarenta anos depois, Robert Owen encontraria estimulo no êxito dos Shakers, cujas idéias foram por ele popularizadas em forma secular.

Thompson nos apresenta a fonte na qual Owen encontrou inspirações para desenvolver sua ideologia, o sucesso dos Shakers o leva a criação de ideais comunitários, sendo exatamente este pensamento que em momento posterior, algumas décadas mais tarde, culminam na criação da cooperativa de Rochdale, considerada como o início do cooperativismo mundial.
É importante lembrar que o contexto social, político e econômico que gerou o capitalismo são o mesmo que fez nascer o socialismo, enquanto a burguesia se fortalecia economicamente e o estado moderno aos poucos se consolidava sob o pensamento liberal, os ideais socialistas também ganhavam força influenciados pela ideologia marxista. Conforme os autores, Marx e Engels, comentam em sua obra "Manifesto Comunista."

As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo voltam-se hoje contra a própria burguesia. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas ? os operários modernos, os proletários.

Marx por sua vez acreditava que chegaria um dia em que o proletariado se conscientizaria, unindo-se e tomando o controle dos meios de produção. Desta forma chegaria o final da supremacia da burguesia. Marx era a principal fonte onde todos que não concordavam com o novo modelo que estava sendo imposto pelo estado moderno, buscavam inspirações. Certamente os socialistas liderados por Robert Owen também ?beberam desta fonte?.
Nesta época marcada pela revolução industrial, as fábricas emergindo em todas as partes, proporcionam uma desigualdade social, motivados pela ambição do proprietário da indústria, quando os trabalhadores eram submetidos a jornadas de até 16 horas diárias, não escapando nem mulheres e crianças. Robert Owen, que é considerado um dos pais do socialismo, não que este se colocasse contra a indústria, mas pregava que a indústria em si é benéfica, possibilitando o barateamento dos bens de consumo. Para Owen, o que estava errado, era a forma com que estas indústrias estavam se desenvolvendo, à custa de penalizações aos trabalhadores, em função do enriquecimento dos capitalistas donos dos meios de produção. Sua proposta era que a fábrica devia ser controlada pelos operários e o resultado final do trabalho repartido igualitariamente entre todos, assim seria feito a justiça para com os trabalhadores marginalizados. Defendia que ao redor das fábricas fossem criadas cooperativas, e ajudou a fundarem-se muitas destas, que não conseguiram funcionar por muito tempo. Houve uma reação por parte dos capitalistas industriais, que passaram a atacar as organizações de trabalhadores em forma de represálias, fazendo listas com nomes e expulsando operários que tivessem afinidade com o pensamento owenista, estes acabavam ficando desempregados, e muitas destas organizações de trabalhadores como sindicatos e cooperativas foram fechados e passavam para a clandestinidade. A experiência dos pioneiros de Rochdale, que eram os seguidores de Robert Owen, sequer puderam discutir salários e levar a compreensão de que tanto patrões como operários nada mais eram do que escravos de uma organização comercial e industrial existente, com um grande risco, do operário de hoje caso venha a ser patrão amanhã venha a se comportar da mesma forma que os industriais e comerciantes dos quais estavam se queixando. Assim entendendo que o conjunto do ambiente social, deveria ser mudado, e foi com base nesse pensamento que este grupo se une, buscando meios para melhorar sua situação, e em uma ação concreta criam um armazém cooperativo de consumo. Para garantir o funcionamento da entidade em questão, aqueles 28 tecelões, incluindo uma mulher, decidiram ter como princípio as seguintes normas: a sociedade deveria ser gerida democraticamente, cada sócio teria direito a um voto; o grupo seria aberto a quem quisesse participar, desde que integrasse uma quota de capital mínima de igual valor para todos; qualquer importância a mais investido na cooperativa seria remunerado, recebendo juros, mas tal fato não daria nenhum direito adicional de decisão ao possuidor deste capital; toda a sobra, ou seja, a receita líquida seria distribuída entre os associados em proporção às compras feitas na cooperativa por cada indivíduo; as vendas no armazém seriam somente à vista; os produtos comercializados teriam que ser puros e de qualidade; a instituição teria que promover a educação dos membros nos princípios do cooperativismo; deveriam ter um caráter neutro no campo da política e da religião. Dentro destes princípios, a sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, teve um crescimento grandioso, num prazo de dez anos, atingindo o número de um mil e quatrocentos sócios. Com vinte anos passados existiam mais de quinhentos armazéns cooperativos, sendo então criada a "Grande Associação de Manchester para venda no atacado", com os pioneiros de Rochdale, representando um importante mercado consumidor e passando a ter grande influencia social e política. Sendo também responsáveis pela fundação de várias cooperativas de produção em outras áreas.

O Cooperativismo no Brasil

Analisando o Brasil de meados do século XIX, quando grandes mudanças ocorriam no velho mundo e a partir de então o sistema sócio econômico brasileiro começa a ser questionado, a principal força geradora de riqueza em chão brasileiro, passa a receber críticas. O país adere às correntes liberais influenciadas pela Europa, que estão cada vez mais forte em função da estruturação do capitalismo, entrando em contradição ao permitir trabalho escravo em seu território, tal situação gerou um sério problema para o Imperador D. Pedro II administrar. O Brasil sofria grande pressão por parte da Inglaterra que interessada em ampliar o consumo de seus produtos, enxergavam nos cativos potenciais consumidores, caso passassem a receber salários. Boris Fausto em sua obra "História Concisa do Brasil" trata deste assunto:

Em 1826, a Inglaterra arrancou do Brasil um tratado pelo qual três anos após sua ratificação seria declarado ilegal o tráfico de escravos para o Brasil de qualquer proveniência. A Inglaterra se reservou ainda o direito de inspecionar em auto-mar navios suspeitos de comércio ilegal. O acordo entrou em vigor em março de 1827, devendo, pois ter eficácia a partir de março de 1830. Uma lei de 7 de novembro de 1831 buscou pôr em andamento o tratado, ao prever a aplicação de severas penas aos traficantes e declarar livres todos os cativos que entrassem no Brasil após aquela data.

Toda pressão exercida a partir das primeiras décadas do século XIX, colaborou para que a escravidão fosse gradativamente sendo extinta em território brasileiro. Este fato começa a favorecer as imigrações vindas do continente europeu, estes imigrantes passaram a ser visto como possíveis trabalhadores em substituição a mão-de-obra escrava.
Conforme o texto do relatório apresentado a Assembléia Legislativa do Paraná, em 1º de março de 1860, pelo então presidente, José Francisco Cardoso, que expressa toda preocupação em relação aquele momento em que a prática da escravidão não consegue mais se sustentar.

O assumpto de que me vou occupar é sem duvida o que mais tem prendido a attenção publica n`estes últimos annos.
E na verdade urge a adopção de medidas tendentes ao supprimento de operarios e cultivadores úteis.
Desde que o governo imperial e o paiz se empenharam com afinco na repressão do illicito tráfico de escravos, e que conseguintemente foram escasseando os braços, que nos forneciam semelhante commercio, as vistas de nossos lavradores volveram-se para a emigração estrangeira, como a única esperança que lhes restava, contra a decadência da produção agricola.
Entre os duos systemas reconhecidos para facilitar a vinda de colonos, é sem contestação preferível o da emigração espontanea: a lei de 18 de setembro de 1850 assim o visou, ordenando a demarcação dos terrenos de modo a extremar o dominio publico do particular.
Na nossa província, sobretudo, onde abundam as terras devolutas, fôra loucura tentar a colonisação por parceria ou salário.(sic)

Dentro desta conjuntura social e política, surge o francês Jean Maurice Faivre, doutorado em medicina na França, no ano de 1825, um ano após sua formatura em 1826 com 30 anos de idade, desembarca no Rio de Janeiro. Em 1829, Faivre, mostra que tem o dom de liderança, tornando-se um dos fundadores da Academia Imperial de Medicina, que depois do império, passou a se chamar Academia Nacional de Medicina. Saindo de um país de dimensões inferior, quando chega ao Brasil, um país do tamanho de um continente, com muito a se fazer, Faivre, logo encontra oportunidade no Hospital Militar da Corte, logo ascendendo à condição de chefe desta instituição. Podendo acompanhar as crises do final do Primeiro Reinado, Faivre, assistiu a Abdicação de D. Pedro I, em 1831, o período das Regências, a Coroação de D. Pedro II, o casamento, o nascimento de Afonso, filho do Imperador cujo parto foi acompanhado pelo mesmo, que por sua vez, tornou-se alguém íntimo, na condição de médico da família imperial. Diante da necessidade de profissionais na área em terras brasileiras, Faivre tinha a seguinte preocupação, atender a todos independentemente se podiam lhe retribuir financeiramente ou não.

(FERNANDES, Josué Corrêa, - Saga da Esperança, Edição comemorativa aos 200 anos do nascimento de Jean Maurice Faivre. Editora, Gráfica Planeta Ltda.- Ponta Grossa ? PR. ? 1995. P. 331

O médico francês ao olhar a quantia imensa de terras brasileiras, com boa fertilidade e clima bom para o desenvolvimento da agricultura, passa a pensar nos camponeses lá na França, que às vezes lavravam pequenos lotes, que nem eram seus, estando condenado a condição que o novo sistema lhes impuseram, naquele continente, muitos se encontravam em situação de miséria e extremamente endividados sem meios de sobrevivência. Jean Maurice Faivre viu então a possibilidade de desenvolver junto ao campo brasileiro, a instalação de indústrias como: olarias, moinhos, dentre outros que melhorassem a vida de todos. Enquanto isto, aqui no Brasil, assistia a um quadro deplorável, poucos habitantes espalhados pelo interior das províncias vivendo esquecidos pelas autoridades. Com base nesta realidade Faivre começa a fazer planos, planejamentos estes que serão colocados em prática alguns anos mais tarde. Depois de dedicar-se mais certo tempo ao serviço da medicina, inclusive desenvolvendo uma pesquisa em relação à cura da lepra, a partir dos efeitos medicinais das fontes termais de Caldas Novas no interior da Província de Goiás, com seu trabalho reconhecido, e os resultados considerados positivos. Após este momento Faivre decide juntar suas economias em função da realização de seu projeto. Diante do oficio realizado e pela aproximação deste ilustre homem com a família imperial, condição que o torna amigo confidencial da Imperatriz Tereza Cristina, em quem Faivre encontra apoio, alguém que ajuda a dar ainda mais consistência a sua pretensão, frente a possibilidade da realização dos seus projetos. Tal aproximação aos monarcas foi um elemento facilitador, Faivre finalmente ganha a concessão do governo imperial para fundar uma colônia agrícola no interior do Brasil, ganha também uma ajuda financeira da Imperatriz para a realização de seu empreendimento. Juntando todas as suas economias, resultado de vinte anos de trabalho em solo brasileiro, mais a ajuda que a imperatriz lhe concedeu, retorna à sua terra natal. Em seu pensamento Faivre, imaginava o que vinha a ser a futura colônia, inclusive levando consigo um esboço do que pretendia construir. Conforme podemos observar na imagem a seguir, ele havia planejado construir casas com dois andares com lotes bem amplos, cercados, provavelmente para a plantação de hortaliças e árvores frutíferas.
Croqui da Vila Agrícola Thereza, feito originalmente por FAIVRE e arquivado na biblioteca nacional da França.


(FERNANDES, Josué Corrêa, - Saga da Esperança, p. 178)

Ao chegar a Paris, encontra o país tomado por uma grande crise, resultado de políticas erradas, favorecendo apenas a burguesia, e a população com um sentimento de revolta sendo obrigados a viver com migalhas. Em meio a esta realidade, Faivre, começa a trabalhar em prol de seu projeto. Usando seu poder persuasivo em favor do Brasil, passa-lhes uma boa imagem deste país com dimensões continentais, com terras e clima favoráveis para a prática da agricultura, águas abundantes, rios com potencial para navegação, logo os mesmos imaginaram o paraíso. Este, por sua vez, oferece para quem topasse tamanha empreitada, passagem de navio e o pagamento das dívidas de quem se encontrasse em tal situação. Juntou então, um grupo de aproximadamente oitenta compatriotas, aos quais conseguiu convencê-los a fazer parte deste projeto. Jean Maurice Faivre embarca para o Brasil, trazendo também equipamentos que lhes seriam úteis e necessários em seu empreendimento no novo mundo. Em 17 de fevereiro de 1847, Faivre e seu grupo desembarcaram em Paranaguá, no litoral paranaense.
O Paraná, deste momento, assim como todo o território brasileiro, passa por importantes transformações, o historiador paranaense Sérgio Odilon Nadalin, comenta em sua obra "Ocupação do Território, População e Migrações".

A palavra "colonização" completa assim o seu sentido na história. E aproveito para completar o meu pensamento: a colônias e a imigração de "povoamento" começam a assinalar, pelas novas estratégicas envolvidas e as idéias mais ou menos difusas que estavam por detrás, mudanças nos objetivos coloniais. Mais adiante, mas no contexto das amplas transformações que se preparam durante o século XIX, começa-se a ouvir algumas vozes, as quais estimam que a fosse da escravidão, e também das colônias, estavam terminando, preparava-se a transição do trabalho livre, de uma ética da aventura para uma ética do trabalho, para uma nova racionalidade.

Até então a palavra colono era entendida apenas com um significado rural, ou seja, tratava-se do camponês. A partir deste momento esta expressão passa a significar colonizadores tratando dos imigrantes. Como o sistema escravista neste período caminhava para o final, as imigrações estão sendo favorecidas, tanto pelo fato de expandir povoações para o interior do país, no intuito de substituir a mão-de-obra escrava, como também se pensava que estes imigrantes vindos da Europa traziam consigo a civilização ao terem contato com negros e indígenas, estes por sua vez se tornariam civilizados.
É neste chão, com uma conjuntura política favorável, à aceitação de imigrantes vindo da Europa, que Jean Maurice Faivre e seus compatriotas franceses pisam em solo paranaense, prontos para colocar em prática seus projetos. Partindo do litoral em direção ao interior, adentrando as florestas da Província, chega à região do chamado Ribeirão das Campinas Belas, tenta se estabelecer nesta região, mas as ameaças dos índios botocudos eram constantes. Diante dessa realidade tiveram que levantar acampamento, entrando pelas cabeceiras do Rio Ivai, descendo rio abaixo, procuram um novo local. Logo então localizam uma área às margens do mesmo rio, próximo à foz do Rio Ivaizinho, lugar adequado para realização do tal empreitada, assim avaliou Faivre, este que tinha caráter humanista com pensamentos dentro de uma visão socialista, pretende formar uma colônia, onde as pessoas vivessem desapegadas ao dinheiro dentro dos princípios da fraternidade e solidariedade, seu objetivo era garantir um futuro feliz por meio do trabalho, fazendo prosperar o empreendimento que acabara de fundar. Uma parte do grupo, o abandona na chegada, diante das dificuldades oferecidas pela região escolhida pelo então fundador daquela comunidade, se sentindo enganados acabam se espalhando por outras regiões da província. Dr. Jean Maurice Faivre desenvolve seu projeto com a parte do grupo que sobrou, vários dissidentes foram substituídos em momentos posteriores por antigos moradores da província. Como recursos minerais esta comunidade pode contar com duas importantes fontes, sendo uma pedreira de carbonato de cal e uma fonte de água sulfurosa Nascendo no ano de 1847, a Colônia Agrícola Tereza Cristina, na qual o fundador procura homenagear a Imperatriz Tereza Cristina, pessoa por quem Faivre tinha grande afeição, companheira que muito havia contribuído para a realização deste plano. Aproveitando as terras férteis às margens do Ivai e de clima favorável ao desenvolvimento da agricultura, investem nas plantações de fumo, arroz, cana-de-açúcar, algodão café, milho e outros. No segmento industrial e aproveitando-se dos recursos naturais constroem olarias, serrarias, moinhos, alambiques para fabricação de aguardente e rapadura. Buscavam comercializar o excedente da produção com outros povoados, como Ponta-Grossa e Guarapuava.
Pelos princípios nos quais foram fundados, este empreendimento é reconhecido como o início do cooperativismo brasileiro, conforme informação

No Brasil, considera-se o ano de 1847 como o inicio do movimento no país. Foi quando o medico francês Jean Maurice Faivre inaugurou a Colônia Agrícola Tereza Cristina, com inspiração nos ideais humanistas, junto com outros colonos europeus no Paraná. O movimento serviu de referencia para as experiências futuras.

Jean Maurice, imaginava que todo aquele esforço realizado poderia servir de exemplo, e que novos investimentos da mesma natureza fossem realizados. Devido aos princípios adotados pelo fundador, forma de vida que as pessoas levavam nesta colônia, esta é reconhecida como a primeira experiência de cooperativismo no Brasil. Lembrando que apenas três anos tinham se passado, após Robert Owen e seus seguidores terem fundado a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, quando Faivre funda tal colônia, também buscando uma alternativa diferente de vida no interior paranaense, especificamente na região central do Estado do Paraná. Tereza Cristina é hoje um Distrito localizado na região sul do município de Cândido de Abreu, onde estão as primeiras raízes do cooperativismo no Brasil. Quando o grupo chega à região, descobrem a existência de um caminho usado pela população nativa, o grupo liderado por Faivre, também faz uso deste caminho, há indícios que se trata do Caminho do Peabiru , visto que a região está na rota desse importante trajeto que cortava o continente ligando os oceanos Pacífico ao Atlântico.
Dr. Faivre mesmo diante de toda a ocupação na direção da colônia, ainda encontrava tempo para continuar exercendo a nobre profissão de médico, já que nesta época um profissional desta área era coisa raríssima, em muitas ocasiões, pessoas de outros povoados, diante de certas necessidades buscavam socorro com o médico francês.
A educação dentro da Colônia Agrícola Tereza Cristina aparece como algo muito sério, nos primeiros anos de existência desta comunidade a escola se faz presente na realidade deste povo. Seu fundador mostra-se preocupado com a formação das crianças, pondo em funcionamento o que ele chamava de "aula de primeiras letras" a escrita, leitura e o canto, faziam parte do aprendizado dos pequenos moradores de Tereza Cristina desta época.
Ao chegarem ao local escolhido, muitos daqueles europeus oriundo da França, acabaram desintegrando-se do grupo, sentindo-se enganados, pois, diante da propaganda feita por Faivre, imaginaram o Brasil, como uma espécie de paraíso, lugar de fazer fortuna facilmente, viver sem fazer tanto sacrifícios, quando se depararam com a realidade da região central paranaense, desta época, principalmente em se tratando de um lugar isolado coberto por florestas, como o que foi escolhido pelo então fundador, estes por sua vez decidem tentar a sorte nos povoados de Ponta-Grossa, Curitiba e outras partes da Província. Então o fundador teve que substituir estes que se debandaram do grupo por brasileiros e até mesmo por europeus originários de outras nações daquele continente. Assim Faivre faz com que aquele empreendimento prosperasse, apesar das dificuldades em relação às vias de comunicação com os povoados mais próximos. Faivre, finda sua participação como diretor da referida colônia no ano de 1858, depois do agravamento de um problema de saúde, vindo a falecer em 30 de agosto de 1858, sendo sepultado na própria colônia conforme ele mesmo tinha sugerido. Ficando como sucessor pelos anos seguintes o Sr. Gustavo Rumbelsperger, homem de confiança de Faivre.
Com o falecimento do fundador da referida colônia, temiam-se que a mesma viesse a entrar em decadência, para evitar que tal fato ocorresse o governo imperial diante das más previsões determinou: a criação de uma sub-delegacia e juiz de paz de distrito, a permanência de um destacamento no local, a remoção de um grupo indígena da região, concedeu dez africanos livres para os trabalhos principalmente de abertura e conservação de estradas na colônia, e auxílio financeiro pra pagamento de despesas da colônia em questão
Comprovando a prosperidade desta colônia em suas primeiras décadas, até findar o século XIX, nas décadas iniciais do século XX, a Colônia Tereza Cristina, obteve a instalação do primeiro cartório judicial, telefone, agência de correio, escolas, hospital, igrejas.
O que dava condições de ser considerado um lugar com um bom desenvolvimento para a época. Comparando-se a Tereza Cristina de hoje com a do passado percebe-se que no final do século XX entrou em fase de decadência, percebe-se uma regressão perdendo alguns dos serviços sem jamais recuperá-los. Atualmente, infelizmente conta com um grande contingente de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, onde os mesmos não tem consciência de sua própria história. A memória deste importante povoado ficou esquecida no tempo, e como povo que não tem memórias pode ser considerado povo sem história, é assim que vive a maior parte dos habitantes daquela localidade. "A impressão que fica é que o projeto do seu fundador, com o passar do tempo, acabou sepultado junto com ele".
Observando todos estes fatos citados, em relação à origem do cooperativismo, e que fazem parte da nossa história, lembrando que as primeiras cooperativas aparecem, como alternativa para facilitar a vidas de seus associados diante do contexto social imposto pelo capitalismo. Mesmo a experiência do Dr. Jean Maurice Faivre, localizada em meio ao isolamento das florestas paranaense, na região central do estado do Paraná, que pretendia fundar uma sociedade diferente, em que as pessoas não fossem tão apegadas ao dinheiro.
Estes pioneiros aderem as ideologias socialistas, para pensar esta nova alternativa de vida, sob a influência da linha de pensamento marxista, que tem presença forte no continente europeu nesta época. Recordando que o mesmo contexto social, político e econômico que construiu o capitalismo, foi o responsável também pela construção do socialismo, partindo deste princípio podemos considerá-los ?irmãos gêmeos?.
O cooperativismo apresenta-se como um produto da organização da classe operária na Europa do século XIX, lugar onde o então médico francês que morava no Brasil por cerca de duas décadas, retorna em busca de seus conterrâneos, lhes propondo a possibilidade de migrarem para o Brasil, como participantes na construção do projeto de fundar uma colônia agrícola no interior brasileiro. Apenas três anos tinham passados da experiência de Robert Owen em Rochdale na Inglaterra, a Colônia Agrícola Tereza Cristina torna-se realidade, este empreendimento é entendido como a origem do cooperativismo brasileiro, com base nestas informações pode-se afirmar que em Tereza Cristina, chamada por muitos apenas por Terezina, Distrito do Município de Candido de Abreu, região central do estado do Paraná, às margens do Rio Ivai encontram-se as raízes do associativismo brasileiro.
Nestas experiências, estão os primórdios, que serviu de base para outras organizações de caráter parecido, até chegar ao modelo de cooperativas atuais.

Fontes:
História e Concepção do Cooperativismo, livro 1, material elaborado pela Escola Técnica da UFPR, para uso em formações sobre cooperativismo.

Relatório apresentado a Assembléia Legislativa do Paraná, em 1º de março de 1860, pelo então presidente, José Francisco Cardoso.

http://www.santacoop.com.br/portal/hist_coop.php, http://www.cooptrt.com.br/index_interna.php?pagina=coopbr, http://www.coopserge.com.br/cooperativismo.html
acessados em 03/09/2009.

FERNANDES, Josué Corrêa. A Saga da Esperança, Edição comemorativa aos 200 anos do nascimento de Jean Maurice Faivre. Editora, Gráfica Planeta Ltda.- Ponta Grossa ? PR. ? 1995.

Relatório apresentado pelo vice presidente José Antonio de Vaz à assembléia provincial em 7 de janeiro de 1857.

Carta escrita por Faivre em 15 de novembro de 1855, enviada ao presidente Zacharias de G. e Vasconcellos, - estatística dos anos iniciais da colônia.

Carta escrita em 1 de setembro de 1858, por Gustavo Rumbelsperger, enviada a Província noticiando o falecimento de Faivre.

Relatório apresentado a assembléia legislativa do Paraná na abertura da 1ª sessão da 4ª legislatura, pelo presidente, José Francisco Cardoso, no dia 1° de março de 1860.

Diagnóstico sócio cultural do município de Candido de Abreu, 1984/1985.

Relatório apresentado por Henrique de Beaurepaire Bohan, à assembléia provincial em 1° de março de 1856.
Relatório feito por José Antonio Vaz, apresentado ao Ex. Sr. Francisco Liberato de Mattos, presidente da província do Paraná no ano de 1857

Referências Bibliográficas:
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Edição, Ridendo Castgat Mores,
Versão para eBook ? eBooksBrasil.com
Fonte digital,- Rocket Edition de 1999, a partir de HTML em www.jahr.org.

BRESCIANNI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no Século XIX: O Espetáculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1984.

FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil ? 2ª Edição: São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006

NADALIN, Sérgio Odilon. Ocupação do Território, População e Migrações,- Curitiba: SEED, 2001

TOMPSON, Edward P. - A Formação da Classe Operária Inglesa: tradução Denise Bottmann. ? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987