Introdução

 

A literatura infantil tem se mostrado grande aliada no processo de desenvolvimento dos indivíduos em crescimento, trazendo em seu contexto situações de perigo, de moral, ou seja, o que é certo e o que é errado, obediência e desobediência, assuntos como morte, separação de pais e muitos outros. Bem como o maravilhoso mundo das fantasias, de castelos, príncipes, bruxas, homenzinhos pequenos. Em outras décadas não existia a chamada literatura para crianças, e sim estórias de fatos do cotidiano. Essas estórias eram transmitidas por adultos chamados de “contadores de estórias”.

Ouvir histórias é um acontecimento tão prazeroso que desperta o interesse das pessoas em todas as idades. Se nós adultos adoramos ouvir tais histórias, a criança é capaz de se interessar e gostar de se interessar e gostar ainda mais por elas, já que sua capacidade de imaginar é mais intensa.

As histórias infantis estão presentes no dia a dia e segundo algumas opiniões correntes, oferecem inúmeras contribuições às crianças em desenvolvimento estas ainda auxiliam a formação da personalidade e na organização do pensamento, oferecendo estímulos para a imaginação da criança.

No campo emocional as histórias podem ajudar as crianças a elaborar e vencer dificuldades psicológicas bastantes complexas, pois oferecem possibilidades de se construir uma ponte entre o inconsciente e a realidade, visto que em cada história  uma linguagem simbólica que se comunica diretamente com o inconsciente e mesmo que a criança não expresse sua compreensão acerca da mensagem contida na história, isto não significa que esta não foi assimilada.

Ao passo que oferecem um palco no qual a criança pode projetar os mais diversos personagens, os contos de fadas são um meio para que a criança experimente de maneira simbólica as maneiras de agir em relação ao outro e também de compreender as reações desencadeadas por seus atos. Desta forma conhecem o bem e o mal e encontram um referencial que lhes ajudarão na escolha da pessoa que irá agir, podendo perceber as vantagens da virtude, forma uma consciência ética e construir sua identidade.

Os Contos de Fadas auxiliam as crianças a lidar com a ansiedade e a superar obstáculos. Dessa maneira, é de extrema importância como os Contos são um meio de intervenção psicopedagógica, pois é um gênero literário que propicia a projeção de fantasias inconsciente, que trata da realização de desejos e se relaciona às angustias.

A magia dos Contos de Fadas estão em deixá-los fluir, em dar asas á imaginação em possibilitar que o psicopedagogo e paciente compartilhem novas emoções, utilizar a criatividade e por fim a fantasia.

 

A magia dos contos de fadas

 

Todos nós, em algum momento da infância, vivemos sob os encantos dos contos de fadas. O susto, o prazer, o medo, a tristeza, a alegria, enfim, as dezenas de sentimentos expressos nos rosto das crianças ao ouvir essas histórias. O que eles despertam no imaginário das crianças que tanto as fascinam?

Os contos de fadas existem há milhares de anos, em diversas culturas, em todos o mundo. Hoje em dia, estudiosos do mundo inteiro na área da saúde mental e da educação passaram a de interessar pela análise de mitos, lendas, e contos de fadas. Podemos compreender, então, a profunda riqueza simbólica e a utilidade dessas histórias, que são parte importante de nosso patrimônio cultural. A visão psicanalítica tem nos ajudado a responder algumas perguntas: - Afinal, por que as crianças adoram que recontemos os contos por diversas vezes?

A literatura infantil tem se mostrado grande aliada no processo de desenvolvimento dos indivíduos em crescimento, trazendo em seu contexto situações de perigo, de moral,ou seja, o que é certo e o que é errado, obediência e desobediência, assuntos como morte, separação de pais e muitos outros. Bem como o maravilhoso mundo das fantasias, de castelos, príncipes, bruxas, homenzinhos pequenos. Em outras décadas não existia a chamada literatura para crianças, e sim estórias de fatos do cotidiano. Essas estórias eram transmitidas por adultos chamados de “contadores de estórias”.

Segundo Coelho (2009, p.27) “contos de fadas fazem partes desses livros eternos que os séculos não conseguem destruir e que, a cada geração, são redescobertos e voltam e encantar leitores ou ouvintes de todas as idades.”

A seguir breve histórico de onde surgiram os contos e quem são seus grandes percussores.

A história da literatura infantil registra sua primeira coletânea no século XVII, na França. Trata-se do famoso Contos da Mãe Gansa (1967), livro de Charles Perrault. Neste livro Perrault reuniu oito estórias: A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, Cinderela ou a Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar.

Vale lembrar que nesta época a França passava por um progresso e transformações político-culturais, enquanto no Brasil era ainda uma cultura atrasada e era disputado por holandeses, franceses atraídos pelo pau – Brasil, cana-de-açúcar dentre outros.

Nesta mesma época, surgira também Jean de La Fantaine, e dedicou-se ao resgate das antigas historinhas moralistas, que conhecemos hoje com Fábulas. Algumas Fábulas populares escrita por La Fontaine são: O Lobo e o Cordeiro, O Leão e o Rato, A Cigarra e a Formiga, A Raposa e as uvas, dentre outras. Estas Fábulas tinham por finalidade denunciar as intrigas, os desequilíbrios ou as injustiças que aconteciam na corte ou entre o povo.

Como gênero, a Literatura Infantil nasceu com Perrault. Mas somente cem anos depois, na Alemanha do século XVIII, e a partir das pesquisas lingüísticas realizadas pelos irmãos Jacob e Wihelm Grimm, esta seria definitivamente constituída e teria início sua grande expansão na Europa e nas Américas. Por meio de descobertas em grandes acervos, os Irmãos Grimm acabaram formando a coletânea que hoje conhecemos: A Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira; O Ganso de Ouro, Os Sete Corvos, Os Músicos de Bremem, A Guardadora de Gansos, Joãozinho e Maria, O Pequeno Polegar, As Três Fiandeiras e O Príncipe Sapo.

Para finalizarmos este pequeno histórico falaremos do Andersen. Este se tornou a grande voz a falar para as crianças com linguagem do coração. Transmitiu o ideal religioso que vê a vida como “vale de lágrimas”. Seus Contos se alimentam da realidade cotidiana, na qual imperam a injustiça social e egoísmo, em geral os seus Contos são tristes e com finais trágicos. Entre seus contos os mais conhecidos são: O Patinho Feio, Os Sapatinhos Vermelhos, O Soldadinho de Chumbo, João e Maria, Os Cines Selvagens, Nicolau Grande e Nicolau Pequeno, dentre outros.

Os contos de fadas não nos descrevem o mundo de acordo com a simples realidade objetiva, mas sim, por meio de suas riquezas simbólicas, descrevem a realidade subjetiva da mente humana. Isso os torna mais verdadeiros, pois nos faz refletir sobre os aspectos mais obscuros da nossa psique, que não podem ser alcançados diretamente através do pensamento consciente. Por isso, ao ouvir ou ler contos, o psiquismo da criança se desenvolve. Primeiramente porque ela tem o desafio intelectual de compreender uma narrativa tão rica, intricada e bem tecida.

A utilidade dos contos de fadas ainda se estende além do entretenimento, da cultura, e dos aspectos morais, ou seja, segue adiante na utilização da psicanálise infantil, pois estes são dotados de aspectos simbólicos dignos de serem explorados.

Reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta as pressões inconscientes. Com isto, a criança adéqua o conteúdo inconsciente ás fantasias conscientes, que capacita a lidar com este conteúdo. É aqui que os contos de fadas tem um valor inigualável, conquanto ofereçam novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ainda mais importante: “a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens á criança quão as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida.” (BETTELHEIM, 1980, p.16).

Bettelheim (1980) ainda nos mostra que os contos de fadas dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e comunicação, e também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver seu caráter. Os contos de fadas declaram que a vida compensadora e boa está ao alcance das pessoas apesar das adversidades, mas apenas se ela não recuar as lutas da vida, sem as quais não se adquire a verdadeira identidade. Essas estórias prometem a criança que, se ela ousar se engajar nesta busca atemorizante, os poderes benevolentes virão em ajuda, e ela o conseguirá. As estórias também advertem que os muito temerosos e de mente medíocre, que não se arriscam a se encontrar, deve se estabelecer numa existência monótona, se um destino ainda pior não recair sobre eles.

 

Atuação psicopedagógica com o uso dos contos de fadas

 

No consultório psicopedagógico o profissional encontrará diversas dificuldades no processo de aprendizagem em relação ao aprendente. Estas por sua vez, podem estar relacionadas a diversos fatores, como por exemplo, fatores orgânicos, fatores específicos, fatores psicógenos e fatores ambientais. Cabe ao Psicopedagogo, segundo Carvalho e Cuzin (2008, p.21): “apropriar-se das habilidades de flexibilidade, empatia, ter “jogo de cintura”, para conquistar seu espaço de atuação, mostrando-se um mediador e aliado às necessidades do sujeito, da escola e da família.”

O psicopedagogo poderá utilizar os contos na intervenção psicopedagógica, para levar a criança a se apropriar do processo de alfabetização, pois estes nos permitem observar tanto a parte psicanalítica quanto a parte cognitiva. Lembrando que o grande objetivo do tratamento psicopedagógico é a “desaparição do sintoma e a possibilidade para o sujeito de aprender normalmente ou, ao menos, no nível mais alto que as sua condições orgânicas, constitucionais e pessoais lhe permitam.” (PAÍN, 1985, p.80)

Dentro da psicanálise, podemos trabalhar o inconsciente por meio do psicodrama, do contar um conto, dentre outros, fazendo com o aprendente tome conhecimento, de que as dificuldades são inevitáveis, mas estas podem ser superadas.

Para Campos; et.al (1998, p.09):

 

Os contos sempre surgem dilemas existências: a rivalidade fraterna, a diferenciação mãe/criança (constituição do ego), a triangulação (mãe/pai/criança), o Complexo de Édipo, a angustia da castração (falta, perda)... , porém nos contos são passados de uma forma que a criança ouvindo tais acaba entendo o que acontece com seu “eu”.

 

Dessa maneira escolhemos os clássicos para a intervenção Psicopedagógica: João e Maria, Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve e Cinderela.

No conto João e Maria podemos trabalhar com o paciente para que o mesmo elabore questões, como por exemplo, angústia, castração,  a fase oral, a quebra do vínculo materno, a rivalidade. Já no conto Chapeuzinho Vermelho podemos trabalhar com o paciente de forma que este elabore a dificuldade da luta que seguramos de fazermos coisas certas ou erradas. Na história Branca de Neve, percebemos que as experiências são bem difíceis, mas temos que passar por elas para o nosso crescimento. E por fim o conto da Cinderela, neste podemos perceber a grande rivalidade entre as irmãs adotivas e a Borralheira. Esta rivalidade é necessária, uma vez que a criança aprende a elaborar suas frustrações internas e conquistar os sentimentos de confiança, estes tão preciosos para o seu amadurecimento.

 

Apresentação do Caso Clínico

 

A.S.S chegou ao Centro de Atendimento Psicopedagógico (CAPp) encaminhado por um médico do Sistema Único de Saúde( SUS). A. é uma criança de 11 anos de idade cursa o quinto ano do Ensino Fundamental em uma escola da zona sul de São Paulo em sua sala há 36 crianças ditas normais. A grande queixa, esta segundo Weis (2008) não é uma frase falada no primeiro contato e deve ser escutada ao longo das sessões diagnósticas, era atraso no desenvolvimento Neuropsicomotor.

Logo após, a ficha ser entregue a mim marquei uma entrevista inicial com os pais. Para Chamat (2004) a entrevista inicial, é o primeiro contato entre o terapeuta e os familiares, na qual a queixa apresentada é escutada. E esta escuta tem início no momento em que a entrevista é marcada. A mãe me contou que é separada do pai e A. tem dois irmão um menino de 8 anos – por parte de pai e mãe- e uma menina de 3 anos , apenas por parte de mãe.

Para fazermos o diagnóstico utilizamos testes projetivos, diálogos dirigidos e livres, sondagens da leitura, interpretação e escrita, sondagem da coordenação motora, sondagem da capacidade memória-visual e análise criteriosa do comportamento.

Após tal entrevista o paciente chegou ao CAPp super animado. Percebia que este tem dificuldade na fala às vezes omitia algumas letras e grande dificuldade para enxergar.  Apresentei-me, e expliquei o porquê ele estava no CAPp. Começamos a sessão com um LINCE. Percebi que sua memória é bem preservada, porém sua percepção visual não é tão boa assim. Apliquei o desenho da família, algo me chamou muita atenção. As personagens não tinham corpos e todos eram pintados da mesma cor. Ele desenvolveu algumas atividades de percepção visual, e uma atividade de escrita. O observei a todo o momento para assim tentar começar a entender se tal encaminhamento com a queixa poderia fechar um diagnóstico.

Na segunda sessão A. chegou mais animado porque tinha passado o final de semana com o pai. Neste dia apliquei o jogo Dominó e ele desenhou uma Família Cinética. No jogo ele foi super bem. No desenho como na primeira sessão as personagens eram iguais. E por fim desenvolveu uma atividade de liga pontos para observar o seu desenvolvimento motor. Que por sinal é bem comprometido.

Na terceira sessão A. estava aparentemente triste. Mãe havia trazido a irmã e acredito que isso o deixou um pouco inseguro. Ele não quis dizer quem era tal criança que estava com ele. Apresentei o quebra-cabeça para ele. É um jogo bem familiar para criança, porém com a grande dificuldade na vista a criança se debruçava sobre a mesa para enxergar as pecinhas. Demorou para desenvolver tal jogo. No desenho Par Educativo não foi diferente, mais uma vez as personagens de uma mesma cor.

Após estes dados fui fazer levantamento na Unidade Escolar, segundos as professoras de Ciências e Matemáticas o aluno apresenta desempenho acadêmico insatisfatório com grandes dificuldades de compreensão e escrita. É uma criança que se relaciona bem com todos os colegas e é bem aceito por todos. Quanto ao lado emocional demonstra instabilidade, é inquieto e apresenta dificuldade de concentração.

Já no meio das sessões convoquei os pais para uma Anamnese. Nesta sessão os pais vieram. Segundo os mesmos, quando a mãe ficou grávida de A. eles moravam juntos. Foi uma gravidez tranqüila apenas no final apresentou pressão alta. A criança nasceu de fórceps e foi um gestação de 9 meses e dois dias. Mãe ainda contou que a criança passou da hora de nascer e consequentemente bebeu o líquido amniótico e ingeriu fezes. A. ficou internado por 11 dias destes, sete dias a criança ficou na incubadora e teve uma convulsão. A mãe só percebeu que havia algo diferente, porque a criança não desenvolvia a fala. Porém, acreditava que ele teve atrasos no desenvolvimento, uma vez que a criança só andou com mais ou menos 1 ano de idade e sentou por volta dos 9 meses. Segundo os pais eles não brigam na frente da criança e nem discutem.

Na sexta sessão apliquei o Lança-Frutas. A. se divertiu um monte. Nesta sessão apliquei os desenhos: Árvore, Pessoa e Casa. Diferente das outras personagens A. desenhou o corpo e escolheu este mesmo desenho para pintar, a cor predominava. Apliquei atividades de coordenação e percepção visual. Percebe-se a grande dificuldade na coordenação motora da criança.

Na sétima sessão apliquei o Jogo da Memória, ficou clara a grande dificuldade da criança em enxergar e também na pegada de “Pinça”. Quanto ao desenho, o formato das figuras tinham corpo e a cor predominava a mesma. Como foi grande a dificuldade nesta sessão não foi possível A. desenvolver atividades.

Na penúltima sessão apresentei para A. Dominó de Adição. Em principio, a criança assimilou com o Dominó comum com a divisão de sete peças, as cores... Mas ao começarmos a criança não compreendia que de um lado da peça tínhamos uma soma e o outro lado o resultado, porém o resultado de outra peça, não daquela mesma. Demoramos bastante nesse jogo. Demonstrando também uma grande dificuldade na assimilação. O desenho dessa sessão foi Desenho Dirigido. Li uma história “O Seu Lugar”. Após a leitura pedi para que A. desenhasse o que entendeu. Ele pegou o livro e começou a copiar. Demonstrando ser uma criança copista. Apliquei novamente liga-pontos, mas dessa vez com letras, para saber se A. conhecia as letras. A criança demonstrou saber as letras, porém confundiu as letras M e N.

Na décima sessão apliquei um jogo de sequência. A criança não conseguiu assimilar duas sequências de três que havia apresentado. Pedi que desenhasse algo que quisesse. Daí a criança utilizou bastante cor em seu desenho pela primeira vez. E para finalizar as sessões apliquei o Papel de Carta. A criança escolheu a lâmina 4 – Interação familiar. E podemos confirmar que:

A finalidade desta lamina é verificar as relações e interações familiares. Visa-se, também, observar em que tipo de personagem ocorre uma maior projeção da criança, e qual o comportamento dos personagens que conduz a mesma a uma maior identificação, a fim de possibilitar a detecção da problemática emocional à aprendizagem (CHAMAT, 2010, p.21)

Após estas sessões podemos fechar o diagnóstico e concluir que deveremos trabalhar com A.:

 

  • ·                    Valorizar suas conquistas;
  • ·                    Estabelecer limites e regras;
  • ·                    Na psicodinâmica familiar, promover maior aproximação afetiva principalmente com a figura paterna;
  • ·                    Na relação ensinante/aprendente, promover maior aproximação afetiva e melhor comunicação;
  • ·                    No contexto escolar, promover sua inserção e ainda estratégias de acordo com a sua necessidade;
  • ·                    Recuperar os conteúdos defasados na alfabetização;
  • ·                    Proporcionar segurança, respeito e compreensão em relação as dificuldades que atravessa.

Posteriormente ao diagnóstico trabalharemos com a intervenção que para Chamat (2008) é nesta que buscaremos as soluções para tal problema do qual o sujeito se faz portador.

Na primeira sessão de intervenção a mãe de A. se queixou que a criança não estava mais interessada na escola e a mesma não sabia o que fazer. Como não havia começado em si as sessões apenas a ouvi.

Quando a criança entrou na sala contei que a partir desta sessão começaríamos um trabalho com Contos de fadas. Porém antes jogaríamos Lince. Logo se lembrou: “- Já jogamos esse jogo. É das pecinhas para colocar em cima das figuras iguais”. A. teve um pouco de dificuldade em encontrar as primeiras pecinhas, mas logo entrou no ritmo. Após o jogo mostrei a primeira história que iríamos trabalhar “Chapeuzinho Vermelho”. A criança relatou que não tem costume de ouvir e nem “ler” histórias. Comecei a contar a história, e A. apenas observava. Terminei a história e pediu que ele me recontasse. A. a principio ficou com muita vergonha. Mas logo pegou o livro, começou a ver a figuras e contou-me: “- Essa é a Chapeuzinho, o lobo comeu a vovozinha e viveram felizes para sempre”.A. desenvolveu algumas atividades e finalizamos a sessão.

Na segunda sessão A. chegou mais animado. “Qual a história de hoje?” – perguntou –me. Disse antes de começarmos primeiro montaremos o quebra-cabeça. A. por ter grandes dificuldades na pegada de “pinça” e de enxergar demorou para montar tal quebra-cabeça.Quando finalizou disse-me: “- Olha o Cebolinha”. Guardamos o jogo. E iniciamos a sessão relembrando a história de “Chapeuzinho Vermelho”.Com o livro nas mãos A. iniciou: “– Chapeuzinho foi levar os docinhos para a vovó, daí  o lobo foi primeiro lá, e bateu na porta e comeu a vovozinha e ficou na barriga dele. E o caçador abriu  a barriga do logo e salvou e viveram felizes para sempre”. Me surpreendeu a memória que acredita que não era tão conservada. Ele me entregou o livro e comecei a contar a história da Cinderela.Perguntei se A. conhecia a história ele me disse que “não”. Contei a história e A. ficou super atento a mesma. Pedi que ele me recontasse. “- Ela perdeu o sapatinho e casou com o príncipe e viveram felizes para sempre”. A. nesta sessão desenvolveu algumas atividades e finalizamos mais uma sessão.

Já na terceira sessão começamos com o jogo Dominó. A. dividiu as pecinhas e começamos o jogo. A perdeu duas jogadas de três. Percebi grande distração na criança, uma vez que tinha pecinhas que poderia jogar e não jogava e consequentemente comprava pecinhas desnecessárias. Terminamos o jogo e A. disse vou contar a história da Cinderela, emprestei o livrinho e A. começou: “- Ela era sozinha e foi para a festa no palácio, um baile na verdade, daí perdeu o sapatinho e o príncipe ficou procurando de quem era. E era dela. Casaram e viveram felizes para sempre”.Mostrei para ele a história da Branca de Neve. Ele me disse: “-Conheço essa história”. Contarei e depois você me conta.Mais uma vez, A. ficou atento e depois me contou: “- Ela fugiu porque a rainha que era muito malvada queria matar. Ela fugiu para a floresta e achou uma casinha que era dos sete anões. A rainha se vestiu de bruxa deu uma maçã com veneno e ela desmaiou. O príncipe veio deu um beijo nela e ela acordou e eles viveram felizes para sempre”.

Na penúltima sessão jogamos Alfabingo. Este jogo era novo para A. expliquei como desenvolveríamos o jogo. Como A. conhece as letras separadamente não teve dificuldade, porém para desenvolver a leitura global quase não conseguia. Ajudei na leitura. Finalizamos o jogo. Logo em seguida, começamos a leitura da história “João e Maria”. A. disse que nunca ouvi essa história. Mas ficou surpreso porque tinha uma bruxa igual da Branca de Neve. Pedi que recontasse a história: “Eles se perderam na floresta, mas primeiro tinha pão no chão. Eles se perderam e ficaram numa casa de doces, comeram todos os doces. E a Maria matou a bruxa”.Como demoramos para desenvolvermos o jogo nessa sessão A. não fez nenhuma atividade. No final da sessão disse para A. que a próxima sessão seria a nossa última.

Para finalizarmos as sessões de intervenção jogamos Pega - Varetas. A. se divertiu bastante, apesar da grande dificuldade. Para finalizarmos o trabalho com contos pedi que ele escolhesse a história que ele mais gostou. Ele logo pegou o livro da Branca de Neve. Ele recontou e desenhou a história. Finalizamos a sessão e disse que continuaríamos logo, logo nosso trabalho.

 

Metodologia

 

Este artigo foi por meio de pesquisa bibliográfica e um caso clínico d A.S.S no Centro de Atendimento Psicopedagógico no Centro Universitário Adventista de São Paulo - UNASP

Teve por objetivo trazer as histórias infantis: João e Maria, Chapeuzinho Vermelho, Branco de Neve e Cinderela como instrumentos na intervenção psicopedagógica. Bem como: valorizar autoestima do paciente; utilizar as histórias como instrumento de intervenção psicopedagógica; verificar o potencial curativo por meio dos contos de fadas; promover a socialização com o paciente no ato e no ouvir os contos de fadas.

 

Considerações finais

           

Podemos perceber como a escola e família devem sempre andar juntas para que a criança se sinta segura em sua aprendizagem.

Os Contos de Fadas para o psicopedagogo são ricos na intervenção psicopedagógica, uma vez que com estes podemos trabalhar com o paciente: a alfabetização, observar a parte psicanalítica, autonomia da criança, imaginação e por fim a parte cognitiva. Porém para isto tanto na escola quanto na família os livros e os contos devem estar a disposição para a criança, em altura para que esta se sinta a vontade em pegar e folhear tais matérias.

Nós como psicopedagogos temos a ciência que as atividades com contos de fadas exigem das estruturas cognitivas, como por exemplo, a classificação, a seriação, associação e estruturação das frases e dos textos de tais contos.

Acredito que especificamente com o caso apresentado serão necessárias mais sessões de intervenções para que todos os sintomas sejam minimizados.

 

 

Referências bibliográficas

 

BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fadas. 16ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1980.

 

CAMPOS, ET.ALL. Os contos de fadas e a psicopedagogia: buscando soluções para os problemas da escrita. São Paulo: Vetor, 1998.

 

CARVALHO, E.A.; CUZIN, M.I A psicopedagogia institucional e sua atuação no mercado de trabalho. Campinas/Unicamp, 2008.

 

CHAMAT, L.S.J Diagnóstico psicopedagógico: o diagnóstico clínico na abordagem interacionista. São Paulo: Vetor, 2004.

 

______. Técnicas de Intervenção Psicopedagógica: Para dificuldades e problemas de aprendizagem. São Paulo: Vetor, 2008.

 

______. Guia para avaliação das dificuldades de aprendizagem. São Paulo: Vetor, 2010.

 

COELHO, N.N O Conto de fadas: símbolos, mitos, arquétipos. São Paulo: Paulina, 2008.

 

PAÍN, S Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1985.

 

WEIS, M L L Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.