O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DO MOVIMENTO ECOLÓGICO NO MUNDO E NO BRASIL

O movimento ecológico se inicia no mundo na década de 60 em um contexto de surgimento de vários outros movimentos sociais protagonizados por minorias, como mulheres e negros. Por um grande período de tempo, as questões ecológicas foram jogadas a segundo plano e ironicamente tratadas pela mídia como "inquietações de jovens desocupados" ou na melhor das hipóteses, "problemas para biólogo resolver". Com a ampliação dos debates acerca das questões ambientais, a busca pelas origens dos problemas ecológicos foi árdua e conflituosa e a adesão de indivíduos nestes tipos de movimentos começou a crescer. Na década seguinte, a partir de um novo contexto econômico internacional e da globalização da economia, surge o ambientalismo empresarial.
A biodiversidade, aquecimento global, destruição da camada de ozônio, destinação do lixo, acidentes ambientais, emissão de dióxido de carbono, reciclagem, fontes alternativas de energia, desenvolvimento. A partir de quando essas preocupações passaram a ocupar a agenda política global, afetando as estratégias empresariais e o comportamento dos indivíduos? "O marco da crise ambiental emerge com as bombas atômicas que os Estados Unidos explodiram no Japão no fim da II Guerra Mundial, em 1945 com os diversos testes nucleares realizados pelas potências militares e conseqüentes movimentos de reação pacifistas e antinucleares. O questionamento dos rumos do desenvolvimento econômico e tecnológico e sua relação com o esgotamento dos recursos naturais se intensificam na década 1950. Esses anos já apresentam características que se ampliam nas duas décadas seguintes: grandes taxas de crescimento econômico, importantes avanços tecnológicos, polarização geopolítica (Guerra Fria e corrida armamentista),"Temos algo que poderíamos chamar de uma consciência ambiental que se volta à discussão dos impactos do uso do conhecimento do homem sobre o planeta e sobre o próprio ser humano.
A ampla difusão do ambientalismo, no entanto, se dá a partir da década de 1970, quando a questão ambiental contemporânea entra para a agenda global motivada por eventos como a Conferência de Estocolmo de 1972, organizada pela ONU, e pelos debates desencadeados pelo Relatório Meadows, intitulado Os Limites do Crescimento. A reunião de Estocolmo (Conferência Internacional das Nações Unidas sobre Meio Ambiente) foi a primeira conferência da ONU sobre meio ambiente. "Foi um momento importante, pois, além de colocar explicitamente os temas ambientais na pauta geral das políticas internacionais, constituiu o embrião das iniciativas posteriores, como a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), responsável pela concepção e implementação de ações para meio ambiento, o objetivo da ONU é dar mais visibilidade às questões relacionadas à perda da diversidade biológica do planeta provocada pela atividade humana.
Os movimentos da contracultura dos anos 1960, que questionavam uma série de valores instituídos na cultura ocidental, entre eles o consumo exacerbado, também deram importante contribuição para a disseminação mundial do movimento em defesa do meio ambiente. No Brasil, a questão ambiental contemporânea demorou mais para ganhar importância. Nos anos 1960, enquanto os Estados Unidos e a Europa eram chacoalhados por apelos sobre a escassez dos recursos naturais, aqui o discurso ambiental representava um obstáculo ao crescimento econômico e ao industrialismo, vistos como a resposta para todos os problemas sociais do país. Na Conferência de Estocolmo, por exemplo, a delegação brasileira liderou a resistência dos países periféricos contra o que entendiam como manobras dos países centrais para impedir seu crescimento. "Essa iniciativa chegou ao ponto de veicular nos meios de comunicação europeus o convite às empresas que desejassem instalar plantas industriais poluentes no Brasil e que estivessem sofrendo restrições da legislação em seus países. O movimento ecológico emergiu no Brasil na década de 1970, num período de ditadura militar que abatia de maneira cruel sobre diversos movimentos como o sindical e o estudantil. As fontes mais importantes da preocupação ecológica no Brasil se dão pelo Estado, interessado nos investimentos estrangeiros que só chegariam caso fossem adotadas medidas de preservação; pelo movimento social gaúcho e fluminense que já vinham defendendo teses ecologistas contra os agrotóxicos e preservação das águas no Rio Grande do Sul, liderado por José Lutzemberger, e a preservação das dunas no Rio de Janeiro; e também, pela contribuição dos exilados políticos que aqui chegaram em finais da década de 70. A degradação ambiental no Brasil foi se consolidando, principalmente por causa do discurso de Tecnocratas brasileiros que na década de 70 ao participarem, de seminários e colóquios internacionais, abriam as portas do país para as indústrias de potencial poluidor, justificando querer acabar com a mi-séria, a qual seria a principal poluição. Com isso tentam atrair capitais estrangeiros para o, pais. O país fica desacreditado internacionalmente ao adotar essa política, algumas vertentes do movimento ambientalista cumprem o papel de denunciar as barbáries ocorridas com a natureza e com a humanidade. Em defesa de uma melhor qualidade de vida lançam-se a uma batalha constante, na luta pelos direitos da natureza. Assim, se transformam em militantes em favor do bem coletivo e da maioria sem vez e sem voz. Querem libertar os sujeitos do processo de dominação imposta, promovendo as liberdades. Porém, para outros grupos a proteção da natureza se dá somente por uma visão antropocêntrica de proteção, não pelo valor intrínseco da natureza, mas pelo fato de torná-la cada vez mais útil ao homem, como uma fonte de recursos e de oferta de produtos e serviços.
A perspectiva contemporânea sobre o meio ambiente é totalmente voltada para a integração entre homem e mundo natural. "Trata-se de uma visão de interdependência que substitui visões centradas no homem (antropocêntricas) e visões centradas no ecossistema (ecocêntricas), muito comuns até a década de 1980, sustentabilidade é palavra-chave no debate político atual sobre meio ambiente. Existe um crescente entendimento sobre o fato de que os distúrbios causados pela ação do homem sobre o meio ambiente têm elementos de grande imprevisibilidade, de cumulatividade - no curto prazo, os
efeitos podem ser pequenos, mas se acumulam e se manifestam de forma importante com o passar do tempo - e de irreversibilidade, isto é, passados certos limites, os sistemas naturais podem não mais retornar a seus estados prévios. Um país como o Brasil, que é um dos quatro BRICs e que abriga uma das maiores diversidades biológicas do planeta, tem, nos próximos anos, a chance de colocar em prática um novo modelo de desenvolvimento, aliando crescimento econômico, melhoria da qualidade de vida de sua população e menor impacto sobre o meio ambiente. Enfim, um modelo que integre, de modo sustentável, o homem e o mundo natural. O movimento ambientalista carrega desde a sua concepção a consciência crítica, solidária e de classe. Constituiu suas bases na prática, na luta cotidiana de resistência contra os interesses econômicos, elites dominantes, grandes empresários e governantes, que reforçam políticas manipuladoras, que mantém no lucro o seu principal objetivo, superando a vida, os fracos e oprimidos que não conseguem se defender, lutando contra a natureza que aparentemente não tem forças para se opor. A construção da sociedade justa e verdadeiramente humana dependerá de cada um de nós. A resistência dos movimentos ambientalistas nos fornece grandes lições para constituirmos a nossa militância rumo à edificação da cidadania.