ADRIANA RAMOS ALMEIDA

DA SILVA

 

 

 

 

 

 

 

O CONTADOR DE HISTÓRIAS E A ARTE DE TRANSMITIR O CONHECIMENTO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JOINVILLE

NOVEMBRO 2009

 

 

 

ADRIANA RAMOS ALMEIDA

DA SILVA

 

 

 

 

 

 

 

O CONTADOR DE HISTÓRIAS E A ARTE DE TRANSMITIR O CONHECIMENTO

 

 

Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu da AUPEX, como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Educação Infantil e Séries Inicias com ênfase em psicopedagogia.

Prof.ª Orientadora: Denise Raquel Rosar

 

 

 

 

 

JOINVILLE

NOVEMBRO 2009

 

 

 

 

TÍTULO: O CONTADOR DE HISTÓRIAS E A ARTE DE TRANSMITIR O               CONHECIMENTO

AUTOR: ADRIANA RAMOS ALMEIDA DA SILVA

ORIENTADORA: DENISE RAQUEL ROSAR

 

 

RESUMO

 

Este artigo foi elaborado a partir de uma pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo discutir a importância do trabalho do contador de histórias para o aprendizado da criança do Ensino Fundamental. Através da visão sóciointeracionista de Vygostsky e da pesquisa de Gislayne Avelar Matos, juntamente com outros autores, busca-se responder a seguinte questão: Que mudanças podem ocorrer no desenvolvimento do conhecimento da criança através dos contos? Acredita-se que a relação entre o contador de histórias e a criança pode ajudar a gerar um estímulo de amadurecimento do conhecimento infantil e um incentivo à memória imagética, independente do desenvolvimento de cada ser. Para responder essa questão, foram usadas leituras para fundamentar e relacionar o tema e a teoria propostos. Constatou-se que no processo de ensino-aprendizagem o contador de histórias possui um papel importantíssimo para a criança de Ensino Fundamental, contribuindo para a produção oral de sentenças, estímulo visual e auditivo, interação com o professor contador, incentivo à imaginação e identificação social. Percebeu-se assim a importância da arte de contar histórias para o desenvolvimento e amadurecimento do conhecimento infantil.

PALAVRAS-CHAVE: Contador de histórias, criança, conhecimento.

INTRODUÇÃO

Como surgiram os contos e de que forma eles passaram a ser direcionados para o público infantil?

                              

De que maneira o contador de histórias pode contribuir para o aprendizado de uma criança que esteja no Ensino Fundamental?

Como a arte do contador de histórias pode estimular o amadurecimento e formação do conhecimento de uma criança?

Através de pesquisas bibliográficas, este estudo busca responder estas perguntas, usando-se como base os estudos de Piaget, Vygotsky, Diane Corso, Gislayne Avelar Matos e Howard Gardner.

Tem-se como objetivo neste projeto demonstrar que a arte do contador de histórias estimula o desenvolvimento infantil, a memória, a imaginação, a interação da criança com o meio, auxilia no processo de ensino-aprendizagem, oferece estímulos auditivos de modo que a criança possa construir sua própria rede de conhecimento e inteligência, compreendendo e armazenando as informações do conto, mesmo que ela tenha a parte do cérebro responsável pela produção de sentenças afetada.

1.0  CONTEXTO HISTÓRICO

 

A fome: um dos motivos que rondava não só as crianças, mas também a humanidade, incentivou o movimento de guerras e disputas. De acordo com Corso ( 2006, p. 43 ), muitas vezes, depois de saciados, os pais lembravam que as crianças poderiam ficar com as sobras. É nesse clima que nasce a maior parte dos contos.

Até o final do século XVI as crianças eram tratadas como pequenos adultos e até então não eram dignas de muita importância. Depois que sobrepujavam a fome, promiscuidade e pestes que as rondavam, elas cresciam e atingiam a maturidade física. Mas a partir do momento que elas passaram a ter um certo valor para os adultos, houve a conquista de um refúgio literário.

Corso ( 2006, p. 26 ) comenta que desde a modernidade, mais especificamente, depois da Revolução Francesa, houve uma preocupação em distinguir produtos culturais para adultos e crianças, ou seja, a infância passou a ter uma importância social, pois antes dessa época os contos de fadas nunca foram verdadeiramente considerados infantis.

A paixão pelo imaginário surge desde muito cedo e sem ele, a ficção fica comprometida, pois não existe infância sem ficção.

A relação da infância com as histórias de fantasias é antiga e bem solidificada, trazendo a convicção de que a ficção é importante para a mente juvenil.

As narrativas folclóricas e os contos progressivamente são direcionados às crianças. Afinal, as fantasias tentam buscar verdades e fatos existentes na vida dos jovens. ( CORSO, 2009, p. 21 )

A nova sociedade que passou a considerar os valores da criança, agora leva em conta os pensamentos, desejos e convicções infantis. Isto certamente ajudou a transformar a literatura como um todo.

Além da idealização dos contos e de seus efeitos, existem erros históricos quanto à origem deles.

Antropólogos e historiadores podem contar mais sobre a trajetória que essas narrativas tiveram para a humanidade e por que algumas foram sendo abandonadas e outras não. Novas pesquisas sobre seu uso e gênese devem ainda ensinar muito sobre a origem humana, mas certamente seguirão apontando que eles não estão na mesma posição de quando foram gestados e fundidos pela narrativa oral, certamente com o passar do tempo seu uso e sentido foram se modificando.

Os contos, assim como os mitos, de acordo com Corso ( 2009, p. 166 ), são estruturas geradoras de sentidos, eles não têm um sentido em si. Apenas determinados arranjos facilitam o recurso a uma ou outra fantasia em particular, mas mesmo assim seu uso e circunstâncias são percebidos de maneiras variadas.

Nascidos e crescidos entre os mais humildes e apenas posteriormente transformados em um objeto para uso da corte, os contos tiveram seus aspectos mais grotescos retirados e sua linguagem rebuscada. À medida que passaram a depender cada vez mais da forma escrita, essas histórias foram se tornando uma referência mais culta. ( CORSO, 2009 p. 168 )

A linguagem, a forma mais antiga de comunicação entre as pessoas, é considerada um dom universal que se desenvolve de maneira surpreendente e constante nas crianças pertencentes a todo tipo de cultura. Logo, os contos apresentam um papel importante no desenvolvimento das crianças. O processo de contar e ouvir histórias ultrapassa o aspecto da linguagem prazerosa e educativa, possibilitando um acesso à memória afetiva.

2.0  A ARTE DO CONTADOR E O CONHECIMENTO DE UM SER

Os contos têm origem na tradição oral. ( CORSO, 2009, p. 170 )

Vygotsky ( 1998, p. 45 ) discute que a fala e o pensamento se unem ao pensamento verbal no significado da palavra. Uma palavra não se refere a um objeto isolado, mas a um grupo ou classe de objetos, o que leva a crer que cada palavra já é uma generalização.

No momento de contar histórias há encantamento, descontração, riso e silêncio solene, apenas quebrado pela voz do contador, cuja maestria permite imitar diferentes vozes de personagens, animais e sons da natureza. Esse recurso educativo propicia tanto a crianças como a adultos a oportunidade de refletir sobre relações e ética, explorações realizadas sobre o bem e o mal. Por meio dessa educação, portas são abertas para o afeto, o trabalho, a convivência social, a relação com a morte e as lembranças de ações. ( MATOS, 2005, p. XXII )

Pode-se observar na fala de um contador de histórias uma total entrega ao conto, pois o grande segredo de um contador está na absorção completa do que deseja contar. Para isso, ele processa a história em seu interior e deixa-se dominar por ela de maneira que seus sentidos aguçados registrem-na e naturalmente uma comunicação corporal gere gestos, entonação de voz, e ritmo.

As sociedades atuais possuem veículos de transmissão de saberes bem diferentes da oralidade. Então, a palavra educativa do contador, torna-se um objetivo de explorar contextos sem perder de vista a atualidade.

A mudança no contexto da narrativa oral, possibilita a necessidade de uma teatralização artificial, transformando a tarefa dos contadores urbanos em encenações espetaculares cada vez mais sofisticadas, devido às exigências das sociedades atuais. Portanto, o contador deve conhecer seus próprio potencial para que o objetivo de um trabalho evoluído no processo criador da oralidade seja alcançado.

O homem contemporâneo, imerso em uma realidade histórico-social, possui a necessidade de algo que suas mãos não tenham alcance, algo que o emocione e que se dirija a ele de alguma forma. ( MATOS, 2005, p. XXXII )

Antropólogos, psicólogos e etnólogos têm se interessado por aspectos culturais na oralidade, nos quais os contos possuem um sentido social, podendo gerar uma terapia através da palavra do contador.

Segundo Gislayne Avelar Matos ( 2005, p. 134 ), existe no Brasil uma tendência a incorporar a tradição oral à educação escolar. A didática da sala de aula atual já expressa a necessidade de uma forma de transmissão do conhecimento existente devido a um passado histórico, pois a experiência da escrita pode tirar a espontaneidade de uma história ou lenda, embora o livro seja um instrumento de segurança do professor.

Sendo o enigma um elemento essencial da expressão poética, a palavra do contador enriquece-se em beleza. Carregada de intenções e força do criar e transformar, a palavra dá o poder ao contador de construir e destruir. A oralidade faz parte de um presente, de algo real por ser falada.

Pronunciar um texto em voz alta é a maneira de buscar novamente a arte e a técnica dos antigos menestréis e jograis. O contador contemporâneo na grande maioria das vezes, participa de cursos ou ateliês para contadores, buscando uma certa formação no assunto.

Os alunos precisam aprender o significado e o contexto do uso das palavras. Portanto, o professor deve mostrar ao aluno como fazer, como aplicar o uso de certas palavras em um contexto e quais palavras mais ele poderá aprender.

Segundo Palangana, Piaget buscou a essência do desenvolvimento do pensamento humano e de acordo com sua concepção, a criança praticamente determina sua construção de pensamento, interagindo com o meio e construindo estruturas de conhecimento cada vez mais complexas. ( 2001, p. 139 )

Quando se fala na palavra educativa do contador de histórias, não necessariamente, ele se posiciona dentro da escola.

Em muitas escolas do ensino fundamental têm-se usado a palavra do contador de histórias para ensinar alguma coisa. Muitas vezes, o conto é apenas um pretexto para o ensinamento. Trocá-lo por qualquer recurso sofisticado, é o mesmo que perder um rico instrumento pedagógico.

A linguagem da imagem é a linguagem da mudança. O conto e o imaginário estão ligados aos sonhos. Ao recorrer aos contadores de histórias, as crianças podem ter seu processo de aprendizagem acelerado, podem acontecer mudanças em suas mentalidades assim como sólidas e duradouras transformações originadas em seu imaginário.

De acordo com Matos ( 2005, p. 149 ), alguns contos recorrem à metáfora e à ironia para transmitirem uma mensagem diferente do literal. De forma surpreendente, essa prática envolve o hemisfério direito do cérebro, onde o significado de uma história é despertado através de um estilo de imagens e sentimentos, onde entende-se o texto, mas não o contexto.

Se o significado da palavra possui o encontro do pensamento e fala, conclui-se que a unidade da fala pode ser encontrada nele, mostrando que pensamento e fala estão interligados e não separados.

Os estímulos de input, aqueles usados na audição e leitura, são apresentados ao aluno por algum tempo e às vezes de forma repetitiva. ( GARDNER, 2007, p. 25 )

Ao ser estimulado a falar, o aluno está produzindo as respostas para as atividades nas quais a língua é usada para a comunicação ou output. ( GARDNER, 2007, p. 25 )

Howard Gardner ( 2007, p. 25 ) afirma que uma inteligência pode operar de maneira independente de um certo tipo de input ou de um canal de output.

Segundo Gardner, uma certa área do cérebro chamada “centro de broca” responde pela produção de sentenças. Uma pessoa que tenha essa parte do cérebro danificada é capaz de compreender palavras e frases, mas pode ter dificuldade em unir as palavras para formar algo além de frases simples. Por outro lado, o processo de pensamento pode permanecer intacto. Logo, uma criança pode compreender uma história, sem necessariamente reproduzi-la oralmente, porém mantendo a total compreensão e entendimento do conto. ( GARDNER, 2007, p. 25 )

De acordo com as teorias de Vygostsky ( 1998, p. 28 ), as mentes das crianças possuem estruturas diferentes, pois não é possível admitir que haja um esquema universal para o desenvolvimento de cada ser. O sistema funcional de uma criança, por mais parecido que seja com o de outra, nunca será igual.

4.0 CONCLUSÃO

 

Muitos contos surgiram entre pessoas simples e eram transmitidos oralmente. Essas narrativas passaram a ter um conteúdo e uma linguagem mais direcionada para o público infantil na Idade Moderna.

Por ter um modo de comunicação oral, o conto apresentou uma importância no desenvolvimento da criança de modo educativo e prazeroso. Assim, o contador de histórias utiliza diversos recursos como teatrais, sofisticados e imaginários para que através de seu potencial de narrativa, a criança mergulhe no mundo da fantasia, construa suas estruturas de conhecimento e interaja com o meio.

Pode-se concluir que no processo de ensino-aprendizagem o contador de histórias possui um papel importantíssimo para a criança dentro do Ensino Fundamental, contribuindo para a produção oral de sentenças, estímulo visual e auditivo, interação com o professor-contador, incentivo à imaginação e identificação social. Desta forma, pôde-se perceber a importância da arte de contar histórias para o desenvolvimento e amadurecimento do conhecimento infantil.

5.0 REFERÊNCIAS

 

BETTELHEIM, Bruno. Na terra das fadas: análise das personagens femininas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.

CORSO, Diana Lichtenstein.  Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.

GARDNER,Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artmed, 2007.

MATOS, Gislayne Avelar. Apalavra do contador de histórias. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

PALANGANA, Isilda Campaner. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vigotsky: a relevância social. 3. Ed. – Sâo Paulo: Summus, 2001.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da mente. 6 .ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.