O Conceito de Preservação ou Ampliar o Fugaz Preservare

Cristiano Silva Cardoso*
Rita de Cássia Oliveira Pedreira*

Além de resguardar um bem para que as gerações advindas possam conhecê-lo. Num sentido figurado pode-se também dizer que o ato de preservar é o permanente semear de um solo sagrado, ou em outros casos considerá-lo um terreno de litígio. Mais do que manter algo que um dia fora, nesta atividade há espaço para se contribuir com a institucionalização de identidades culturais, tanto no aspecto micro (individual ou comunitário) quanto no aspecto macro-social, cabendo dentre as suas atribuições o fortalecimento de ícones de soberania e autodeterminação, estando por sua vez intrinsecamente ligada ao poder, a memória e ao seu exercício.
É salutar, portanto, considerar aspectos de fundamental importância para o melhor entendimento deste labor, que ao contrario dos que muitos pensam diferencia-se de idéias como a de que "preservar o testemunho material, garante a contento a preservação da memória". O jogo é mais complexo do que aparenta, afinal, as relações sociais pretéritas não estão aprisionadas nas coisas, e sim, na dialética, tão bem definida por Waldísia Russio (1981), entre o sujeito, o espaço e o objeto. Tríade na qual, cada um exerce seu papel de maneira efetiva para o estabelecimento do que ela chamou de fato museal.
Transcender a barreira simplista da preservação enquanto "acumulo material" coloca em pauta a permanente comunicação de idéias, sentimentos e sensações em torno do bem, fruto de um trabalho engenhoso que ao longo dos anos transformou a natureza e a própria humanidade. Portanto, atribui-se ao preservar o "valor de processo", tanto pelo seu caráter seletivo, quanto político.
Evidenciamos nesta ampliação de sentido o caráter quase mítico que entorna o ato de preservar, nos lançando de maneira privilegiada a um posicionamento reflexivo, à revelia do tempo, este agente tão implacável da finitude da humanidade.

RUSSIO, W. "L´interdisciplinarité en Museologia" MUWOP, nº 2. Ed. Comitê Internacional de Museologia (ICOFOM, Estocolmo), 1981;

SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. (Coleção espaço) Studio Nobel 6 ed S. Paulo, 2006;

?Bacharéis em Museologia UFBA; Pós-Graduados em Educação Ambiental UEFS.