Dr. Rabim Saize Chiria
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Licenciado em Filosofia  pela Universidade Eduardo Mondlane; Moçambique

         

  1.O conceito de Cultura em Fredric Jameson

Segundo Jameson (1995: 278), a cultura é uma das pistas importante para detectar o pós-moderno. É nela, e na sua forma mercadoria, que se evidencia uma aculturação do real imensa e historicamente original. Para o autor é um novo sistema que nos domina e que só possamos ater consciência de sua dinâmica, de forma gradual e retroactiva.

Sobre este conceito de cultura, Williams (2000: 75) parte da convergência de duas concepções: a ênfase no espírito formador de um modo de vida global, que se manifesta em todo âmbito das actividades especificamente culturais, como linguagem, estilos de arte e tipos de trabalhos intelectual; e a ênfase em uma ordem social global no seio de uma cultura específica, na qual as manifestações artísticas são consideradas produto directo ou indirecto de uma ordem primordialmente constituída por outras actividades sociais. Porém, no ponto de vista do autor, existe uma distinção de método entre essas duas posições:
…na (…) ilustração e elucidação do “espírito formador”, como nas histórias nacionais de estilos de arte e tipos de trabalho intelectual que manifestam, relativamente a outras instituições e actividades, os interesses e valores essenciais de um “povo”; (na materialista), investigação desde o carácter conhecido ou verificável de uma ordem social geral até as formas específicas assumidas por suas manifestações culturais (Ibidem: 76).  
    
Para Williams (2000: 77), a cultura é um sistema de significações mediante o qual necessariamente uma dada ordem social é comunicada, reproduzida, vivenciada e estudada. Pois, nesse sistema há uma serie completa de actividades, relações e instituições, das quais apenas algumas são manifestamente “culturais”. Desta forma entende-se que as manifestações culturais não podem ser consideradas secundárias num processo de compreensão da ordem social, mas constitutivas e integrantes da mesma.

De acordo com Kant (1999: 67) a cultura não é outra coisa senão a natureza, mas como fim da natureza, ela é a maneira como a natureza nos prepara para a liberdade. Assim, as técnicas, as artes, e as ciências, o direito e as instituições públicas, tudo o que caracteriza a cultura dos homens no seio das sociedades, resultam, segundo Kant, de um desenvolvimento natural da natureza humana; pela história, a natureza faz frutificar os germes que colocou em nós: o progresso da cultura prossegue e acaba a natureza.

Na visão de Eagleton (2000: 18), a cultura é uma espécie de pedagogia ética que nos torna apto para a cidadania política através da libertação do eu ideal ou colectivo sepultado em cada um de nós, um eu que encontra a sua suprema representação no domínio universal do Estado.
“…a cultura significa um tipo de auto-divisão bem como de auto-cultura através do qual os nossos eus fragmentos e sublunares não são abolidos mas aperfeiçoadas a partir de dentro por uma mais ideal espécie de humanidade” (Ibidem:19).

Neste âmbito, Eaglenton entende a cultura como uma forma de subjectividade universal em laboração dentro de cada um de nós, tal como o Estado é a presença do universal no domínio individual da sociedade civil.         

Ora, Echeverría (2004: 87) a firma que a história dos sujeitos humanos seguem determinado caminho e não outro como resultado de decisões diante de situações concretas que são profundamente determinadas pela dimensão cultural. “Uma das razoes que possibilita as classes dominantes tomar o poder não é apenas o uso da força bruta, mas também a sua capacidade de difusão de ideias, valores, filosofias, e visões de mundo por toda sociedade” (SIMIONATTO; 2009: 178). Desta forma, a cultura a apresenta como condição necessária para um processo revolucionário, pois, pode ser um instrumento de emancipação política das classes subalternas.

Toda evolução foi precedida de um intenso trabalho de crítica, de penetração cultural, de permeação de ideias através de agregados, de homens refractários e preocupados em resolver a dia a dia, hora a hora, os problemas individuais, dissociados dos outros que se encontravam na mesma situação (Idem: 44).
        
 Entretanto, pode-se concluir que a cultura é vista como um dos elementos importante, ou seja, como um estímulo ao protagonismo político da classe trabalhadora para realizar as transformações das relações materiais de produção,  por sua vez pode-se dizer que a cultura é importante elemento de constituição da ordem vigente, ou seja para a disputa ideológica.