O comportamento como item avaliativo

(uma breve reflexão sobre o sentido da composição avaliativa)

 

   Para abrirmos tal discussão é necessário fazer uma breve reflexão sobre o significado da palavra comportamento, que é definido como o conjunto de reações de um sistema dinâmico, em fase às interações e renovação propiciadas pelo meio onde está envolvido (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre). Tudo acontece num conjunto de ações e reações interativas onde fatores externos ao pensamento humano se relacionam constantemente com os internos e influenciam um ao outro, provocando uma série de atitudes positivas e/ou negativas em determinadas situações de convivio. Tais relações se estabelecem por toda a vida e vão determinar o nivel de comportamento de cada individuo.

  A escola é um ambiente em que se estabelecem diversas relações. Desde a Educação Infantil, onde acontece o primeiro contato da criança com um ambiente diferente do que estava acostumada em sua vida diária, ela passa a conviver com diversas pessoas e automaticamente com culturas familiares particulares, individuais e únicas, possibilitando assim um aprendizado diário com trocas de relações constantes. “As influências sobre o comportamento humano, em geral, são complexas e muitas vezes difíceis de serem detectadas (Skinner, 1998)”.

   É a partir daí que vai-se desenvolvendo o estilo de comportamento individual de cada um. Com o passar do tempo as relações de amizade vão se fortalecendo e a personalidade do aluno vai se formando, tanto na escola quanto dentro de casa. Esta última é que determinará grande parte do temperamento comportamental de um individuo, pois são suas experiências diárias que definirão sua linha de pensamento e ação e consequentemente seu comportamento. Vale ressaltar que, apesar de a personalidade ser enraizada nos preceitos familiares, o jovem quando atinge uma certa idade passa a fazer uso de determinados estilos de comportamento diferentes daqueles vivenciados ou demonstrados por ele dentro de casa. O que até certo ponto é normal, pois na fase da adolescência o jovem procura sempre desafiar padrões comportamentais, modelos socialmente definidos como corretos, principalmente aqueles definidos pelos pais, que devem sempre ficar atentos aos exageros cometidos por eles.

Mas onde entra o professor nisso tudo?

   Esse profissional é o responsável por conduzir a construção do conhecimento em sala de aula. Para tanto é necessário que o mesmo esteja sempre preparado para mostrar os diferentes caminhos que cada situação tem e qual seria o mais condizente a ser percorrido. Não adianta o profissional mostrar apenas os melhores caminhos, pois, se a escola prepara o aluno para a vida, é nela mesma que ele irá encontrar diversos caminhos à serem percorridos.

   Dentro da sala de aula, com o passar do tempo, o educando vai estabelecendo laços, formando relações, umas mais marcantes que as outras, de acordo com a personalidade de cada um, formando assim seus grupos e ideologias. É na construção diária do conhecimento que eles vão elaborando suas linhas de pensamento, e o professor vai fazendo com que as barreiras e os estigmas de cada grupo possam se relacionar, entender as diversidades de pensamentos e assim conviver sabendo respeitar-se mutuamente.

   No decorrer do ano diversas situações de conflito irão se desenvolver. Alunos com transtorno de conduta, os mais diversos possiveis, outros ainda que por estar num dia ou noutro com problemas de ordem pessoal e que por esses e outros fatores deixam de seguir os modelos de comportamento social entendidos como ideais, alguns desses muito rigidos e aquem muitas vezes do entendimento da faixa etária para qual se é exigido. Na maioria das vezes, quando ocorrem situações desse tipo, o aluno é injustamente punido com medidas desnecessárias e muitas vezes constrangedoras que não resolvem em nada,nem ajudam-no a entender a natureza de suas atitudes e as consequências das mesmas, voltando o mesmo à praticá-las em momentos futuros.

   O professor, na condição de educador e transmissor do conhecimento, ao invés de tratar a problemática de uma forma mais dialógica e sensata, leva para si a situação e entende que aquele aluno que apresenta um comportamento inadequado para o momento está com um problema pessoalmente direcionado à ele e passa a tratá-lo de maneira ameaçadora. Do mesmo modo acontece quando a questão comportamental envolve toda a turma ou a maioria dela. Muitas vezes isso acontece pelo fato de o conteúdo preparado para a aula ou até a metodologia e porque não falar da didática utilizada pelo professor não está prendendo a atenção do educando fazendo com que a truma fique dispersa.

   A partir do momento em que o educador percebe que a turma não está prestando a atenção devida que começa a taxá-los como mal comportados e desinteressados, não percebendo que, na verdade, é a aula preparada que não corresponde às expectativas dos alunos. É aí que começam as ameaças, onde o professor, por ser a autoridade em sala, se acha no direito de falar aos seus alunos que se eles não se comportarem vai tirar pontos ou irão tirar nota baixa nas provas prejudicando assim seu desenvolvimento. Segundo Luckesi “O uso de ‘ameaças’ nas práticas chamadas de avaliação, não tem nada a ver com avaliação, mas sim com exames. Através dos exames, podemos ameaçar “aprovar ou reprovar” alguém; na prática da avaliação, só existe um caminho; diagnosticar e reorientar sempre.Em outros casos o educando é encaminhado para a coordenação ou simplesmente colocado para fora da aula. Quando o mesmo chega à coordenação, na maioria das vezes, não se resolve o problema, pois os responsáveis pela função, quando procuram investigar o que aconteceu, só o fazem para elucidar o caso e punir os devidos “culpados” e não para ir fundo na raiz do problema que em muitas situações está no profissional que conduz as aulas ou dentro de sua própria casa (questões familiares).

   Outro ponto importante é a definição dos itens de avaliação. São estabelecidos critérios que na verdade receberão uma pontuação, cada, que serão somadas e definirão uma nota geral.Nesse contexto entrão critérios como o desenvolvimento que corresponde ao desempenho no decorrer de cada etapa, a participação nas atividades, a assiduidade que está ligada ao número de aulas frequentados e o comportamento. Este último, que por sinal é o foco da nossa atenção nesse momento, corresponde na quase totalidade das instituições escolares, aquele aluno que ficou em sua cadeira, quase não falou e não expressou sua opinião por isso. Totalizando a soma de tudo isso, o comportamento está ligado àquele aluno que só fez o que lhe foi literalmente mandado.

   Ora, se a escola nos prepara para a vida, porque o comportamento que é uma questão de ordem social tem que ser mensurado? Por que o aprendente tem que se adaptar à um modelo social pré-definido pelo ambiente escolar?

   Mesmo no nível médio, onde há uma preparação mais afunilada para vestibulares e exames, que são exigidos na sociedade, ainda sim o comportamento é mensurado, pontuado como ítem de avaliação. Pelo que conhecemos, naõ existe prova nehuma, de empresa alguma que dê nota à mais ou à menos para aquele(a) que se comporte melhor durante suas realizações. O mesmo acontece nos Ensinos Fundamentais I e II, onde ainda se coloca a questão do comportamento como forma de avaliação.

   Não defendo aqui a idéia de que se deixe o aluno fazer o que quer e bem entende, mas sim que o comportamento seja tratado como uma questão de condição social de aceitação, de convivência e de respeito mutuo e não de que o mesmo tenha que se comportar dentro da escola para ter uma boa nota ou que no conselho de classe seja definido o futuro de alguém simplesmente pelo nível comportamental dele, pois em casa ou na sociedade como um todo, não são oferecidos pontos ou prêmios pelo comportamento, mas sim pelo desenvolvimento no trabalho, na equipe ou na empresa.

   Essa questão deve ser tratada séria, entre escola e família, sendo que é na primeira que está o foco do problema, que é o de tratar o comportamento como opção de nota. Isso é para ser tratado socialmente fazendo-se sempre um nexo com o mundo lá fora que apesar do nome está intimamente ligado ao universo escolar. Volto a dizer, não devemos dar ou tirar pontos pelo comportamento bom ou ruim de cada um, devemos sim enaltecer que isso é uma questão de ordem social e definirá que cidadão eu serei, e a escola deve contribuir muito com isso pelo menos como informante ou transmissora dessa realidade que é o comportamento humano.

 

Nota: Gostaria de ressaltar que há escolas e escolas, como também profissionais e profissionais e que nem todos estão na mesma linha de pensamento e ação. Àqueles que já conseguem tratar a avaliação como uma questão mediadora do conhecimento, meus parabéns e àqueles que ainda não se atentaram à isso, por favor, atualizem-se para fazer a diferença em quanto há tempo.

Referências:

SKINNER, B.F. Ciência e comportamento humano. 10.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1953/1998.

Website: http://www.luckesi.com.br/ (Cipriano Carlos Luckesi)

    

Autor: Thiago Gouveia Correia dos Santos

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