Edson Silva

O título do artigo poderia sugerir uma fábula ocorrida em mundo e tempos distantes. Mas, em verdade, trata-se de algo real e recente, um conto de fadas transformado em realidade pelo Carnaval com a homenagem, com direito ao título de campeã, da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis (RJ) ao rei da Música Popular Brasileira (MPB), o cantor e compositor Roberto Carlos. Torço pela Beija-Flor desde 1976, quando o carnavalesco Joãosinho Trinta levou a Escola ao campeonato desenvolvendo o enredo "Sonhar com Rei dá Leão". Na época, o rei nada tinha a ver com Roberto e sim com Jogo do Bicho.

Da mesma maneira que minha mãe, continuei fã da Beija-Flor e fico imaginando quanta seria a alegria dela ao ver sua Escola de Samba favorita ganhar Carnaval homenageado Roberto Carlos, seu maior ídolo da música, que me faz lembrar passagens engraçadas, como o surgimento do talentoso paulistano Guilherme Arantes, no fim dos anos 70. Ele, que tinha deixado a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, para dedicar-se à música, era excelente compositor, cantor, pianista e conquistou o gosto musical de minha mãe, mas nem de longe destronou o rei Roberto Carlos.

O flerte musical de minha mãe com Guilherme Arantes seguiu até ela ouvir em rádio ou ler em revista de fofocas dos artistas (é este tipo de coisa é antiga) que o Guilherme Arantes teria dito que ia ser mais famoso que Roberto Carlos. Pronto! Bastou para minha mãe não querer mais nem ouvir as músicas do talentoso, mas para ela muito audacioso, iniciante da MPB. Guilherme continuou fazer sucesso, mas daí a ultrapassar o rei não há notícia que ele ou outro tenha conseguido, no Brasil, nos últimos 50 anos.

Voltando ao desfile da Beija-Flor. Particularmente achei a homenagem ao Roberto no desfile até aquém ao que merece o rei, mas creio que foi proposital, afinal o enredo era justamente a simplicidade dele. Com licença poética ao enredo da União da Ilha, de 81, "É Hoje", de Didi/Mestrinho, "...um modesto rei, no meio de gente tão modesta..." Como dizem, alguns podem não gostar das obras de Roberto Carlos, mas todo ser humano (principalmente brasileiro) que chorou ou que sorriu; que amou ou que sofreu, enfim que viveu emoções, teve, há meio século, algum momento da vida eternizado com música dele. Portanto, a Beija-Flor está de parabéns e o título é presente antecipado ao aniversário de Roberto Carlos, que fará 70 anos no Dia do Índio Brasileiro, 19 de abril. Valeu, bicho!

Edson Silva, 49 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

[email protected]