O Ciclo de Uma Vida – O Grande Vórtice Vital de Cada Um

No momento em que deixamos o conforto dos ventres de nossas mães e abrimos, finalmente, estupefatos, os olhos para a luz do dia e sentimos o frio do meio ambiente exterior deste mundo da vida individual, neste plano quadridimensional (altura X largura X profundidade X movimento), simplesmente acabamos de iniciar um longo período de descobertas, de percepção de tudo, cada um de nós a seu tempo e a seu modo, de percepção e aceitação de nós mesmos, que vai perdurar por anos e por décadas.

De repente pegamo-nos, surpresos, aos 50, 60 anos de idade, ainda descobrindo aspectos de nós mesmos, de nossa maneira de ser, de nossa maneira de reagir aos fatos, que absolutamente desconhecíamos. E isso pode nos deixar maravilhados conosco mesmos e com a vida (e às vezes, por que não, também decepcionados com ambos.)

O processo de relacionamento e entendimento cada vez maior do fato de que estamos vivos é contínuo, embora por caminhos e em períodos de tempo tão diferentes entre pessoa e pessoa. Ao longo dele, torna-se mais límpido, mais autêntico, o saborear da vida, que pode se mais intenso, à medida em que vamos “envelhecendo”, até que subitamente tudo comece a se tornar novamente meio embaçado.

É o grande vórtice de uma vida que nos foi reservado; ele somente se finda com a falência da consciência neste plano, que vem com o advento da morte por velhice, da qual ninguém escapa.

Como e por que isso acontece assim?

Acontece assim pelo fato de que os vários aspectos dos vários campos de expressão que compõem internamente nosso ser individual tendem a se entenderem mais e mais entre si, a cada dia mais e mais e, num processo natural, formar a cada momento um ser mais congruente, ao permitir ou fazer despertar novas capacidades de sensibilidades e de experimentações cada vez mais complexas dentro de cada um de nós, as quais estavam adormecidas, ou simplesmente ainda não estavam “ligadas”: nossos diversos corpos – o corpo físico, o corpo mental, o corpo emocional, o corpo espiritual, o corpo áurico, e mais algum outro do qual ainda não tenhamos conhecimento até os dias atuais, tendem a formar um bloco individual cada vez mais homogêneo, permitindo a evolução de uma personalidade cada vez mais elaborada de alguém – nós mesmos, cada vez com menos e menores lacunas em nossos processos interiores de intercomunicação de nossas próprias energias de vários tipos de que todos somos compostos.

É isso: com o passar dos anos, com o passar das décadas, cada um de nós passa cada vez mais a ser uma expressão mais clara, em bloco, de um ser que vai, muito lentamente, atingindo cada vez mais consciência de si mesmo, ainda que este processo dê-se de forma imperceptível ao próprio indivíduo que o experimenta, pois de fato não temos conhecimento de que está se desenrolando o tempo todo em nós, enquanto nós vamos seguindo a esmo por aí, vivendo a vida que se apresenta à nossa frente, achando-nos muito espertos enquanto nos preocupamos com coisas locais e pontuais.

Tornamo-nos, cada um de nós em seu próprio ritmo e densidade (e isso, decorrente daquela certa configuração inicial de nossos arcos internos de comunicação das energias entre os nossos chacras mencionada nos tópicos anteriores deste livro), um pouquinho mais despertos a cada dia, dia após dia, conforme o relacionamento entre si de nossos processos mais interiores vai se aperfeiçoando, se aprofundando, vai se aprimorando, quando cada processo interior nosso, cada aspecto interior de expressão de nós mesmos vai se aceitando, vai se conhecendo, e vai se comunicando de forma cada vez mais intensa e mais perfeita com os nossos outros aspectos interiores. Tudo, dentro deste complexo invólucro de que fomos dotados, somos nós, compõe a nós mesmos, mas no início de nossa vida, nossos próprios aspectos interiores não sabem disso, às vezes não tomam conhecimento dos outros nossos aspectos interiores, às vezes até declaram guerra entre si, por puro desconhecimento.

 Nossas alegrias, nossos momentos de júbilo, juntamente com nossas crises, nossos medos, nossas tragédias pessoais, dão uma chacoalhada o tempo todo em nossos componentes interiores (pelo menos até um certo ponto de nossas vidas), e podem funcionar como gatilhos, procurando ativar nossas sensibilidades, procurando ativar tanto a nossa alma como a nossa Inteligência, o que as fazem procurar mais uma à outra, e a nossa alma se desenvolve, e a nossa inteligência humana se desenvolve, e uma se apega mais à outra, uma começa a confiar mais na outra, e uma começa a contar mais com a outra, e com isso nos tornamos a cada dia mais sábios, e cada dia mais espirituais, embora cada um de nós com a sua própria cara de espiritualidade.

Ou seja: nossas impressões particulares, experimentadas em nossos diversos níveis de apreciação dos fatos da vida a que somos expostos, convergem o tempo todo para incrementar nossa expressão psíquica para níveis cada vez mais refinados, cada pessoa, repito novamente contando com o seu perdão, amado leitor, com a sua particular, digamos, “evolução”.

A cada fase que transpomos, passamos a contar com uma capacidade de visão de vida mais ampla, mais abrangente, ao mesmo tempo em que nos tornamos agora mais dotados para promover, seja racionalmente, seja intuitivamente, co-relações entre tudo, atribuindo com exatidão mais acurada o peso real de cada coisa.

Em suma, caminhamos e, a partir de um certo momento em nossas vidas, tornamo-nos, em certa medida, cada vez mais libertos da ditadura e do ritmo do destino.

As fases podem ser agrupadas, segundos estudiosos da ciência chamada Atroposofia, em grandes arcos que duram cada um deles sete anos, nas viradas dos quais nossas vidas experimentam elas próprias grandes viradas, pois nossas próprias integridades física/psíquica/mental/emocional/espiritual dão saltos e consolidam-se por períodos certos em novos patamares de entendimento objetivo e subjetivo das coisas e também de expressão, até a virada seguinte.

As fases:

1ª. Fase – Dos 0 aos 7 anos

- Nascemos e, como era de se esperar, não sabemos operar minimamente nosso corpo físico, tampouco operamos apropriadamente a nossa mente, nem assimilamos direito nossas percepções. Estamos iniciando um processo de troca de células e moléculas, até então totalmente vinculada à nossa mãe, por gerações delas mais autóctones, ou seja, geradas sob influência da própria mente do indivíduo. É um lento processo de eliminação de vínculos, estes, tão profundamente cravados em cada minúscula parte de nós mesmos. Nesta fase, somos altamente dependentes de sermos guiados. Precisamos disso, clamamos por isso, esperamos por isso. Durante estes primeiros anos, vemos, ouvimos, imitamos, e começamos a descobrir o movimento.

2ª. Fase – dos 8 aos 14 anos

- A interioridade já está mais lúcida, e nossas forças já avançaram da cabeça para o resto do corpo, para o meio do corpo, melhor dizendo. A criança descobriu seu corpo quase que plenamente. Sua percepção das cercanias se incrementou profundamente, as recepção de imagens é mais nítida, bem como a sua memorização e o processo interno de correlacionar coisas e palavras. A pessoa nesta fase está aberta a imagens, às cores, às formas, à beleza (perceba que tudo isso são manifestações de energias), as quais devora sem qualquer receio. Ao mesmo tempo em que sua percepção de que é capaz de se relacionar fisicamente, então ela descobre a distância, a dor física se torna também mais nítida, idem a dor da alma, o sentimento, o desejo mais consciente e a esperança. A necessidade de ser protegida e guiada por um adulto com personalidade mais sólida e estabelecida coincide com a chegada dos pais à idade da razão. A natureza é sábia.

3ª. Fase – dos 15 aos 21 anos

- O peito e o sistema motor estão prestes ao chegar ao auge, novos limites físicos e sensoriais mais amplos são disponibilizados pela natureza ao corpo e à mente da pessoa e, conforme vão sendo descobertos pelo interessado, a metamorfose clama, grita, pela liberdade, para poder se desenvolver ao máximo. É uma fase de ampliação geral da percepção, da vontade, da ação, a sede da experimentação é insaciável, por isso os limites da vida monótona são particularmente angustiantes para a pessoa que está neste estágio da vida. A pessoa descobre em si um pensamento mais autônomo do que até então, ela começa a avaliar, a julgar, e a separar. Isso leva ao desejo por rupturas drásticas, que acontecerão, mesmo com resultados dramáticos.

4ª. Fase – dos 22 aos 28 anos

- Auto-educação é a palavra chave que pode descrever muito de quase todo esse período. Exuberância de força física, exuberância de força mental, a psique do indivíduo quer desenvolver esses aspectos ao máximo, e crê que o fará, muitas vezes achando que não experimentará limitações, porém seus parâmetros ainda são exteriores, pois seu natural processo contínuo de despertamente de competências não desenvolveu ainda a capacidade de olhar para o seu próprio interior, nem está ainda dotado das habilidades para descobrir equilíbrio e plenitude dentro de si mesmo. Na verdade, está completamente adormecido para essa peculiaridade humana, o que é a marca de um processo perfeitamente natural: sua sensibilidade é totalmente voltada para avaliar e comparar-se com o exterior. Ostentação, exibição, aprovação, alimentam sua alma, arrogância, em várias medidas, dependendo de vários outros aspectos da personalidade de cada um, aflorará, causando danos a si e aos outros. Podemos mesmo achar que somos invencíveis, que somos mais espertos do que os outros, e que nem o céu é o limite.

5ª. Fase – dos 29 aos 35 anos

- A crise dos 30 anos – começou aos 28: quase que a partir de um relance, começamos a nos conscientizar decepcionados de nossos limites definitivos; a idéia de que éramos, cada um de nós, invencíveis e donos do mundo, desmorona quase que num passe de mágica. Novas categorias de conexões são ativadas em nosso corpo mental e emocional nesta fase, e finalmente descobrimos as impossibilidades definitivas de nossa particular vida. Angústia, insatisfação, sensação de vazio, sensação de que viver por si mesmo não vale a pena. O sofrimento é mais denso, pois o sentimos com praticamente todas as nossas sensibilidades, nas dimensões de todos os nossos corpos, Nesta fase, trocamos de emprego, trocamos de crença espiritual, trocamos de amigos, descobrimos outro nível de amizade, que agora exibe aspectos de uma cumplicidade mais sábia, menos fresca e inconseqüente. Se a pessoa não tiver construído uma base existencial que contenha elementos de espiritualidade que lhe escore minimamente a alma em condições de equilíbrio, ela entra em colapso. Na segunda metade dessa fase, a percepção de nossos limites está ainda mais clara, mais sacramentada, fazendo nos tornamos mais introspectivos do que éramos, e a aceitação de nós mesmos, com nossas reais virtudes (as verdadeiras, não aquelas que até então achávamos de tínhamos), nos mostra a nossa real viabilidade e nossa real habilidade, o que pode nos predispor, a partir de então, a estarmos mais disponíveis para coisas úteis. A pessoa começa a vislumbrar para si mesma uma missão a que deve se aplicar: educar os filhos pode ser uma delas, dando-lhes o melhor enquanto que privar a si mesmo de dar-se acesso aos seus próprios desejos e anseios pessoais em favor de seus “protegidos” passa a ser mais do que aceitável. Dá prazer o estar em condições de fazer esse “sacrifício”, um sacrifício doce, que traz enlevo...

6ª. Fase – Dos 36 aos 42 anos

Nessa fase, nossa alma está se preparando para mergulhar no nível mais possível de maturidade psíquica, a nossa capacidade perceptiva se perceberá dotada de uma completeza que até então ainda não tivera, por isso, a essência das coisas, a que está além dos invólucros superficiais, a partir daí será percebida por nós em silêncio, e nossos julgamentos serão mais dotados de eqüidade. Nosso nível de congruência interna atingiu patamares bem próximos da excelência. Já obtivemos nossas conquistas na vida ordinária, agora nossa atenção percebe nuances de valores espirituais até então impercebidos, nossos princípios se tornam mais sólidos, estamos mais lapidados para a vida, e conhecemos que, sejamos quem sejamos, somos importantes para a humanidade.

7ª. Fase – Dos 43 aos 49 anos

A migração da atenção do mundo físico e material para uma visão mais espiritual de tudo, ocorrida nos últimos anos, deixará a pessoa bastante suscetível a uma crise, pois sua sensibilidade interior está muito mais aguçada, e ela está bem mais capacitada para ver intuitivamente. De fato, quase todos nós a experimentamos, a tal crise, nessa fase, mesmo que em níveis diferentes. O corpo físico começa a mostrar desgaste, a aparência física começa a sofrer profundas transformações, a barriga cresceu, as peles começam a ficar penduradas, começamos a perceber que rugas aparecem e, rejeitando-as, o fato de serem cada vez mais difíceis de serem disfarçadas nos incomoda profundamente, chegam os sintomas da menopausa, e surpresos começamos a perceber que subir uma escada já começa a se tornar penoso, as articulações já não são tão elásticas, os amigos de infância começam a sofrer AVC’s, a sofrer infartos, a morrer, nosso filho nos vence no braço de ferro, no jogo de xadrez, nos chama de velho, e vai embora... Essa sensação de perda de força e vitalidade pode não ser bem digerida, levando à inevitável depressão, pois em nosso íntimo sabemos que essa surpreendente transformação é o sinal de que adentramos definitivamente na metade final de nossas vidas. A reação é a eclosão súbita de uma necessidade de rejuvenescimento, e da redescoberta de muitas coisas de nossa história individual, que agora são revistas, e essa releitura pode ser muito esclarecedora, muito estimulante, pode ditar as novas diretrizes de novos rumos, os quais devem ser empreendidos sem demora. Calma!

8ª. Fase – Dos 49 aos 56 anos

- Novo mergulho em uma fase espiritual, agora a ser verdadeiramente desfrutada, nossa moralidade é dotada de princípios éticos de qualidade mais refinada, nossa inteligência agora é capaz de juntar objetividade e subjetividade em proporções mais adequadas, o coração volta a falar alto em nossa forma de entender e de expressão, com equilíbrio, soltamos amarras, abandonamos a necessidade de liderar, tornamo-nos mais humanos, nossos valores tornam-se mais humanitários, disponibilizamos nossa sabedoria pessoal para o mundo com grande prazer. Inevitavelmente, procuramos por um ritmo físico mais dosado, embora a necessidade de se sentir útil traga alguma tristeza, pois o que se vê é um desprezo das gerações mais novas por todo o nosso tesouro interior. Estamos, sim, mais emocionais, mais suscetíveis. Há que se encontrar a forma de colaborar, espantando o vazio, porém, sem excessos.  

9ª. Fase – Dos 57 aos 63 anos

Nossas sensibilidades decaem, idem nossa capacidade perceptiva, para nossa tristeza e desespero, percebemos que perdemos energias dia após dia. Não sentimos mais o sabor das coisas como antes, e isso nos entristece. Não ouvimos mais como antes, não sentimos os aromas como antes, as novidades já não têm o poder de nos trazer euforia. Nossa memória falha, terrivelmente. Nossa visão periférica, tanto a física como a intuitiva, arrefece irremediavelmente. A internalização de nossa expressão de vida, através da circunspecção que buscaremos ou a que seremos relegados, pode fazer exaltar uma sensação de fracasso pelo que não se conseguiu fazer na vida, e que não mais se conseguirá. No silêncio de nossas almas, tanto o sabor das nossas grandes vitórias já estão devidamente incorporadas à estrutura da nossa personalidade, como o fel de nossas grandes derrotas estão terrivelmente cravados em nosso espírito. É a terceira idade. Não somos totalmente incapazes, mas nossas limitações físicas e até mesmo mentais, nos colocam como quase que totalmente sem qualquer habilidade para assimilar as mudanças que ocorrem em ritmo acelerado neste mundo cada vez mais doido e liberal.

Daqui por diante, cada vez menos nossa sensibilidade experimentará grandes expressões exteriores – velho não chora, somente exibe para tudo um olhar cada vez mais condescendente, que vai se tornar um dia, esbugalhado. Isso não significa que não sentimos as coisas: apenas as sentimos, a partir de nossos 70, 80 anos de idade, em um nível mais sublime. Os caprichos do destino não mais podem nos atingir, libertamo-nos de sua ditadura, nada mais parece nos afetar. Aqui, estamos cada vez mais desprendidos, aptos para encarar a morte com a naturalidade com que iríamos tomar o café da manhã, sem medo algum, sem receio de qualquer espécie. Quem pode tirar dos netinhos a estupefação face a sabedoria silenciosa dos avós? E dos bisavós, então? Que bisneto não fica intuitivamente paralisado ante a mágica presença silenciosa do pai do pai do seu pai?