Sentados à mesa, durante o almoço, dois executivos conversavam sobre suas equipes.

O primeiro reclamava muito. As pessoas nunca traziam a ele as soluções, apenas os problemas. Seus funcionários mais antigos mostravam-se a cada dia mais desanimados, desfocados de suas tarefas, descumpridores de prazos. E nos últimos tempos começavam a mostrarem-se preguiçosos, o procurando com questões simples e de fácil solução.

- Veja você – disse ao amigo – na semana passada um gerente com mais de 15 anos de experiência procurou-me para dizer que não conseguira convencer um dos diretores da empresa a aprovar uma alteração no projeto.

- E o que você fez? – Perguntou-lhe o outro.

- Óbvio: depois de repreendê-lo, mandei que ele montasse um relatório mais bem elaborado, reapresentasse o projeto e caso não obtivesse sucesso, que trouxesse a recusa por escrito, para que eu pudesse apresentar ao Board da empresa. Essa é a função dele, não a minha. Eu quero mesmo é tirar a responsabilidade das minhas costas.

O amigo ficou calado pensando. Sentiu-se tentado a dizer que em sua equipe as coisas não eram assim. Seus funcionários vinham apresentando desempenhos crescentes, no último mês havia conseguido promover dois de seus melhores coordenadores a cargos de gerência, apesar da crise. Sua equipe discutia com ele os problemas, em geral trazendo mais de uma opção de solução. Claro que dentro do time haviam os mais bem preparados e os menos capacitados, mas sua função era detectar os desvios e corrigi-los, para que houvesse homogeneidade no grupo e na qualidade do trabalho.

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Trabalhei durante 4 anos em uma grande multinacional americana, ocupando cargo de Gerente Sênior. Éramos submetidos a um plano de treinamentos elaborados para que os cargos gerenciais tivessem condições de disseminar a cultura da empresa entre suas equipes. E também para que aprendêssemos ou aprimorássemos a capacidade de liderar.

Liderar. Não apenas chefiar uma equipe, mas sim liderar. Nesses treinamentos, tive contato pela primeira vez com um conceito que não conhecia, chamado “Líder Servidor”. Para mim foi algo novo, uma vez que sempre acreditei que se deve liderar pelo exemplo. Tenho ex-superiores aos quais eu seguiria até embaixo d’água, mas nunca havia me perguntado o porquê de admirá-los tanto. Sempre acreditei que foram bons exemplos e por isso criei essa admiração.

Mas não é apenas isso. Claro que um bom exemplo é importante. Porém o líder servidor é mais, é aquela pessoa que você procura quando precisa de apoio e orientação. É aquele líder que se coloca no seu lugar quando você está num beco sem saída. Que pensa com a sua cabeça, sente com o seu coração, mas não deixa que você aja apenas com a sua emoção. E principalmente, que luta suas batalhas ao seu lado. Que acompanha você, ainda que apenas como ouvinte a uma reunião importante, ou que abre caminho a uma instância superior, intercedendo a seu favor, mas não fazendo o seu trabalho. Incentiva, valoriza seu trabalho, suas ideias e seus projetos. E quando não enxergam qualidade no seu trabalho ou em alguma proposta, tem a decência de dizer de forma franca, educada e humilde.

Aliás, humildade é uma característica importantíssima em um líder. O “líder” arrogante não lidera, não agrega a equipe e não consegue com que suas ideias e conceitos sejam absorvidos de forma natural. É fácil fazer com que sua equipe realize tudo o que você propôs. Afinal você é o chefe, não é? Mas como fazê-los acreditarem no que está sendo pedido ou proposto, ainda que aos olhos do time possa parecer um grande absurdo? Com humildade, com respeito, com acessibilidade. Um verdadeiro líder deixa sempre suas portas abertas para que possa ser procurado quando necessário for.

Outra coisa importante que aprendi em meus treinamentos, é que um bom líder não se preocupa em ser substituído. Na verdade, o primeiro passo para que se possa crescer dentro de uma corporação é deixar preparado o seu potencial sucessor. Já presenciei casos de pessoas que não foram promovidas porque realizavam um excelente trabalho, e a companhia entendia que eram “insubstituíveis”. Liderar também é deixar que as pessoas subordinadas cresçam e se desenvolvam, criem asas e possam voar sozinhas. Um bom líder não prejudica o desenvolvimento de um funcionário, porque não tem a vaidade de ser o único. O líder servidor não tem medo da concorrência dentro de sua equipe.

Muitas empresas e corporações ainda não estão preparadas para esse tipo de conduta. Certa vez, em uma entrevista, expus esse conceito ao entrevistador, que me perguntou se eu não estaria sendo paternalista, ou delegando pouco, uma vez que ele entendeu que quando a equipe não dava conta de uma tarefa eu, como líder servidor, deveria realiza-la. Não, por favor, não é nada disso! Um líder de verdade não deve se comportar de forma a não permitir que a equipe realize suas funções. Mas ele deve dar suporte para que se tornem mais fáceis e superem os obstáculos com mais agilidade.

Para quem se interessar, uma boa leitura sobre esse assunto é “Como Se Tornar um Líder Servidor - Os Princípios de Liderança de o Monge e o Executivo” de James C. Hunter. O autor de O Monge e o Executivo mostra como entender o conceito do líder que serve a sua equipe, e com isso consegue liderar.

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Sobre os dois amigos que conversavam no início desse artigo: terminaram de almoçar, se despediram e voltaram a seus afazeres e suas equipes.

O primeiro voltou a chefiar seus funcionários, cada vez mais desanimados e desfocados, que só lhe traziam problemas.

O segundo voltou a liderar sua equipe campeã. Como deve ser...