Vertente de dor e indignação, o Caso Eloá não sai dos olhos de milhões de brasileiros. De fato, no senso comum das chamadas "coisas da vida" não costumam entrar aspectos tão negros do dia-a-dia. Do dia-a-dia... Sim, pois, atrevo-me a afirmar, Eloás muitas existem no seio dessa humanidade tão esquecida de Amar. Não vou repetir as Lições Áureas que um certo Galileu de Barbas Longas e Amor Infinito veio nos trazer por doação de Luz. Réprobos na Escola da Vida, bem conhecemos o que devemos saber para que nossa ascensão fosse já uma realidade. Permanecemos, todavia, aqui, nas sombras, alguns nas Trevas, admirados pelo desfecho inevitável a que leva o desamor, o desencanto, a irreverência, esse concerto de amoralidade que nos últimos séculos o homem orgulhosamente adotou em sua atitude perante a Vida.

Quem é o culpado pela tresloucada aventura em que Lindemberg Alves se lançou? O abandono paterno sofrido? Uma paixão aberrante que deforma o senso mínimo de bem-querência? As injustiças sociais que tolhem oportunidades? A dor machista da perda da fêmea não dispensada?

Quantas questões mais poderíamos levantar? Quantas possibilidades poderíamos aventar para achar um culpado? Quanto já não ouvimos sobre isso?

Sabem o que significa o nome "Eloá"? Pois é... Significa Deus, em hebraico. Isso não quer dizer nada, mas deixa um sabor de profundo amargor em mais essa ironia desse caso desconcertante.

Voltemos à questão: quem é o culpado pelo Caso Eloá?

Não, não me arrisco a apontar um culpado. Digo apenas que o Amor, quando difuso nas pessoas, costuma evitar tragédias assim. A percepção do homem acerca dos valores que não necessitam de demonstração anda muito prejudicada. É uma enorme miopia que impede o comum das pessoas de vislumbrar continuamente lá adiante os contornos do horizonte. Os homens deixaram de perceber os foros de verdade absoluta que os dons magnos da alma têm por excelência.

Não fazer aos outros o que não desejamos que nos façam. Eis aí um exemplo de um valor ético diamantino, porém olvidado no cotidiano quando roubamos um lugar no metrô, quando deixamos de devolver um troco equivocado, quando pronunciamos o preceito cínico do faça o que eu digo mas não faça o que eu faço.

Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Oh! Pai! Tão poucos os que sequer se lembram desse ensinamento. Mas eu insisto, é nas pequenas coisas da vida que nos corrompemos e sedimentamos o pérfido perfil de "espertos" diante da Vida.

O mundo não é feito de Lindembergs, é certo, mas somos todos nós responsáveis por produzir um mundo em que Lindembergs existem.

Quando eu deixo de espargir a minha pequena, porém preciosíssima, parcela de Amor neste Planeta, inevitavelmente estarei disseminando a minha também pequena, mas perigosíssima, parcela de desamor.

É inadiável que o Amor volte a estar difuso em nossa casa, em nosso trabalho, nas (aparentemente) mínimas circunstâncias da Vida.

Não existe um "culpado" para a existência de Lindembergs, assim como não existe um "culpado" para Hitler, Nero, Stalin, ou quaisquer genocidas...

O que há somos nós... Todos nós... Responsáveis por todas as minúsculas gotas de escarro que acrescemos ao imenso oceano de ignomínia em que vivemos.

Amemos, pois, ainda que só em gotinhas, mas amemos a todos os que existem.

Tudo o mais virá por acréscimo.