O romance policial é um gênero literário que desperta o interesse do público jovem e adulto, porque instiga a curiosidade do leitor da primeira à última página do livro. Esse tipo de narrativa tem características próprias, como a presença de um detetive inteligentíssimo, uma vítima e um criminoso inteligente e frio. A narrativa conta com a presença de pensamentos lógicos do detetive e exige isso do seu leitor.
De acordo com Lajolo e Zilberman (1987), o sucesso do gênero chega ao público infanto-juvenil brasileiro por volta da década de 1960 devido à ampla divulgação que os livros passaram a ter a esse público específico. Os autores passam, então, a escrever esse gênero com a adaptação necessária, a fim de conquistar as crianças e jovens. Normalmente são histórias que envolvem questões relacionadas ao universo infanto-juvenil, com criminosos adultos e detetives jovens e inteligentes. Características essenciais e presentes em O caso da estranha fotografia, obra analisada a seguir, escrita pela autora Stella Carr e de grande sucesso entre os jovens. Para uma melhor compreensão desta obra, é pertinente que se fale sobre a autora, sobre a estrutura do texto "O caso da estranha fotografia", sobre a linguagem deste texto, sobre a ilustração, sobre a adequação da obra para determinada faixa etária, a coleção da obra, entre outras características.
Stella Maria Whitaker Carr Ribeiro é autora do livro O caso da estranha fotografia, lançado em 1977. Stella nasceu no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1932, e faleceu em São Paulo, em 2008. Em 1965, estreou como poeta ao publicar Três viagens em meu rosto, seguido por Matéria do abismo e O homem de sambaqui. No final dos anos 1960, ela decidiu escrever para crianças e jovens, mas apenas em 1977 publicou sua primeira série policial, "O caso da estranha fotografia".
Com o intuito de atender às expectativas e ao gosto dos jovens por mistérios, enigmas e, principalmente, seu desejo de participar da vida como um indivíduo pleno, a escritora desenvolveu uma série em que os personagens são adolescentes e vivem aventuras inéditas. Seu estilo mescla humor, inteligência e muita imaginação, principal ingrediente para uma boa história policial de entretenimento.
A seguir outras obras da autora:
- Confusões de Aninha e Os três incríveis (1985), para crianças, na coleção Girassol;
- A morte tem sete herdeiros (1982), O monstro do Morumbi (1984), Eles morrem, você mata! (1987), Eu, detetive I (o caso do sumiço) (1977) e II (O enigma do quadro roubado) (1984), O passado esteve aqui e Acordar ou morrer, todos para adolescentes, na Coleção Veredas;
Esta última coleção citada (Coleção Veredas), iniciada em 1980, é vitoriosa e consagrada, constituída de uma variedade de gêneros e tipos de texto, como poemas, contos, crônicas, novelas e romances, contendo histórias de amor, suspense, mistério, aventura, humor, relações familiares, do mundo do além, de terror e ficção científica.
O caso da estranha fotografia pertence a esta coleção Veredas, e editora Moderna, publicada pela primeira vez em 1977. Depois desta, os Irmãos encrenca seguiram suas aventuras em: O fantástico homem do metrô, O incrível roubo da loteca, O segredo do Museu Imperial e O enigma do autódromo de Interlagos, O esqueleto atrás da porta, O enigma das letras verdes e O caso do sabotador de Angras, todos, com a temática da aventura policial.
Pode-se observar em "O caso da estranha fotografia" (ilustração de Jesus Dias) que a ilustração do texto é preta e branca (a não ser a capa frente e verso, que é colorida), sendo assim, a imagem ou ilustração deste texto, pode ser considerada como a principal maneira de relação com o leitor à quem é destinada. Neste livro, há mais texto do que imagem, porém a ilustração aparece fazendo diálogo com o texto escrito, em que, a partir do que é contado, vão aparecendo algumas cenas do ocorrido, facilitando a visualização mental do fato. Ao observar a ilustração na literatura infantil vemos que pode ser considerada uma linguagem de acesso mais imediato, possibilitando que o leitor possa interagir com a palavra de maneira mais fácil.
Explicitamente, não há citação, nem há participação de outros textos dentro da obra (intertextualidade) "O caso da estranha fotografia", mas, indiretamente, Stella Carr lança mão de uma característica do romance policial clássico: o detetive e seu companheiro, tão bem representados por Dupin, Sherlock Holmes e Hercule Poirot, além de outras características do romance policial que se baseiam em outras obras.
O romance policial é um gênero literário que desperta o interesse do público jovem e adulto, porque instiga a curiosidade do leitor da primeira à última página do livro. Desde seu surgimento até os dias de hoje, o romance policial teve grande aceitação por parte do público adulto e, conseqüentemente, atingiu o público juvenil.
O sucesso desse gênero entre o público infanto-juvenil também se deve à proximidade do público com o personagem. Isso ocorre porque, normalmente, público e personagens têm a mesma faixa etária, o que propicia ao leitor viver mais intensamente as aventuras do personagem, conforme pode ser visto na obra "O caso da estranha fotografia", em que, em sua narrativa policial, são apresentados adolescentes como detetives.
Este é um livro construído a partir de idéias dos filhos da autora, além de ter sido criado para despertar o interesse dos jovens por ter linguagem atual e aventuras empolgantes.
Na literatura voltada para esse público, há o cadáver e todas as características da cena de um assassinato real que, de uma forma ou de outra, está próxima do cotidiano juvenil na realidade vivenciada ou apreendida no noticiário televisivo presente no dia-a-dia. Tal semelhança com a vida real se deve a uma tentativa de alcançar e entreter, por meio da literatura, um público que está acostumado a assistir a filmes policiais na TV e no cinema.
A autora prepara o leitor para o crime conduzindo-o por uma seqüência de ações. Prende a atenção do leitor nos primeiros momentos do relato, pois logo após a introdução se prenunciam os primeiros mistérios. A história começa quando Os irmãos Marco, Eloís e Isabel estão de férias na praia. No primeiro capitulo, Eloís resolve tirar fotos de lugares muito bonitos da litoral norte, que são acessíveis apenas pelo mar. Ao voltar para o barco junto de seu irmão, percebe que a maquina fotográfica desapareceu. Ele fica intrigado com esse fato, porque estava fotografando para participar de um concurso de fotografia promovido por uma revista.
Acompanhado de Marco, uma das personagens da trama, Eloís faz uma procura detalhada pela praia em busca de sua câmera, mas não a encontra. Ele comenta que o filme que estava na câmera tinha sido colocado muito recentemente e os filmes que já tinha usado anteriormente estavam no barco. Quando chega em casa vai revelar as fotos em seu laboratório amador, sem comentar nada para ninguém porque suspeitam de que há algo mais nesse roubo, uma vez que a referida câmera estava junto de outros pertences de valor, inclusive a carteira de uma das personagens.
Em uma das fotografias reveladas, percebem a imagem de um homem atrás de umas árvores em atitude suspeita. Então Eloís resolve ir ao centro da cidade para ampliar a fotografia com o intuito de ver melhor quem é o homem atrás das árvores. Durante esse fato, escuta, por acaso, a conversa entre dois homens, um ruivo sardento com queimaduras de sol descascando e outro baixo, moreno e atarracado. Não leva em consideração o que ouve, pois naquele momento esse diálogo não fez sentido para ele.
No outro dia, quando vai comprar leite e pão na cidade fica sabendo que a loja de fotografias foi assaltada e que os ladrões levaram todos os negativos. Diante de tal fato, as coisas começaram a fazer sentido e os irmãos concluem que os ladrões estavam atrás de determinadas fotografias e decidem fazer uma investigação.
Começam a perguntar para as pessoas de maneira casual e sem levantar suspeitas e então pedem para o ajudante do bar, Pedrinho, para ficar de olho em dois homens que conversavam. Certa noite, Pedrinho esconde-se e descobre que mais pessoas estão interessadas nas fotos e descobre também que há um líder chamado de "Homem".
Isabel durante esse tempo continua a desenvolver sua pesquisa pra a faculdade e mergulha para pesquisar algas. É então que encontra algo além de peixes e algas. Encontra o cadáver submerso do ruivo. Diante desse provável assassinato os meninos decidem investigar, pois na conversa ouvida por Pedrinho, os outros envolvidos sabiam da fotografia e citaram um cemitério índio, e na foto de Elóis o homem da imagem está enterrando ou desenterrando ossos.
A partir daí a história vai se adensando, as personagens vão enfrentando situações cada vez mais perigosas e ainda Eloís tenta contar suas situações para o delegado que não acredita em suas histórias, fazendo com que os irmãos passem por uma série de desventuras, como quase serem mortos afogados e mordidos por cães ferozes, além de descobrirem uma quadrilha que faz contrabando de diamantes para a Holanda e também um homem manipulador que forjou sua própria morte em um acidente de avião.
Em relação à estrutura da obra, pode-se dizer que o romance policial é um gênero literário que se caracteriza, em termos de sua estrutura narrativa, pela presença do crime, da investigação, o enigma, o desafio e da revelação do malfeitor. Neste tipo do gênero literário, o foco remete para o processo de elucidação do mistério, empreitada geralmente a cargo de um detetive, seja ele profissional ou amador.
A partir disso, em se falando do crime ocorrido, tudo começa quando Eloís resolve tirar fotos de lugares magníficos do litoral norte que são acessíveis apenas pelo mar. Ao voltar para o barco com seu irmão, percebe que sua máquina fotográfica desapareceu.
Acompanhado de Miguel, Eloís ainda faz uma detalhada busca pela praia para encontrar a máquina, mas não tem sucesso. Ele comenta que, apesar de tudo, o filme que estava na máquina fora colocado nela há pouco tempo e que os outros rolos de filmes utilizados estavam no barco. Ao chegarem em sua casa, vão direto ao quartinho escuro para revelar as fotografias. Mesmo intrigados com o roubo, não comentaram o fato com ninguém porque desconfiavam de algo além de um simples roubo. Vejamos:
Se era por dinheiro, Marco, porque não levaram a minha carteira, que estava junto? Tem alguma coisa errada. Não sei bem onde, mas tem - disse [...]
-Marco, veja nessa fotografia. Olhe!
-Onde? O que foi?
-Aqui, Marco. Veja! Um homem. Há um homem atrás dessas árvores. (CARR, 1992, p.9).

A partir dessa descoberta, Eloís vai até o centro comercial da cidade para ampliar a fotografia e tentar descobrir quem era o homem atrás das árvores. Foi nesse momento que, por um acaso, escutou uma conversa entre dois homens:

Lembro que um era ruivo e sardento, com queimaduras descascadas de sol mal tomado, e o outro baixo, moreno e atarracado. (CARR, 1992, p.11).

Porém, num primeiro momento não levou tal conversa em consideração. No dia seguinte, Eloís vai buscar pão e leite na cidade e fica sabendo que uma loja fora assaltada. Não era uma loja qualquer, era a loja de fotografias e os ladrões levaram apenas os negativos. Diante desse novo acontecimento, os irmãos concluem que alguém estava atrás de determinadas fotografias e que, mais cedo ou mais tarde, descobririam que eram ladrões.
Como no romance policial adulto, a vítima se torna conhecida logo no início da narrativa. Ruivo e seu parceiro são destacados para fazer com que Marco e Eloís desistam de suas investigações e saiam do caminho do Homem, pois seus planos poderiam ser arruinados pelos dois moleques.
Incumbidos da "missão", os dois comparsas começam a freqüentar os mesmos lugares que os meninos costumavam se encontrar. Os dois comparsas tornam-se cada vez mais conhecidos pelo leitor. Mesmo fazendo parte da "turma do mal", Ruivo é assassinado por um de seus companheiros.
A partir de então, se dá a investigação. Isabel, Marco e Eloís resolvem investigar e, entre uma conversa aqui e outra ali, pedem que Pedrinho, ajudante no bar de Antenor, vigie aqueles dois homens que estavam conversando. Certa noite Pedrinho se esconde e, sem que os homens percebam sua presença, acompanha toda a conversa e descobre que há mais pessoas interessadas nas fotos. Assim, o leque de suspeitos começa a se abrir cada vez mais, principalmente quando existe um chefe chamado de O Homem. Em meio a essa pequena investigação, Isabel continua sua pesquisa para a faculdade e sai para mergulhar. Entre as algas vermelhas encontra alguma coisa presa balançando como um peixe...
Chegou mais perto, separou as plantas e levou tanto susto que soltou o ar e quase se afogou! [...]
Era o ruivo. Mas agora estava roxo azulado. Ai meu Deus! [...]
Só nas histórias de Agatha Christie os cadáveres são limpinhos e arrumados, como se fossem de papelão. Morre, morre gente e não se sente nada. Só suspense. Isabel tremia como geléia:
"Quem fica valente numa
hora dessas? Só herói de histórias em quadrinhos!". Ela estava arrasada, como qualquer um de nós, meninos comuns, ficaria, se de repente topasse com um corpo. E morrendo de medo. A gente é menino comum, ora. Não é nenhum supergaroto de fita de televisão (CARR, 1992, p.24).

Diante do provável assassinato, os meninos resolvem dar continuidade às investigações, pois outros envolvidos na história sabiam da fotografia. Na conversa ouvida por Pedrinho, citaram um cemitério índio que chamou a atenção de Eloís e Marco, pois o homem que aparecia na foto estava enterrando ou desenterrando ossos. A partir desse ponto, as ações ganham mais destaque dentro do enredo, tornando-o mais ágil e envolvente. Os personagens se enredam cada vez mais em situações perigosas e arriscadas para resolverem o mistério que envolve a fotografia e o cemitério índio, mas principalmente para descobrirem quem é o Homem, citado pelo Ruivo.
Decorridas 30 páginas do romance até o final do terceiro capítulo, de maneira natural e simples, Stella Carr apresenta o crime conforme descrito acima. Nada de descrições violentas ou detalhes específicos, apenas um corpo encontrado no fundo do mar.
As investigações são concentradas nas mãos de Marco e Eloís. No processo de investigação, cabe a Eloís a parte cerebral, a de raciocínio ou a de associação das idéias, enquanto Marcos desempenha o papel de memorialista e assistente do detetive já que narra as aventuras vividas por eles. Dessa forma, Stella Carr lança mão de uma característica do romance policial clássico: o detetive e seu companheiro, tão bem representados por Dupin, Sherlock. A primeira atitude de Eloís é conversar com o delegado e expor tudo o que Marco e ele sabem sobre a vítima:

Nós tínhamos explicado tudo ao delegado. Falamos do roubo da máquina, da fotografia, da conversa no bar e da conversa na ponte. Foi com o maior dos espantos que nós ouvimos, portanto, ele dizer que o ruivo tinha sofrido "morte acidental. (CARR, 1992, p.27).

Apesar de ser um livro policial voltado para o público infanto-juvenil, existe certa reserva ao apresentar o cenário da morte, atitude oposta ao romance policial adulto. Vimos que o crime só é apresentado após várias páginas e de forma leve, como se tudo não passasse de uma grande aventura.
O grande desafio acontece quando os dois irmãos vão à trás dos suspeitos e acabam por serem perseguidos, e, até mesmo, quase mortos, por exemplo, quando perseguidos por dois homens vestidos de mergulhadores que lhes atiram arpões. Num outro momento, quando estes mesmos homens lhes prendem em uma caverna que é inundada pela água:
-Estão ouvindo barulho de água? Nós desviamos da galeria pra poder explodir os diamantes. Tem uma comporta segurando. É só puxar aquela alavanca que ela se abre e a água desce aos borbotões e, num instante, inunda tudo isso. Morte natural, nada de violência. (CARR, 1992, p. 65)

Enquanto os Irmãos tentam escapar do perigo na caverna, paralelamente em outro capítulo, vai se descobrindo a verdadeira face do vilão, ou seja, a descoberta do mal feitor, mais conhecido como o Homem:
Foi então que entrou o Homem. E Carina ficou sabendo que era! [...]
Carina olhou para o Homem estupefata:
-Você! Você está vivo!
-Sim, queridinha. E gozando de ótima saúde!
Carina olhou o marido com o dorso nu queimado de sol e pensou em tudo o que ela tinha passado por aquele homem. Uma enorme revolta tomou conta dela.
-Se você não é uma vítima, então é um criminoso!
-Isso é coisa que se diga a um maridinho depois de tão longa ausência? ? E Rolfo deu uma sonora gragalhada. (CARR, 1992, p.76 e 81)

Então como último feito heróico, os Irmãos conseguem escapar do perigo que corriam, e vão atrás do bandido:
Foi aí que ele viu a gente. O Homem olhou pra mim e pro Elóis, espantadíssimo. E foi então que ele fez aquela coisa inesperada. Sentou no degrau da escada e ficou rindo, rindo, rindo...
-Tinha que ser vocês! Seus gatos! Quantas vidas vocês têm, afinal? ?E ele não conseguia mais parar de rir. [...]
O delegado apareceu no convés.
-Licença para ir abordo ? falou ele de bom humor, vendo a situação controlada.
-Licença concedida ? respondeu o Homem, às gargalhadas. (CARR, 1992, p.84-85)


Agora, analisando o foco narrativo ou vozes narrativas, pode-se dizer que as aventuras são contadas por Marco, narrador e parceiro de aventuras de seus irmãos Eloís e Isabel. O livro começa com o seguinte relato de Marco:
Naquela madrugada, ainda estava escuro lá fora, o Eloís me sacudiu na cama [...]
Foi assim que tudo começou. A mania de mar e a de tirar fotografias. Meu irmão jogou a máquina no ombro e fomos andando pela praia até a baía, onde fica a casa de barcos (CARR, 1992, p.5).

Basicamente, o livro é construído a partir do relato de Marco. Ao longo do romance, os relatos de Isabel, Pedrinho, delegado Cerqueira, Estevam e Ana são inseridos na narrativa, bem como os depoimentos dados à Polícia Federal por outros personagens envolvidos na trama. Destacamos que os relatos feitos por Isabel e pelo delegado Cerqueira são narrados por Marco, como apontam os subtítulos no interior da narrativa, por exemplo, do depoimento de Isabel (narrativa de Marco). Podemos constatar que há um narrador que está ausente da história que conta; e em outro momento, um narrador que está presente como personagem na história que conta. Na verdade, Marco é o personagem narrador, é o próprio protagonista da história, como no exemplo abaixo:
Eu e meu irmão tentamos desesperadamente alcançar os rochedos da costa, nadando com todas as nossas forças. Eram dois os mergulhadores que nos seguiam, um deles com um arpão. E não estavam brincando! Teriam conseguido nos pegar se um deles não tivessem se enroscado na corda do arpão e ido parar no fundo, obrigando o companheiro a mergulhar pra ajudar (CARR, 1992, p. 51).

Em O caso da estranha fotografia, há uma mudança de letra faz a distinção entre o relato dos próprios personagens que vivem a aventura e a formalidade dos depoimentos e relatórios da Polícia Federal. Essa mudança se dá através da letra itálica, para os acontecimentos narrados e vivenciados pelo narrador-personagem (Marco), e com a letra normal, para os acontecimentos narrados, com base em depoimentos, mas não vivenciados por Marco, conforme os exemplos abaixo transcritos:
Eu e Isabel olhamos bem o rosto do homem, mas não lembramos de ter visto antes. Era ruivo e tinha um rosto muito vermelho do sol. (CARR, 1992, p.13)

Passou muito tempo, Pedrinho fazia um enorme esforço para não dormir. [...]
Depois de esperar um tempo razoável, Pedrinho se levantou e subiu. As pernas estavam moles, a boca seca. Foi até onde estava a bicicleta e tocou para a cidade. (CARR, 1992, p.20-21)

Os depoimentos e relatórios sempre são indicados por um subtítulo que nos permite identificar se é um depoimento e a quem pertence, ou se é um relatório e em que é baseado:
Do relatório da Polícia Federal, baseados em vários depoimentos
João Bagre desceu bem cedo para a Curva do Sino, o beco sem saída do canal que atravessa a Ponte do Marisco. Era lá que ele guardava os barcos - ele e os outros pescadores e barqueiros da região. De repente, o espanto:
- Ué, os meninos trouxeram a lancha e nem avisaram!
Pois é, A lancha que ele alugou para nós estava lá no lugarzinho dela. João entrou no barco e viu logo, entre outras coisas, as roupas de mergulho e os tanques de ar. Tirou tudo de dentro. .Esses meninos não têm cabeça no lugar, esquecendo coisa tão cara assim largada., pensou. E, entretido, limpou o barco. (CARR, 1992, p.47)

Reconstituição baseada no depoimento de Pedrinho (narrativa de Marco)
Pedro deixou o bar lá pelas seis horas. Os homens não tinham dito a que
horas iam se encontrar na ponte.
"Noite é de seis horas em diante., nosso novo cúmplice pensou. .Antes ainda é de tarde".
Atravessou a praça, pegou a bicicleta e se mandou pela estrada. Uns dois quilômetros até a ponte, o sol já afundava na água da baía. Chegou até lá com cuidado, olhando de todos os lados pra ver se não tinha ninguém. Afinal, nós não sabíamos como eles viriam, se era a pé ou de carro...
(CARR, 1992, p.19).

Sobre os personagens, encontra-se o grupo de detetives formado por Eloís, Marco e Isabel, três irmãos que estão em período de férias escolares. Eles são adolescentes entre 15 e 18 anos que se envolvem na investigação de um crime. Esta é a primeira aventura de tantas outras das quais serão protagonistas e que deu origem à série .Irmãos Encrenca..
Dentro desse grupo, cada um tem uma característica diferente. Vejamos, Marco é sempre o narrador e Eloís quem tem mais familiaridade com as várias habilidades e conhecimentos agenciados na resolução do problema.
Isabel e a sua, por assim dizer, vocação intelectual, secundada pelos conhecimentos de biologia fundamenta deduções e raciocínios que abre caminho para longos textos informativos sobre algas marinhas, reatores atômicos ou mesmo expressões menos corriqueiros da língua portuguesa, o que aproxima esses textos do livro juvenil mais tradicional, que não resiste à tentação didática, além é claro, de serem informações importantes para as investigações da história.
Temos como personagens secundários: o Pedrinho, a Ana, a Carina, o Delegado Cerqueira, o Ruivo, o Homem, os Irmãos Zampa, o Escocês, entro outros.
Estes personagens transitam pelo espaço do litoral norte, mais especificamente na Praia da Carcaça, onde estão hospedados. Esse local fica fora da cidade, o que os leva a transitar entre a praia e a cidade para suprir suas necessidades e apurar informações pertinentes aos mistérios em que estão envolvidos. Também há a Praia do Ouriço, onde acontecem investigações, perseguições e a solução do mistério. O tempo transcorrido durante o desenrolar dos fatos é de aproximadamente uma semana.
Como este livro é voltado para o publico infanto-juvenil, utilizou-se uma linguagem atual, com um leve tom de coloquialismo, sem palavras rebuscadas e com frases mais curtas, o que torna a leitura deste livro mais rápida e de fácil compreensão para o jovem leitor.
Este trabalho se propôs a verificar as características da literatura infanto-juvenil inseridas no romance policial para crianças e adolescentes e, após termos abordado características importantes do romance policial, mais especificadamente, O caso da estranha fotografia, bem como os aspectos relevantes à literatura infantil, além apontar informações sobre autor e coleção da obra. Diante disto, pode-se concluir que esta obra é bem elaborada para seu tipo de publico alvo, uma vez que seu conteúdo é de fácil entendimento pela criança que a lê, além de ser um gênero que bastante chama atenção dos jovens, pois através desta leitura eles têm a chance de vivenciar o suspense e o mistério, através de aventuras vividas por personagens que se aproximam bastante das características destes leitores.
Para finalizar, optou-se em apresentar uma proposta de trabalho com este livro para a sala de aula, levando em questão a faixa etária e o nível de ensino da qual esta obra é voltada, ou seja, para o publico infanto-juvenil:
Atividade proposta
1. Conhecendo o autor: Sob a orientação do professor, os alunos tomaram conhecimento da vida e obra de Stella Carr, através de leituras, pesquisas e análise de suas histórias.
2. Seminários sobre a vida e as obras do autor: A partir da bagagem de leituras e conhecimentos, realizaram-se, em sala de aula, seminários para trocas de informações e impressões acerca da vida e obra do autor.
4. Escolha da obra: Sugerir leituras variadas das coletâneas de história do autor, disponibilizadas de variadas formas (pelo professor, ou até mesmo pelos alunos e biblioteca), como base para futura roteirização. A leitura será individual, com posteriores debates e contextualizações históricas, geográficas, lingüísticas e culturais.
5. Roteirização: A partir do estudo das características do gênero roteiro de cinema, os alunos apropriaram-se da técnica, tendo como fonte de informação e estudo, sites e roteiros.
Em duplas, alunos selecionaram um texto a ser adaptada (de preferência "O caso da estranha fotografia"), escreveram a sinopse dessa adaptação, descreveram as características principais de cada uma das personagens e, posteriormente, transformarão essa história em um roteiro para curta-metragem.
6. Seleção dos roteiros: Os alunos trocaram entre si os roteiros, realizando, assim, a leitura da produção dos colegas. Os roteiros, então, serão entregues para avaliação dos elementos de coesão e coerência pertinentes a esse gênero textual, fazendo, na devolução, a correção e a reescrita, se necessário. A fim de escolher o roteiro a ser filmado pela turma, cada dupla apresentará o seu trabalho aos colegas, defendendo o seu projeto.
7. Pré-produção: Escolhido o roteiro a ser filmado pela turma, essa será dividida em equipes de trabalho, respeitando o interesse e as habilidades de cada aluno: direção, cenário, elenco, figurino, maquiagem, trilha sonora, efeitos especiais, patrocínio, apoio. Cada equipe terá um aluno coordenador, responsável pelo andamento dos trabalhos do seu grupo.
8. Reuniões semanais sobre o projeto em andamento no período da disciplina de Literatura: as reuniões das equipes serão realizadas nos períodos de Literatura, bem como os ensaios. Reuniões por turmas com a equipe de filmagens para esclarecimentos sobre esse assunto;
9. Ensaios supervisionados;
10. Cronograma das filmagens;
11. Festival de Cinema:
Estréia ? projeção para a comunidade e pessoas da escola (alunos e professores).
12. Produção Literária: alunos participantes desta atividade produzirão crônicas, a partir das vivências nos bastidores das filmagens do curta-metragem.
Essas crônicas serão editadas em um blog e distribuídos à comunidade escolar, sob o nome de "Dos Bastidores ao Prazer da Escrita".


REFERÊNCIAS
CARR, Stella. O caso da estranha fotografia. -14ª ed. ? São Paulo: Moderna, 1992.
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira História &
Histórias. São Paulo: Ática, 1987.