1 – RELAÇÕES ENTRE A OBRA E AS CONCEPÇÕES

1.1 – De criança

A obra aproxima-se bastante do universo infantil. Nela se fazem presentes diversos elementos do cotidiano da criança, como futebol, escola, amigos, professores, namoros, rivalidade entre turmas entre outros. É possível que a criança se identifique com algumas personagens da história, já que as personagens verossímeis são bem próximas da sua realidade. A obra valoriza as relações existentes entre história e cultura, principalmente a cultura infantil.

É possível se notar que a história transmite uma mensagem para o pré-adolescente, dada por um autor-adulto. Essa mensagem acaba se transformando em um ato de aprendizagem. É possível que esse pré-adolescente aprenda alguns valores como ética, profissionalismo, bem, confiança, relacionamentos pessoais e paternais, em contrapartida aos valores pregados como negativos, como o próprio mal, a mentira, a enganação, o poder do dinheiro, armações para se dar bem entre outros. Assim se refere Nelly Novaes Coelho em sua obra Literatura Infantil, Teoria, Análise, Didática:

Embora não abranja a totalidade do fenômeno em causa, essa definição toca em seus elementos essenciais: o livro infantil é entendido como uma “mensagem” (comunicação) entre um autor-adulto (o que possui a experiência do real) e um leitor-criança (o que deve adquirir tal experiência). Nessa situação, o ato de ler (ou de ouvir), pelo qual se completa o fenômeno literário, se transforma em um ato de aprendizagem. (p.31)

A criança, entre 11 e 13 anos, ainda encontra-se em estado de formação, principalmente de valores. É absolutamente indispensável que ela vá, através de atividades lúdico-pedagógicas, criando esses valores e, principalmente, sabendo distinguir o que é certo do que é errado. Para isso, ela deve ter contato com essas duas experiências. Na obra em questão, o que é errado é evidente quase que o tempo todo. Isso é primordial para que a criança tenha um senso crítico capaz de perceber que agir errado pode levar a experiências negativas, como o que acontece com o Prof. Giovani, na história. Nelly Novaes Coelho ainda diz:

Para que o convívio do leitor com a literatura resulte efetivo, nessa aventura espiritual que é a leitura, muitos são os fatores em jogo. Entre os mais importantes está a necessária adequação dos textos às diversas etapas do desenvolvimento infanto/juvenil. (idem, p.32)

Nelly Novaes Coelho considera que o leitor, entre 12 e 13 anos, é crítico, domina a leitura, a linguagem escrita, tem capacidade de reflexão em maior profundidade, podendo ir mais fundo no texto e atingir a visão de mundo ali presente (idem, p.39). Nessa fase, o pré-adolescente se abre mais para o mundo e para as relações com o outro, despertando sua consciência crítica. Daí a influência positiva que a obra pode ter na formação do caráter desse pré-adolescente.

1.2 – De realidade

Se por um lado, a criança pode se identificar com os personagens, seria impossível ela se identificar com as situações provocadas por essas personagens, já que há um predomínio quase que total da inverossimilhança. Há fuga quase que total da realidade, do mundo infantil real. A história atinge o mundo imaginado, a fantasia, o irreal. Mas é lógico que isso não torna a obra menos interessante. O autor foge da realidade de uma forma criativa, há rupturas factuais impressionantes, até cômicas, bem-humoradas. O leitor se interessa pela obra devido a essas rupturas.

Redações que estouram na mão do professor, marciano comendo morangos, personagem que se transforma em gato, um leopardo que dá lição de moral, o professor que lê um livro de 1.200 páginas em dois minutos, um robô que cuida da família, o juiz que apita 112 pênaltis num mesmo jogo de futebol, a garota que entra na justiça para anular a bronca que levou do tio, um psicanalista que se joga do alto do Edifício Itália e depois vira quebra-cabeças são alguns exemplos dessa inverossimilhança que diverte o leitor. Há algumas quebras de linearidade e de convencionalismo muito interessantes, como o capítulo 19:

A ARANHA ESTROBOSCÓPICA deu um pulo e comeu o mosquito. E assim termina a rapidíssima participação da ARANHA ESTROBOSCÓPICA nessa minha história. (p. 19)

Outra marca que chama a atenção do leitor é a mudança repentina de gênero narrativo: do prosa convencional, o narrador passa para a carta, depois elabora uma entrevista, depois um gráfico, voltando à narrativa convencional, depois vira um poema, outra vez uma carta, e assim ele vai alternando os gêneros, de forma criativa e inovadora. 

2 – ANÁLISE DAS PERSONAGENS

As personagens da história vão sendo apresentadas com o transcorrer dos fatos. Os capítulos, aparentemente sem conexão entre eles, permitem que se faça isso. As personagens podem ser divididas em dois tipos: as verossímeis, que remetem à realidade da criança; e as inverossímeis, que remetem ao fantástico. Podemos destacar os seguintes personagens:

• Gordo = é o protagonista, filho de pai rico, representa o poder, faz psicanálise, é apaixonado por Berenice e se dá bem no final, apesar de agir de má-fé, esta justificável pois também agiram assim com ele.
• Prof. Giovani = diretor do Garibaldi do Cambuci, é casado, não liga muito para a esposa apesar de dizer que a ama, é apaixonado confesso por futebol, vive em função dele.
• Berenice = colega de classe do Gordo, representa a inteligência, ela que toma as decisões.
• Psicanalista = é o mais louco de todos, sonhava em ser entrevistado na TV.
• Biquinha = colega do Gordo, é capitão do time do Três Bandeiras.
• Godofredo = é o goleiro do time, é apaixonado pela Professora Jandira.
• Filomena = esposa do Prof. Giovani, é muito ciumenta, tem ciúmes, principalmente, do futebol.
• Jane = amiga e confidente de Berenice, correspondem-se por carta.
• M.M. João Lambão = é o juiz de Direito, representa a lei, julgava os casos mais absurdos da história.
• Marciano = personagem inverossímil, vinha à Terra para comer morangos com a Berenice e levar o psicanalista para andar de disco-voador.
• Leopardo = responsável por “pregar” o Bem, pois tem o dom da palavra e um forte poder de elocução e persuasão.
• Sueca = a mulher que o psicanalista mandou vir para ficar com ele.

Completam o quadro de personagens o Pituca, o Zé Tavares, a Sílvia, a Mariazinha, a Adriana e a Giseli, que formam a turma do Gordo, do Colégio Três Bandeiras.
Não há herói ou heroína. Podemos dizer que há dois protagonistas: o Gordo e o Prof. Giovani, mas eles não agem de acordo com a ética e o moral. São desprovidos dessas qualidades, pois fazem de tudo para se darem bem na trama. É possível que o leitor se identifique com eles, pois fazem parte de seu universo. Há alguns personagens engraçados, como o psicanalista e o marciano, pois não são “normais”. Já a chamada “Turma do Gordo” é bem próxima da realidade infanto-juvenil. Estudam juntos, vão à lanchonete, conversam, paqueram, ajudam-se uns aos outros. Formam uma turma bastante unida. 

3 – INDICAÇÃO DE LEITURA

Esse projeto é indicado para alunos de 5ª ou 6ª série (para cursos regulares de 8 anos) ou de 6º ou 7º ano (para cursos regulares de 9 anos), na faixa etária de 11 a 13 anos. Apesar de tratar de um tema de interesse de todas as idades, que é o futebol e suas rivalidades, esse projeto é aconselhável a essa faixa etária, pois a forma como se desenvolvem os acontecimentos é extremamente fantasiosa, inverossímil, não há conexão de fatos.
É possível notar uma relação maior desses fatos com essa faixa etária, pois aparecem elementos que chamariam mais a atenção de pré-adolescentes, como marcianos, discos-voadores, psicanalistas entre outros. Além disso, a linguagem é muito simples, de fácil entendimento, primária, com vocabulário típico dessa clientela. Creio que haveria uma identificação maior dela com os personagens e acontecimentos da história. 

4 – PROJETO DE LEITURA UTILIZANDO ESSE LIVRO
4.1 – Tema

Predominantemente é o futebol e suas rivalidades, mas é possível trabalhar também com a ética, o relacionamento entre colegas de escola e o poder controlado pelo dinheiro.

4.2 – Faixa etária

Entre 11 e 13 anos.

4.3 – Objetivos

Desenvolver no aluno o gosto pela leitura, através de uma sugestão de leitura agradável, com vocabulário simples, enredo intrigante e criativo e ligado ao seu cotidiano. Desenvolver, também, o senso crítico e a habilidade de análise, fazendo com que o educando seja capaz de distinguir o certo do errado, através da reflexão.

4.4 – Justificativa

A obra foi escolhida porque é bem próxima do universo do adolescente e, por ser inverossímil, desperta a curiosidade e a atenção do leitor para acompanhar o desenrolar da narrativa e estabelecer a ligação lógica entre os personagens e as passagens mais marcantes.

4.5 – Desenvolvimento

Inicialmente será passada a bibliografia para que o aluno providencie a obra em questão e já inicie, por si, a leitura. Após um prazo máximo de 30 dias, será solicitado que os alunos tragam a obra uma vez por semana para a sala de aula. A cada aula em que a obra for trabalhada, o professor escolherá um ou mais capítulos e fará a leitura, solicitando que os alunos a acompanhem. Ao final da leitura, o professor selecionará alguns alunos, dependendo da parte da história, e solicitará que façam a leitura dramatizada do capítulo ou capítulos escolhidos. A seguir, será feita a interpretação e a análise, de forma coletiva, com a participação efetiva do professor, que direcionará a discussão e anotará, no quadro negro, os principais pontos levantados pelos alunos, deixando que cada um anote, livremente, as observações feitas. A cada trecho lido, será solicitado que os alunos, como tarefa de casa, façam uma breve pesquisa sobre os temas
citados nos trechos lidos. Por exemplo, o que é DNA, do que trata a obra “Os miseráveis”, qual o trabalho de um psicanalista, quem foi Victor Hugo, o que é onomatopéia e pleonasmo, quem foi Raposo Tavares, o que é Esquadrão da Morte, onde fica a serra da Mantiqueira, onde fica e como é o Edifício Itália, entre outros. Todos esses termos aparecem no enredo e podem despertar a curiosidade dos leitores. Ao final de dois meses de trabalho, os alunos farão uma avaliação escrita individual, com questões objetivas para avaliar a habilidade de leitura e interpretação e questões dissertativas, para avaliar seu senso crítico.

4.6 – Recursos Didáticos

Cada aluno deverá ter a obra em mãos nas aulas solicitadas. Será utilizado o quadro-negro para o levantamento das idéias durante as discussões acerca dos trechos lidos. Para a pesquisa, será utilizado o Laboratório de Informática e a Internet, devendo, o aluno, concluir a pesquisa em casa utilizando, se necessário, outros recursos, como livros, enciclopédias etc.

4.7 – Duração

O projeto terá a duração de três meses, iniciando-se após a sugestão de leitura e findando com a aplicação da avaliação escrita. 

5 – REFERÊNCIAS 

MARINHO, João Carlos. O Caneco de Prata. Editora Moderna. São Paulo, 1994.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil. Teoria. Análise. Didática. Editora Moderna. São Paulo, 2000.