O caminho do guerreiro

Esta é uma realidade presente em todas as mitologias, em todas as religiões e principalmente no cotidiano de qualquer pessoa. Mas o que vem a ser este “caminho do guerreiro”? Basicamente é a trajetória que um individuo seja ele do plano real ou mitológico assume para si ao longo de sua existência. Em outras palavras é o percurso que determinado ser faz antes de atingir sua meta.

Quem de nós já não ouviu falar do quanto grandes heróis da humanidade sofreram antes mesmo de serem aclamados. Basta lembrarmos-nos de alguns nomes presentes no século passado mesmo, sem precisar fazer um grande esforço mental e histórico. Quem não ouviu falar de Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá, João Paulo II, Nelson Mandela e tantos outros menos conhecidos. Todas estas pessoas passaram por grandes atribulações em suas vidas até atingirem o ápice de suas existências. E mesmo quando lá chegaram ainda passaram por provações como o assassinado de Luther King, o atentado contra a vida do Papa João Paulo II, mostrando que, em quando vida houver haverá o que o mitólogo norte americano Josef Campbell veio a chamar de “a saga do herói”.

Seja a vida de Jesus de Nazaré, seja Maomé, Buda ou até mesmo a realidade de pessoas simples próximas a nós, todas estas realidades tem por único objetivo mostrar o quão frágil é a vida humana e as alegrias e esperanças que nela estão contidas. E principalmente, que antes de chegarmos a gloria é preciso primeiro sofrer para que assim se valorize cada vez mais o estágio de bem aventurança. Mas principalmente o como em hipótese alguma devemos desistir no primeiro tropeço. Nascemos para muito mais, para sermos mais do que fomos ontem.  Todos nós somos heróis, guerreiros, mas só poderemos fazer grandes coisas apartir de nós mesmos. Ou seja, quando assumirmos as nossas fragilidades e limitações, pois, só teremos o controle ou pelo menos o entendimento de uma situação quando aprendermos a nos conhecer primeiro.

Nas mitologias e em outras realidades a pessoa sai de seu ambiente que lhe transmite familiaridade e parte rumo ao desconhecido. Passa por diversas turbulências onde percebe suas fraquezas, as fraquezas de seus adversários e o fundamental o como muitas vezes o importante não é o fim do caminho, mas o como foi importante a caminhada. Em outras palavras, como foi essencial para a pessoa cada obstáculo em sua trajetória e o como o enfrentamento de cada um lhe proporcionou o amadurecimento afetivo, espiritual e intelectual.

Existe dentro de cada um de nós um valente guerreiro e por isso devemos deixá-lo partir ao encontro de seu destino. Não tenha medo de assumir responsabilidades porque só compreenderemos e passaremos a dar valor no que temos apartir do suor que derramarmos ao longo da estrada. Diz um provérbio chinês muito antigo que “uma grande jornada se inicia com um pequeno passo”, talvez o pequeno passo no nosso caso seja acreditar que somente por via de uma auto mudança de perspectiva sobre nós mesmos é que poderemos chegar aonde desejarmos.

Não cair em desespero, é outro tema muito interessante a tratar dentro desta jornada. É preciso ver nas dificuldades oportunidades para crescer, pois isso que fará de todos nós pessoas melhores. Deixar de lamber as feridas e levantar a cabeça e partir com cautela rumo ao desconhecido é uma forma de maturidade. O apóstolo Paulo – que também teve a sua saga do herói – traz a tona esta temática tão importante, dizendo: “Somos atribulados por todos os lados, mas não esmagados; postos em extrema dificuldade, mas não vencidos pelos impasses; perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados” (II Coríntios 4 8). É claro que aqui o apóstolo trata de os primeiros fiéis cristãos terem suas esperanças sempre renovadas em Jesus de Nazaré. Trata-se de se manter a esperança fundamentada em algo superior, muito mais sólido e profundo. Se apegar a algo ou alguém que também muito sofreu e por isso hoje dá testemunho de que é possível vencer a jornada é muito importante. Alias o testemunho é outra característica do herói, ele sai de sua pátria mãe, passa por terras com culturas estranhas a sua, sofre, se alegra, aprende a singeleza da vida e a valorizá-la por isso e depois regressa. Neste seu retorno a terra natal ensina aos seus o que aprendeu, isto os motiva, empolga, impele os a fazerem também sua própria caminhada. Em resumo comovidos e com sua imaginação estimulada resolvem também partir alem fronteiras para amadurecerem. Quem já não ficou super empolgado quando seu pai ou sua mãe lhe contara sobre as suas respectivas infâncias e como se divertiam em uma época totalmente diferente? Isso estimulava a nossa imaginação e ainda mexe conosco só de pensar em nossos patriarcas e matriarcas a nos contar tão incríveis histórias. E quando filhos tivermos ou se já os temos a eles serão relatadas tais aventuras acrescidas das nossas próprias e as nossas proles o mesmo farão sucessivamente pelos séculos afora. Bem como tal realidade já vem ocorrendo entre os seres humanos desde tempos imemoriais. Isto é de uma cultura e de uma herança de valor incalculável e principalmente imperecível que somente terá seu fim com a extinção dos elementos que dela fazem parte.

Concluindo, abra-se para esta experiência de viver intensamente sua vida com tudo o que ela tem para lhe oferecer com o máximo de responsabilidade para consigo mesmo e para com o próximo. Mas nunca se deixe desacreditar no amor a vida, na busca pela liberdade e principalmente pela solidariedade que são com certeza caminhos que nos levam a morada segura da felicidade e da sabedoria.