O BULLYING

Apelidos, empurrões, propagar falsas verdades sobre outrem, são algumas das atitudes aplicadas entre um ser humano em relação a outro, que até bem pouco tempo eram consideradas como brincadeiras inofensivas e inocentes. Porém, com o decorrer do tempo, foram-se avaliados os danos causados por estas brincadeiras, e ao analisar os resultados, os pesquisadores notaram que essa forma de divertimento não é nada sadia para as suas vítimas, que podem sofrer sequelas físicas e psicológicas.

            A partir de então, tais “brincadeiras” passaram a ser consideradas como verdadeiras agressões para aqueles que estão sujeitos a sofrer com suas consequências. Desta forma, ao perceber os danos causados por estas agressões a sociedade passou a prestar mais atenção nessas práticas agressivas, e então vários estudos começaram a surgir no sentido de explicar quando ocorrem, quais são as suas consequências, quem são os responsáveis e como combater estas agressões, ao qual a nomenclatura dada pelos estudiosos é bullying.

            O capítulo em que acima epigrafado tem como objetivo analisar um bullying a partir de uma perspectiva sociológica, verificando algumas das possíveis sequelas que são decorrentes do mesmo.

1– Aspectos gerais

O bullying é um dos mais novos objetos de estudo da ciência, tendo-se iniciado sua análise a cerca de 10 anos na Europa, quando muitos adolescentes passaram a cometer suicídios sem qualquer motivo aparente que justificasse aquela atitude, porém, descobriu-se que aqueles jovens que acabavam com as próprias vidas estavam passando por sérios problemas dentro da escola, ao qual naquele local, que deveria ser utilizado para o desenvolvimento e crescimento pessoal, fornecendo-lhes a oportunidade de aprendizado e de interagir com pessoas de sua idade, estava na realidade sendo o grande responsável pelas perturbações causadas nas vidas daqueles adolescentes, pois sofriam graves agressões físicas e/ou psicológicas em suas escolas, e não recebiam nenhum tipo de apoio por parte das escolas nem de seus pais. Desde então começaram a surgir estudos e mais estudos a respeito do assunto, bem como várias medidas anti-bullying passaram a ser adotadas por várias escolas.

A expressão “bullying” deriva da palavra inglesa “bully”, que significa tirano, valentão, opressor, brigão, entre outros. Essa derivação decorre da tentativa de denominar as práticas agressivas e repetitivas que ocorrem entre seres humanos, pelo simples fato de que o agressor, por possuir uma determinada superioridade no que concerne ao vigor de seu corpo ou de sua alma em relação à vítima, passa a agredir este último, fisicamente ou psicologicamente, sem qualquer motivo que justifique determinada violência, com a única de finalidade de constranger a vítima.

Em entrevista dada pela Doutora Cléo Fante, maior especialista do Brasil ao site do Senador Gim Argello, a pedagoga usou as seguintes palavras para definir bullying: “é uma das formas de violência que ocorre no ambiente escolar, é uma violência gratuita, caracterizada pela repetição das agressões contra a mesma vítima em um período de tempo, pelo desequilíbrio de poder entre as partes, pela intencionalidade de causar danos, e pelos prejuízos causados em especial às vítimas”.

Analisando o conceito retro mencionado, podemos destacar que ao utilizar a expressão “violência gratuita”, Fante refere-se a justificativa daquelas agressões, isto é, o por que da ocorrência de determinadas violências. O fato é que, o termo utilizado pela pedagoga significa que as os atos violentos ocorrem sem qualquer motivo que justifique os atos da parte agressora nesta relação, tendo em vista que as vítimas muitas vezes nem reagem.

No que cabe ao “desequilíbrio de poder entre as partes”, podemos observar que o poder é algo presente em todos os meios da sociedade desde os primórdios da humanidade, ao qual sempre pode-se observar que nas relações entre seres humanos, e até mesmo entre muitos animais irracionais, sempre há aquele indivíduo que é “eleito” como o mais poderoso de um determinado ciclo social. O poder é um mecanismo que está sempre sendo objeto de desejo pelo homem, devido à ascensão que este terá na pirâmide social, dando-lhe status e respeito em face dos outros indivíduos. O desejo pelo poder, pode-se dizer que, é algo inerente a natureza do ser humano, haja vista que podemos observar atitudes agressivas praticadas por crianças em suas escolas, a fim de adquirir respeito naquele ciclo de indivíduos. Porém, algumas pessoas não possuem um elevado vigor físico tampouco psíquico, para que possam entrar na batalha social em busca do poder, e estas mesmas pessoas serão muito provavelmente a parte passiva do bullying. Ao final, nota-se que esse “desequilíbrio de poder entre as partes” é um dos requisitos fundamentais para que se possa configurar o bullying em determinadas agressões, pois a falta de poder por uma das partes a torna mais vulnerável e mais suscetível a sofrer violências. Podemos chegar a conclusão que as vítimas do bullying são utilizadas como meros objetos capazes de facilitar a ascensão do agressor naquele ciclo de pessoas.

Ainda que as agressões venham a ocorrer, para que se possa ser representar o bullying, far-se-á necessário examinar a quantidade de agressões sofridas pela vítima bem como o intervalo de tempo entre elas. A configuração destes maus tratos se dará pelas recorrentes violências causadas pelo agressor em face de uma mesma vítima em um curto espaço de tempo, de forma a tornar o polo passivo desta relação cada vez mais frágil e vulnerável a sofrer os danos causados a sua personalidade.

            Cabe ressaltar que o bullying não poderá jamais ser confundido com brincadeiras. As relações intersubjetivas necessitam de diversão, para que se possa tornar a interação entre os sujeitos mais eficaz, e o ambiente mais saudável, facilitando assim toda e qualquer atividade realizada pelos mesmos. Por outro lado, o bullying será configurado quando a “brincadeira” é divertida só para uma das partes.

A realização das agressões poderá ser efetuada em todo e qualquer local em que haja uma certa interação entre pessoas com níveis de poder diferenciados, tais como no ambiente de trabalho, entre vizinhos, na própria família e, principalmente, no âmbito escolar.

2– O bullying escolar e suas consequências

A modalidade do bullying mais agressiva às suas vítimas é o bullying escolar, tendo em vista que, via de regra, no polo passivo estão presentes os adolescentes, que ainda estão em desenvolvimento físico, social e cognitivo, e, portanto, os traumas causados nesta época terão consequências mais graves, pois, por não possuírem maturidade o suficiente para se defender as agressões, nem tampouco para saber como reagir perante essas agressões, estas afetaram a sua formação de forma a retardá-la, e causar-lhes fortes traumas.

A adolescência é a fase em que o ser humano passa por diversas mudanças no seu corpo e na sua mente, sendo necessário que estejam sempre em ambientes com condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Neste período inicia-se a maturidade sexual, e os hormônios ficam à flor da pele, tornando esta fase da vida do ser humana mais complicada, fazendo com que os adolescentes fiquem cada vez mais explosivos e impulsivos em seus atos. Diante desses fatos, tem-se que os adolescentes são considerados um grupo vulnerável diante da sociedade, sempre com necessidades de cuidados mais especiais.

Daí a necessidade da adoção de medidas capazes de combater o bullying de maneira eficaz, pois os traumas causados a estes adolescentes poderão repercuti pelo resto de suas vidas, causando um impacto maior no dinamismo do desenvolvimento presente na adolescência, afetando os mecanismos de adaptação e sobrevivência.

Os traumas variam, afetando diferentes searas que fazem parte do processo de desenvolvimento do adolescente. As agressões afetarão a integridade física e psíquica do jovem. No que concerne a integridade psíquica, a Professora Evelyn Eisenstein, em seu artigo “Traumas e repercussões na infância e na adolescência”, existem quatro reações aos traumas sofridos neste período, sendo elas: reações corporais; emocionais; cognitivas e psicossociais. Nos dizeres da Professora Evelyn:

As reações pós-traumáticas são manifestas em diferentes formas e reações que variam de acordo com a faixa etária e a fase do desenvolvimento físico, afetivo, cognitivo e mental em que se encontra a criança ou o adolescente. As reações encontradas com maior freqüência podem ser divididas em quatro grupos: 
1. reações corporais - baixa estatura, atraso do crescimento e do desenvolvimento puberal, inapetência, insônia e dificuldades de dormir devido a pesadelos, cefaléias, convulsões e tremores, hiperatividade, problemas gastrointestinais, problemas imunológicos e reações alérgicas, problemas de fala e de audição; 
2. reações emocionais - choque com amnésia, medo intenso, dissociações afetivas e da realidade, raiva e irritabilidade, culpa, reações de ansiedade, regressões, desespero, apatia, choros freqüentes, reações depressivas e terror noturno com enurese; 
3. reações cognitivas - dificuldades de concentração, perdas de memória e confusão mental, distorções da realidade e imaginárias (flashbacks), pensamentos intrusivos e suicidas, perda da auto-estima, dislexia e problemas de escrita; 
4. reações psicossociais - alienação, passividade, agressividade, isolamento e solidão, dificuldades no relacionamento afetivo, abuso de drogas, perdas de habilidades vocacionais e de interesse comum em atividades escolares. (Eisenstein E. Traumas e suas repercussões na infância e na adolescência. Adolesc Saude. 2006; 3(2):26-28)

Conforme pode-se averiguar, são muitos os prejuízos que o indivíduo poderá trazer consigo o resto da vida devido a ausência de cuidados especiais capazes de proteger-lhe das agressões escolares. Todos esses traumas afetarão a personalidade da vítima, retardando seu crescimento pessoal, e tornando-a uma pessoa reprimida e isolada da sociedade, que se refletirá em sua vida adulta, tornando um profissional sem muita capacitação. Como consequência imediata relacionada aos insultos e intimidações podemos citar o rendimento escolar baixo em decorrência do desinteresse, bem como o alto nível de estresse, a baixa autoestima, a insegurança, tristeza, fobia escolar, depressão, e em alguns casos, suicídio.

Cabe mencionar, que o bullying não ocorre apenas entre os garotos, mas também estará presente no universo das garotas, porém, via de regra, com agressões mais sutis e sorrateiras, de forma que não afetam com tanta gravidade a integridade física das outras garotas. Neste sentido, Simons (2004 apud ROLIM, 2006, p. 62) assevera:

 [...] há muitas diferenças entre o ‘bullying’ praticado por meninos e o mesmo tipo de problema envolvendo meninas. O ‘bullying’ feminino normalmente não deixa rastros, sinais de destruição ou vandalismo. Trata-se de um processo mais sutil e indireto, normalmente não-físico e revestido de sinais dissimuladores. Segundo as pesquisas feitas por esta autora, as meninas na escola praticam o ‘bullying’ preferencialmente com o recurso à maledicência ou à intriga. A exclusão silenciou-se e a prática de apelidar as vítimas também são comuns. Nestes casos, o sofrimento imposto é mais frequentemente de natureza psicológica. Por isso mesmo, o ‘bullying’ feminino é ainda menos perceptível. Apenas em circunstâncias excepcionais, as garotas estarão envolvidas em brigas ruidosas. O mais comum é que elas atinjam suas vítimas espalhando boatos, passando bilhetinhos, conspirando, jogando as colegas umas contra as outras. Práticas que, assinale-se, podem ser tão destrutivas quanto as formas mais explícitas de agressão física, ou até mais, pois a auto-estima da vítima é aniquilada sem que o problema seja discutido na escola, em casa, nos meios de comunicação ou no universo acadêmico.

            De forma clara e objetiva, Simons expõe a diferença constante entre o bullying ocorrido entre os garotos e o praticado por garotas. Fica evidenciado que os danos ocorridos no bullying feminino podem vir a ter uma gravidade maior do que aqueles praticados por garotos, pois, mesmo que na grande maioria das vezes não se façam presente as agressões físicas, as meninas estão sempre atacando o psicológico de maneira a camuflar suas práticas agressivas, dificultando a notoriedade destas agressões por parte das escolas e dos pais, para que possam agir em defesa da vítima. Além disso, outro fator que agrava este tipo de situação é o fato de que o polo passivo aqui retratado sofre com as agressões calado, isto é, sem comunicar a ninguém que possa ajuda-lo. Destarte, ao fazer um liame entre a ausência de comunicação da ocorrência dos fatos por parte da vítima, e a dificuldade de percepção por parte das escolas e dos pais em relação ao bullying, temos a noção de que a garota sofre danos psicológicos, e nem ao menos tem a quem recorrer.

            Esses traumas por se só já são considerados como altamente danosos, no que se refere à integridade física e psicológica do ser humano, principalmente quando se fala em crianças e adolescentes que estão sempre mais vulneráveis a sofrer com estas agressões, porém, além desse prejuízo direto causado a vítima, temos que as cicatrizes causadas pelo bullying, em alguns casos, não se fecham, levando o jovem a cometer atrocidades, a fim de se vingar de todos aqueles que o provocaram, muitas vezes afetando até mesmo pessoas inocentes, que em nada contribuíram nas provocações que aquele sofrera.

            Muitos são os casos de jovem que cometem suicídio, após se submeter a inúmeras provocações e intimidações praticadas por seus colegas, pois o sentimento de medo, vergonha e angústia toma de conta de sua mente relacionado ao fato de que a adolescência, conforme já mencionado em um momento anterior, é um período em que a personalidade do jovem começa a se formar, e que por este motivo ainda está vulnerável e suscetível como a de uma criança, conclui-se que a gravidade das agressões vão além das expectativas, pois todos esses fatores são bem favoráveis a tornar o adolescente cada vez mais fragilizado e perdido. Sem conseguir enxergar maneiras de se sobressair deste tipo de situação, o jovem acaba que por tomar atitudes extremas, como o suicídio.

            O suicídio, apesar de ser uma atitude drástica e absurda, passa a atuar como figura subsidiária nos casos em que grandes atrocidades são cometidas por pessoas que sofreram com o bullying em sua vida colegial. Nestes casos, os indivíduos que muito foram reprimidos por seus colegas mediante violência, migram de polaridade, passando de “vítima” para “agressor”.

            Sob este aspecto, cabe mencionar uma tragédia brasileira que ficou famosa devido ao seu requinte de crueldade, trata-se do caso “O Massacre de Realengo”, ao qual o jovem Wellington Menezes de Oliveira, com 24 anos de idade, entrou na escola Tasso da Silveira, por volta de 08:30 da manhã, comunicando aos funcionários que estavam presentes no local que daria uma palestra aos alunos. Porém, ao entrar em uma das salas, o suposto “palestrante”, sacou dois revolveres de sua mochila, e começou a alvejar vários projéteis nos alunos, tendo assassinado doze crianças, dentre elas 10 são meninas, e deixado pelo menos 12 feridos. Após a barbaridade, Wellington cometeu suicídio. Em depoimentos realizados em vídeos gravados por si próprio, atualmente publicados no site do Youtube, o assassino se mostrava em um estado de loucura bem avançado, sempre sem qualquer expressão facial, porém mostrando sua imensa revolta em face de seus agressores por meio de palavras, relacionando o termo “covarde” aos praticantes de bullying.

            Em meio a todos esses fatos aqui expostos, observa-se a existência de consequências imediatas e mediatas, quando o assunto é agressão no âmbito escolar. As imediatas seriam aquelas apresentadas já de início, ou seja, no mesmo período que as agressões começam, simultaneamente as consequências também se iniciam, como é o caso da queda no rendimento escolar, ao passo que as mediatas seriam aquelas que surgem com o passar dos tempos, e a exemplo disso podemos citar o “Massacre de Realengo”.

A análise relacionada às cicatrizes deixadas pelas agressões sofridas nas escolas serve para pais de alunos e as instituições de ensino tornarem-se mais atentos no que se refere às agressões entre os alunos, implantando cada vez mais medidas que visem combater estas agressões, bem como ensinar às crianças e adolescentes formas de se esquivar do bullying, para que assim os danos não afetem tanto suas mentes.

3 - Cyberbullying

A ampliação do acesso à internet, na seara do bullying, nada mais foi do que uma extensão do seu território e uma evolução na sua prática, pois junto a facilidade de se ter acesso a rede mundial de pessoas, surge o cyberbullying, uma modalidade do bullying tradicional, seu diferencial é justamente a proteção que é dada ao agressor, devido ao fato de se ter uma maior dificuldade em identificá-lo para que este venha a ser devidamente punido, bem como uma maior propagação da agressão, tendo em vista que a própria intensificação do acesso a internet facilita essa divulgação, aumentando, concomitantemente, o constrangimento sofrido pela vítima.

Conforme pode-se averiguar, não há muita diferença nos conceitos das duas modalidades de bullying, no que concerne ao seu objetivo, que sempre será o de intimidar, constranger, insultar, humilhar, ridicularizar e agredir as pessoas. Porém, há uma estrondosa diferença quando se fala na proporção dos danos sofridos pela vítima, que se eleva na medida em que o insulto é propagado de forma fugaz pela internet, possibilitando o compartilhamento daquele insulto por pessoas do mundo inteiro, elevando as proporções daquele ato em face vítima, que se sentirá mais constrangida e humilhada.

Ao que se percebe, a internet, que a priori o seu surgimento tem o intuito de facilitar a comunicação, para que assim possa auxiliar no desenvolvimento global, e que seu uso deveria ser apenas um grande ponto positivo na globalização, vem sendo também utilizada de maneira maléfica, com o objetivo único de ferir e agredir pessoas que muitas vezes são inocentes e desprovidas de qualquer meio de proteção.

Segundo Rubin e Pagel (2006, p.71), o Brasil foi o primeiro a observar a prática do cyberbullying, a exemplo disso as autoras citam um caso ocorrido em uma escola de São Paulo, ao qual, foi-se criado uma comunidade na rede social “Orkut”, pelos alunos da “Escola da Vila”, com o intuito único de humilhar e ridicularizar uma colega, tendo sido necessário a intervenção da orientadora. Esse tipo de ridicularização é mais comum do que o que se pensa, muitas são as páginas criadas na internet que visem a humilhação e degradação da imagem alheia.

Com base nos fatos ocorridos na Escola da Vila, esta mesma instituição passou a adotar medidas antibullying, ao qual foram citadas por Rubin e Pagel (2006, p. 72): “[...] o Magno, colégio particular de São Paulo, desenvolve um programa de combate ao cyberbullying. Os alunos criaram uma página no Orkut para debater o tema e fizeram uma cartilha”. Desta forma, podemos observar que a atitude tomada pela escola é válida no combate ao bullying virtual, pois vem a realizar a interação entre os alunos por meio de uma página na internet, de forma a fazê-los discutir sobre o tema, e criarem uma cartilha, para que assim torne-se possível a prevenção das práticas agressivas.

Diante de todo o exposto, nota-se que o cyberbullying é perfeitamente apto a gerar danos irreversíveis em suas vítimas, e assim como o bullying tradicional, faz jus a uma atenção especial, no sentido de que se devem realizar estudos e análises com base em todos esses meios de agressões, para que assim se chegue cada vez mais a um conhecimento acerca do assunto, efetivando-se de forma eficaz e definitiva as ações que visem combater o bullying, seja qual for a modalidade.

2.4 – Das medidas de prevenção e combate

Através do problema apresentado por este trabalho, temos que suas consequências, já apresentadas em um momento anterior, via de regra, são graves, ao qual se manifestam sempre de forma negativa na vida das vítimas e dos agressores, pois aquele tem como consequência os traumas físicos e psicológicos, mediatos e imediatos, e este ultimo levará aquelas atitudes para a sua vida, relacionando a agressão sempre como um meio solucionador de problemas.

Partindo dessa premissa, qual seja, nenhuma das partes envolvidas nas práticas agressivas escolares se sobressai com sequelas positivas, bem como o fato de que o bullying é um problema social, temos o seguinte questionamento: Como combater o bullying?

Como diria o ditado popular “A educação de casa vai à rua”, temos que o combate ao bullying deve-se iniciar na infância, pelo qual, os pais tem o dever de instruir seus respectivos filhos a não praticarem o bullying, bem como a não se transformarem em uma das vítimas dele.

Trata-se de um dever não só estabelecido pelas normas de ordem moral, mas também de uma obrigação dos pais, e um direito dos filhos, disposto na Constituição Federal em seu art. 229. Neste sentido, segue o referido texto constitucional: Os pais tem o dever de assistir, criar e educar os filhos menores(...).

Em decorrência da vulnerabilidade inerente a natureza dos filhos menores, foi concedido aos pais o poder familiar, que trata-se, simultaneamente, de um conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos bens dos filhos não emancipados, tendo em vista proteção destes. (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 6: Direito de Família, São Paulo, 2010, pág. 396)

Desta maneira, observa-se que o dever constitucional de fornecer uma boa criação, educação e assistência dos pais para com os filhos, tem como um de seus objetivos fazer com que a criança se torne um cidadão adequado aos moldes para o convívio social, tendo em vista a fragilidade física e mental que são relativos às crianças e adolescentes. Cabe mencionar o entendimento de Orlando Gomes (2002, p. 389)  acerca do assunto em tela:

O ser humano necessita, durante sua infância, de quem o crie e eduque, ampare e defenda, guarde e cuide dos seus interesses, em suma, tenha a regência de sua pessoa e seus bens. As pessoas, naturalmente indicadas para o exercício dessa missão, são os pais. A eles confere a lei, em princípio, esse ministério.

De acordo com esse entendimento, temos a concretização do poder familiar junto ao Ordenamento Jurídico brasileiro, que é justamente o conjunto de direitos e deveres que são fornecidos aos pais para que estes possam exercer suas funções, de forma mais eficaz, instituídas nos termos da lei. Trata-se de um direito na medida em que o poder familiar tem a finalidade de prover aos pais a autoridade necessária para que se possa cumprir as obrigações a ele relacionadas

Relevante será a menção ao poder-dever de vigilância, que é dado aos pais no sentido de que estes venham a proteger seus filhos de qualquer perigo, concedendo-lhe a autoridade de manter os filhos menores sob sua guarda e companhia, e assim regular seus comportamentos e amizades, bem como locais que poderão ser frequentados. Em suma, esse poder-dever é considerado essencial na medida em que os pais tem a obrigação de proteger e criar os filhos menores, sendo os únicos que podem determinar o que será mais proveitoso para o desenvolvimento de seus filhos, e em decorrência dessa premissa, lhes é dado o poder de proibi-los de praticar qualquer ato que venham a convergir com esse desenvolvimento. Neste sentido, segue um trecho da doutrina de Maria Helena Diniz (2010, p. 570):

Compete aos pais quanto à pessoa dos filhos menores (CC, art. 1634): [...] 2)Tê-los em sua companhia e guarda, pois esse direito de guarda é, concomitantemente, um poder-dever dos titulares do poder familiar. Dever porque aos pais, a quem cabe criar, incumbe guardar. Constitui um direito, ou melhor, um poder por que os pais podem reter os filhos no lar, conservando-os junto a si, regendo seu comportamento em relações com terceiros, proibindo sua convivência com certas pessoas ou sua frequência a determinados lugares, por julgar inconveniente aos interesses dos menores. [...] Como os pais são civilmente responsáveis pelos atos dos filhos menores que estão em sua companhia e guarda, o direito de guarda abrange, necessariamente, o de vigilância, que torna efetivo o poder de dirigir a formação moral do menor. (DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, volume 5: Direito de Família, São Paulo, 2010, pág. 570)

Seguindo esta linha de raciocínio, a partir de o momento em que as escolas efetuam a matrícula dos alunos menores de idade, acabam tomando para si o poder-dever de vigilância que é fornecido aos pais, sendo atribuído às escolas a responsabilidade sobre os alunos que estão no interior do recinto escolar.

Assim como no caso dos pais, o poder-dever de vigilância fornece às escolas direitos e deveres. Dentre os deveres inerentes às escolas, deve-se ressaltar aquele pelo qual as instituições de ensino deverão manter a integridade física e mental dos seus alunos, de maneira a evitar qualquer surpresa por parte dos pais ao pegarem seus filhos nos estabelecimento escolar. Cabe mencionar que, este conjunto de prerrogativas e obrigações somente será relacionado às escolas no momento em que os alunos permanecerem junto ao recinto escolar, e ao exercê-lo, da mesma forma que os pais, as escolas tem a autoridade de proibir a saída de alunos do seu recinto no decorrer do horário de aula, e submetê-los às suas decisões administrativas que visem o bem estar geral dos alunos.

Com base nisso, caberá às escolas a adoção de medidas que visem o combate ao bullying. A título de exemplo, podemos citar a postura ao qual foi aderida pela “Escola da Vila”, já mencionada em um momento anterior, tendo sido elaborada, após debaterem acerca do assunto, pelos próprios alunos, por meio de uma comunidade criada em rede social, uma cartilha que tem como tema as violências escolares.

Ao tratar abertamente sobre o assunto, as escolas buscam conscientizar os seus alunos, mostrando-lhes as graves consequências e danos ocasionados pelas agressões, sendo, portanto um meio bastante válido no combate ao bullying.

Segundo o Dr. Gustavo Teixeira, autor do livro “Manual Antibullying”, em vídeo postado no YouTube, outras maneiras eficazes no combate ao bullying são: realizações de palestras educativas que envolvam pais, professores, estudantes e funcionários, para que haja a conscientização acerca do problema; uma maior supervisão por parte das escolas e dos pais, tendo em vista que grande parte das agressões são realizadas na ausência destes; a prática de esportes para os menores, para que estes consigam obter uma melhor inclusão no seu meio social, bem como aprender a lidar com os conceitos de ética e respeito, e assim aprender a conviver com as diferenças existentes em cada ser. Por fim, Dr. Gustavo relata que todas essas medidas devem ser adotadas de forma contínua, e não apenas eventualmente, pois só assim serão eficazes no combate às agressões escolares.