O BRINCAR NA CONCEPÇÃO DE EDUCADORAS DE DUAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE CUIABÁ.

AUTOR:

JUCILEIDE DE OLIVEIRA

CO-AUTORES: ALEZANDRA PATRICIA DA SILVA BORGES

IARA OLIVEIRA DOMINGUES

 

RESUMO

Neste estudo procura-se compreender qual a importância do brincar no contexto da Educação Infantil. Motivada pela seguinte questão de pesquisa: qual a importância do brincar nas ações educativas? A pesquisa foi realizada no município de Cuiabá no mês de novembro e dezembro do ano de 2011, tendo por propósito descrever qualitativamente, através de entrevistas com onze educadoras da creche Profª “Colomba Cacélia Lombardi Dorileo” e nove educadoras do anexo da escola Municipal Profº Zeferino Leite de Oliveira, suas concepções a respeito do brincar, as brincadeiras mais utilizadas em suas práticas educativas e suas opiniões sobre como os pais encaram o brincar em sala de aula. Também buscou saber dos alunos da escola qual a brincadeira que eles mais gostam, perguntando diretamente a eles e observou o brincar na creche, registrando as brincadeiras em um bloco de anotações. A coleta de dados foi feita por meio da observação diária das brincadeiras utilizadas pelas crianças da creche, de pergunta dirigida às crianças da escola sobre qual a brincadeira que elas mais gostam e da entrevista dirigida às educadoras, contendo sete perguntas sobre seus dados pessoais e cinco sobre o brincar. Sobre o brincar a partir das concepções das educadoras foi constatado que ele é concebido pela maioria das educadoras, tanto da creche, quanto da escola, como uma forma de aprendizagem, mostrando que o brincar não é um mero passatempo sendo fundamental para a formação da criança. Na análise dos dados ficou evidenciado que o brincar faz parte do cotidiano das IEI, que a infra-estrutura das Instituições interfere na realização de diversas modalidades de brincadeiras e que o esclarecimento sobre a importância do brincar para o desenvolvimento e a aprendizagem da criança muda a visão que alguns pais fazem a respeito do brincar. A partir da análise da pesquisa realizada concluí-se que as brincadeiras ajudam a desenvolver o raciocínio, a coordenação motora, a concentração, o imaginário, promovendo a interação, socialização, onde a criança se expressa e distrai, por isso são tão importantes nas ações educativas. Palavras-chave: O brincar. Educação Infantil. Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

A concepção do brincar tal qual vemos hoje foi construída ao longo do tempo a partir do reconhecimento dos direitos à infância, possibilitando que o mesmo fosse visto como um componente primordial para o desenvolvimento e aprendizagem, sendo considerado uma das necessidades básicas da criança, essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo. Quando a criança aprende brincando, a busca do saber torna-se importante e prazerosa (MALUF, 2003). Nesse contexto, o brincar não pode mais ser visto apenas como um entretenimento, devendo o mesmo ser incorporado à aprendizagem, conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasil, 1998, p.23) nas últimas décadas, vem se debatendo a necessidade das Instituições de Educação Infantil integrarem o cuidar, com o brincar e o educar, propiciando situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis. O cuidar, o educar e o brincar, nem sempre estiveram associados nas Instituições de Educação Infantil. Em 2000, após ter passado no concurso, comecei a trabalhar como Auxiliar do Desenvolvimento Infantil (ADI) numa creche do bairro Planalto e não tinha muita noção do que deveria fazer, que atividades aplicar para crianças de 2 a 5 anos (nessa época ficavam crianças de até 5 anos nas creches), pois nessa época a creche ainda era assistencialista, as ADI pensavam apenas no cuidar deixando de lado o educar, sem perceber que o brincar poderia ser direcionado para a aprendizagem da criança. Vários autores desenvolveram pesquisas que possibilitaram aos profissionais da Educação Infantil um melhor entendimento do brincar, transformando sua prática pedagógica, introduzindo as brincadeiras com enfoque educativo, não como mero passatempo, reconhecendo que através do brincar a criança aprende. Foi o que aconteceu comigo, adquiri mais conhecimento sobre o brincar, compreendendo sua importância e relevância social quando fiz o curso de Técnico em Desenvolvimento Infantil, me tornando Técnica em Desenvolvimento Infantil e quando me graduei em Educação Física, em Pedagogia Infantil e agora, cursando a especialização em Educação Infantil. Surge então meu interesse em pesquisar e escrever sobre o tema: “O brincar na concepção de educadoras de duas Instituições de Educação Infantil do município de Cuiabá” procurando responder a seguinte pergunta: Qual a importância do brincar nas ações educativas? A escolha deste tema deve-se a minha experiência prática de doze anos trabalhando em creche, ao aprofundamento teórico sobre o brincar e ao trabalho como professora de Educação Física, surgindo assim a necessidade de se compreender qual a importância do brincar no contexto da Educação Infantil, já que o mesmo é primordial na construção do conhecimento. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e descritiva acerca da história, concepção e importância do brincar no espaço educativo, cujos dados foram coletados através de entrevistas com sete Técnicas em Desenvolvimento Infantil, quatro Auxiliares do Desenvolvimento Infantil e nove professoras, em duas Instituições de Educação Infantil. A entrevista buscou identificar por meio da observação e análise dos dados obtidos, a concepção dessas educadoras a respeito do brincar, as brincadeiras mais utilizadas em suas práticas educativas, as brincadeiras que as crianças manifestam mais interesse dentro e fora da sala de aula e ainda conhecer a opinião das educadoras sobre como os pais encaram o brincar em sala de aula. A estruturação do trabalho está dividida em quatro capítulos, sendo o primeiro a Revisão de literatura, que foi dividida em quatro subtítulos: o processo histórico de implantação das Políticas de Educação Infantil, que situa a Educação Infantil na Educação básica trazendo as leis e suas mudanças; o brincar e o reconhecimento da infância abordam o surgimento do reconhecimento do brincar e da infância; o brincar e o desenvolvimento infantil falam da importância do brincar para o desenvolvimento da criança e o brincar nas Instituições de Educação Infantil aborda sobre o medo de brincar em sala de aula desassociando-o da idéia de bagunça ou sujeira, revelando sua importância pedagógica. O capítulo dois trata da Metodologia da pesquisa, dividida em três subtítulos: a escolha metodológica retrata o tipo de pesquisa apresentando o percurso metodológico, o universo da pesquisa mostra os critérios de seleção dos sujeitos, das instituições, suas localizações e caracterizações e os procedimentos e instrumentos da pesquisa mostram os procedimentos usados para a coleta de dados. O terceiro capítulo é a Análise e interpretação dos dados, que expõe os dados analisados através de gráficos, quadros ou tabelas, fazendo a análise norteada pelo referencial teórico e pelas respostas obtidas nas entrevistas, discutindo sobre a importância do brincar no contexto da Educação Infantil. Sabendo da importância do papel do educador na garantia e enriquecimento do brincar, as considerações finais visam contextualizar as entrevistas realizadas com as educadoras de forma a entender como essas percebem a importância do brincar e sua influência na aprendizagem de seus alunos.

1. REVISÃO DE LITERATURA

1.1. Processo histórico de implantação das Políticas de Educação Infantil A Educação Infantil, embora tenha mais de um século de história, somente nos últimos anos foi reconhecida como direito da criança, das famílias, como dever do Estado e como primeira etapa da Educação Básica. A partir da Constituição Federal (1988), em resposta aos movimentos sociais em defesa dos direitos das crianças, a Educação Infantil deixou de ser concebida como amparo e assistência, passando a ser reconhecida como direito das crianças e dever do Estado, da família e de toda sociedade garantir esse direito, tendo por prioridade: assegurar sua proteção integral (ROSA, ALMEIDA & SILVA, 2007). Em 1990, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), foram reafirmados os direitos constitucionais, colocando crianças e adolescentes como prioridade absoluta na ação do Estado e da sociedade, promovendo importantes avanços jurídicos, políticos e sociais, destacando o direito das crianças à educação, especificamente à “Educação Infantil”, assegurada nos artigos 4°, 53° e 54°, inciso IV. Em 1996, aprovou-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) evidenciando o direito à Educação Infantil e rompendo com a normatização, até então existente no Brasil, pois considera a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, tendo por finalidade o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Ao evidenciar a necessidade de se considerar a criança como um todo, para promover seu desenvolvimento integral, a LDB articulou a educação com a valorização do papel do profissional que atua com a criança de 0 a 6 anos, estabelecendo que a formação de docentes para atuar na Educação Infantil deveria ser realizada em nível superior, admitindo-se, como formação mínima, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal, para que assim pudesse exigir um patamar de habilitação derivado das responsabilidades sociais e educativas desse profissional. Em 2001, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE), que responsabiliza as três esferas de governo – município, estado e União – e a família expressando suas competências referentes à Educação Infantil, explicitando nele tanto a Constituição Federal quanto a LDB. Ao articular a educação escolar com a familiar, o PNE busca complementar e enriquecer a aprendizagem, também trata das esferas administrativas, estabelecendo que a União e os estados darão apoio técnico e financeiro aos municípios, tendo por objetivo: garantir os direitos da criança (entre eles o direito à educação), mediante a cooperação entre a União, os estados,

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